Planeta Terra
Enquanto Rosália e Ayami discutiam em Finalia, na Terra as meninas chegavam à casa de Sayuri.
- SAYURI! SAYURI! - gritava Akiko em desespero enquanto adentrava a casa, batendo a porta. - O MUNDO ACABOU! FOMOS ATACADAS! HÁ FERIDOS!
- Que gritaria é essa!? Quem se feriu? - Sayuri desceu rapidamente com um kit de primeiros socorros, bastante preocupada.
- Akiko! Ninguém está ferido! - disse Miyu, incomodada com o drama de sua amiga.
- Mas a Naoko levou um choque, né! - Akiko afirmou num tom mais calmo, nem parecendo que, segundos atrás, fazia um escândalo.
- Choque? Colocou o dedo na tomada? - disse calmamente Sayuri, tentando compreender a situação.
- PAREM COM ISSO! NÃO FOI NADA DEMAIS, EU TÔ BEM! - reclamou Naoko, que não gosta que se preocupem desnecessariamente com ela.
Sayuri, então, avista atrás do grupo uma menina diferente, de cabelos negros e franja.
- Oh! - diz ela, surpresa. - É colega de escola das meninas!? Sou Sayuri, seja bem-vinda. - se apresentou com um sorriso cálido.
Antes mesmo que a jovem pudesse se apresentar, Akiko, muito animadamente, se intromete e começa a falar sem parar.
- Essa é Yukino, é prima da Aino. Nós nos conhecemos hoje pela manhã e já sinto como se fôssemos melhores amigas...
- Sayuri, estamos com uma questão. Fomos atacados por uma mulher com Potentia, e essa mocinha também mostrou ser uma. - diz Megumi, preocupada, enquanto tampa a boca de Akiko, pois sabe que sua amiga de cabelos roxos poderia ficar horas falando. - Ela lançou gelo pelas mãos - finalizou.
- Já havia feito isso antes? - pergunta Sayuri, e Yukino balança a cabeça em negação. Ainda curiosa, ela pergunta se a menina consegue explicar como fez.
- Eu... não sei direito como explicar. Lembrei de uma sensação que tive ano passado. Eu só... segui minha intuição e coloquei a energia na palma das mãos... Então o gelo saiu e quase atingiu a mulher que nos atacou. - respondeu a menina de franja de maneira hesitante, mostrando que estava nervosa.
Sayuri, que precisava de comprovação, pediu para que ela tentasse demonstrar. Yukino sentiu-se intimidada, com medo de não conseguir repetir, mas se esforçou para se concentrar e tentar liberar seu poder. Suas mãos tremeram, aos poucos, os flocos de neve começaram a se formar em suas mãos e, então, alguns fragmentos de gelo. A própria garota se impressionou por ter conseguido repetir o feito e ficou admirando. Sayuri se assustou ao constatar que aquilo era possível.
- Eu penso que... nossa vinda para cá pode ter causado alterações no planeta - disse ela, tensa e preocupada. - Devemos nos preparar para aparecer pelo menos mais seis Potentia, pelo menos no melhor dos cenários. Seria bom se conseguíssemos encontrá-las antes de quem atacou vocês.
3 de março
Na casa de Sayuri, todos dormem tranquilamente. O clima está propício para o descanso. Ghuang abre os olhos vagarosamente, acreditando ter acordado mais cedo do que o necessário. O susto acontece quando ele percebe que já são 6h40 da manhã. Sim, estavam todos quase atrasados e deveriam se arrumar rapidamente para chegar a tempo. Ele levanta em um salto, avisando sua esposa, que logo já se levanta e corre para acordar as meninas e avisar que deveriam ter mais agilidade para se arrumarem.
- Ah não... Vai ser mesmo todo dia assim? - indignou-se Akiko.
***
Já no colégio, a rotina seguia melhor que no dia anterior. Akiko, Naoko e Miyu se juntaram na hora do intervalo e estavam compartilhando quais matérias haviam despertado maior interesse em cada uma. A primeira afirmou ter gostado muito do estudo da língua estrangeira, a segunda mostrou interesse em física e a terceira em geometria. Enquanto a conversa se desenrolava, ao longe passava Aino, colega delas.
