Por volta de uma hora de viagem, o trio finalmente chega à praça no setor 9.
— Ele não enviou a localização exata? — Indaga a Hongi.
— Não, apenas disse que, quando chegássemos, poderíamos esperar em algum banco e que ele nos encontraria. — Responde à outra jovem de olhos amarelos, que continua. — Como ele espera conseguir nos encontrar numa praça tão movimentada?
Sentindo-se um pouco frustrada, a jovem analisa a multidão à sua volta composta por uma vasta diversidade de raças, até mesmo casais de humanos e seres estrangeiros.
Ainda analisando a multidão, a jovem levanta um questionamento:
— Será que ele mudou o local de encontro de propósito? A fim de camuflar a reunião?
O trio para e se encaram em silêncio.
— É bem provável. Ainda mais se levarmos em conta sua família. — Argumenta o jovem, ainda de celular na mão.
O trio caminha em silêncio, refletindo no que poderia ser o tópico de sua reunião. Então, a Hongi exclama:
— Independente do assunto, nós já vamos descobrir. Lá está ele!
A dupla olha para onde a Hongi está apontando e, sem perceber, acabam expressando um leve sorriso de canto de boca ao reconhecerem as costas do indivíduo.
Trajando um sobretudo de cor escura e capuz, usando uma mochila, o jovem está em uma barraca móvel comprando uma dúzia de hambúrguer, que recebe de uma jovem mestiça de estatura alta, corpo voluptuoso e com um par de chifres curtos e grossos em sua cabeça.
— Oi, Kemiro! — Exclama a jovem de olhos de cor amarela.
O jovem se vira e sorri ao ver o trio.
— Oh! Olá, Amira. Só um momento, por favor.
— Boa noite, líder! — diz a Hongi.
— Boa noite, Astela.
O outro jovem e Kemiro apenas acenam suas cabeças em cumprimento.
Kemiro terminando de pagar pelos hambúrgueres, se virá para o trio. Um jovem alto e bem treinado, com corpo tonificado, que esbanja uma postura firme. Seu cabelo é curto, de cor preta.
Seus olhos possuem uma coloração acinzentada natural de sua Linhagem Sanguínea, porém, Kemiro possui Akrava. Um efeito que ocorre na íris de Ma’Jis que compreenderam alguma verdade profunda da Ma’Jia e Hein’Ra.
A Akrava se manifesta como uma infinidade de círculos se movimentando levemente, diminuindo de tamanho até desaparecerem ao centro do olho, representando o fluxo dos fios da Hein’Ra. Ele possui um constante sorriso enigmático.
Abaixando seu capuz, Kemiro comenta:
— Vocês me encontraram rápido.
A primeira a responder é Astela que comenta analisando a caixa com hambúrgueres:
— Líder, se você estava com fome, você poderia ter avisado. Eu descobri um estabelecimento que oferece refeições de alta qualidade perto daqui.
— Do que você está falando? Essa comida é para você, Astela. Eu pedi que dobrassem a concentração de Ma’Jia imbuída nos ingredientes. — Enquanto exclama, Kemiro passa a caixa para Astela, sem chances para que ela o recusasse.
— Eh? — Astela recebe a caixa em confusão.
— Eu posso ver que o fluxo de sua Ma’Jia está suave, diferente de seu normal. Você ainda está seguindo dietas humanas, certo?
Kemiro questiona com um tom suave, porém sem margens para negação. Astela apenas abaixa sua cabeça em silêncio. Ele continua:
— Já te disse pra não ser influenciada por este tipo de revista, elas estabelecem padrões que até humanos têm dificuldades em se adaptar. Na minha opinião, estas revistas deveriam ser consideradas ficção. Vamos, coma. Mesmo que você seja resistente, eu sei que você precisa de altos níveis de calorias para manter seu corpo no pico de sua vitalidade.
Gyuu!
Astela hesita, mas com o aroma emanando dos hambúrgueres, seu estômago a trai emitindo uma ‘intimação’. Com suas bochechas rosadas, Astela timidamente, pega um hambúrguer e come em silêncio.
Vendo isso, Kemiro acena sua cabeça em aprovação, ele continua:
— Astela, você já é uma garota muito charmosa, você não precisa se submeter a estas tendências malucas.
Astela sente seu rosto esquentar, com a vermelhidão espalhando até suas orelhas pontiagudas, adornadas com dois pares de brincos esféricos.
— Hehe! Meus pêsames. — Provoca Amira pondo a mão no ombro de Astela.
— Você também, Amira! — Exclama Kemiro, pegando Amira de surpresa.
— Eh? O que tem eu?
— Dá pra ver por suas olheiras que você ainda está com problemas para dormir, certo?
Amira leva sua mão até seus olhos, olhando para Astela por confirmação, onde Astela apenas nega, balançando sua cabeça. Kemiro continua:
— Sua maquiagem é impecável, mas não é o suficiente para esconder de mim. — Abrindo sua mochila, Kemiro pega uma pequena caixa amarrada com um lenço; a caixa possui seis pequenos recipientes. Kemiro explica. — Eu tenho um conhecido alquimista que é tão dedicado a suas pesquisas quanto você, então, ele desenvolveu um elixir para relaxar o corpo durante o sono.
