Tudo estava vermelho! O alarme toca incessantemente.
Quando Meg abre os olhos, Jack está perto de sua cama, ajudando-a se levantar. Um pouco sonolenta, ainda não entende que aquele é um aviso de “graves problemas”. Num sobressalto repentino, arrepio nauseante, o caos e barulho ensurdecedor invade sua mente.
- Meu deus! O que houve?! – grita em direção ao robô, que anda de um lado para o outro. Algo não faz sentido, Jack nunca fica indeciso.
- Babilônia.
Cai alguns pedaços da estrutura que compõe o teto e o ambiente começa a ficar quente demais. Logo, as paredes estão em chamas. Jack e Meg correm para pegar algumas das bagagens separadas para fugir, contudo, metade delas são tomadas pelo fogo. Os destroços caem sem parar e equipamentos eletrônicos explodem aqui e ali.
Jack sempre foi um robô diferente, desde o início do projeto DEVA. Parte da inteligência artificial dele nasceu da própria, desta versão que não tinha capacidade de suportar e simular uma mente humana. Um tanto irreverente e talvez sentindo-se único de uma forma negativa, por algum motivo, aceitou ficar com Meg. Ajudou-a no trabalho e a entender melhor essas tecnologias, na época em que apenas entendia de arte e estética. Pensava a garota que ele tivesse se reconhecido nela, criaturas diferentes na mesma situação. Como irmãos, passaram por muitas coisas juntos. Poucas vezes viu Jack se desesperar, só uma vez quando estavam longe de casa e a sua esfera precisou de reparos – viu a morte de perto.
Todavia, Meg vê esse olhar de novo agora.
Com toda a força absurda de um robô, de metal e pele artificial dos pés a cabeça, Jack a carrega para algum lugar. Ela grita para que a soltasse, qualquer coisa, mas ele não lhe dá atenção. O incêndio não os engole por pouco. Estariam perdidos?
Jack a coloca deitada dentro de uma câmera fria, que ela não reconhece de imediato. Ele tenta trancar os fechos laterais, porém, as peças parecem derretidas. Sem piscar, como se o código para tal ato não funcionasse mais, segura as laterais daquele objeto – trancando manualmente com o seu próprio corpo. Aquele é um cofre no qual coloca as encomendas mais caras, extremamente resistente.
Meg esbraveja, grita, bate na porta de vidro que os separa.
Em poucos minutos, não consegue ver mais nada. As chamas engolem tudo. Não é um fogo normal pensa ela. As coisas derretem rápido e, depois de um tempo, o calor começa a afetar aos poucos a temperatura interna do cofre. Algo que não pode distinguir bate no objeto, jogando-o com para longe com ela dentro. Inúmeros baques e o calor a faz desmaiar.
A principio, Margot estaria morta.
Alguém balança seu corpo repetidamente, fazendo-a acordar.
Duas pessoas... não, dois robôs haviam aberto o cofre e removem-na de lá. Tudo dói, juntas, músculos e a cabeça – uma sensação de como se o cérebro estivesse solto dentro da caixa craniana. A costa pinica quando a colocam sobre os destroços. Está tão quente!
- Nome, pegue uma garrafa de água na bolsa, por favor? – diz a robô.
- Um desperdício, Nomi. – responde o robô, tirando algo da mochila em suas costas. Meg não espera ele entregar a garrafa e pega logo da mão dele, abrindo e bebendo tudo sem parar ou se conter. Sua blusa fica toda molhada.
Nome contrai os músculos do nariz, repudiando.
- Salvamos um mendigo?
- Nome!
- Nomi?!
Os dois aparentam ser jovens adultos, cabelo vermelho vivo e olhos puxados. Nome é uns 30 cm mais alto que Nomi, contudo, é a única diferença entre os dois. Meg trabalhava de mascarista apenas para gente importante ou rica, ordens da madrasta. A maior parte dos robôs são da Babilônia e suas inúmeras unidades que cuida de massificar. Os dela, porém, são “peças únicas” e feitas especialmente para cada usuário. Que cabelo.. observa.. Quem teria comprado isso?!
Nome percebe Meg olhando estranhamente para o cabelo dos dois e leva um tapa – meu deus, dói demais!
- Hey!
- Nem vem, Nomi! Essa humana é igual os outros! – exclama, enojado. – Acabamos de ajuda-la e já nos olha como se fossemos um produto que veio errado numa compra online!
A robô põe a mão no rosto, balançando a cabeça.
- Você devia ter ficado em casa.
- Me desculpe, não pude evitar. – Meg diz em direção a Nome, que finge nem escutar. – Há quanto tempo estou aqui, aliás?
- Ao que parece – Nomi passa o dedo em um destroço. – No mínimo, dez dias. Não sei do que esse cofre é feito ou faz, mas conservou bem seu corpo até a resgatarmos. Qual o seu nome?
Seriam eles funcionários da Babilônia?
- Ayane. Eu trabalhava para a dona desse galpão como doméstica... vintage, sabe? Ela tinha um gosto vintage.
- Hum, ok. Então, olá, olá! – a robô sorri, se curvando. – Melhor sairmos daqui antes que caia mais alguma coisa desse teto queimado. Posso pedir algo?
- Conta de uma vez, irmã.
- Quietinho, irmão.
- O que foi?
- Ayane, imagino que tenha percebido que não somos robôs... padrão. Não somos rebeldes, mas também vivemos escondidos. Poderia por essa venda, por favor? Não a conhecemos ou confiamos em você ainda, espero que entenda.
Meg apenas fecha os olhos. O que podem fazer? Meu corpo todo dói, estou nas mãos deles.
Nomi a carrega sobre suas próprias costas, como se a humana fosse uma mochila, veste uma capa por cima e caminha por umas duas horas. Sente, durante o trajeto, uma dificuldade imensa para respirar. O ar é frio e ralo – nunca passou por algo assim, nem no pior inverno de Corwan.
Algo está errado.
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