- AH! OLHA LÁ! AINO! - Akiko chamou bem alto e bem animada, mas não obteve resposta alguma.
- Ela está fingindo que não te conhece - constatou Naoko.
- O QUÊ!? NÃO TÁ NÃO! - indignou-se Akiko, que achou um absurdo as palavras da sua amiga e decidiu correr atrás de Aino para mostrar que ela estava errada. - AINO! VEM CÁ!
Aino começou a fugir de Akiko. As duas correram pelo pátio e pelos corredores. A morena deu tudo que podia, mas logo se cansou, se apoiou na parede de fora do banheiro. Sua disposição física não era das melhores e sua amiga logo a alcançou. Mesmo ofegante, ela ainda achou fôlego para se impor.
- QUE VERGONHA QUE EU TÔ PASSANDO! O QUE TU QUER, AKIKO?
- Aino, olha só, você não vai acreditar. Não sei se você tá sabendo. - começou a falar sem parar - Não sei se ela te contou, mas a Sayuri sabe; todo mundo já sabe.
- Akiko, para com isso, fala de uma vez! - disse Aino, agoniada com a enrolação da amiga.
- É sobre a Yukino! Ela é uma de nós! - falou muito feliz a garota de cabelos roxos.
- O que!? Como assim? - perguntou espantada.
- Você tá ligada, ela faz... - começa a fazer vários movimentos com as mãos e os braços - ...aquelas coisas lá.
- Eu entendi. Só me recuso a ficar feliz por isso. - responde Aino, cruzando os braços, demonstrando desconforto.
- Mas por que!? É legal ela ser uma de nós.
- Legal? Uma de nós? Não tem nada de "nós". Eu só quero ser uma pessoa normal e comum.
Planeta Finalia
Na base de Ayami, escutam-se passos percorrendo os corredores e seguindo até a sala da soberana. Abrindo calmamente a porta, uma figura misteriosa pergunta ao longe, discretamente.
- Me chamou, senhora?
- Ah, sim, Itzel, chamei. - ela olha para onde ele estava - Por favor, entre.
Ayami o atendeu vestida em um elegante vestido de renda com bordados de pérolas. As alças possuíam pelos em forma de ombreiras, e o busto estava coberto em cetim dourado transpassado, unindo-se com um nó na cintura, contornando o corpo e formando uma saia aberta na frente. Os acessórios escolhidos para compor o visual foram dois brincos compridos com pérolas e uma pedra dourada na ponta. Havia várias pulseiras, e o sapato de salto alto e bico fino finalizava o conjunto.
- Vou precisar de suas habilidades para uma missão de reconhecimento. - disse ela em alto e bom tom. - E também quero que você descubra quem são as quatro garotas que Rosália encontrou para ver se estão aparecendo outras. Infiltre-se entre os habitantes da Terra.
- Entendido! Entro em contato conforme conseguir informações. - respondeu prontamente.
Um portal se abriu, semelhante ao de Rosália, porém na cor azul, para enviá-lo ao local.
Planeta Terra
Na mesma praça onde Rosália apareceu, mais especificamente no lago artificial, começa a surgir algo. Eis que surge de dentro da água um homem de cabelos cor verde-água claro, com duas tranças em cada lado pela frente e uma no meio atrás, comprido até os ombros, e olhos azul-céu. Suas roupas estavam rasgadas e molhadas: uma camisa de pontos largos em tricô e calça de moletom, ambas na cor marrom. Apenas uma pessoa viu ele saindo do lago, mas foi considerado louco e bêbado por ver tal coisa.
Itzel, o homem que havia saído do lago, caminha pela cidade observando os cidadãos, como se portam e como se vestem. Ele percebe que os moradores daquele lugar estão todos bem vestidos, com roupas de boa qualidade, contrastando com as vestes que ele está usando.
