Se arrependimento matasse, eu estaria morta. Deixar Melinda com o laptop desbloqueado e com o acesso ao meu e-mail corporativo foi a mesma coisa de deixar uma criança mexer.
— Você sabe a dor de cabeça que me deu? — me encolhi mais ainda na cadeira, as broncas de Thiago estão fazendo minhas bochechas se avermelharem de vergonha — sorte sua que a esposa do nosso querido chefe adorou a sua história — tento argumentar que os quinze e-mails com o assunto para o meu amor com a cópia do rascunho de meu novo romance não foi de fato culpa minha ter chegado no e-mail do CEO da editora — não tente se explicar, você quase acabou com o casamento do dono de tudo isso aqui — ele passa a mão pelos cabelos bagunçados bufando — precisamos que você escreva o mais rápido que conseguir, a esposa do chefe quer terminar de ler antes de ganhar o bebê ou você pode ter certeza que não vou ser o único a perder o emprego por aqui — ele se senta na cadeira girando —
— Thiago, eu juro que não quis que tudo isso ocorresse dessa forma — forço minha cadeira para me aproximar — Melinda queria uma cópia e enviou para meus contatos favoritos, não imaginei que ela enviaria para o chefe, prometo que me empenharei para finalizar tudo de acordo com os padrões da empresa — prometi algo que não posso cumprir, não sem a ajuda de alguém —
— Acho bom mesmo você cumprir isso, nossa querida chefa terá o bebê daqui 5 meses e você não está nem na metade do enredo.
Sinto meu sangue gelar, meus terrores demoram cerca de 9 a 14 meses para serem escritos e diversos detalhes que descrevo são crus para que sintam medo de fato, um romance contém detalhes delicados, descrições mais completas e poéticas, criar algo já é difícil, o deixar completo em 5 meses é pior ainda. Esfrego minhas mãos geladas preguentas de suor.
— Ela não pode ser congelada igual aquele cantor que descongelamos no Natal? — tento um sarcasmo para me acalmar —
— Acha que não tentei negociar? Ela ficou brava o suficiente conosco por quase ter estragado um casamento, os hormônios dela estão piores — ele deita sua cabeça na mesa — sou bonzinho demais contigo, sabia? — afago seu cabelo — Chisato concordou em ser seu editor, ele acompanhará todo o processo e te ajudará a dar sequência no enredo — me levanto rapidamente da cadeira incrédula —
— Chisato? O artista que trabalha para as multinacionais do exterior para desenhar as histórias mais famosas da atualidade? Aquele Chisato que participou da animação do estúdio que ganhou o prêmio de filme do ano? — sinto meu coração bater o dobro do que normalmente bate, minhas pernas amolecem me obrigando a me sentar novamente —
— Ele já queria participar de um projeto seu, mas seu estilo de terror não combina com o estilo dele — Thiago se levanta indo para próximo da porta — ele será seu editor e se conseguir ter muita sorte, talvez ele ilustre algum de seus personagens. Preciso de um café — um suspiro longo sai de suas narinas — você irá trabalhar na casa dele durante esses meses, por isso esteja preparada para ir hoje à tarde o conhecer.
Thiago sai da sala de reuniões me deixando sozinha. Chisato é um artista que entrou recentemente para a editora como editor, raramente ele ilustra algo para os projetos da editora, é uma honra trabalhar com ele. Mas… devo ter cuidado com isso, é um trabalho importante e apesar de eu o admirar, nem sempre o herói é do jeito que achamos ser, pode ser perigoso se ele tentar algo, posso perder minha carreira se for presa por o jogar de um prédio após ele me assediar, preciso de estratégias de como lidar com tudo sem gerar grandes consequências. Thiago estava certo, preciso me preparar.
Olive uma escritora de livros de terror se vê confusa após ganhar a missão de escrever um romance de sua editora, apesar de odiar mudanças que a obrigue a sair de sua zona de conforto, ela aceita tentar. Um dia quando volta para casa, foge para comprar macarrão instantâneo apimentado para não precisar comer o que sua amiga cozinhou e acaba em uma briga com um desconhecido que leva os últimos pacotes de instantâneos em sua cesta.
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