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Contos para Lua

Soulmate

Soulmate

Apr 02, 2024

Nós nos conhecemos quando, ainda crianças, ele dividia o lanche comigo e brigava com as crianças mais velhas que faziam de tudo para me incomodar. Bastaram algumas ameaças e nunca mais mexeram comigo. Mesmo crescendo, ele não deixou meu lado. Esteve ali em todas as nossas fases: das mais vergonhosas, das mais tristes para as mais felizes, para as melhores.  

Ele era meu melhor amigo. Era quem eu mais confiava, quem estava ali para segurar minha mão quando estava com medo e secar minhas lágrimas quando estava triste. Assim como eu estava aqui para ele. Eu tinha os conselhos e ele as atitudes. Eu tinha as palavras e ele as ações. Eu era a metade dele e ele a minha. Ele dizia que nos encontraríamos em todas as próximas vidas. Eu dizia que nos encontramos em todas as passadas.  

Aquela noite seria como qualquer outra. Eu o encontraria depois do dia cansativo e ele estaria preparando o filme e as besteiras na sala. Ele dormiria no meio do filme e eu o acordaria com um leve empurrão e risadas. Mas tudo foi diferente. Cheguei em casa ele ainda não estava lá. Estranhando, tentei ligar para ele diversas vezes, mas não atendia. Liguei para os amigos do trabalho que disseram que ele já havia saído. Liguei para parentes e não faziam ideia. Ninguém tinha uma resposta de onde ele poderia estar. Sem saber o que fazer com a ansiedade, liguei a televisão para distrair a mente.  

Antes que pudesse mudar do canal de notícias, que ele decidiu ver essa manhã antes de sair, o acidente a minha frente com o carro dele, o número de mortos e o de feridos, fez eu entrar em desespero. O choque foi tanto que foi preciso uma ligação da sua mãe para que eu soubesse o que fazer. Sair direto para o hospital que ele estava. Apesar de ter agido, eu ainda não sabia dizer qual vítima ele era. Não sabia se ele, aquele quem eu mais amava, estava vivo.  

O hospital estava cheio de familiares de outras vítimas, alguns repórteres e pessoas que precisavam de atendimento. A família dele estava em um canto, todos em silêncio. Sua mãe chorava, sua irmã parecia em choque. No momento que me viram e a mãe dele veio na minha direção me abraçando, tudo desmoronou. Os meus olhos eram lágrimas puras e eu sabia que logo ficariam vermelhos. O aperto no peito era uma dor insuportável.  

Cirurgia. Ele não era um dos mortos. Mas seu estado era crítico e tudo poderia acontecer na cirurgia. Horas passaram, e cada segundo fora de angústia pura. As piores horas da minha vida. E a única coisa que poderíamos fazer era esperar. Sentia-me inútil, incapaz; mas acima disso, sentia que poderia perder meu chão a qualquer minuto. Obviamente não externei esse pensamento, mas aquela sensação ruim não deixava meu peito. O gosto amargo não saia da minha boca. O nó na garganta só crescia. Minha cabeça latejava de tanto chorar e segurar o choro. Eu estava me perdendo.  

Quando o cirurgião veio ao nosso encontro dizendo que a cirurgia ocorrera bem, e que as próximas horas seriam cruciais para saber como ele ficaria, não teve um ali que não soltou um suspiro de alívio. Passei a noite no hospital após implorar para ser quem acompanharia ele. Tirei cochilos esporádicos enquanto segurava sua mão sentada na poltrona ao lado da maca. Não queria sair de seu lado. Não conseguiria deixar de estar ali por ele como ele sempre esteve por mim. Ele é minha metade afinal de contas. E sempre será.  

Na manhã seguinte, levaram-no para uma bateria de exames mesmo que ele ainda não tivesse acordado, o que preocupou os médicos. Com resultados em mãos e seus pais de volta, o coma causado por um traumatismo é revelado. Todas aquelas sensações que senti na noite anterior voltam de uma só vez com uma intensidade ainda maior. Gosto amargo na boca, nó na garganta, dor no peito e um novo sintoma, náusea. O choro veio com força. A sensação de incerteza fazia meu chão se perder. Perda. Não era um sentimento que eu queria ter agora. Eu não queria perder minha alma gêmea.  