Caminhando pelo centro da cidade, ele vê várias roupas penduradas na parte da rua e que chamam muito a sua atenção, ele decide então pegar uma, mas é rapidamente interrompido:
- EEEI, EI, EI, EI PODE PARAR DE ROUBAR. VAZA QUE EU VOU CHAMAR A POLÍCIA! - gritou então o dono da loja, um homem por volta dos 30 anos, alto e de aparência comum.
- Mas senhor, estava na rua, não estou roubando. – disse Itzel com convicção.
- NEM VEM COM ESSA DESCULPA! VOCÊ VAI TER QUE PAGAR! - continuou gritando o dono.
- Tá... mas como que se paga? - perguntou o homem, tentando entender o funcionamento daquele planeta.
- Ah, você está sem trabalho. - chegou à conclusão o lojista. - Tem uma locadora de uma galera alternativa uns metros daqui. - indicou.
Seguindo na direção em que foi indicado, chegou à vídeo locadora, que ficava numa parte um pouco mais nobre da cidade. O pequeno prédio de arquitetura moderna possuía dois pisos. A fachada tinha vidros enormes e a porta ficava na lateral. Havia ainda um estacionamento que se acessava por uma rampa e passava por debaixo da sala comercial. Itzel se posicionou à frente do vidro e viu que havia um cartaz de "HÁ VAGAS". Percebendo que estava no local certo, entrou já falando do assunto:
- Olá! Estão precisando de alguém para trabalhar aqui? - disse animado.
- Olá! Bem-vindo! Temos vagas sim... - respondeu um jovem rapaz que estava organizando as VHS e DVDs. Ele tinha cabelo moicano rosa, pele clara, olhos castanhos, piercings de bolinhas na sobrancelha esquerda, piercing de argola no lábio e piercings e brincos nas orelhas. Ele vestia camisa e calça preta e um avental do local.
"Hum, ele tem acessórios no rosto igual Aiden e Koa". – pensou Itzel enquanto analisava o jovem.
"Coitado, ele tá com as roupas rasgadas". – pensou o jovem enquanto analisava Itzel.
- Tá, quando vou poder comprar coisas? - Itzel saiu de seus pensamentos e retomou o assunto.
- Que direto você... - assustou-se um pouco o rapaz de moicano.
- Preciso comprar umas roupas! - explica o rapaz de olhos ciano enquanto dá um sorriso simpático.
- Tô ligado! Tô ligado! Me chamo Ren! - responde muito animado. – Mano, são três salários mínimos, dá pra se ajustar muito bem! Cê parece um cara legal! Que tal um teste amanhã? - propôs.
O rapaz da locadora dá mais uma olhada de cima abaixo em Itzel e, preocupado, decide perguntar:
- Mano, não me leva a mal, mas cê tem onde dormir?
- Ah, não tenho. – responde despreocupado.
- Lá em casa tem espaço, pode ser? - oferece o jovem de piercings enquanto pensa "Mas nossa, que cara sossegado."
No momento em que é feita esta proposta, a imagem de Rosália vem à mente de Itzel e ela apenas grita:
"É UM POVO NOJENTO, TRAIÇOEIRO, NÃO SE PODE CONFIAR EM NENHUM DELES!"
No entanto, Itzel, que estava disposto a seguir firmemente com sua missão de reconhecimento do planeta, olha para o jovem e responde:
- Pode ser sim. Aceito!
- Ae! Pode crê! Então observa aí como fazemos até acabar o expediente e irmos vazar. - respondeu animado o jovem por ganhar um colega de quarto.
***
No dia seguinte, mais um dia de rotina do colégio se seguia, e Akiko já estava cansada de seus dias serem do mesmo jeito. Seguindo com Miyu para a sua sala, ela então encontra Aino logo na porta, e elas se encaram. A menina de cabelos roxos dá um sorriso sem graça, esperando por uma boa reação de sua amiga; porém, isso não acontece, e ela apenas vira a cara, mostrando que não estava ali para conversar.