Enquanto passa a caixa para Amira, ele continua:
— Dilua cinco gotas em seu chá antes de dormir, não mais que isso! Esse estoque deve durar por volta de um ano. Quando estiver acabando, me avise.
— Que laço fofo. — Sussurra Amira.
— Você entendeu?
— Claro, terei mais cuidado.
— Ótimo. Lin!
Tendo seu apelido chamado, a expressão de Linzanr enruga.
Ignorando sua expressão, Kemiro passa seu braço em volta do pescoço de Lin, dizendo:
— Não faça essa cara, eu tenho um presentinho pra você…
Virando as costas para as garotas, Kemiro pega um pacote retangular de sua mochila, entregando-o para Lin em seguida, que, desconfiado, tira o conteúdo cautelosamente.
— OH, MY GOD!
Lin começa a tremer com lágrimas formando-se em seus olhos, dizendo sem pausa:
— A edição especial tem capa dura com menos de mil tiragens! Presenteada sem custo para assinantes com mais de uma década de membership. Pelos deuses! Eu nunca acreditei que seria capaz de apenas ter uma edição em minhas mãos. Como se não bastasse ser um exemplar raro, a modelo que interpreta a duquesa nora: Alalma Turunde Kadelia Markan, realmente possui um título de nobreza em sua dimensão natal. O que intensifica o sentimento imoral de presenciar o treinamento de uma mulher nobre, que para plebeus, apenas ter vislumbres de sua beleza já é considerado uma bênção! Mesmo depois de cinco anos do lançamento, até hoje, ainda é discutido em como os produtores conseguiram convencê-la a participar! Pela Hein’Ra, Kemiro ainda está na embalagem original! Este é um tesouro que é impossível de estabelecer um valor. C-Como você…
— Não pergunte como eu consegui o exemplar. Você não acreditaria mesmo se eu lhe contasse.
— Você é o melhor, líder! Após eu ler e reler umas dez vezes, eu vou dar minha vida por você!
Lin abraça Kemiro intensamente enquanto lágrimas escorrem por seu rosto.
— Eu sei! Eu sei! Mas, nada de morrer. Morto, você não pode me ajudar em nada.
— Kemiro, desculpe interromper o momento de vocês dois. — Amira intercede. — Mas, poderia nos dizer a razão deste chamado inesperado? Nossa próxima missão não deveria ser daqui a trinta dias? Aconteceu algo?
Separando-se de Lin, ainda mantendo seu leve sorriso, Kemiro explica:
— Sim. Eu recebi uma missão da minha família.
— Você diz, da sua casa? — Indaga Astela.
— Não. Esta veio da Casa principal, de um dos Anciões. Eu recusei de imediato, entretanto, ele não aceitou. O idiota ainda ameaçou retirar alguns dos poucos privilégios que eu tenho. — Abaixando sua cabeça para o trio, Kemiro diz. — Me desculpem o chamado fora do contrato, mas eu vou precisar de vocês!
O trio responde imediatamente:
— Levante sua cabeça, Kemiro! Todos nós sabemos de sua situação e você foi bem claro quando convidou cada um de nós para sua equipe. Não há nada para se desculpar. — Diz Amira, apressada.
— Sim, Líder! Se você precisa de minhas habilidades, você só precisa apontar, eu obedecerei! — Acrescenta Astela com um borrão de ketchup na bochecha.
— Qual é seu planejamento, líder? — Comenta Lin, com um brilho sinistro em seus olhos entreabertos.
Ouvindo a resposta do trio, o sorriso de Kemiro alarga levemente, antes de voltar ao normal, levantando sua cabeça, ele diz:
— Muito obrigado, pessoal! Eu sou realmente afortunado por ter vocês comigo. Primeiramente, deixe-me dizer que eu consegui negociar um incremento de três vezes do valor normal. Então, mesmo após a divisão, cada um de vocês receberá dois milhões de Nuran.
O trio fica espantado com o valor. Mas, percebendo algo, Amira indaga:
— Você diz dividir entre nós três. E sua parte?
Isso chama a atenção de Astela e Lin, que olham para Kemiro. Sob o olhar inquisitivo do trio, Kemiro apenas pode sorrir, dizendo:
— Eu troquei meu pagamento por outra recompensa, então, vocês não precisam se preocupar. Este valor é o mínimo que vocês merecem.
Nenhum dos três acredita, porém, eles não se atrevem a questioná-lo. Entretanto, mesmo hesitante, Amira pergunta:
— E o que a Lady Azarthine disse sobre isso?
— Azarthine precisou retornar para Ayndora para resolver alguns assuntos pessoais.
O trio franziu suas sobrancelhas, compreendendo as entrelinhas da situação. Amira, que possui mais informações do funcionamento interno da família de Kemiro, reflete:
Covardes! Apenas quando Lady Azarthine não está por perto é que eles têm a audácia de comandar Kemiro desta maneira.
