Felipe acorda com uma sensação incômoda, algo molhado pingando na sua testa. Ele esfrega os olhos e tenta focar na escuridão ao seu redor. As gotas caem ritmadamente, frias e pegajosas. Ele levanta a mão e toca o líquido, que escorre pelos seus dedos. Sangue.
Seu coração acelera e ele senta-se rapidamente, olhando ao redor. Está de volta ao seu quarto no orfanato, mas algo está terrivelmente errado. O chão, as paredes, e até mesmo o teto estão cobertos de sangue. O ar está denso, cheirando a ferro e morte.
— Que merda é essa? — murmura, com a voz trêmula.
Levantando-se da cama, suas pernas tremem. Cada passo ecoa no silêncio opressor. Ele tenta se acalmar, mas a visão ao seu redor é de puro pesadelo. O sangue escorre lentamente, formando poças que refletem a luz fraca do corredor. Felipe respira fundo, tentando focar seus pensamentos. Precisa sair dali e entender o que está acontecendo.
Ele abre a porta do quarto lentamente, esperando que aquilo seja apenas um pesadelo horrível. Mas a visão do corredor confirma que a realidade é muito pior. O corredor está ensanguentado, as paredes manchadas e o chão escorregadio. Ele tenta não pensar no que pode ter causado aquilo, mas sua mente está cheia de imagens horríveis.
Felipe caminha cuidadosamente pelo corredor, seguindo à direita em direção à lareira do orfanato. Cada passo é um esforço, seu coração batendo freneticamente no peito. O silêncio é opressor, quebrado apenas pelo som do sangue pingando.
Chega à lareira e vê uma cena que faz seu sangue gelar. Duas criaturas grotescas estão devorando corpos. Ele sente um nó no estômago quando reconhece a senhora Dolores, sua forma inerte sendo dilacerada por uma das criaturas.
Ele se aproxima mais um pouco, tentando ver quem é a outra vítima. E então, seu coração para.
— Lily... — sussurra, as lágrimas enchendo seus olhos.
Lily, a menina que ele prometeu proteger, está sendo devorada pela outra criatura. A visão é insuportável, a dor e a raiva se misturam em uma tempestade dentro dele. Sem pensar, ele corre em direção à criatura que está atacando Lily.
— FILHO DA PUTA! — grita, sentindo a adrenalina tomar conta do seu corpo. — LARGA ELA AGORA!
Com toda a força que consegue reunir, lança-se contra a criatura, golpeando-a com seus punhos. A criatura rosna, surpresa com sua ferocidade. O golpe acerta sua cabeça, mas não parece ser suficiente para derrubá-la.
— VAI PRA MERDA! — continua a golpear, sentindo a raiva e o desespero o impulsionarem. — VOCÊ NÃO VAI TOCAR NELA!
A criatura finalmente recua, largando o corpo mutilado de Lily. Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto se ajoelha ao lado dela.
— Lily... — sua voz quebra ao tentar falar. — Eu sinto muito... sinto muito...
Lily, mesmo mutilada, abre os olhos lentamente e murmura com um último suspiro. — Que bom... que você chegou, irmão Felipe...
As lágrimas continuam a escorrer pelo rosto de Felipe, misturando-se com o sangue ao seu redor. A dor de ver sua irmãzinha naquela condição é insuportável. Ele sente um nó no estômago e sua mente está à beira do colapso. Em seus pensamentos, ele se vê como um fracasso.
"Eu falhei com ela. Falhei com todos." A dor e o arrependimento o paralisam, ele não consegue se mover. Ele não quer se mover. A criatura que havia recuado agora avança novamente, seus olhos famintos fixos em Felipe.
Felipe fecha os olhos, pronto para aceitar seu destino. "Eu mereço isso. Falhei com todos." Ele espera o golpe fatal, mas ao invés disso, ouve um grito e o som de algo pesado acertando carne.
— FIQUE LONGE DELE! — grita Marie, sua voz cheia de determinação.
Com um movimento rápido e decidido, Marie empurra Felipe para longe, fazendo-o cair sentado contra a parede. Ainda atordoado, Felipe mantém a cabeça baixa, lutando para processar a situação. As lágrimas continuam a escorrer pelo seu rosto, mas ele sabe que precisa se recompor.
Marie, segurando seu bastão com firmeza, avança contra a criatura. Seus movimentos são ágeis e precisos, cada golpe desferido com uma força e destreza surpreendentes. A criatura rosna e avança, tentando agarrá-la, mas Marie esquiva-se habilmente, desferindo golpes rápidos e precisos.
