As terras do acampamento para onde Suzaki havia sido levado estavam completamente cercadas pelas facções. O grupo dos recrutas que conduziram o príncipe, buscavam refúgio na caverna protegida, com diversas outras crianças escondidas.
— Preciso ir — Mitensai se dirigia à saída — Proteja os outros.
— Do que está falando Mitensai? — Kin tentava segurá-lo — É perigoso!
— Eu não posso ficar aqui. Já volto. — disse dispensando a garota.
— Sempre com essas escapadas. Bem, eu não vou morrer por ele — Raito deu de ombros.
Com os recrutas seguros, o líder da facção — Hideki — descia os andares da torre rapidamente após a sinalização de seu filho. Juntou seus homens, para confrontar os membros da cúpula.
— Quero que guardem o local onde o Ao está localizado, o resto venham comigo, e você, fique bem aqui! — apontou a última ordem a seu filho que permaneceu no térreo.
Saindo das altas portas da torre, Hideki foi escoltado por seus homens até a presença da pequena milícia do lado de fora.
— Parece que chegamos ao mesmo tempo, Natsu.
— Não vai ter acordo. O garoto é meu!
— Essas terras são minhas — Hideki tomava uma espada das mãos de um dos seus homens — Se tem algum problema com isso, resolvam com o homem lá de cima.
— Ele já deu o aval, Hideki. O garoto é de quem pegar.
— E da última vez que chequei, ele está na minha torre. Posso entregá-lo e até mesmo mentir, dizendo que a captura foi toda sua Natsu, mas tudo tem um preço.
— Esse garoto não é mais um carregamento que você pode colar uma etiqueta e vender na feira ali da esquina. Você tem noção de quem ele é? O que ele pode me dar?
— Seus interesses políticos valem tanto quanto o metal que carrega no bolso. E aí? O quanto eu devo valorizar sua ambição?
— No meu bolso, eu só guardo isso — Natsu retirou a espada da bainha.
Dentro da fortaleza da facção de Hideki, um ruído foi captado pelos homens vindo dos andares superiores. Alguns correram para o quarto andar e encontraram a porta dos aposentos destinados a ele fechada.
— Ei! Abra a porta, agora! — girava a maçaneta sem sucesso.
Tomara distância para arrombarem, mas a tranca rompeu-se de dentro para fora. O estalo inicial deu espaço ao silêncio. Os homens abriram a porta devagar com olhos fixos na escuridão, quando um corpo foi arremessado neles.
— Cui-da-do… — gaguejou o guarda ferido.
A atenção do grupo foi tomada por uma aura azul que inundou a escuridão. Daquele clarão surgiu Suzaki, que atropelava seus inimigos correndo à frente. Quando chegou aqui, havia localizado as janelas, só precisava chegar em uma. Subindo a escada em seu caminho, mais inimigos.
— O garoto está fugindo! — sinalizou um dos homens — Não deixem ele escapar!
O candidato a Heishi Celestial puxou sua lâmina e com dois giros sucessivos partiu as armas dos inimigos em dois. A seguir, a usou como um cajado e numa batida no chão, liberou uma descarga que atirou todos para o andar abaixo.
Alguns degraus abaixo, Dai segurou-se no corrimão e pôde ver do alto quem era o fugitivo que perseguia.
— Você... Você! — gritava Dai tentando passar pelos corpos deixados na escada.
O filho de Hideki havia chegado ao topo, mas tudo que conseguiu foi um golpe desviado seguido por um soco em seu rosto. A próxima visão que teve foi de Suzaki saltando pela janela ao final do corredor.
Durante as negociações, Natsu olha para o local e vê um sujeito brilhando em azul deslizando a torre apoiado por sua espada.
— O que é aquilo? — um guarda perguntou.
— É assim que mantém ele em segurança, Hideki? — comentou pedindo passagem.
— Senhor, nossos homens não conseguem contê-lo — um subordinado de Hideki sussurrou em seu ouvido.
— Uma trégua então? — Hideki propôs — Porque você não passa desse portão sem isso.
Com um sorriso no canto da boca, Natsu acenou positivamente. Dezenas de guardas apontavam suas armas para Suzaki, que disparava para a primeira saída disponível. Uma cerca mais baixa, um cavalo sem dono, qualquer coisa seria o bastante.
— Fique parado aí, Heishi! Não há para onde correr! — Hideki grita.
Os homens de Hideki cortavam o acesso às cabanas, tentando cercar o garoto, enquanto Natsu berrava ordens aos seus subordinados.
— Ele é só um garoto! Do que tem medo?!
A porção de homens que pisaram cerco adentro para enfrentá-lo carregavam escudos e espadas. Suzaki esperou a gangue se aproximar a dez passos dele antes de agir. Escolhendo um homem como alvo, passou sua espada pela madeira de seu escudo, partindo-a em dois. Tomou uma das partes e arremessou contra uma metade da multidão. Empurrou a outra contra a garganta do sujeito que desarmou e usou seu corpo desacordado como escudo.
