A garota devia ter se informado mais – apesar de informação confiável, na época, ser uma das coisas mais difíceis de conseguir. Muitos fatos não eram reais ou de total verdade. Os invum estavam divididos em praticamente três grandes grupos: parte em apoio a Babilônia, que ajudou o país a crescer exponencialmente; ao governo, que tomou as decisões as quais trouxe Babilônia como aliada e protegeu a eletricidade dos estrangeiros; e aos “criminosos”, que já administrava mesmo muitas cidades a revelia da lei e acreditavam que só faltava oficializar. Aqueles que não participavam de nenhum deles eram silenciados por intolerância disfarçada de tolerância e estranhos conceitos de liberdade e bem comum. No silencio muitos gritavam, no barulho poucos realmente falavam com propriedade. Sociedade animalizada, selvageria velada, correndo atrás do próprio rabo na espiral da história.
Voltando a Meg, parte de Corwan parece vazia quando chega perto de casa. Há alguns panfletos no chão, informando que esta noite fariam o anúncio do novo ministro interino – nos jardins do POMO, sede da Potência Ministerial Ordinária. Talvez todos tenham ido para lá.
Noite fria e silenciosa demais, algo ainda não parece certo.
- E ai? – Jack abre a porta do galpão e deixa a pensativa Meg entrar. – O que houve? Aasyla não aceitou?
- Não é isso... – ela senta no seu sofá semi novo, olhando para o nada. – Corwan nunca fica quieto desse jeito.
Jack faz companhia e liga o rádio em uma estação de música aleatória.
- Hoje o governo troca de administração, não é um dia comum. Coisas estranhas podem acontecer.
- Faz sentido. – e então sorri para o robô. – Deixa! Acho que Aasyla que me preocupa atoa com esses boatos da cabeça dela! – ele não comenta nada. – Hum, algum recado para mim?
- Queria falar pessoalmente com você. Como ainda não tinha voltado, disse para avisá-lo caso não voltasse até as dez da noite.
- Quem?
- O diretor de assuntos internos da Babilônia. Devo mandar uma mensagem de confirmação da sua atual... ausência?
A garota respira fundo, colocando a mão no ombro dele.
- Não. Ligue. Enfrentemos de uma vez.
Os dois se encaminham até o Hologramo, um grande cubo apenas feito de hastes de metal. Quando Jack toca sua lateral, algo começa a zumbir e exibir cores aleatórias no centro do objeto. Alguns segundos depois, um holograma prateado do rosto e busto de um homem aparece.
Pela expressão séria e determinada dele, a garota já espera uma noticia ruim. Que Aasyla não esteja certa.
- Olá, Sr. Riki. Boa noite.
- Está não é uma boa noite, Srta. Yuu Rin. – sorriso dela endurece em resposta, odeia quando usam seu nome adotivo. – Recebemos o relatório da sua última entrega.
O holograma começa a vibrar, tremer. Jack dá de ombros para Meg.
- Não é permitido eliminar nossos clientes.
- Obviamente. – ela sorri com um dos cantos do lábio, estralando os dedos.
- Digo, a não ser quando permitido pelos seus superiores. – o sorriso mucha. – Me diga, Srta. Rin, como sua mãe reagiu ao receber a notícia.
- Não me importo. Não é minha mãe, é minha mentora. Ela só se importou comigo durante o projeto DEVA. Logo, não devo me importar com sua chefe agora também.
- Ótimo. – o holograma falha algumas vezes e o diretor contrai as sobrancelhas. – A DIRETORA Rin está lhe demitindo. Nenhum de seus amigos ou conhecidos serão afetados se a senhorita sumir de vista.
- Ótimo digo eu. – ela se curva em cumprimento e menciona com a mão para Jack interromper a transmissão.
- Está de acordo?
- Sim. Até nunca.
Apenas o zumbido fica, meio ao silencio que habita aquela região naquela noite. Jack põe a mão no queixo, trejeito estranho para um A.i.
- Quais são as ordens? – pergunta depois de uma longa pausa reflexiva.
- Empacote só o essencial, vou voltar para o antigo apartamento. Aasyla falou de um avião clandestino para fora de Callun, nós vamos com eles. – Meg ainda não tem muita certeza da viagem, porém, algo precisa ser dito.
- Nós?
- Você pode ser só um robô, mas é um dos meus mais importantes amigos. Separe minha maleta de manutenção e alguns objetos-chave da sua estrutura. Provável que vamos ter que desmontá-lo até a viagem acabar.
Jack não responde de imediato.
- Para onde?
- Puma.
- Ok. Vou preparar suas roupas de verão.
O robô dá as costas e some no quarto, fundo do galpão. Nesse mesmo momento, a pulseira de Meg brilha e mostra um nome.
- Jack, o investigador chegou! Vou atendê-lo nos fundos!
- Então?
Meg encosta em uma das estátuas que criara, velhas, nos fundos do seu quintal. Mesmo de costas, sabe que o investigador está lá.
- É muito difícil achar algo, principalmente depois do período que a sua mentora a adotou. Qualquer vestígio parece ter evaporado. – chove agora, mal dava para perceber a voz grossa dele sob esse tempo.
- Você disse que tinha novidades.
- Em relação ao nada que os outros investigadores deram, claro que sim.
- E o que é?
- Exatamente o que acabei de dizer. – Meg vira levemente a cabeça, mas sem ver ainda o homem com o qual fala. – Alguém “queimou” qualquer prova de sequer sua família ou da ex ter existido. A Diretora Rin só jogou o resto carbonizado no lixo.
- Nada...
- Bem, é só isso. Mas... – ela percebe o homem encostar de costas na estátua também. –... Quer um conselho? Fuja.
- Virou psicólogo? Isso faz parte do seu trabalho?
- Na verdade, sim. Apenas àqueles clientes que pagam muito bem. – ele bufa. – A única prova sobre este tal irmão bastardo foi o último suspiro da sua mãe. De resto, não tenho nem por onde começar a investigar. Seja lá no que seu pai se envolveu, apagaram suas existências em resposta. Se você está aqui, é por pura sorte. Seu irmão pode estar morto também.
- Isso não é um conselho.
- O conselho vem agora, garota grossa... Fuja, enquanto há tempo. Há burbúrios sobre Karma estar planejando um ataque. E também, pelo que me falou sobre o que aconteceu com você recentemente, alguém da Babilônia está querendo executá-la... ainda que seja filha adotiva da Diretora.
- Nada disso vai me deter. Eu vou achar meu irmão.
Ele ri, sem humor.
- Bom, a quantia só vem até aqui. Não fui pago para discutir com uma cliente teimosa.
O investigador não ouve o suspiro arrastado dela.
Meg apenas vai dormir, decepcionada. Deveria viajar... então. Tinha perdido tudo e, agora, preza ainda mais pelo que reconquistou. Aasyla e Jack fariam companhia, porém... e quando o desejo voltar e investigar novamente sobre seu irmão bastardo aflorar de novo? As dúvidas, curiosidade e anseios quanto a sua infância certamente a seduziria.
Droga! Não dá para ficar presa ao passado. Eu preciso aprender com ele.
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