— Vamos lá, sua aberração! — provoca Marie, seu olhar fixo na criatura.
A criatura tenta golpear Marie com suas garras afiadas, mas ela se abaixa e contra-ataca com um golpe forte no joelho da criatura, fazendo-a cambalear. Marie aproveita a oportunidade para desferir uma série de golpes rápidos, forçando a criatura a recuar.
— Não vai ser tão fácil assim! — diz Marie, seus olhos brilhando com determinação.
De repente, a criatura salta para frente, tentando agarrá-la, mas Marie dá um salto acrobático para trás, pousando graciosamente. Ela respira fundo, concentrando-se, e então suas palavras ecoam pelo corredor ensanguentado.
— Snake: Snake Art!
O corpo de Marie começa a se transformar, sua pele adquirindo um padrão escamoso, semelhante à pele de uma cobra. Seus movimentos se tornam ainda mais fluidos e rápidos, permitindo que ela deslize pelas paredes com facilidade. A criatura rosna, confusa e assustada com a transformação de Marie.
— Hunf é só isso?! — exclama Marie, deslizando rapidamente pela parede e desferindo um golpe poderoso na cabeça da criatura.
A criatura urra de dor e raiva, tentando desesperadamente atacar Marie, mas ela é rápida demais. Com um movimento gracioso, Marie desliza pelo chão, esquivando-se dos ataques e preparando-se para seu golpe final.
— Snake: Snake Venom!
Marie aplica o veneno em seu bastão, que começa a brilhar com uma luz verde e pulsante. Ela se prepara, seus olhos fixos na criatura que está cambaleando, e então avança com uma velocidade impressionante. Com um movimento rápido e preciso, Marie desferiu um golpe mortal na criatura, acertando-a bem no centro do peito.
A criatura urra uma última vez antes de cair no chão, contorcendo-se em agonia. O veneno de Marie faz efeito rapidamente, e a criatura finalmente para de se mover, sua forma grotesca desfazendo-se em uma poça de sangue escuro.
A criatura urra uma última vez antes de cair no chão, contorcendo-se em agonia. O veneno de Marie faz efeito rapidamente, e a criatura finalmente para de se mover, sua forma grotesca desfazendo-se em uma poça de sangue.
Marie olha para o corpo inerte da criatura e então se vira para Felipe, que ainda está sentado contra a parede, os olhos arregalados de choque e admiração. Com passos decididos, ela caminha na direção dele, a adrenalina ainda correndo em suas veias.
— Felipe... — começa ela, sua voz cheia de preocupação e determinação.
Mas antes que ela possa completar a frase, uma garra grotesca atravessa sua barriga, fazendo-a cuspir sangue. Os olhos de Felipe se arregalam em horror quando vê a segunda criatura, que havia se escondido enquanto eles lutavam contra a primeira, atacando Marie pelas costas.
— MARIE! — grita Felipe, sua voz carregada de desespero e raiva.
Marie tenta falar, mas apenas sangue escorre de sua boca. Com um gemido de dor, ela cai no chão, a vida lentamente se esvaindo de seus olhos. A criatura, satisfeita com seu ataque surpresa, rosna e se prepara para avançar sobre Felipe.
Felipe sente uma mistura de pavor e fúria — Se-seu f-filho da p-puta
Felipe ainda não consegue se mexer, seu cérebro ainda está processando o que está acontecendo. A visão de Marie caindo, a sensação de desespero e impotência, tudo parece estar acontecendo em câmera lenta. Ele tenta levantar, mas seus músculos não respondem.
A criatura enfinca a garra no peito de Felipe, fazendo-o gritar de dor. O sangue começa a escorrer, cobrindo suas mãos e manchando o chão.
Pensamentos ecoam na mente de Felipe. "Este é o meu fim?"
Ele sente a vida se esvaindo, o sangue quente escorrendo pelo peito. A dor é insuportável, mas logo começa a ficar dormente. Depois de alguns segundos, a criatura tira a garra de Felipe, satisfeita ao ver que ele não está mais respirando.
Pensamentos ainda ecoam em Felipe. "Será que eu falhei com todos eles? Com Lily? Com Marie? Com todos?"
A criatura se volta para o corpo de Lily, ansiosa para terminar o que havia começado. Felipe, sem poder se mover, assiste impotente enquanto a criatura se aproxima do corpo inerte da pequena menina.
De repente, uma luz verde cobre todo o espaço. É uma luz intensa, quase cegante.
Algum momento depois...
