Itzel, envolvido pela massa de ar que fazia uma espécie de invólucro arredondado ao redor de seu corpo, localiza a Potentia responsável por capturá-lo. Sayuri, que então havia revelado seus poderes, o encara, e assim começa o interrogatório.
- Quem é você? O que quer? - Pergunta Sayuri em tom firme.
- Quem é você? - Itzel devolve a pergunta.
- Eu perguntei primeiro. - Diz a mulher, levemente incomodada.
Percebendo que a situação ficaria sem desenvolvimento, o homem de cabelos cianos pensa rapidamente e resolve fazer uma proposta:
- Então vamos fazer um acordo.
- Não estou aberta a negociações. - Responde rapidamente a morena.
- Que tal uma pergunta para cada, por vez? - Ele fala, ignorando o comentário anterior e a encarando com firmeza.
- Pode ser, mas não vou te soltar daí. - Ela acaba por concordar, mas mostrando suas condições e cruzando os braços. - Já que fui eu quem perguntou primeiro, pode responder.
- Tudo bem, me chamo Itzel.
- De onde veio?
- Uma pergunta de cada, lembra? - Comenta com um leve sorriso.
- Tá, me chamo Sayuri. - Responde sem vontade.
- Acho que estou sendo muito rígido com essas regras. Acho que não vamos a lugar nenhum assim. - Pondera o homem, um pouco sem graça com a situação. - Vou deixar você a próxima por cortesia.
- Então me diga… o que você é? - Ela volta a encará-lo.
- Sou um humano com Potentia, assim como você e suas amigas. - Responde ele com tranquilidade. - Vieram de outro planeta?
- Sim, pelo visto você também.
- Vim sim. Em quantas vocês são?
- Você não espera que eu responda isso, né? - A pergunta fez com que Sayuri ficasse realmente incomodada, seu oponente não poderia estar brincando assim com sua inteligência. - Conforme-se com o que está vendo. Minha próxima pergunta: quero saber por que nos atacou.
- Justo… - Itzel demonstra compreensão com a pergunta da mulher à sua frente. - Meu planeta está morrendo e foi prometido um novo… caso tomássemos este.
- Mas isso não faz sentido algum. - Disse Sayuri com um leve tom de tristeza.
- Isso é tudo que tenho a dizer. - Responde ele virando o rosto, mas logo após volta a encará-la. - De onde vieram?
- De um planeta que foi destruído - Finaliza Sayuri num tom de voz firme, mas carregado de tristeza.
O homem então leva um choque. Ele já havia escutado boatos de que sua mandante havia destruído um planeta, e, juntando as peças, parecia que havia encontrado as antigas habitantes. O boato então se tornou um fato.
Num último ato, ele utiliza o resto da água que havia absorvido para atacar o grupo de garotas. Sayuri se assusta e se defende, mas, ao abrir os olhos novamente, seu rival já não estava mais lá, havia sumido. Tudo indicava que a água foi apenas para distraí-las e fugir.
- Meninas, estão bem? - Ela se vira rapidamente para averiguar o estado de todas, que, por sorte, estavam apenas encharcadas com o ataque de água.
- Estamos vivas. - Responde Naoko, segurando Matsui no colo, que estava assustada naquele momento.
Planeta Finalia
O portal de cor azul se abre e Itzel volta ao seu planeta natal, diretamente em um quarto. O lugar era todo em tons de rosa, decorado com flores, objetos brilhantes, rendas e plumas. No centro, uma cama de casal e uma moça sentada, despreocupada com um semblante melancólico. De cabelos longos e arroxeados, era Rosália que, ao ver Itzel, demonstra surpresa.
- Itzel! - Disse e correu alegre de encontro ao seu amado, que cumprimentou com um beijo.
Prestando mais atenção, viu que ele não parecia estar em seu melhor estado físico e continuou a perguntar:
- Por que você está quase nu? O que são esses arranhões? - Pergunta tensa. - Você encontrou elas, certo? Te atacaram sem motivo, são horríveis. Esse planeta deveria sumir do universo.