Enquanto penetrava na multidão, que hesitou em acertá-lo por conta de seu refém, usou dos segundos para raciocinar.
“Não vou poder manter esse ritmo contra tantos homens sem derramar sangue, eles não parecem querer negociar mesmo. Tudo isso por causa de onde eu venho?”
Dentro daquele aglomerado, um dos guardas ativa uma aura verde. Suzaki parou sua investida com escudo humano e viu aquela nova habilidade cortar uma árvore, que caía bem na sua direção. O fugitivo largou o corpo, mas segurava sua arma com força, depositando seu iro nela. Saltando contra o tronco, ele o dividiu em pedaços.
Aterrissando, Suzaki observava outra frente de inimigos. Um soldado com sua aura Midori, levou a mão ao solo, projetando uma elevação no chão onde o garoto recuperava a estabilidade, fazendo-o deslizar numa queda mortal. O terceiro usuário do poder esverdeado, se posicionou no fim da descida para render o príncipe.
Antecipando o final da descida, o Heishi usou da velocidade para se atirar em direção ao soldado, derrubando-o junto a ele.
— Te peguei! — disse segurando o garoto consigo.
Logo barreiras de barro brotam do solo ao lado dos dois, a fim de selar o garoto, enterrando os dois vivos.
— Conseguimos! — gritou, retirando as mãos do chão ofegante.
— Seu imbecil, não era para matá-lo — Natsu gritou com o homem.
— É só tirá-lo, mas primeiro, deixe-o ficar sem ar. Não vai demorar muito.
A maioria já desfazia suas posturas de batalha e suspiravam aliviados.
— Temos que tirar Mitsuki dali, não podemos deixar ele junto com essa aberração.
— Não, vamos tirar os dois juntos para ter certeza.
A vitória dos Midori é celebrada por pouco tempo, quando uma das pontas da arma de Suzaki brotou da superfície e fatiava uma abertura naquele casulo.
— Mas como?! Nenhuma espada é capaz de cortar essa técnica!
— Ele vai fugir! — Os soldados se aproximaram em prontidão.
— Ei! Não se aproximem! — gritava Hideki.
Antes de reagirem ao aviso do superior, o Heishi liberou sua energia, estourando pedaços de sua prisão de barro para os lados, ferindo os outros em volta e apagando tochas que iluminavam o local. Já era noite, portanto, sua aura azul era a única coisa que denunciava sua posição, antes de apagá-la por completo.
Parando no alto da rampa que havia sido formada antes, observava assim as dezenas de guardas ao redor de cima para baixo.
— Onde ele está!? — um homem tremia de medo.
Outros Midori acendiam suas auras, e outros chegavam com mais tochas, para confirmar a suspeita. O garoto havia fugido.
— Ele molhou o solo tornando ele frágil — um dos membros da cúpula percebe se aproximando do local da fuga.
— Mitsuki! — o homem era resgatado do casulo, desacordado.
Hideki retornava para sua torre apenas para encontrar seus homens perplexos e derrotados, juntos a seu filho com o olho roxo.
— Tentei enfrentá-lo, pai. Não consegui.
— Mal consigo chamar o seu estado de um enfrentamento.
— Onde ele está?! — indagou Dai, enraivecido.
— Ele fugiu, Akira e Natsu irão verificar se ele foi avistado no norte, leste ou sul. Acho que vou ter que pôr uma recompensa na cabeça dele. Duvido que consiga ir para outro território sem criar conflito. Guardas também estão cercando a floresta.
— Droga. Não podia imaginar que ele fosse tão forte.
Tarde da noite, Suzaki continuava sua fuga pela floresta, com árvores ainda maiores e visibilidade ainda mais baixa. O jovem crescia sua aura para encontrar abrigo, mas notou algo se movimentando na luminosidade.
Entre a mata, o observador passava com cuidado entre as árvores, mas assim que a luz penetrou seus olhos, ele cambaleou balançando o arbusto ao redor enquanto era abordado pelo príncipe Ao.
— O que você quer? — Suzaki aponta sua lâmina para o pescoço do Midori.
— Vamos com calma, sem nervosi…
— Onde estão seus aliados?!
— Só eu estou aqui. Na real, eu só consegui te seguir por já estar aqui.
— Não teste minha paciência — ameaça o azul.
— O-Olha eu falo sério — o garoto estendeu uma capa verde e revelou-se desarmado — Sou eu, lembra? Meu nome é Mitensai, eu posso te ajudar a sair daqui. Não iria gostar disso? Aposto que é isso que você quer.
— Você de novo, cadê seus amigos? Já estou farto de desconhecidos oferecendo ajuda.
— Agora me conhece, né? Então está tudo resolvido.
Suzaki semicerrou os olhos, suspirando bem fundo.
— Bem — Mitensai usava a ponta dos dedos para afastar a lâmina em seu pescoço — Os guardas da Gangue devem estar cercando a floresta e nesse momento devem ter oferecido uma recompensa por você nas cidades.
