Vídeo-locadora, 5 de março, sexta-feira, 20:00h
Itzel, que agora procurava compreender o comportamento terrestre, passou o dia observando e aprendendo como operar a videolocadora. Sua atenção fez com que ele dominasse facilmente suas funções e seguisse a rotina sem grandes complicações.
Por ser novo na cidade, era comum que chamasse a atenção dos clientes que já frequentavam o local. Além disso, as garotas costumavam puxar assunto com ele, como as duas moças loiras e bem vestidas, que entraram na vídeo-locadora e ficaram curiosas.
— Amiga! Visse o atendente novo? — disse a primeira, colocando a mão no rosto.
— Vi sim! Vamos tentar dar um oi!? — respondeu a segunda com a mesma animação.
As duas foram procurar títulos de romance, na esperança de gerar aproximação ou algum assunto com o novato. Talvez assim poderiam conhecê-lo melhor.
— Moço!! Queremos esses! — as duas pediram juntas, cada uma segurando um filme romântico e mostrando para ele.
— Dois da sessão de romance? — o jovem pegou os DVDs e levou até o balcão. Lá, verificou onde estavam os discos originais e conferiu se não havia nenhum arranhão.
— Estão certinhos! É só pagar no caixa, devolver em três dias. Ah, e obrigado pela preferência. Voltem sempre. — agradeceu enquanto devolvia os DVDs à elas.
O sorriso simpático do atendente novato não foi o suficiente para disfarçar seu desinteresse. As duas meninas sentiram, quase que fisicamente, a barreira emocional que havia. Elas acabaram pagando e levando seus filmes embora, mas saíram decepcionadas por não terem conseguido conversar com o atendente bonitinho.
Ren, o jovem de cabelo rosa, com moicano e dono da vídeo-locadora, estava no lado do balcão. Ele havia acompanhado a cena toda, ficou impressionado e se aproximou.
— Ahh… Itzel… — Ren chamou.
— Sim?
— Aquelas garotas… elas tavam dando em cima de você. — falou diretamente.
— Ah, sim, e o que seria isso? — perguntou, sem entender.
— Pode crer, tu é de fora, esqueci. — se recordou.
Ren parou por um momento e ponderou sobre como explicar esse conceito ao colega estrangeiro.
— Elas querem te namorar sem ser a sério! — explicou.
— Ah tá. Dispenso. — concluiu.
O dia passou, e era hora de fechar o estabelecimento. O novato se despediu do último cliente. Ren veio a seu encontro fazer um convite:
— Ei, Itzel! Bora balada hoje?
— Bora o quê? Ba o quê? — ele se demonstrava confuso.
— Ah, pô! Cê é de fora! Verdade! — Ren se lembrou.
Ren começou a fazer passos de dança estranhos e confusos para mostrar o que iam fazer.
— É um lugar que o povo vai pra dançar, tem um monte de gente que tu não conhece. Mas dá de conhecer. — Ren explicou.
“Parece estranho, mas deve ser importante para os nativos da Terra...”, pensou Itzel, enquanto observava os gestos estranhos de Ren, imaginando que talvez pudesse ser algum ritual daquele povo.
— Vou levar minha namorada e vão uns outros amigos. Saímos daqui, nos arrumamos e vamos lá. — Ren fez um sinal de joia.
— Não entendi absolutamente nada, mas irei aceitar o convite. — disse Itzel, ainda um pouco confuso, mas curioso, pois iria conhecer mais sobre a cultura local.
Danceteria D, 23h
A noite chegou e todos estavam prontos. Itzel vestia roupas que havia pegado emprestadas de Ren, um casaco comprido estilo militar, com detalhe de couro nas mangas. Camisa com detalhes em vinil. Calça larga, luvas e sapatos de couro preto. O estilo era completamente diferente das roupas que ele usava quando tinha chegado ao planeta e também em nada lembrava o seu uniforme de trabalho.
Ren utilizou um modelo semelhante, porém mais simples, com uma camisa sem detalhes e casaco mais curto. A namorada de Ren, chamada Lauren, seguiu com eles no carro. Era uma linda jovem de pele clara e olhos verdes, com longos cabelos pretos que cobriam um olho, estilo bastante em alta no momento, usando vestido preto, lembrando vocalista de banda de rock gótico.