Enquanto Amira está perdida em pensamentos, Astela pergunta inocentemente:
— Pode um Sere’No ficar distante de seu par por longos períodos de tempo?
— Normalmente não. — Responde Kemiro, ele continua. — Porém, Azarthine é um Sere’No de ranque alto, então, ela está isenta de certas regras que outros Espíritos precisam obedecer.
Aproveitando a “introdução” de Astela, Amira indaga, tentando esconder sua aflição para com a situação de Kemiro:
— E quando ela pretende voltar?
— Ela não me informou. Apenas disse que seria benéfico para mim. Enfim, ela estando presente ou não, é um fato que temos um contrato a cumprir.
Suspirando, Amira pergunta:
— Qual o objetivo deste contrato?
— Aí que está um ponto estranhamente curioso. Nossa missão é composta de exploração e recuperação de dados em um laboratório de pesquisas.
Surpreso com a simplicidade do objetivo, Lin indaga suspeito:
— E qual é a ‘curiosidade’?
Com seu sorriso alargado, Kemiro explica:
— É que esta é uma missão conjunta, mais quatro equipes participaram.
O trio fica visivelmente confuso, mas Kemiro continua:
— Porém, este não é o ponto, a localização da missão é o mais interessante…
Frustrada com o ar estranho no sorriso de Kemiro, Amira questiona:
— Diga logo! Não fique nos provocando assim.
— Será dentro da Zona Fantasma.
— “””Eh?”””
O trio tem um sobressalto. Amira é a primeira a perguntar:
— Você quer dizer o Vazio da Ilha?
— Sim. Onde mais seria? — Kemiro responde bem-humorado.
— Antes de te acusar de estar bêbado ou sobre o efeito de alguma droga... você já deve ter verificado os pormenores do contrato, certo? — Indaga Amira com um tom afirmativo.
— Mas é claro! Só porque estou ameaçado de perder alguns privilégios, não significa que colocarei nenhum de vocês em perigo. — Responde Kemiro com seu habitual sorriso, então ele continua:
— A verdade é que eu recebi a intimação dos Anciões há oito dias, desde então, eu entrei em contato com os líderes das outras equipes, entretanto, como é de se esperar, o “espírito competitivo” impediu um compartilhamento ideal de informações. Bem, Sollênia foi a mais receptiva, porém, ela também não conseguiu informações relevantes.
Kemiro faz uma breve pausa analisando o trio, então Lin indaga:
— Mas, você conseguiu algo, não conseguiu?
Como se esperasse pela participação do trio, Kemiro continua:
— Na verdade, não. Nem mesmo uma única pista! Porém, isso não quer dizer que estou ignorante da situação. Em primeiro lugar, uma informação que não possa ser adquirida por dinheiro já diz muito de seu teor. Alguém está controlando o fluxo de informações. Com esta simples dedução, já podemos definir qual é a única família com influência o suficiente para conseguir controlar o fluxo de informações vindo da Zona Fantasma e, se a informação fornecida estiver correta, ser capaz de conduzir pesquisas ali.
Observando o trio, Kemiro fica satisfeito dos três, mesmo não pronunciando uma palavra, já tendo conseguido inferir de qual família ele está se referindo.
Isso mesmo. Apenas a família Real é capaz de tal mobilização.— Kemiro pensa.
Escolhendo bem suas palavras, Amira pergunta:
— Mas, se forem realmente eles, por qual razão eles não estão mobilizando especialistas de grau superior? Não faz sentido.
Sorrindo ao questionamento de Amira, Kemiro comenta:
— Tem certeza? Se fosse um assunto delicado, certamente eles seriam mais rigorosos na seleção das equipes, ainda mais no processo de convocação. O que isso nos diz?
Kemiro faz o trio pensar, apenas sorrindo enquanto aguarda.
— Isso quer dizer que a situação já está resolvida ou…
O primeiro a se manifestar é Lin, mas ele é interrompido por Amira, que continua:
— Esta missão é teste.
— Teste? Teste para o quê? — Astela indaga.
— Hehe! Esta é a questão que eu não consigo responder. O mais óbvio seria sobre a nova dimensão anunciada. — Suspirando, Kemiro continua. — Com a falta de informação, eu não consigo reduzir o escopo de possibilidades.
Sem Azarthine aqui, nem tem como eu coletar informações da família Real.
Controlando sua frustração de não ter seu par ao seu lado, Kemiro informa:
— Esta dedução é a base para nossa preparação. Chegar até esta resposta já deve fazer parte do teste. Então, vocês não precisam encher suas cabeças com questionamentos desnecessários. Apenas se preparem como de costume, seja lá o que nos espera, a missão ocorrerá daqui a vinte dias. Por agora, isso é tudo que tinha para informar.
Ouvindo suas palavras e notando o sorriso enigmático de sempre, é visível que o trio se sente relaxado. Então, Astela, que devorou os doze hambúrgueres durante a conversa, sugere sorridente:
— Já tem algum tempo, mas que tal irmos naquele estabelecimento que comentei para jantarmos?
Todos sorriem e decidem compartilhar a refeição juntos.
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