A família do mercador vivia em uma casa próximo ao limite do reino e atrás de sua moradia apenas a floresta era vista. O reino era pequeno e isolado pela floresta e por montanhas ao seu redor. O mercador dizia que sua esposa era a mais bonita de todas e sua filha era tratada como princesa. Alguns anos após o nascimento de sua filha, porém, sua esposa ficara doente, e a mulher, acreditando que não viveria muito mais tempo, fez um último pedido a sua menina, sem nunca tirar o belo sorriso do rosto:
— Cinderela, seja boa e gentil, e jamais tenha medo dos seus sonhos e desejos.
Com o passar dos anos a filha tentava ao máximo obedecer ao último pedido da mãe. Tratava a todos com gentileza e bondade. Mesmo depois que seu pai casara novamente e sua madrasta a tratava com hostilidade, ela era boa e gentil.
Cinderela agora vivia com seu pai, madrasta e duas meias irmãs. Na frente de seu pai, às três portavam-se bem, mas era o homem sair em suas viagens que a madrasta e Darcy, uma das irmãs, a tratavam como serva e com total antipatia. Alex, a mais nova, no início a tratava com indiferença, mas com o passar do tempo e o olhar observador de Cinderela, passou a confiar na meia irmã.
O pai da jovem se preparava agora para uma nova viagem quando pergunta às três filhas o que desejam. Darcy pede por joias, Alex por tecidos simples e Cinderela apenas que o pai traga os tecidos mais brilhosos para a irmã e o primeiro galho que encostar em você em seu caminho. Durante a ausência de seu pai, Cinderela voltava a ser hostilizada e tratada como serva, e não como filha. Ela não se importava realmente, além disso, Alex vivia escapando da mãe e indo ao encontro de Cinderela para ajudá-la, assim podendo ser ela mesma ao lado da irmã.
Quando a jovem pensou que as coisas não poderiam piorar, seu pai não volta de sua viagem e a notícia de seu falecimento chega. Desolada, Cinderela Foge para a floresta para chorara sozinha, assim ela achava. A jovem ouve um barulho e se assusta, mas antes que começasse a correr uma figura feminina sai por de trás de uma das muitas árvores lhe oferecendo um sorriso acolhedor e uma cesta com frutas colhidas.
— Aposto que teu sorriso é mais bonito que suas lágrimas.
— Meu pai costumava dizer que sim.
— Um homem sábio. — Um sorriso adornava o rosto da estranha. — Como posso chamar a bela dama?
— Como posso dizer meu nome a uma estranha?
— Justo. Sou Kat. Posso lhe conhecer para saber seu nome?
Assim iniciou-se o primeiro diálogo trocado pelas duas jovens. O primeiro de muitos, porque ao longo do mês que se seguiu, às duas fugiam de suas obrigações ao final da tarde e passavam o início das noites conversando e explorando partes da floresta.
Ao final desse mês, um baile fora anunciado no castelo. Todas as damas estavam convidadas e o príncipe daria a honra de dançar com qualquer uma e, quem sabe, escolher sua futura noiva. Cinderela não ficou animada com o anúncio, diferente de suas irmãs. Darcy queria encontrar-se com o príncipe e casar-se com ele e Alex só pensou que seria a oportunidade perfeita para usar vestido perante a sociedade. No fim, nenhuma das três estava certa.
No mesmo dia do anúncio, enquanto exploravam a floresta, Kat pede que Cinderela vá ao baile e a encontre lá, e espera poder saber, finalmente, seu nome lá. Ela aceita o convite, mas com uma condição, que possam dançar ao menos uma música, juntas. A condição só faz tudo ficar ainda melhor e mesmo que às duas passam os próximos dias sem se encontrar, por agendas cheias, nada parece abalar a felicidade de ambas.
Contudo, como era de se esperar, a madrasta de Cinderela jamais permitiria que ela fosse ao baile, assim como jamais consentiria que Alex usasse vestido. Seria uma vergonha para a família em ambas as situações, de acordo com ela. Cinderela estava frustrada pela primeira vez e implorou para ela permitir: “Não tenho interesse no príncipe, só quero ver uma amiga.”. Até Alex tentou ajudar, mas a madrasta parecia impossível de convencer.
— Basta. Tudo bem, deixarei você ir, se e somente se, terminar de limpar toda a casa e tiver um vestido para si.
Não achando aquilo impossível e com ajuda da irmã, terminaram de limpar tudo a tempo do baile. Porém, como nada para ela poderia ser tão simples, ao subir para se preparar, seu vestido, uma lembrança de sua falecida mãe, fora completamente arruinado antes mesmo de pôr em seu corpo. Ela acreditava haver sido obra de sua madrasta ou de Darcy. E enquanto chorava de seu pequeno quartinho, podia ver às três saindo da residência em direção ao castelo.
Cinderela, procurando por refúgio, longe de onde um dia achara ser seu lar, correu para a floresta. A mesma floresta que havia virado um lugar de paz e alegria para si. Ela ainda chorava quando uma luz forte surgia por entre as árvores.
— Não chore, minha querida, estou aqui para lhe ajudar.
Assustada com a voz desconhecida, mas com um toque familiar, Cinderela levanta a cabeça procurando de onde vinha o som e encontrando uma bela mulher, uma das mais belas que ela já havia visto. A mulher se aproximou e a levantou e sem dizer mais nada, apenas com um sorriso no rosto ela levou a jovem de volta a sua casa e com uma varinha em mãos passou a transformar abóboras em carruagens, ratos em cavalos, um condutor e até mesmo um concierge. Ela estava deslumbrada com tudo acontecendo diante de seus olhos. Por fim, a fada madrinha pediu para que ela se afastasse um pouco e olhou bem para a roupa que ela usava. Com um novo girar da varinha sua roupa já não era mais a mesma, seu vestido, agora, era em um azul-claro com detalhes em dourado, longo e rodado, digno de qualquer nobre ou princesa do reino. Sentindo-se pronta para partir, Cinderela tinha um último pedido a fada:
— Posso lhe fazer um último pedido?
— Claro, meu bem.
— Troque-me de corpo. Deixe-me ficar no corpo de minha irmã, apenas por essa noite. Assim posso dançar com minha menina e ela usar o tão sonhado vestido.
Continua...
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