Pode se dizer que minhas expectativas foram por água abaixo, destroçados, uma escavadeira passou por cima, cavou um buraco, a jogou lá, passou por cima se novo e enfim a enterrou. Não imaginei as características de Chisato, mas pelo nome imaginei ser um norte americano com pais asiáticos, um rapaz que é apaixonado por animações e que veio para nosso país para expandir um pouco da noção de nossa cultura, é uma honra estar na mesma editora que ele, mas...como vou explicar para meus chefes que arranquei um tufo de cabelo de Chisato por causa de um macarrão instantâneo apimentado? Os mesmos olhos escuros como o universo com sua vasta escuridão, que me olharam abismados naquele dia, não param de me encarar encostado na porta, tento não olhar tanto para a Rainbow Dash ou para seus ombros largos, ou em sua mão que com certeza quebraria a cabeça de algum de meus monstros em um unico soco, encostada no batente da porta; me concentrando em seu rosto com maxilar marcado, olhos médios com leves rugas marcadas demonstrando o passar de sua idade.
— Terei que perguntar novamente? — o ar se extingue e percebo que prendi a respiração —
— Sim, meu hobbie é encarar caras que parecem com personagens de terror — debocho para que não perceba o quão bonito o achei, um nanami moreno em carne, osso e inteiro — Seu hobbie é sair por aí atendendo a porta todo molhado e sem ao menos colocar uma camisa? Que pouca vergonha — Sinto um beliscar no braço esquerdo de Thiago, que ri sem graça —
— Vamos iniciar a conversa sobre os negócios? — ele adentra a casa me puxando pelo braço —
O apartamento contém tudo que já imaginei em ter algum dia, tons cinzas sem vida nas paredes, enormes janelas de vidro que dão a visão da cidade, uma visão deslumbrante de tirar o fôlego. A noite deve ser encantadora com as luzes dos prédios acessas, os carros com seus condutores voltando para casa desesperadamente para ter ao menos um pouco de descanso após um dia cheio de decepções e frustrações no trabalho.
— Isso é muito mais que eu poderia imaginar — não percebo que digo alto o suficiente para que Chisato se aproximasse —
— Eu disse a mesma coisa quando vi este apartamento pela primeira vez — ele fica ao meu lado e reparo que vestiu uma camiseta preta lisa — No que pensou quando viu por dentro? — quando vou me acostumar com sua voz? —
— Quer sinceridade? — ele assente — imaginei que não conseguiria viver aqui, é triste.
— Qual o motivo para esse seu ponto de vista?
— As cores das paredes são depressivas, você tem uma visão de uma vida movimentada lá fora, mas está preso em um cômodo silencioso que te deixa ainda mais solitário, tudo é chique e esplêndido demais, não se sente só?
Ele me olha com sinceridade, pensa por alguns segundos, suponho que apesar de sua mente trabalhar para formular alguma frase que faça sentido, foi incapaz de me dar uma resposta, ele afastou se de mim se sentando no sofá preto em silêncio. Não precisei de uma resposta, eu já sabia qual era, era assim que me sentia.
Me sento do lado oposto do sofá, Thiago tira da pasta papéis os posicionando para que assinassemos, pego uma das canetas postas por ele e assino, Chisato por outro lado lê o contrato.
— Chisato não temos tempo, tem ao menos quatro folhas frente e verso, Liv tem pouco tempo para escrever — ele recolhe os papéis que assinei —
— Não que eu não confie em você, mas minha intuição me obriga a ler tudo antes de concordar — ele continua folheando — Você tem uma porcentagem nos ganhos, mas quem irá trabalhar nisso seremos nós.
Olho confusa para Thiago, de fato ele não teria direito algum na publicação do livro, quem deveria receber os direitos seriam a editora, Chisato e eu.
— Thiago, explique-se.
Ele coça sua nuca me deixando nervosa, conheço-o muito bem para saber que essa coceira em sua nuca significa problema.
— A editora me deu livre arbítrio com esse projeto, a maioria dos problemas serei eu que resolverei, por qual motivo não posso ter participação dos lucros? — estranho seu modo de falar —
— Thiago me entregue o contrato de Live — sua mão estende aguardando o contrato —
— Não posso lhe entregar um documento que contém as informações pessoas de uma de nossas maiores escritoras — o contrato é guardado em sua pasta —
O clima fica estranho, um misto de desconfiança e medo rondam em mim.
Thiago se levanta, pega seu telefone verificando mensagens .
— Tenho que ir, ocorreu um problema com uma das pré vendas atuais — seus passos rápidos o levam para a porta — iniciem os trabalhos e me atualizem quando darem avanço com algo — a porta é aberta, seu olhar percorre pelo cômodo, parando em mim — não façam bobeiras — a porta se fecha deixando dois estranhos sozinhos para trabalharem juntos —
— Não deveria confiar nele a ponto de assinar sem ao menos ler antes — me adverte —
— Não vou discutir com você, não conhece Thiago como eu, não sabe da história de nossa amizade — tiro o laptop da bolsa — vamos começar para que essa tortura finalize o mais breve possível.
Olive uma escritora de livros de terror se vê confusa após ganhar a missão de escrever um romance de sua editora, apesar de odiar mudanças que a obrigue a sair de sua zona de conforto, ela aceita tentar. Um dia quando volta para casa, foge para comprar macarrão instantâneo apimentado para não precisar comer o que sua amiga cozinhou e acaba em uma briga com um desconhecido que leva os últimos pacotes de instantâneos em sua cesta.
Comments (0)
See all