- Pai, por favor, chega dessa conversa. - Octavian deixa um longo suspiro sair e esfrega os olhos. Já não aguentava mais as suas reclamações sobre o mesmo assunto.
- Não pode continuar com essa loucura. Está se matando! - ele esbraveja e o encara furioso.
- E tudo por causa daquela... - Demétrius fala em um tom cheio de desdém e raiva.
- Termine essa frase e vai começar uma guerra que não pode vencer, pai. - Octavian fala em um tom ameaçador e o encara com um olhar sombrio, fazendo o vampiro estremecer. Mesmo sendo mais velho, sabia bem o quão determinada e perigosa sua criação era.
- Por favor, guarde suas opiniões e comentários para si mesmo, não preciso deles. Com licença. - ele se curva, sem abaixar sua cabeça ou desviar seu olhar, logo depois se dirige até a porta, deixando o homem sozinho.
- Desgraçado teimoso... - Demétrius resmunga e contrai sua mandíbula. Queria protegê-lo, mas Octavian não ouvia ninguém desde aquele acidente.
- Haldoc! - ele grita e logo a porta do escritório se abre.
- Senhor... - o homem o cumprimenta ao entrar.
- Está tudo pronto ?
- Sim, o servo já está limpo e preparado. O alimentei muito bem.
- Envie o garoto para a mansão o mais rápido possível! - Demétrius acaricia seu cavanhaque e um sorrisinho se forma em seu lábios. Com uma peça tão adorável, ele não seria capaz de resistir.
- Sim, meu senhor.
- Entre. - Octavian fala ao ouvir alguém bater à porta da biblioteca.
- Senhor, desculpe incomodar quando está lendo, mas chegou algo para você... - a moça fala um pouco nervosa e não consegue encara-lo.
- Certo, e onde está essa coisa ? - ele suspira e se levanta, deixando seu livro sobre o assento da poltrona.
- Na porta da frente, senhor.
- Tudo bem. - Octavian segue em direção a porta principal junto com a empregada e antes mesmo de chegar, já pode ouvir os murmúrios curiosos dos outros empregados.
- O que está acontecendo aqui ? - ele questiona um pouco irritado e ao voltar sua atenção para a porta, pode ver a figura mais adorável e brilhante que já pisou na terra. Octavian fica atônito com sua beleza e com o cheiro doce e inebriante que se desprende da sua pele.
- Senhor Solaram ? - o jovem rapaz chama seu nome da forma mais doce possível. Se Octavian ainda tivesse um coração capaz de pulsar, ele estaria em sérios problemas.
- Sim, e quem é você ? - ele se aproxima e o observa confuso.
- Sou Henry. Seu pai me enviou. - ele sorri inocente.
- Por favor, saia. - Octavian muda de expressão no mesmo instante e fala de forma fria. Podia ver claramente as intenções do seu pai.
- Mas senhor! - Henry gira seu rosto, tentando procurar de onde vinha sua voz. Se precisasse, iria se ajoelhar aos seus pés e implorar.
- Por favor, eu... - ele ergue suas mãos para se localizar. O vampiro se surpreende e se dá conta de que Henry era cego.
- Vá embora. Se ficar aqui, vai se machucar. - Octavian desvia seu olhar para o chão e tenta se afastar, mas Henry o encontra e se agarra ao seu corpo com força.
- Por favor, me deixe ficar! Prometo que não causarei problemas. - ele implora desesperado.
- Ugh... maldição! - Octavian resmunga e sente seu coração amolecer diante daquele rosto.
- Tudo bem, você pode ficar. Mas não faça nada estupido! - ele agarra seus ombros e o afasta.
- Obrigado, senhor! - Henry lhe mostra um largo sorriso e seu rosto ganha um leve tom avermelhado.
- Adelea, mostre o aposento dos empregados e explique tudo a ele.
- Sim, senhor. - a moça se aproxima de Henry e o guia para o interior da mansão.
Octavian deixa um longo suspiro sair ao vê-lo se afastar e volta para a biblioteca, ao chegar no cômodo, ele se apoia na poltrona e sente algum estranho sentimento percorrer o seu corpo, o deixando atordoado. Nunca havia se sentido assim antes.
- Merda...
- Esta será sua cama. A última perto da parede. - Adelea fala enquanto o guia até sua cama.
- Entendi, obrigado! - Henry sorri e se inclina para apalpar a cama.
- Onde estão suas coisas ?
- Eu trouxe apenas uma mala pequena. Não preciso de muita coisa.
- O quê ? E suas roupas e artigos pessoais ?
- Tenho apenas algumas mudas de roupas e dois sapatos. É tudo o que preciso.
- Próximo a cama tem um baú, pode guardar suas coisas nele. Irei providenciar seu uniforme amanhã.
- Obrigado! - Henry sorri e apalpa o colchão, até chegar ao final da cama e sentir o baú.
- Venha, vou te mostrar toda a mansão e explicar quais serão suas responsabilidades.
- Certo!
Após mostrar toda a mansão para Henry, eles finalmente chegam ao último cômodo.
- E no final do corredor está a biblioteca do Sr. Solaram. Eu sou a única que pode vir limpar, então não se preocupe muito com esse lado da casa.
- Entendo... - Henry sorri um pouco tristonho. Não entendia o seu desgosto repentino e nem sua atitude, ele não havia feito nada para justificar tais sentimentos.
- Henry, não fique chateado. Não é nada pessoal contra você. - Adelea o tranquiliza ao notar sua aflição e segura sua mão direita.
- Logo o Mestre vai se acostumar com sua presença. - ela sorri de forma gentil.
- Obrigado, Adelea! - Henry também sorri e suspira aliviado. Não queria ser um fardo para ele.
- Sim, Mestre... - o homem, do Clã Idris, fala ao se curvar. Ele está parado em um local escuro, onde pode esconder o seu rosto.
- Krodo, quero que investigue esse garoto novo. - Octavian suspira e esfrega os olhos. Já estava cansado de discutir sobre o mesmo assunto, mas seu pai não lhe dava trégua.
- Ouvi dizer que seu pai o enviou.
- Sim, o que reforça ainda mais as minhas suspeitas.
- Poderia ter se negado. Se quiser eu posso cobrar alguns favores e fazê-lo sumir.
- Eu sei, mas algo nele me fez mudar de ideia... - Octavian sussurra e acaba se lembrando da forma como Henry sorria, era tão doce e inocente que o fazia sentir uma estranha sensação de obrigação. Como se mantê-lo seguro e feliz fosse seu dever sagrado.
- Então quer que eu vigie o garoto ? Ele pode tentar fazer algo.
- Sim, isso seria bom também...
- Certo, voltarei quando tiver alguma informação. - o homem acena com a cabeça novamente e some na escuridão, como se nunca tivesse estado naquele cômodo.
Ao estar finalmente sozinho, Octavian se levanta e vai até o seu armário de bebidas. Por ser um vampiro, o álcool já não o deixava bêbado como fazia antes, mas o gosto do Bourbon em sua boca era, de alguma forma, reconfortante.
Ele pega a garrafa e se senta de frente para a janela, observando a lua cheia. À medida em que à noite avança, sua mente é tomada por milhares de pensamentos e lembranças.
- Queria que ainda estivesse aqui... - Octavian murmura e tira um medalhão do bolso da sua calça. Ao abrir o objeto, há uma pequena fotografia de uma mulher, que o observa com um olhar amoroso e o sorriso gentil.
Ele sorri tristonho e sente a melancolia se apossar do seu corpo, para Octavian a vida já não tinha mais sentido e por isso, passava os dias esperando o momento certo para morrer.
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