As preparações estavam a todo vapor: cozinheiros fazendo comida o dia inteiro, cortinas sendo trocadas por novas que tinham a cor lilás - que no reino significa aliança e paz -, mesas sendo colocadas, removidas e recolocadas.
Além dos servos trabalhando, tinha a recepção dos nobres e suas famílias, todos para ver o, enfim, noivado de Isabel - coisas que eles achavam que devia ter ocorrido há três anos e que o rei adiou demais.
O que ninguém sabia era o que acontecia debaixo dos panos.
O príncipe se encontrava transando com a esposa de um marquês nos aposentos do rei e havia bebido junto com a marquesa toda a garrafa de vinho que a majestade guardava para quando queria relaxar.
Enquanto tal ato acontecia, Isabel deu um jeito de encontrar Natália.
— Você é mais difícil de encontrar do que uma agulha num palheiro.
— Ah, minhas boas deusas, salvem-me! - A soldada levou um susto porque estava cuidando de um passarinho com asa quebrada.
— Calma, sou eu, Isabel!
— Que susto, princesa, pensei que fosse a general Antônia.
— Mesmo que eu não seja ela, eu sei que para os soldados, cuidar de animais menores e feridos é sinal de fraqueza.
— Você vai me dedurar?
— Não… - Uma longa pausa foi feita. - Eu preciso da sua ajuda.
— Claro, eu te ajudo a fugir.
— Então, estou pensando em… - olhou com os olhos arregalados para a guerreira.
— É óbvio que você quer fugir, fazem anos, eu só estava vendo como me aproximar para te ajudar.
— Como sabe disso?
Natália tirou uma das luvas mostrando as várias marcas de corte de unha e de lâmina - que não deviam existir por sempre treinar de armadura e nunca ter ido para a guerra, além de serem padronizados demais - e os olhos da princesa se encheram de lágrimas, pensando “Sempre houve alguém aqui que me entende e que estava tentando me ajudar.”.
Isabel não estava esperando, mas a guerreira tinha deixado o passarinho ir embora e agora com o tronco meio virado na direção dela, segurou uma de suas mãos e usando a dela sem luva subiu pelo braço da princesa e passou os dedos nos cortes da garota por baixo do tecido.
— Quando temos uma dor que não encontramos a solução nos nossos terrenos, devemos procurar em outros terrenos. A sua dor é seu pai, a minha dor… Bem… Ela se foi ano passado.
Nesse momento a princesa já estava aos prantos, então Natália se levantou e deitou a princesa no chão, se deitando em sua frente e a abraçando.
— Ninguém merece sofrer, ainda mais pelos outros, princesa.
— Me chame de Isabel - disse entre soluços.
— Então, Isabel, eu sei de um reino que pode te ajudar a se tratar, a nos tratar… Eles estão desenvolvendo uma tal de pesquisa da mente. Tem umas pessoas que são chamados de ajudadores e eles conversam com a gente e nos acompanham até melhorar, mas é caro.
— Princesa?
Isabel dormiu nos braços dela. Foi um sono tão bom que, para ela, parecia estar numa cama macia, não nos braços de uma pessoa toda armadurada. E a guerreira esperou pacientemente até que a outra acordasse, enquanto isso fazia carinho em seus cabelos.
— Quando foi que eu dormi?
— Deve ter umas duas horas.
— Mil perdões! - Não sabia onde enfiar a cara.
— Sem problemas! Estou aqui para te servir e proteger - sorriu gentilmente
— Agora temos pouco tempo para o plano de fuga.
— Venha comigo.
Natália levou a princesa até a cabana dela nos terrenos da muralha do castelo, lá mostrou um composto para pintar o cabelo de preto e roupas de camponesas.
— Você se disfarça, pinta o cabelo, aqui mesmo. Seu cabelo roxo chama muita atenção, preto é melhor.
— Por que você tem coisa para pintar o cabelo?
— Meu cabelo é verde de nascença.
— Oh… O cabelo da maldição…
— Sim… Agora, anda princesa! Pinta esse cabelo, eu te ajudo. Mas tira a roupa, a gente vai vender ela e as jóias e minhas armaduras lá no outro reino, porque são tudo caras e a gente vai conseguir um bom dinheiro.
— Tirar a roupa? Está doida?
— Você quer estragar dinheiro?
— Tudo bem.
Natália, enquanto ajudava a princesa, se esforçou muito para não espionar todo o corpo da garota a qual admirou desde a infância e depois isso se tornou algo que ela não sabia dizer o que era. Mas sabia que se Isabel permitisse, ela ia querer tocar cada parte daquele corpo negro, meio gordo e belo como se fosse de uma deusa.
A soldada se distraiu olhando as pintas do pescoço que desciam pelos ombros e braços da sua superior.
— Você está demorando, o que está fazendo? - Tinha um leve tom de preocupação e desejo em sua voz.
— Desculpa, me distraí pensando - envergonhou-se.
E assim, saindo de seu transe, voltou a passar o pigmento derretido nos cachos mais macios que ela já tocou.
Quando finalmente terminaram de tingir o cabelo da princesa, a garota precisou de ajuda com as roupas de empregada por nunca ter vestido, o que era engraçado porque é uma roupa mais simples que a da realeza, sem espartilho, sem babados e sem quatro peças amontoadas. Os da plebe são apenas uma calçola íntima e um vestido meio remendado por cima com um capuz para tapar as orelhas no frio.
E é aqui que o plano começou de verdade.
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