Dentro do Reino de Nepturia, existem grandes famílias denominadas Casa Pilar. As Casas Pilar são responsáveis por gerenciar um determinado território dentro de uma das quatro regiões da cidade de Nemuria.
A Casa Boronéa está localizada na região Norte e é responsável por gerenciar o território N4 e L2. O Território L2 foi conseguido após a agressiva conquista do território Leste, na catástrofe que se instaurou com o surgimento do Vazio da Ilha que causou a perda de três Casas Pilar.
Entretanto, o avanço da Casa Boronéa foi interrompido pela revelação do poderio militar da Casa Hauveron, que até então mantinha um posicionamento recluso. Tal comportamento fez com que muitos acreditassem que a Casa Hauveron estava até mesmo em declínio, mas, a eficácia com a qual eles não apenas reagiram ao Vazio da Ilha, mas à expansão da Casa Boronéa, provou que a Casa Hauveron estava apenas com suas presas escondidas enquanto mantinham suas garras afiadas.
Com a oportuna expansão, a Casa Boronéa conseguiu não apenas aumentar seu território, mas aumentar sua influência pelo crescimento econômico gerado pela conquista. Porém, a Casa Boronéa, almejando expandir ainda mais seu território, gerou constante atrito contra a Casa Hauveron, que se provou um oponente que não seria devorado sem que uma guerra aberta se iniciasse.
Entretanto, esse atrito entre as casas foi cessado por um decreto da família Real de Nepturia que, percebendo que o atrito que se estendia por sete anos estava se encaminhando para um conflito aberto, se viu necessário tomar uma decisão após o contato com a nova dimensão Areantarde. Assim, foi ordenado que ambas as Casas focassem seus recursos em proteger seu território e novas fronteiras a fim de impedir o avanço do Vazio da Ilha.
A fim de impedir que conflitos surgissem novamente, a família Real ordenou-lhes que entrassem em uma aliança que deveria ser selada com um casamento entre as casas Boronéa e Hauveron.
E no ano 133 (2279) o conflito entre as duas casas cessou. A última pendência é escolher os pretendentes para o casamento.
Para a surpresa de todos, a primeira Casa a se manifestar foi a Casa Hauveron, que não apenas anunciou que casariam sua Sacerdotisa e terceira filha Mandipha, mas eles determinaram quem aceitariam como candidato. Uma escolha que causou uma onda de debates por todo o Reino de Nepturia, pois o escolhido não pertence à Casa Principal, assim como Mandipha, mas alguém de uma família de suporte, o “enigma excluído” Kemiro Boronéa.
Após o anúncio, a mãe de Kemiro, Helga, no mesmo dia, anunciou publicamente que aceitaria a proposta da Casa Hauveron. Desconhecido do público, a Casa Principal dos Boronéa condenou sua decisão sem antes tê-los consultado. Entretanto, mesmo sendo de uma família suporte, tal decisão não foi o suficiente para o conselho dos Anciões perseguir o assunto contra alguém no nível e status de Helga. Assim, a Casa Principal anunciou seu apoio e desejos de prosperidade mutua entre as Casas.
◆◆◇◆◆
Após a reunião com sua equipe, Kemiro retorna para o setor controlado por sua família no território N4; setor 3, pela entrada Norte, que é o oposto da direção do setor 9, onde ele se reuniu com sua equipe.
Mesmo sendo uma família com uma herança centenária, os antepassados de Kemiro decidiram abandonar seu sobrenome e se tornar uma “família suporte” para a Casa Principal Boronéa, assim, aceitando seu novo sobrenome.
A casa de Kemiro possui uma extensão ultrapassando as centenas de metros quadrados, com dezenas de mansões e lago ao centro. Toda a propriedade é cercada por um muro alto, possuindo quatro entradas em seus pontos cardeais, que são altamente vigiadas.
— Lorde Kemiro, boa noite. Como foi seu passeio?