Está amanhecendo, Simons e Kaisen aparecem num piscar de olhos no orfanato.
A criatura não está mais lá. No lugar, só há os corpos mutilados e Felipe, ainda segurando Marie e implorando por ajuda, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Por incrível que pareça, o corpo de Felipe está bem. Ele tirou a camisa para poder estancar o sangue que estava saindo de Marie, suas mãos tremendo enquanto tenta pressionar a ferida.
— Ajuda... por favor... alguém... — murmura Felipe, a voz fraca e trêmula.
Simons e Kaisen aparecem num piscar de olhos no orfanato, a luz verde ainda pulsando ao redor deles. Eles olham para a cena horrível diante deles, os corpos mutilados de Dona Dolores e Lily, e Felipe, desesperado, tentando salvar Marie.
Kaisen faz um movimento com as mãos, e a camisa ensanguentada fica mais pressionada contra a ferida de Marie. Felipe estranha o movimento, mas não liga no momento, seu corpo finalmente amolecendo de exaustão. Simons aparece rapidamente ao seu lado para evitar que Felipe caia.
— Nós vamos cuidar dela. Você fez bem, rapaz — diz Kaisen, tentando tranquilizar Felipe.
Simons examina Felipe, notando a ausência de ferimentos graves apesar da quantidade de sangue ao redor.
— Como você está, garoto? Explosão — pergunta Simons, colocando uma mão no ombro de Felipe.
— Eu... eu pensei que estava morto... mas Marie... ela precisa de ajuda... — responde Felipe, a voz trêmula e cheia de dor.
Kaisen continua trabalhando para estabilizar Marie, sua expressão séria e concentrada.
— Ela vai ficar bem, rapaz. Nós vamos cuidar dela — diz Kaisen, olhando para Felipe com determinação.
Felipe, ainda segurando Marie, sente uma mistura de alívio e medo. As lágrimas continuam a escorrer pelo seu rosto enquanto ele observa Kaisen e Simons trabalharem.
— Eu não... não posso falhar com eles... — murmura Felipe, a voz cheia de angústia.
Ele sente um nó na garganta enquanto repete para si mesmo: "Eles estão todos mortos... Dona Dolores, Lily..."
Mesmo nesse estado de choque, Felipe tenta se recompor. Com a ajuda de Simons e Kaisen, ele consegue se levantar e ajudar a cuidar de Marie. Eles colocam Marie com cuidado em uma maca improvisada, enquanto Kaisen continua a aplicar pressão na ferida para estancar o sangramento.
Felipe, com lágrimas ainda escorrendo pelo rosto, limpa o suor da testa e olha ao redor, processando lentamente a terrível cena diante dele. O orfanato, antes um lugar de segurança e conforto para ele e as outras crianças, agora se transformou em um cenário de horror.
— Eu... eu preciso ajudar... — murmura Felipe para si mesmo, sentindo-se responsável por proteger os que ainda estão vivos.
Ele pega uma lanterna e começa a vasculhar o orfanato, verificando os quartos e os corredores em busca de qualquer sinal de vida ou de outra ameaça. O silêncio é ensurdecedor, apenas interrompido pelo som distante de sirenes se aproximando ao longe.
Enquanto isso, Simons e Kaisen cuidam de Marie com dedicação. Kaisen aplica seus conhecimentos médicos e habilidades sobrenaturais para estabilizar Marie da melhor maneira possível, enquanto Simons organiza o ambiente e tenta contatar ajuda.
— Temos que levá-la para um hospital explosão, Kaisen. Ela precisa de cuidados especializados — diz Simons, preocupado.
Kaisen assente, mantendo-se focado em seu trabalho. — Eu sei, mas não podemos esperar muito tempo. A situação dela é grave e a ferida é muito grande.
Felipe retorna ao lado deles, notando a urgência no ar.
— Eu verifiquei todos os quartos. Não há mais ninguém vivo aqui, só nós... e Marie — relata Felipe, a voz ainda embargada pela tristeza e pela dor.
Simons olha para Felipe com compaixão, reconhecendo a coragem e a determinação do jovem mesmo diante da tragédia.
— Você fez bem, garoto. Agora precisamos levar Marie para um lugar seguro. Explosão — diz Simons, tentando manter a calma.
Juntos, eles cuidadosamente carregam Marie para fora do orfanato, onde as luzes das sirenes piscam e os sons de socorro se aproximam. A noite, que começou tão pacífica e cheia de promessas, transformou-se em uma experiência de terror que nenhum deles jamais esquecerá.
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