Itzel olha para ela com carinho, acaricia seu rosto e explica:
- Está tudo bem de verdade, Rosália. Eu voltei pelo mar e me arranhei um pouco, nada demais. - Ele percebe que ela se sentiu mais tranquila, e continua a explicação. - Vou falar com Lady Ayami sobre a missão. Essa noite ficarei aqui, já volto.
- Te espero - Diz Rosália, muito feliz e animada.
Planeta Terra - Casa de Sayuri
A casa de Sayuri estava agitada, com as meninas confusas e se fazendo diversas perguntas.
- E AGORA!? QUEM ERA AQUELE HOMEM QUE COMEÇOU A NOS ATACAR DO NADA!? - Grita Naoko pela casa, extremamente irritada. - É ISSO AGORA!? VAMOS SER PERSEGUIDAS!?
- Ele disse que se chama Itzel… mas como saber se é verdade? - Fala Sayuri ao fundo, tentando compreender a situação.
- Mas atacaram de novo a Yukino. - Indaga Miyu, com tom de indignação. - Será que conseguem sentir a Potentia dela?
Yukino, que até então apenas escutava a conversa, decide então falar.
- Na verdade… - Fala com voz baixa, com suas mãos fechadas e tremendo, era possível sentir seu nervosismo. - …talvez ele tenha me visto congelar as gotas de água do mar…
Naoko escutou a confissão e ficou incomodada, apoiando com raiva sua mão no braço do sofá onde Akiko estava sentada.
- Como é? Nem Akiko faria uma coisa dessas!
“Mas o que eu fiz?”, se perguntava Akiko, completamente perdida no meio da discussão.
Megumi, que jamais se sentia confortável com acusações desse tipo, se pronunciou:
- Meninas, vamos com calma, é tudo muito novo pra ela.
- Yukino, você precisa ser mais prudente. Já foram dois ataques - Disse Sayuri após ponderar bem sobre a situação. - Imagine ter que explicar para seus pais que você está sempre se machucando? Como acha que eles vão entender isso?
- Me desculpe, fui muito sem noção. - Disse a jovem baixando a cabeça, arrependida.
- Meninas! Acho que já foram muitas lições por hoje. - Ghuang decidiu se pronunciar, pois viu que não havia mais sentido as discussões continuarem. - Está ficando tarde, melhor levar Yukino para casa. Usem o resto do domingo pra descansar e respirar.
- Tá, obrigada, Ghuang. - Agradece Yukino já se ajeitando para ir embora de carona.
Era dia 8 de março, numa segunda-feira ensolarada, céu com poucas nuvens e uma brisa soprando pela cidade, deixando a temperatura bastante agradável. Mas nem mesmo aquele clima alegre de verão conseguia dar jeito nos ânimos de uma certa jovem de 15 anos que sofria do fundo de sua alma.
- OMG! SOCORRO! PRA QUE ISSO!? QUEM INVENTOU A ÁLGEBRA NÃO TEM AMOR NA VIDA! - Gritava em desespero, a plenos pulmões, a jovem Akiko.
- Akiko, para com esse drama! Matemática vai ser bem importante pra você trabalhar com jogos. - Explicava sem muita emoção Miyu, que já estava acostumada com os surtos de sua amiga, mas que mesmo assim tentava mostrar a parte prática daquilo que a jovem de cabelos roxos não conseguia enxergar.
Olhando com indignação e desprezo para Akiko, estava Matsui, que não se conformava com os dramas diários de sua irmã.
“Não entendo a mana… Ir pra escola é tão legal.”, Matsui pensava enquanto se ajeitava para pegar carona para ir para sua aula.