Caminhando tranquilamente, Kemiro é cumprimentado por um dos guardas, um homem alto e musculoso, uma clara demonstração do empenho em seu treinamento.
— Boa noite, Jacob, foi bem tranquilo. Algo de interessante aconteceu enquanto estava fora?
O guarda Jacob expressa um sorriso trêmulo, pois acredita que algo interessante para Kemiro seria, no mínimo, uma invasão à sua casa.
— Graças a Hein’Ra, hoje foi mais um dia pacífico. Porém, a senhorita Mandipha veio lhe visitar, acompanhada de sua irmã.
— Oh! Aparecendo mais uma vez sem nenhum anúncio, bem, não que isso tenha a ver comigo. De qualquer maneira, obrigado pela informação.
Desde quando uma noiva precisa marcar horário? — Jacob pensa, já acostumado com a personalidade de Kemiro.
Após se despedir dos guardas e informar seu retorno na guarita, Kemiro adentra pelo largo portão de serviço.
Suspiro!
— O que foi Jacob, você está bem? — pergunta o companheiro de vigília, notando Jacob limpando o suor formado em sua testa.
— Eu nunca vou me acostumar com o sorriso de Lorde Kemiro.
— Ah! Certamente, eu também sou agradecido por não precisar passar mais tempo em sua presença do que o necessário. A presença dele sempre me dá calafrios.
— Não consigo entender a razão da família o tratar desta maneira. Você já viu algum herdeiro sair sem ter algum acompanhante ou um carro particular? — Sussurrando, Jacob indaga.
— Nunca. Mas quem consegue entender o que se passa na cabeça dos líderes das Casas Pilar? Também, não é algo novo, ele sempre foi tratado assim, desde o incidente com seu irmão. — Suspira o outro guarda.
Jacob fica pensativo, então comenta:
— Incidente? O que pode ter acontecido para ele receber tal tratamento?
Se aproximando de Jacob, o outro guarda cochicha:
— Você nunca ouviu sobre? Existem alguns boatos de que, quando Lorde Kemiro escolheu seu Caminho da Odisseia sozinho, ele tinha apenas dez anos de idade.
— Você tá brincando? Dez anos? Eu precisei de quatro anos só pra conseguir entrar no meu Salão da Alma… A vida não é justa! — Exclama Jacob com uma expressão de espanto.
— É sério! Até este ponto, ele sempre foi tratado como um gênio. Mas, durante o processo de abertura de sua Fundação, seu irmão acabou sendo atingido pela energia emitida por Kemiro, estimulando e abrindo sua Fundação com apenas sete anos.
— Wow! Sete? A idade mínima é dez anos… O que aconteceu com seu irmão?
— Como esperado, a Fundação aberta antes de estar estável lhe casou diversos problemas de saúde que lhe assolam até hoje, porém, após descobrirem a Herança dele, foi quando a situação de Kemiro virou de ponta a cabeça, pois descobriram que seu irmão possui duas Linhagens Sanguíneas: uma da Casa Boronéa e a Linhagem de sua mãe, mas não para por aí! — O guarda gesticula exageradamente continuando. — Ele também nasceu com a Constituição do Corpo Celeste, que é a mesma do progenitor da família, uma das maiores ambições da Casa Principal. Infelizmente, o pobre do Kemiro não possui nenhuma delas.
Olhando para a direção em que Kemiro adentrou, ele suspira, dizendo:
— Bem, eu trabalho há vinte anos para a família de Kemiro, então aceite meu conselho: é melhor você não ficar interessado sobre esse assunto, você não quer correr o risco de alguém da família ouvir, certo? — Novamente suspirando, ele diz sorrindo. — Mudando de assunto, esse final de semana, nossas folgas batem, certo? Quer ir pescar antes do inverno chegar?
— Claro que sim! Esse ano, eu não tive muito tempo com toda a agitação na Zona Fantasma. Eu realmente preciso relaxar!
— Perfeito! Eu estava pesquisando e encontrei esse lugar que estou muito interessado em visitar.
