Entramos no porão, iluminando o caminho com as lanternas. O ar é frio e úmido, e a sensação de que algo está errado só aumenta. Sigo na frente, sentindo meu coração acelerar a cada passo. O que será que vamos encontrar aqui embaixo?
O porão é uma linha reta que, no final, se divide em dois caminhos. Decidimos nos dividir para cobrir mais terreno. Pedro e Rafael seguem pelo corredor da esquerda, enquanto Ana e eu optamos pelo da direita.
— Vamos, Felipe — diz Ana, segurando firme na lanterna. — Temos que ser rápidos.
Caminhamos pelo corredor estreito e escuro, nossas lanternas iluminando apenas o essencial. O silêncio é interrompido apenas pelo som de nossos passos e respirações. Tento manter a calma, mas a curiosidade e a tensão são quase insuportáveis.
— Felipe — começa Ana, quebrando o silêncio —, você nunca pensa em sair desse orfanato? Tipo, viver sua própria vida?
Dou de ombros, sem saber como responder. — Às vezes, mas não é tão simples. Não posso simplesmente abandonar a Lily e as outras crianças, são minha familia entende.
Ela concorda, compreendendo minha posição. — Entendo. Você é muito responsável. Mas e sobre você? Seus próprios desejos, sonhos... até relacionamentos?
Sinto um leve desconforto com a mudança de assunto. — Responsavel? hahaha conta outra, só me mete em encrenca! e Relacionamentos? Nunca parei para pensar nisso. Tenho coisas mais importantes com que me preocupar e meu sonho? Sei lá ter uma vida boa, casa boa, emprego bom e uma esposa sexy e bonita.
Uma vida confortavel e tranquila, sabe! — dou sorriso para ela — mas parece que tranquilo não é uma palavra que combina comigo né! hahaha
Ana sorri, mas seu olhar é sério. — Talvez você devesse começar a pensar, sabe? A propósito, você gostaria de sair comigo um dia desses? Como um encontro?
Fico surpreso com a pergunta, mas antes que possa responder, nossos olhares se voltam para uma porta de madeira envelhecida no final do corredor. Empurro a porta e ela se abre com um rangido alto, revelando uma sala cheia de armas antigas. Espadas, arcos, flechas, machados, bastões – uma coleção impressionante e perturbadora.
— Caramba... — murmura Ana, maravilhada. — O que tudo isso está fazendo aqui?
No centro da sala, algo captura nossa atenção. Uma caixa dourada com inscrições em japonês. Aproximamo-nos, e leio as palavras gravadas: "Não abra".
— Felipe, o que você acha que tem aqui dentro? — pergunta Ana, tocando levemente a superfície da caixa.
— Não faço ideia — respondo, sentindo um calafrio e dispertando curiosidade.
— Talvez devêssemos abrir para ver — sugere Ana, seus olhos brilhando de curiosidade. — Vai que é uma pista importante, né?
Sorrio de canto, sarcástico. — Claro, porque abrir uma caixa misteriosa com "não abra" escrito em japonês nunca deu errado em filmes de terror.
Ela ri, mas há um nervosismo em sua voz. — É, mas isso aqui não é um filme, e a gente precisa descobrir o que está acontecendo.
Respiro fundo, tentando manter a calma. A curiosidade também me consome, e antes que possa pensar duas vezes, deslizo a tampa da caixa dourada. Um som baixo e sinistro ecoa pelo porão enquanto a tampa se abre.
— Ops — digo, com um tom de falsa inocência. — Acho que fiz merda.
Dentro da caixa, há um amuleto estranho, brilhando com uma luz pulsante e sinistra. Ana se aproxima, seus olhos arregalados de espanto.
— Que porra é essa? — murmura, tocando o amuleto levemente.
De repente, a luz intensifica e um vento frio atravessa a sala. A sensação de perigo iminente é palpável.
— Felipe, talvez devêssemos fechar isso agora — diz Ana, começando a recuar.
— Ah, agora que a merda já foi feita, vamos ver onde isso vai dar, né? — respondo, tentando manter o tom leve, mas sentindo o medo crescer.
Antes que possamos fazer qualquer coisa, a luz do amuleto explode em um brilho cegante. Quando a luz diminui, estamos cercados por uma escuridão ainda mais profunda, e um som gutural reverbera pelo porão.
— Felipe, o que você fez? — pergunta Ana, com a voz trêmula.
— Despertei algo que definitivamente não é amigável — respondo, olhando ao redor. — E com o meu talento natural para atrair encrenca, isso não me surpreende.
Uma forma sombria começa a se materializar no centro da sala, crescendo até assumir a forma de uma criatura monstruosa. Seus olhos brilham com uma malícia inumana, e sua presença emana um terror visceral.
— Tá de sacanagem — digo, tentando soar corajoso. — Justo hoje, hein?
Ana pega uma das espadas da sala, tentando se preparar para o que está por vir. — Felipe, precisamos sair daqui!
A criatura avança, seus movimentos rápidos e predatórios. Tento pensar em uma estratégia, mas a presença esmagadora da criatura dificulta minha concentração.
— Ah, merda! — exclamo, agarrando um bastão. — Se eu sair dessa, nunca mais vou abrir caixas misteriosas, juro por Deus.
A criatura solta um rugido ensurdecedor e se lança em nossa direção. Tento golpear, mas a criatura desvia com facilidade. Sinto a adrenalina correr por minhas veias, e minhas piadas sarcásticas parecem ser minha única defesa contra o medo paralisante.
— Ei, grandão, que tal um pouco de consideração? Estou tendo um dia péssimo! — grito, tentando distrair a criatura.
Ana tenta atacar pelas costas, mas a criatura a repele com um golpe de sua garra. Ela cai no chão, gemendo de dor.
— Ana! — grito, correndo para ajudá-la. Mas antes que eu possa alcançá-la, a criatura me ataca com uma força brutal.
Sinto a dor explodir na minha cabeça quando a garra do monstro me acerta. O mundo gira e a visão começa a escurecer.
— Desgraçado... — murmuro, tentando manter a consciência. — Você vai pagar por isso...
A última coisa que vejo antes de desmaiar é a criatura se virando para Ana, que ainda está no chão, lutando para se levantar. Tento alcançar minha amiga, mas a escuridão me engole completamente.

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