- Senhor, me desculpe a intromissão... mas se sente mal ? Está com uma péssima expressão. - Adelea o questiona hesitante, mas preocupada. Seu aspecto não parecia nada bem.
- Estou bem, apenas um ratinho que tem me irritado esses dias... - ele deixa um longo suspiro sair e se sente realmente irritado. Henry evitava a todo custo ter qualquer contato físico com Octavian.
- Rato ? Onde ? - Adelea questiona assustada e se encolhe.
- Não é um rato de verdade. Não se preocupe.
- Ah... menos mal! - ela suspira aliviada, apesar de não ter entendido bem o que ele queria dizer.
- Bom, vou voltar aos meus afazeres agora. Por favor, desfrute sua refeição. - Adelea acena com a cabeça e segue em direção a saída, o deixando sozinho novamente.
- Como eu deveria lidar com você, ratinho ? - Octavian murmura para si mesmo. Precisava pega-lo de alguma forma. Ao descer as escadas em direção ao seu escritório, Octavian vira no corredor e acaba esbarrando em Henry, que parecia ter acabado de chegar da rua.
- Sr. Solaram ? Me desculpe... - ele rapidamente se desculpa e recua.
- Eu nem falei nada e você já sabia que era eu. Como faz isso ?
- O seu cheiro... - Henry murmura.
- Sério ? É a primeira vez que ouço isso. - Octavian sorri, mas logo acaba percebendo um odor estranho em seu corpo. Um cheiro forte, que apenas um Idris poderia ter e que claramente havia sido intencionalmente deixado sobre ele.
- Venha aqui. - ele o agarra pelo braço e o leva até o final do corredor, onde ninguém os veria, e o põe contra a parede.
- Com quem se encontrou hoje ?
- Perdão ? - Henry questiona confuso.
- Não faça eu me repetir. Responda a pergunta. - Octavian fala irritado.
- Não me encontrei com ninguém, senhor. Apenas sai para deixar uma encomenda que Adelea me pediu! - ele murmura assustado e se encolhe.
- Porra, não minta! - Octavian agarra seu rosto, o segurando com força e o forçando a manter sua cabeça erguida.
- Ugh... senhor... - Henry segura sua mão e geme de dor. Sentia que poderia ter sua mandíbula quebrada a qualquer instante.
Octavian se surpreende ao ver sua expressão de dor e se afasta. Não queria ter passado dos limites.
- Suma da minha frente.
- S-sim! - Henry murmura e sai apressado. Algumas horas depois.
- Henry, pode pegar o... minha nossa! - Adelea grita de repente ao ver as marcas em seu rosto.
- O que aconteceu ? Você está bem ? - ela se aproxima e segura em seu queixo, girando seu rosto para que possa ver melhor.
- Estou bem... ugh! - Henry murmura baixinho, com dificuldade para falar.
- Adelea, por que está gritando ? - Octavian sai do seu escritório e ao vê-los juntos, rapidamente nota o que está acontecendo.
- Senhor, preciso chamar um médico. Olhe para o rosto dele!
- N-não... tudo... - Henry tenta negar, mas sua boca dói tanto que não consegue terminar sua fala. Octavian franze o cenho, sentindo a culpa consumi-lo.
- Chamarei um médico de confiança. - ele informa e sai rapidamente. Não conseguia nem encara-lo. - Ele vai ficar bem. Não parece ter nenhuma fratura em sua mandíbula, mas me preocupa que esteja anemico. Precisa prestar atenção nisso, okay ? - o médico fala enquanto rabisca uma dieta para Henry em um pedaço de papel.
- Aqui, siga essa dieta e ele ficará bem logo. - ele entrega o papel a Adelea e sorri.
- Obrigada, senhor. - ela acena com a cabeça e sorri.
- Sr. Solaram, podemos conversar ?
- Claro. - Octavian acena com a cabeça e indica a saída. Logo depois ambos saem e seguem para o escritório.
- Sobre o que deseja falar ?
- Foi você quem fez isso, não foi ? - ele questiona irritado.
- Você sabe a resposta, Percival.
- Você passou dos limites!
- Eu sei... não era minha intenção. - ele suspira e se senta.
- Porra... inacreditável. - Percival resmunga e deixa um longo suspiro sair.
- Bom, já que estou aqui. Vou te examinar também. - ele fala enquanto abre sua bolsa, que contém alguns equipamentos e utensílios usados em suas consultas.
- Não preciso disso. - Octavian se nega rapidamente e o encara com um olhar feio.
- Cale a boca e aceite. Ou cobrarei mais caro! - Percival briga furioso, mas Octavian apenas ri. - E como vai sua alimentação ?
- O mesmo de sempre. Duas vezes ao dia.
- Ainda continua com essa dieta louca ? - ele suspira e esfrega os olhos. Octavian desvia o olhar para o lado e se mantém em silêncio.
- Octavian, sabe que não pode continuar se alimentando apenas de sangue animal. Seu corpo pode entrar em colpaso a qualquer momento.
- Chega, terminamos aqui! - ele se levanta de repente e abaixa a manga da sua camisa.
- Se continuar com essa loucura, ficará mais perto da fera do que nunca! E você sabe bem o quão difícil é impedir que ela domine nossos pensamentos.
- Não preciso que você me diga. Eu vi seus olhos e sei qual o som da sua voz! - ele esbraveja, se sentindo encurralado.
- Percival, saia. - Octavian indica o caminho da porta.
- Octavian, eu espero que algum dia você possa aceitar sua natureza. - Percival suspira e recolhe suas coisas, saindo rapidamente logo depois.
Ao vê-lo cruzar a porta, Octavian deixa um longo suspiro sair e se senta novamente. Estava cansado de ouvir aquele tipo de coisa. Uma semana depois.
Henry bate à porta e entra, ele espera por alguns instantes para ouvir a voz de Octavian, mas tudo está silencioso.
- Sr. Solaram ? - ele o chama, mas não há resposta. Henry suspira e segue em direção a mesa, ele desliza seus dedos pela madeira até chegar a uma pequena folha de papel.
Nela há um recado, que diz para ele fazer a tarefa sozinho e que Octavian não poderia ensina-lo novamente.
- Ocupado de novo... - Henry murmura e sorri tristonho. Ele puxa a cadeira e se senta, em seguida traz a pilha de papéis para perto do seu corpo e começa a praticar. Sentia que precisava aprender logo, assim Octavian voltaria a prestar atenção nele. - Tem certeza disso ? - Octavian o questiona, sem tirar sua atenção do jardim em frente ao seu escritório.
- Sim, senhor. Tenho um informante entre os empregados humanos e ele me confirmou.
- Há quanto tempo ?
- Logo depois de Henry chegar. Disseram que foi causas naturais, infarto.
- Droga... - Octavian suspira e esfrega os olhos. Se Henry soubesse disso, iria ficar abatido e gerar uma comoção, mas não dize-lo a verdade, seria ainda pior.
- Pretende dizer a ele ?
- Não tenho muita escolha aqui. Não dizer seria um erro da nossa parte.
- Eu posso contar para ele, se quiser...
- Não... eu digo. Ele está aqui por mim, depois de tudo.
Octavian, um vampiro centenário e de uma das famílias mais influentes no meio político da sociedade vampirica, se recusa a beber sangue humano após um incidente do seu passado que o deixou traumatizado.
Indignado com seu estilo de vida, que vai contra tudo o que acredita, seu pai e criador, manda Henry para sua casa. Um jovem cego e doce, criado no viveiro junto com os outros serviçais e fiel aos ensinamentos de que os humanos devem servir aos vampiros.
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