Mas logo todo aquele clima de fim de mundo foi deixado de lado, pois alguém vestido com um vestido vermelho curto e de estampas florais brancas estava alegre e inabalável. E havia chegado com grandes novidades e precisava logo contar para todas.
- Meninas! Deixa eu contar algo muito importante pra vocês! - Disse Megumi, que não conseguia segurar sua empolgação. - Pouco tempo depois que chegamos a este planeta, fui procurar uma maneira de ajudar Sayuri e Ghuang com as despesas. Foi então que conheci e me apaixonei pela carreira de modelo! E tudo tem dado muito certo! Nós vamos receber uma modelo internacionalmente muito famosa na agência e que vai selecionar as melhores para treinar! Se tudo der certo, eu poderei dar um salto na minha carreira! Estou nervosa, mas muito feliz!
- Mas parece que alguém está bem feliz, hein!? - Sayuri comentou, num tom amoroso, muito feliz por sua amiga.
- Nossa! Que bom isso, Megumi! Combina demais com você! - Diz Naoko, num tom alegre, com a mão fazendo sinal de “força”, mostrando que estava torcendo para a sua amiga.
Ver sua amiga Naoko, que era tão reservada, torcendo por ela, a deixou muito feliz. Ela se jogou aos braços da amiga para um abraço.
- Muito obrigada, querida Naoko! Vou sair agora para a seleção!
- Ah! Bom trabalho, Megumi! - Disse Naoko, tímida, com as bochechas coradas, por conta da atitude de sua amiga.
***
Colégio
Enquanto o período da manhã é reservado para as aulas da quinta série até o terceiro ano do ensino médio, o período da tarde é dedicado à educação infantil e às séries iniciais. Os uniformes escolares seguem o mesmo padrão para todas as idades.
A primeira série, por representar uma grande diferença de exigência entre a pré-escola e o fundamental, conta com atividades mais sérias e responsáveis, embora algumas ainda tragam o lúdico. Matsui, que começou a primeira série em um novo planeta, estava se saindo muito bem. De natureza séria e compenetrada, fazia seus trabalhos com capricho e atenção. Na aula de matemática, onde aprendiam mais sobre números e operações matemáticas básicas, não era diferente. O trabalho consistia em fazer somas e demonstrar o resultado não apenas com números, mas com desenhos bonitos e coloridos representando as quantidades.
- Pronto! Tá lindo! - Constata Matsui, ao terminar seu trabalho.
- Ah, não… ficou feio. - Comenta ao lado uma colega de cabelos rosas, ondulados e curtinhos, com presilhas de lacinhos roxos na cabeça.
- Quer meus lápis de cor, aluna nova? - Oferece Matsui.
- Quero! Muito obrigada! Vou testar! - Aceita a menina nova com entusiasmo.
Ela pinta e refaz alguns desenhos. Ao finalizar, demonstra alegria pelo resultado.
- Ah, que lindo, ficou bem melhor, obrigada! - Ela fica muito feliz encarando o papel, e depois olha para Matsui. - Meu nome é Hana! Minhas mães se mudaram para cá e eu também! E você, qual seu nome?
- Bem-vinda! Eu sou Matsui! - Responde com um sorriso no rosto, embora um pouco tímida.
O sinal da escola toca e é hora do intervalo. Hana toma a iniciativa de convidar Matsui para passar a hora do lanche juntas. A ruiva aceita de prontidão e as duas vão ao pátio, onde conversam, comem sua comida e brincam, passando momentos divertidos juntas.
- Matsui! Adorei te conhecer! Você é muito legal! Deixa eu te dar um presente!
Ao dizer isso, Hana estende a mão, de onde pequenas luzes começam a tomar forma de lindas flores de cerejeira.
- Espero que goste! Eu acho lindas, são minhas favoritas!
- Elas são muito, muito lindas! Amei! - responde Matsui, animada. - Deixa eu fazer umas para você também!
A pequena também estende a mão, num processo parecido, porém aparecem tulipas cor-de-rosa. Hana recebe o presente com muita felicidade e acha incrível o que tinha acabado de acontecer.