◆◆◇◆◆
Atravessando a área comunal das mansões, Kemiro vai em direção ao refeitório para comer algo após a longa caminhada, voltando da reunião.
O refeitório é como um restaurante de luxo, sempre preparado para receber qualquer pedido dos membros da família, ou refeições programadas a cada três horas para empregados.
Antes que pudesse chegar ao refeitório, Kemiro é chamado:
— Lorde Kemiro, você retornou! Eu já estava ficando preocupada, já são dez horas da noite.
— Ah! Agelia. Por acaso, algo interessante aconteceu enquanto estava fora?
Agelia é uma jovem garota humana, sendo uma das duas únicas empregadas exclusivas de Kemiro. Ela é filha de um casal que trabalha para a mãe de Kemiro. Com quinze anos, Agelia já é uma empregada profissional. Porém, sua proficiência não roubou seu espírito jovial enquanto ela corre de braços abertos até Kemiro com um sorriso brilhante. Parando em frente, Kemiro, Agelia bate continência.
— Não, Senhor! Apenas a senhorita Mandipha chegou acompanhada de sua irmã mais velha e atendentes às 16 horas. Também, a senhorita Aine da Casa Principal chegou às 21 horas com seus atendentes procurando por você, Lorde! Governanta Safix, solicitou que você desse prioridade a sua noiva Mandipha assim que chegasse. Isso é tudo, Senhor!
— Ótimo. Acredito que Safix está fazendo companhia para Mandipha?
— Sim, Lorde!
Refletindo por algum tempo, sem perder seu leve sorriso, Kemiro exclama:
— Ok! Vamos visitar Aine primeiro.
— Senhor! Você vai ignorar sua noiva para se encontrar com outra garota? Essa é uma decisão que pode aumentar a probabilidade do Lorde tomar uma facada! — Agelia expressa com um tom sério, mas toda seriedade é perdida com ela encenando esfaquear alguém invisível.
A sobrancelha de Kemiro estremece, mas ele sorri ainda mais enquanto bagunça os curtos cabelos de cor marrom de Agelia, dizendo:
— Não diga algo que possa ser mal interpretado. Apenas estou escolhendo a rota que me permitirá passar mais tempo com Mandipha. Eu também já tenho uma ideia da razão dela ter vindo visitar sem anunciar.
Embora Agelia não fugiu, permitindo seu cabelo ser bagunçado, ela olha para Kemiro com um olhar desconfiado, exclamando:
— Por que suas palavras fazem parecer que você está gastando tempo, até ficar tarde demais para se encontrarem hoje?
— Claro que não. Vamos, em qual casa Aine está?
Kemiro tem um mau pressentimento quando ele nota Agelia sorrindo provocativamente.
— Safix disse que você diria algo do tipo, então, tendo a conveniência de nosso Lorde em mente, nós estamos hospedando ambas em sua residência.
Kemiro não consegue deixar de perder seu sorriso, tendo uma expressão distorcida encarando Agelia, que apenas sorri energeticamente de sua reação.
◆◇
Atualmente, na residência de Kemiro, no local utilizado para receber convidados importantes, uma sala larga o suficiente para comportar uma centena de pessoas confortavelmente está ocupada por apenas sete indivíduos.
Mandipha e Aine estão sentadas opostamente em um par de sofás de luxo. Ambos possuem duas mulheres atendentes em pé atrás delas; a diferença é que uma das atendentes de Mandipha é sua adoradora e irmã mais velha.
A última pessoa é um dos indivíduos mais importantes para Kemiro, sua ama de leite e governanta, Safix Oddurana, da raça dos Ohboron, com seu tom de pele marrom claro, um par de chifres finos e levemente curvados para trás de cor púrpura ao top de sua cabeça, assim como seus olhos afiados. Seus caninos são longos o suficiente para as pontas protuberarem através de seus lábios rosados. Longos cabelos pretos que se estendem até suas panturrilhas são adornados com um laço branco. Ela está em pé com seu corpo esbelto e longas pernas como uma lança entre as duas visitantes.