Eles seguiram seu caminho em um carro preto de formas arredondadas até chegarem a uma parte alta da cidade, onde se encontrava a danceteria.
O lugar estava repleto de jovens. Luzes coloridas circulavam pelo local, e a principal, branca, piscava freneticamente. A música eletrônica tocava numa altura ensurdecedora, e todos pulavam e dançavam no ritmo enquanto tomavam diferentes tipos de drinks.
Todos, menos Itzel, que decidiu se escorar na parede, apenas observando o comportamento das pessoas.
“Lugar escuro, luzes coloridas piscando, som muito alto. Eles ficam dançando e bebendo líquidos coloridos.”, fazia suas reflexões sobre o local.
Enquanto analisava o comportamento local, ele foi interrompido por duas belas jovens loiras bem vestidas.
— Ei, gatinho! Boa noite! — disse a primeira.
— Diz aí! Qual seu nome? — perguntou a segunda.
— Me chamo Itzel, mas sou um humano. — respondeu educadamente sem compreender a comparação.
As duas acharam a resposta engraçada. Elas pensaram que ele provavelmente estivesse interessado nelas, e continuaram a perguntar.
— Oh, que fofo! Que nome diferente! É estrangeiro?.
— Sim!
— E faz quanto tempo que tá aqui?
— Nem uma semana.
— Veio visitar?
— Vim a trabalho.
— Que demais! Ei, que tal dar uma volta na cidade com nós duas? — convidou a primeira, puxando ele pelo braço.
— Pode ser sim! Adoraria conhecer. — concordou Itzel, aproveitando a deixa para sair daquele lugar.
Percebendo a cena, Ren se colocou rapidamente entre seu amigo e as meninas, fazendo com que elas soltassem o braço dele.
— EEEEI! DESCULPA ESTRAGAR A NOITE DE VOCÊS, MENINAS, MAS O BONITÃO AQUI TÁ ACOMPANHADO. — disse Ren em alto e bom tom.
As duas se entreolharam confusas e cochicharam uma a outra.
— Ah não, acho que o bonitinho joga no outro time. — elas lamentaram, acreditando que os dois rapazes seriam um casal, voltando à pista de dança.
Após elas se afastarem, Ren apoiou suas mãos nos ombros do companheiro, tentando entender o que havia acabado de acontecer.
— Itzel, qual é o teu segredo? Eu te deixo sozinho dois minutos e DUAS vêm dar em cima de ti. — Ren perguntou.
— Segredo? Elas só queriam mostrar a cidade, nada demais. — respondeu sem entender bem porque Ren estava agitado.
— Cara, tu é muito inocente, não é a cidade que elas querem te mostrar. — explanou Ren, inconformado com a ingenuidade de seu colega.
Casa de Sayuri, sábado, 6 de março, 7:00h da manhã
A animação tomava conta da casa desde cedo. Akiko, que nunca acordava cedo por conta própria e não gostava de sair da cama em um dia de descanso, já se encontrava de pé. Vestida, sorridente e ajeitando a casa, sua animação era contagiante.
Sayuri havia acabado de acordar e descer as escadas. Ela ouviu o som da água corrente vindo da pia da cozinha e o cheiro de detergente, viu a cena e estranhou.
— Akiko? São 7:30h da manhã num sábado! Por que acordou tão cedo? — Sayuri indagou.
— Hoje é a festa do pijama. Tô animada, nem consegui dormir direito. — explicou Akiko, super animada.
— Ah! É verdade! A casa vai ficar bem cheia. Vou pedir pro Ghuang comprar comida e bebida. Matsui é novinha, não pode dormir tarde. — Sayuri já começou a organizar mentalmente seu dia.
— Fica de boa! A gente vai deixar tudo limpo! — disse Akiko.
Depois da força-tarefa na arrumação da casa, o cheiro de limpeza tomou conta da casa. Tudo estava organizado para receber as convidadas. Akiko se sentiu feliz e orgulhosa de ter terminado a tempo. Miyu viu as compras e reclamou que não foi comprado nada saudável, e Naoko apoiou a mão no rosto, cansada com toda a energia dedicada à organização do lugar.