— E como você saberia de tudo isso?
— Estou aqui há mais tempo que você, não é? Eu sei como as coisas funcionam. Eles sabem que você fugiu para cá, mas não exatamente onde, muito menos o seu destino. Com a visibilidade ruim da floresta Negra, diria que eles vão procurar por você nessas primeiras horas, mas vão desistir para voltar pela manhã.
— Nada que eu já não pudesse adivinhar. O que me oferece de novo que já não possa ter dado a eles? Até porque falta me explicar como foi o único que me encontrou aqui.
— Para sua informação, eu costumo passar a noite às vezes por aqui, é algo pessoal, então, isso não importa agora para você. O que vale é você chegar do outro lado da floresta por um lugar que a gangue não vai ter como cobrir!
— A conversa na cidade não foi muito diferente dessa.
— Isso porque não tinha como te afastar deles por lá. Eu iria te oferecer essa mesma saída mais tarde, mas você entrou na torre sem mais nem menos.
Suzaki balança a cabeça negativamente, afastando sua lâmina aos poucos.
— Certo, eu devia ter combinado antes, né? Eu sei disso. Então que tal dar esse voto de confiança? Vem cá, tem uma parte fácil e outra complicada do plano. Existe uma rio no norte dessa floresta, ele leva para a região próxima da fronteira com os Kiiro. Pode usar isso para contornar as tropas da gangue. Claro que vai depender do quanto você vai aguentar a correnteza.
— Não me explicou ainda como os Midori serão incapazes de me seguir.
— É, essa é a parte complicada de que falei. Já faz algum tempo, mas a região foi tomada por uma outra equipe de marginais. Não são Midori e por causa disso nem eu mesmo os conheço.
— Sendo de cores diferentes, duvido que será fácil.
— Ainda há quem prefira confiar na pessoa por trás da cor — Mitensai curva a cabeça — Eu te vi com aquela moradora de rua, nada mal. Acho que ali vi que você era só um garoto assim como eu.
— Então é tudo por causa disso? Realmente quer me ajudar?
— Se quisesse algum mal para a gente, teria empilhado cadáveres invés de só alguns olhos roxos no acampamento lá de trás. Chame isso de um voto de confiança.
Suzaki arqueou as sobrancelhas e subiu levemente os lábios num sorriso discreto. Enquanto guardava sua arma, decidiu cumprimentar sua nova companhia.
— Sinto desapontar, mas o meu voto não será ganho tão facilmente. Preciso sair daqui com algumas respostas. Suponho que seu conhecimento será o bastante para minhas dúvidas.
— Bom, eu espero. Pode perguntar o que quiser.
Os dois seguiram iluminados pela aura de Suzaki. Após alguns relatos, encontraram o rio, percebendo a correnteza fraca seguindo ao norte prosseguindo às margens.
— A disputa territorial que diz deve ter acontecido antes da guerra civil que rolou aqui. O que sei é que após a guerra, as facções se uniram por meio de um nome maior que eles denominam como "Chefão".
— Já é o começo — Suzaki fechava seu caderno com as anotações.
— Esses grupos só se unem por uma coisa: forasteiros. Essa região vai ficar extremamente perigosa para você agora. Seu rosto está literalmente marcado.
Alguns metros adiante, eles chegam a parte mais agitada das águas.
— Já conheci alguns turistas, mas é o primeiro que carrega uma espada dessas nas costas. Não dá para dividir um pouco do por que está aqui?
— Mitensai, eu agradeço por seu apoio, mas a única coisa que posso te dizer é que estou tão longe de ser um turista quanto de casa. Sou um viajante, é o que precisa saber.
— Me pergunto se devo dizer bem-vindo ou adeus agora — Mitensai ria, no momento que os dois chegavam às margens de uma cachoeira.
— Então é aqui.
— Como eu havia dito, a correnteza é bem forte.
— Uma pena. Daqui seria possível ver bem o sol nascer — lamentou o príncipe.
— É por isso que gosto de vir aqui.
— Como assim?
— Essa floresta é a Floresta Negra, por um motivo. Já reparou nos pinheiros, né? Ela também faz fronteira com o território Kuro, então costuma ser pouco explorada. Então aqui é como uma luz, em meio a escuridão. A recompensa para os corajosos.
Suzaki olhava para o horizonte, como se esperasse o Sol aparecer. Aqueles longos segundos se dissolveram na decepção de que teria que partir ainda na madrugada fria.
— Continue em frente, até achar seu lugar. Você é uma boa pessoa. Se você tiver coragem de pisar nos Midori de novo, pode me procurar por aqui. Tem um poço próximo a região onde nos encontramos, costumo ficar por ali.
— Vou tentar me lembrar disso. Meus agradecimentos, Mitensai.
— Foi um prazer.
Os dois se cumprimentaram em um aperto de mãos, pouco antes do Ao se lançar ao ar para sua queda.
Arte de Mitensai:
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