A rotina escolar segue normalmente até o intervalo, quando, no meio de toda a bagunça, Yukino surge atrás de Akiko e Miyu pedindo para conversarem.
- Tá... sobre esses treinos... - pergunta Yukino, hesitante.
- Não se preocupe, é tranquilo. Vai ver quando chegar. - responde rapidamente Miyu.
- E nem te preocupa Yuki! A Sayu é ótima! - responde Akiko de maneira mais animada.
- ... Mas eu não vou ter que lutar com ela né? - Yukino então pergunta, mostrando qual era sua real preocupação.
- Que? Lutar? Não? - Miyu responde indignada com o quão absurda parecia aquela pergunta. - Ahh, você e Akiko assistem animes demais. Não tem nada disso. Ela só vai te ajudar a controlar sua Potentia, só isso.
- Tá! Que bom! Então vai ser uma mentora. E aquela mulher que nos atacou? O que queria? - Yukino continuou a perguntar.
- Uma coisa de cada vez. Primeiro vai entender sua Potentia, depois vemos o resto. - responde Miyu com firmeza. – Daqui a pouco acaba a aula. Você almoça lá em casa e depois tira as suas dúvidas.
As últimas aulas passam num piscar de olhos, o sinal toca e elas seguem para a casa de Sayuri, onde já está esperando todas com o almoço pronto.
- Descansadas? - pergunta Sayuri meia hora após todas comerem. - Agora vou ficar com a Yukino! As demais cuidem da louça.
Yukino escuta o chamado, se levanta tímida e segue Sayuri para o lugar onde ela indicou. As demais lavam a louça, arrumam a cozinha e seguem para suas atividades cotidianas.
A mais velha leva a jovem para o seu quintal, um local com bastante grama, flores e árvores, onde até o muro possui plantas. Há alguns objetos decorativos como bancos, vasos e um pergolado. Yukino acha tudo muito bonito e não deixa de expressar o que achou do espaço, e Sayuri agradece, dizendo que aquele é o local que ela utiliza para relaxar. As duas se sentam na grama. Sayuri mais de lado, com as pernas colocadas no chão de maneira confortável. Yukino se senta em posição de zazen.
- Primeiro, vamos fazer um exercício de concentração. - diz a mulher com sua voz tranquila. - Respire lentamente e mande embora qualquer tipo de pensamento intrusivo.
Yukino começa a respirar com atenção, mantendo um ritmo confortável. Enquanto isso, Sayuri continua a conduzir:
- Se você prestar atenção, vai perceber que a sua Potentia é algo natural que sempre esteve com você. É igual a respirar, e também é possível aprender a utilizá-la melhor. Quero que você perceba isso de forma consciente. Quando estiver preparada, forme pequenos flocos de neve.
A jovem, então, continuou a respirar durante mais um tempo e, assim que se sentiu mais disposta, ergueu a mão e se concentrou, conseguindo cumprir exatamente com o que lhe foi pedido. Ela não sabia ainda se deveria ficar feliz. A mesma precisava ver mais do treinamento para ter certeza. Mas Sayuri já a elogiou:
- Muito bem! Agora vamos aos poucos controlar quantidades e tamanhos.
Os treinos do primeiro dia se seguiram de forma tranquila. Yukino foi se esforçando para fazer o que Sayuri pedia e foi capaz de formar flocos de diferentes tamanhos e quantidades. Por ser sua primeira vez, o treino foi um pouco cansativo, mas sua mentora sentiu que ela havia tido excelentes resultados. A jovem então agradeceu e retornou à sua casa. Os dias posteriores também foram de treinos, só mais intensos.
- Terceiro dia de treino consecutivo! Vou me iniciar. - disse a exausta Yukino para sua amiga Akiko.
- AEEE! É isso aí, amiga! - comemorou Akiko. – Yuki! Bora uma festa do pijama no sábado? - continuou com um convite.
- Eu não faço ideia do que se faz numa festa do pijama. - respondeu a moça de cabelos escuros sem nem pensar direito. – Mas vou ver com meus pais se posso. Tô cansada demais para pensar em algo.
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