Os dias passavam e todo meu ser doía a cada dia mais. A dor me corroía de dentro para fora. Eu tentava manter-me firme, mas era quase impossível. Todos os dias eu ia até o hospital, todos os dias eu conversava com ele como se nada tivesse mudado. Mas a sua falta de resposta me fazia chorar e a dor aumentar. Algumas noites eram piores que outras, ir dormir sem ter tido sua companhia, sem ter sua presença, dilacerava meu coração. Era ainda pior sonhar com ele nelas todas. Minha mente parecia fazer de propósito. Fazia eu o ver todas as noites, com seu sorriso que aquecia meu peito, mas faziam lagrimas escorrerem ao acordar; fez-me ver seus olhos brilhantes capazes de mudar um mundo, mas que agora doíam na alma.  

Em uma dessas noites, ele me disse que ficaria tudo bem, que o destino jamais separaria duas almas destinadas a ficarem juntas. Ao menos não de uma forma tão cruel. Eu queria acreditar. Queria mesmo. E se não fosse aquele fio de esperança que eu ainda segurava, eu já teria sucumbido.  

Às vezes eu dormia um pouco mais do que devia para tê-lo ali comigo mais um tempo, mesmo que eu soubesse que quando acordasse e a realidade batesse, eu choraria e sentiria a dor aumentar. Não era só minha mente que me sabotava, afinal. Mas depois de algumas noites aquilo era melhor que nada.  

Dois meses. Dois longos meses. Que parecia passar o mais devagar possível, se arrastando pelos dias longos e sem vida. Sem cor. Sem energia. Mesmo que estivesse o dia mais bonito para os outros, para mim não. Era torturante, devo admitir, ir todos esses dias ao hospital vê-lo imóvel na mesma posição. Hoje parecia ainda pior. Não havia sonhado com ele. Não vi seu sorriso, nem mesmo seus olhos. Nada. Isso pareceu que me fez dormir mal, como se não tivesse dormido de fato. O que ocasionou de eu pegar no sono durante a visita. Um sono bom, apesar da posição desconfortável. Um sono onde eu via seu sorriso direcionado a mim mais uma vez. Alívio foi o que senti vendo seus olhos brilhantes. Eu sabia que choraria quando acordasse, mas ali naquele momento nada importava, se não sua presença. Contudo, tudo pareceu mudar com a frase que saiu de sua boca:  

— Não importa o que aconteça, nada irá nos separar. O destino não deixaria.  

Eu não sabia se ficava feliz ouvindo aquilo, ou se ignorava por saber ser apenas um sonho, mas aquilo me acalmou o suficiente para não sentir dor ao acordar, apenas poucas lagrimas desciam meu rosto. Não importa o que vai acontecer a partir de agora, eu estarei aqui, ao seu lado.  

Foi como aconteceu, durante o próximo mês, todos os dias eu estava no hospital ao seu lado, contando novidades, que não necessariamente eram importantes. Naquele dia em especial, assim que entrei no seu quarto e o vi acordado com um grande sorriso no rosto, foi como se todas as cores tivessem voltado para o meu mundo. Como se tudo fizesse sentido outra vez. Seu abraço fez-me quase derreter em seus braços após tanto tempo. Seu carinho no meu cabelo me fez relaxar e saber que tudo ficaria bem. Eu estava radiante. Completamente feliz. E meu sorriso só cresceu com seu sussurro:  

— Nada pode nos separar.  

Mas separou. No dia seguinte recebi a ligação de sua mãe, chorando, dizendo que aquilo não havia passado de uma despedida. Ele não havia resistido. Naquela manhã, sem nem fazer vinte e quatro horas de seu despertar, meu mundo caía, era despedaçado. Meu choro de dor e angústia deixava meus olhos embaçados e minha respiração desregulada. Dor era tudo que eu conhecia naquele momento. Havia perdido a mim por completo.  

Entretanto, a vida é engraçada e em uma coisa ele estava certo: o destino nos queria juntos e faria o que fosse preciso. O que resultou nos seguintes acontecimentos: eu saí inconsolável de seu funeral, queria ficar só, sem ter que ouvir que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que não ficaria. Enquanto dirigia com olhos cheios de lagrimas, tudo acontecera muito rápido. Não sei dizer se realmente a culpa fora minha, mas a última coisa que me lembro era o barulho irritante de uma buzina alta e de repente tudo estava escuro. Nada mais existia.  

Existe uma lenda que diz que às duas almas amarradas por um fio vermelho sempre se reencontrarão. Eu não acreditava muito, mas ele sempre me fez acreditar. Era por ele que eu mantinha na mente que eu o veria de novo, não naquela vida, mas sim nessa nova, porque o destino não nos deixaria longe. Por isso, ao reencontrar seu olhar tão brilhante quanto as estrelas, o alívio em meu peito, retiraram toda a dor que um dia pude sentir.  

— Eu disse que nada nos separaria. 

moonyartt
Moony

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#soulmate #almagemea #shortstory #Conto #lovestory #romance

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