Este ainda não era o fim das atividades e elas se dividiram: Naoko e Miyu foram ao fogão cozinhar um brigadeiro de panela, enquanto Akiko contou com a ajuda de Megumi para pensar em alguns jogos e brincadeiras para aquela noite. As atividades seguiram até ouvirem o som da campainha.
— Aino e Yukino chegaram! Vou abrir pra elas! — Sayuri se colocou à disposição.
— Bem-vindas! Vamos entrar, fiquem à vontade. — cumprimentou Sayuri, abrindo o portão.
Ao ver suas amigas chegando, Akiko correu, pulou e agarrou Aino num abraço apertado.
— Aino!!! Yukino!!! Que bom que chegaram! — Akiko cumprimentou.
— Ai, me larga! Por que tu e a Yukino ficam fazendo isso? Posso pelo menos guardar o sorvete? — reclamou Aino sobre sua recepção calorosa de Akiko.
Yukino, quieta ao fundo, se perguntou por que tinha sido inserida na conversa sem contexto algum.
— Ah! O sorvete que você faz? — Akiko ficou admirada, seus olhos brilhavam.
— Sim! Mas ei, eu não vou dormir aqui, nem se anima. — respondeu Aino, levando o sorvete até a cozinha.
— Meninas! Vamos começar já e comer tudo antes que Aino vá embora — anunciou Akiko.
— QUE EXAGERO! — reclamou Aino.
As meninas sugeriram diversas ideias de brincadeiras. Do karaokê à maquiagem, não se chegava a um acordo, tentaram inventar ideias, mas acabaram por optar por jogos de tabuleiro, que foi o que demonstrou maior aceitação.
Aino foi embora por volta das 22:00h e as demais jogaram até tarde da noite. Na hora de dormir, improvisaram os colchões na sala, e algumas dormiram no sofá, mas todas conseguiram ter uma boa noite de sono.
Domingo, 7 de março
O domingo prometia ser de muita animação; o sol era intenso, perfeito para um dia de praia. Akiko, acordou cedo e tratou de despertar todas, estava muito animada para se divertir.
Megumi sabia que o carro de Ghuang, apesar de espaçoso, não seria suficiente para todas e decidiu chamar um táxi para levar ela, Miyu e Naoko, assim todos iriam confortáveis.
Praia.
A praia transbordando de pessoas, o cheiro do mar, trazido pelos ventos, a areia escaldante, a água gelada. As pessoas da cidade queriam aproveitar os últimos dias de verão para relaxar e passar um tempo com a família. E era isso que as meninas também vieram fazer.
— Vamos jogar bola na praia! Quem vem? — Akiko, com seu biquíni listrado em rosa e branco, com babados, foi convidando todos para aproveitarem o dia.
— Vamos brincar, Matsui? — perguntou Naoko, que usava um maiô preto com recortes.
— Vamos! — respondeu Matsui, com um delicado conjunto de banho infantil, estampado de flores.
— Eu vou dar uma volta. — disse Yukino, usando um modelo simples azul marinho, indo caminhar à beira-mar.
— Ah, eu vou ler, depois jogo. — explicou Miyu, com biquíni vermelho com estampa de folhagem, se dirigindo a um local mais calmo.
— Acho que todas já estão à vontade. — comentou Ghuang, com alívio, olhando as jovens, ele vestia com um calção preto simples.
— Ah, elas se entendem. — falou Sayuri, que vestia um lindo maiô azul celeste, sorrindo para tranquilizar seu esposo.
— Vai curtir, Ghuang, não precisa cuidar de nós o tempo todo. — pediu Megumi, com seu biquíni vermelho, que percebeu que o anfitrião precisava relaxar.
O sol estava a pino, e naquela praia lotada, Itzel, Ren e Lauren conversavam e bebiam uma cerveja gelada juntos. Estavam aproveitando a folga da locadora para se divertirem um pouco.
Os rapazes utilizavam calção de banho, Itzel em verde, combinando com seus cabelos, e Ren em vermelho, combinando com seu estilo alternativo. Lauren optou por um biquíni de corte simples, pequeno, e na cor preta.