- WOOOOOW! Nós duas fazemos flores! Vamos ser muito amigas! - propõe.
- Vamos! Vamos ser amigas! - Responde.
E o resto da tarde escolar seguiu assim, com as duas conversando quando podiam e dividindo seus materiais. Ao chegar no fim da aula, ficaram conversando até a chegada de suas caronas.
Ao chegar em casa, Matsui saiu do carro com um pulo e correu para dentro, animada para contar as novidades.
- TIA SAYURI! TIA SAYURI! - chamou Matsui.
- Olha só! Alguém chegou bem animada da escola! - Sayuri ficou contente ao ver que tantas pessoas estavam felizes naquele dia.
- Sim! Eu tô muito feliz! Hoje foi muito bom na escola! Eu fiz uma amiga! É a aluna nova, o nome dela é Hana! Ela é muito legal! E ela faz flores! Igual a mim!
- IGUAL A VOCÊ? - Sayuri leva um susto com a informação. Seria essa uma nova Potentia? E como ela falaria com as responsáveis pela criança? Muitos questionamentos permearam a mente de Sayuri naquele momento.
***
Centro da cidade
Na agência de modelos localizada no centro, mas próxima ao bairro de alta classe, a situação se encontrava tensa. Era como se fosse possível ver uma nuvem de desespero, indecisões e preocupações. Elas precisavam demonstrar habilidades em fotografia e passarela. A grande modelo que estava no local, acompanhou os testes das modelos candidatas, uma por uma, juntamente com os fotógrafos, para analisar o comportamento delas diante das câmeras. A proposta era de alto nível, e consequentemente, a qualidade também deveria ser.
Sendo maquiada e preparada para a hora de seu mini ensaio, estava Megumi. Durante o tempo que recebia seus últimos ajustes na cadeira do salão de beleza, o nervosismo parecia tomar conta dela.
“Que coisa, tô tensa demais… Nunca ia imaginar que seria tão difícil fotografar na frente de uma modelo famosa.”, Megumi pensava tanto que quase tremia de nervosismo.
Ela estava lindamente trajada com um vestido off-white acetinado, longo e bastante solto, com sandálias no mesmo tom e brincos dourados em forma de estrelas. A maquiagem dos olhos em tom dourado e preto e um leve toque de vermelho terroso davam a ela um ar mais sério e combinava perfeitamente com seus lábios em tom vinho. Tudo parecia combinar, exceto suas sobrancelhas franzidas e seu corpo claramente tenso.
Ela estava se aproximando para começar suas fotos quando uma voz feminina, firme e séria, se pronunciou.
- Ei, você aí! Pode ir parando.
A voz era da influente modelo Hitomi, uma mulher cujo a marca registrada era seu tom de pele natural, mais escuro, como que bronzeada de sol, seus cabelos extremamente lisos em tom avermelhado, olhos puxados, castanhos e penetrantes. Sua maquiagem era simples, com sombra em cor terrosa discreta, rímel para aumentar seus cílios, e o foco ficava em sua boca de cor vermelha, transmitindo o poder de sua fala naquele dia. Ela era alta e magra; seu porte físico era claramente de uma modelo de passarela. Vestia um top preto com um paletó que não possuía botões, mas sim uma presilha de gancho no meio dele, e uma calça social. O tecido de todas as peças era feito de cetim fosco de alfaiataria, e era possível perceber que era de grife. Utilizava, para finalizar o look, uma bota de salto que a deixava ainda mais alta e imponente.
- Se for para ir assim, nem vai. - Disse enquanto a encarava. - Quem vai ousar comprar as peças se a modelo está claramente desconfortável?
“Hitomi… ela é bem exigente. Mas o que eu posso fazer?”, Megumi pensou de cabeça baixa, acreditando que já seria descartada das seletivas naquele momento.
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