Uma empregada entra indo até Safix informando-a de algo. Safix então informa as visitantes enquanto serve um chá fragrante e de alta qualidade, servido com doces que complementam o aroma adocicado.
— Senhorita Mandipha e Senhorita Aine, fui informada que Lorde Kemiro retornou agora pouco e está a caminho.
— Muito obrigado por nos informar, governanta Safix.
Responde Mandipha, Seus longos cabelos anelados de cor branca com pontas rosadas estão soltos até metade de seu comprimento e trançados na outra metade, se estendendo até sua cintura. Acima de sua cabeça, ela possui um par de orelhas arredondadas. Elegantemente posta sobre seu colo, está sua cauda longa e grossa com pelos macios e sedosos.
Trajando um longo vestido branco com design único de sua cultura, ela esbanja maturidade que não perde para sua irmã, mesmo sendo dez anos mais jovem. Seus olhos caídos, adornados por grossos cílios, focam em Aine.
— Querida Aine. Se não se importa, a minha curiosidade. Mesmo sendo da Casa Principal, você costuma visitar Lorde Kemiro regularmente? Ah! Por favor, não me entenda mal, apenas estou feliz de alguém perceber as qualidades de Lorde Kemiro. — Mesmo tendo conhecimento de certas informações, Mandipha age ignorante delas.
Aine tenta manter um ar maduro bebendo seu chá elegantemente, mas sua curiosidade entrega seus quatorze anos de idade com o interesse que ela mantém na cauda fofa de Mandipha, tendo leves sobressaltos toda vez que Mandipha, percebendo seu interesse, move a ponta de sua cauda de um lado para o outro como uma serpente.
— Se-Sempre que minhas responsabilidades permitem, eu considero muito proveitosos os conselhos que Lor… que Kemiro me oferece.
Responde Aine, enquanto ajeita sua longa franja de seu cabelo preto de estilo bob cut. Se forçando a olhar diretamente para Mandipha com seus olhos que possuem uma íris única, provida da Constituição com a qual nasceu, denominada Fada das Flores. Possuindo um formato de uma flor com seis pétalas de cor acinzentada.
Entre as habilidades que a Fada das Flores possui, a principal é a capacidade de perceber as emoções de outros seres, na aparência de uma aura colorida e, no caso de emoções intensas e constantes, a aura toma a forma de uma criatura única.
Neste momento, a razão de Aine, mesmo treinada para se comportar em relações diplomáticas, se deixar distrair pela cauda fofa de Mandipha é devido à mesma possuir uma aura de cor representando sinceridade e interesse. Cores que sobrepõem, quase camuflando, sentimentos de maquinação. Tais cores contrastam com sua irmã, que possui cores de impaciência, expectativa e uma cor intensa de amor por Mandipha.
Brevemente olhando para o lado, Aine analisa seu maior interesse após Kemiro, Safix. Aine possui um segredo que nunca compartilhou com ninguém. Um segredo sobre a total abstinência de cores em Safix. Muitas vezes, Aine se questionou se ela está realmente viva. Mas ela sabe que esta falta de cor não é de fato a “falta de”, mas na verdade é que todas as cores apenas se manifestam devido à presença de uma única pessoa.
Enquanto pensa em qual assunto seguir em sua conversa com Mandipha, Aine é surpreendida quando sua visão é preenchida com uma explosão das mais vividas cores, o epicentro sendo Safix. Com muito esforço, Aine consegue suprimir seu sorriso sabendo que a “única pessoa” chegou.
Aine se ajeita no sofá, voltando toda sua atenção para a porta, ação que todos imitam, pois, para sua surpresa, todos ouvem um comentário inesperado emitindo do outro lado da porta dupla de entrada da sala.
— Hoo! Isso agora é interessante.
KRABOOM!
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