— Pega a cerveja e vamos bater um papo. Ontem eu e Lauren vimos que seu nome é espanhol! É isso? — Ren começou a entrevista, enquanto entregava uma cerveja para Itzel.
— Ah, meu nome. Sim, é sim.
— Top, mano! É mexicano? — Ren continuou a perguntar.
— Isso! — concordou.
— Bah, massa. Mas você é mestiço, né? — perguntou Ren novamente
— Sim.
— Metade alemão? — Ren insistiu.
— Sim!
“Incrível como os terrestres inventam as histórias. É só ficar concordando.” pensou Itzel depois de concordar com todas as suposições de Ren.
Aproveitando a oportunidade de conhecer um novo lugar, ele se levantou e avisou seus colegas que iria dar uma volta. Andando e observando o comportamento dos terráqueos, logo algo sai do esperado e acaba prendendo sua atenção.
À beira-mar Yukino, sentada, jogava para cima a água do mar e congelava rapidamente as gotas, treinando para melhorar sua velocidade.
Depois de contemplar a situação, Itzel estendeu sua mão em direção ao mar. A água começa a ser drenada rapidamente por ele, fazendo com que a beira-mar recuasse.
Se deparando com a situação atípica, os banhistas entraram em desespero. A correria, os gritos descontrolados, apavorados com a situação. Eles se esbarravam e tentavam pegar o que conseguiam para fugir.
Ren foi correndo ao encontro de Itzel para chamá-lo para ir embora, mas ele recusou, afirmando que iria depois e estaria verificando se alguém precisava de ajuda.
Yukino encarava o mar com desconfiança, aquilo não acontecia naquela região, o que deixou a situação suspeita. O homem responsável por aquilo se aproximou dela, calmamente. Ela percebeu e dirigiu seu olhar à ele.
— Tudo certo, precisa de ajuda? — perguntou Itzel.
— Não, já estou indo. — respondeu Yukino, procurando despistar o desconhecido, indo em direção a suas amigas.
Ao ficar de costas para ele, ela acabou por fazer com que o forasteiro se sentisse com chances de lançar seu ataque. Sua expressão tranquila e inocente ficou séria, mas havia controle e atenção em cada movimento. Estendeu as mãos e controlou a água que havia drenado, lançando-as em direção à Yukino.
A massa de água percorreu rapidamente o caminho, surpreendendo a garota, derrubando-a no chão e prendendo-a. Sayuri, logo viu e correu na direção da jovem, para protegê-la. Megumi rapidamente se deu conta da situação e se adiantou, lançando sua Potentia de Luz para incomodar os olhos de seu oponente, facilitando o movimento de suas companheiras.
Itzel teve dificuldades de enxergar, mas não se alterou com a situação, Rosália já havia relatado a existência dos poderes. E tendo se encontrado com uma Potentia de gelo e outra de luz, ele concluir que encontraram o mesmo grupo. Mesmo com o brilho excessivo em seus olhos, ele manteve a calma para tentar analisar a situação.
Sayuri se colocou à frente de Yukino, enquanto Naoko, que possuía Potentia de água, correu para desfazer a armadilha que o inimigo havia feito.
— Tá bem? Se feriu? — exclamou Naoko, com urgência.
— Estou bem, obrigada. — Yukino foi se erguendo aos poucos.
A aparição da Potentia de água confirmou que Itzel enfrentava mesmo as mesmas que lutaram contra Rosália. Ele já sabia que eram habilidosas e que se encontrava em desvantagem estando sozinho, mas decidiu tentar ao menos capturar uma delas.
Ele começou a correr aproveitando o momento em que estavam distraídas. O que ele não percebeu é que havia uma densa massa de ar se formando atrás dele. Logo, ele foi envolvido e levado ao alto, ficando suspenso no ar, apenas dentro da cápsula de vento.
"Não foi mencionada nenhuma de ar... Há mais delas então. Esta massa de ar é forte o suficiente para me levitar", pensou Itzel.
Apesar da situação, ele conseguiu seguir mantendo a calma. Agora ele procurava identificar a fonte de onde vinha o ar que o envolvia.

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