Capitulo 1 - As bolas do necromante
“Era uma PORRA duma noite fria e tenebrosa mas nada iria me impedir de arrancar as BOLAS do necromante e enfiá-las na BOCA daqueles zumbis FUDIDOS!” Rob gritou com o punho em riste, fazendo uma careta para um semicírculo de crianças assustadas que começaram a chorar pelas suas mães.
“Ei! Parem de chorar! Eu tô apenas começando!” Rob continuou gritando com as crianças, o que apenas fazia com que elas chorassem ainda mais alto.
Em seguida, as mães das crianças começaram a retirá-las da frente de Rob, lançando-lhe olhares de reprovação.
“Seus filhos precisam ouvir histórias de heroísmo ou crescerão uns pulhas!” Ele resmungou e terminou sua caneca de cerveja num único gole, batendo-a vazia na mesa para chamar atenção da garçonete e já pedir outra.
Ao recolher seu elmo do chão, ele viu uma única moeda de prata. Ainda sentado atentamente com suas mãos descansando sobre suas pernas cruzadas, restara uma única criança de grandes olhos esbugalhados e um largo sorriso no rosto.
“Que início de história intrigante, mestre! Não posso esperar para ouvir o resto! Mas eu tenho uma dúvida. Como você iria arrancar as bolas do necromante com um arco e flechas?”, perguntou a criança, olhando para o arco e flechas descansando em uma das cadeiras. “É possível arrancar as bolas usando uma flecha? Tipo, você teria que ter uma pontaria muito boa e nem dá pra ver as bolas por detrás da roupa. E como você faria para checar se as bolas foram arrancadas mesmo?” continuou a criança num único fôlego.
Rob pegou a moeda e guardou em seu bolso que estava estranhamente vazio. Ele jurava que havia uma outra moeda lá. Descansou o elmo na mesa e virou-se para a criança
“Como você me pagou, eu vou responder sua pergunta estúpida. Não, eu não arranquei as bolas do necromante com uma flecha. Eu arranquei com minha faca…” ele disse, movendo sua mão para retirar a faca da bainha e viu que a mesma estava vazia. “Ué, cadê minha faca?”. Ele olhou em volta para ver se ela tinha caído no chão e viu a criança brincando com ela. “Ei! Essa faca é minha!”
“Uh?”, disse a criança confusa. “Tem certeza?”
“Sim! Como ela foi parar na sua mão?”
“Eu achei ela por aí. É uma bela faca de caçador.” disse a estranha criança, girando a faca em sua mão e jogando-a para o alto, pegando com a outra mão por detrás de suas costas sem tirar os olhos de Rob.”Foi ela que você usou para cortar as bolas do necromante?”
“Sim. E se você não me devolver ela agora, eu vou cortar as suas bolinhas também!”
Com olhos assustados, a criança rapidamente devolveu a faca para Rob que guardou-a na bainha e a amarrou bem amarrada, para não correr o risco de perdê-la novamente. Ao voltar seus olhos para a criança, viu que a mesma já estava sentada à mesa usando seu elmo, que ficava ridiculamente grande para a sua pequena cabeça.
Rob ficou encarando a criança por alguns segundos. Embora tivesse estatura similar a das demais crianças, estava vestida de maneira bem diferente. Enquanto as demais crianças vestiam roupas simples de lã costuradas grosseiramente, a criança à sua frente vestia um belo colete preto de couro sobre uma camisa de linho branca, enrolada até o cotovelo, revelando seus braços bem cabeludos. E ao invés de usar um calçado de pano, vestia uma bota de couro propícia para longas viagens e a qual se encontrava carregada de poeira, indicando que havia chegado recentemente em Berespar.
A garçonete trouxe mais uma caneca de cerveja para Rob e a criança logo pediu uma para ela também, no que a garçonete obedeceu com um sorriso sem questionar. Foi então que Rob percebeu que algo estranho estava acontecendo.
“Ok. Você não é uma criança.”, tirou o elmo da cabeça dela e colocou-o de volta na mesa.
A criança gargalhou, batendo na mesa repetidas vezes. “Claro que não! Eu tenho 67 anos!”
“Foi o que pensei. Você faz parte dos Wee, o Povo dos Pequenos.”
“Pequeno, eu? Nós Wee somos do tamanho normal. Vocês humanos que são muito grandes!”, disse, ficando em pé no banco e pegando a caneca de cerveja de Rob com as duas mãos. Rob tomou a caneca dele, derramando parte da cerveja na mesa, e colocando-a bem em frente a si. Logo depois a garçonete trouxe o pedido do Pequeno e ele seguiu por beber de sua própria caneca.
“Eu não bebo com estranhos.” Rob disse, encarando o Pequeno. Em seguida, bateu sua caneca na dele e tomou um gole. “Então, qual o seu nome? O que te trouxe a este fim de mundo?”
“Ah, vamos nos apresentar! Que ótimo! Estava afim de te conhecer melhor! Tenho certeza que seremos grandes amigos! Meu nome é Zacharias Longsleeves e você? Eu já sei o seu nome porque você já se apresentou antes de iniciar sua história, mas não quero interromper sua apresentação. Aliás, quando você vai terminar de contar sobre as bolas do necromante?”
“Zacharias. Posso te chamar de Zach?”
“Claro. Pode me chamar de Zach, Zachy, Zachary, Zaza, Zaka, Zazum…”
“Ok, Zach. Cala a boca!”
Zach cobriu a boca com as mãos imediatamente, mas era possível perceber que ele mantinha escondido um largo sorriso amigável.
“Meu nome é Rob Griffin, mais conhecido como ‘A ÁGUIA CARECA!’”, anunciou em voz alta e olhou por sobre o ombro para ver se alguém na taberna o reconheceria, mas ninguém parecia se importar com a estranha dupla na mesa do canto.
“Uau! A Águia Careca! Nunca ouvi falar desse nome, mas não tenho dúvidas de que um dia você ficará famoso!” disse Zach, examinando uma das flechas de Rob.
“EI! PARE DE MEXER NAS MINHAS COISAS!!” Rob gritou e tomou a flecha das mãos de Zach.
“Eu não mexi em nada. Sua flecha caiu no chão. Eu apenas peguei ela pra você. E então? Cadê o resto do nosso grupo?”
A vontade inicial de Rob era de chutar Zach de sua mesa, mas ele já havia percebido que o Pequeno possuía certas habilidades que poderiam ser úteis.
“Não existe NOSSO grupo!” disse Rob. “Existe o MEU grupo! Mas eu vou aceitar a sua participação por um período de experiência, até ter certeza de que você poderá se tornar um membro oficial.”
"Ah! Que maravilha!” Zach pareceu excitado e bebeu o resto de sua cerveja com tanta vontade que acabou derramando um pouco em sua roupa. “Quem mais está no nosso grupo, chefe? Digo, no seu grupo.”
“Por enquanto apenas nós dois. Eu coloquei um anúncio no mural da praça, mas eu sou muito seletivo.” disse orgulhosamente.
“Claro, claro! Por isso que não tem mais ninguém! E que tipo de pessoas você está procurando? Eu posso te ajudar!”
“Nós precisamos de um mix de habilidades. Alguém que domine as artes arcanas, seria muito útil. Um curandeiro, óbvio. E um guerreiro. Alguém bom com a espada.”
“Eu sou um grande guerreiro!” disse Zach, para um incrédulo Rob.
“Ok. Um pequeno grande guerreiro! Pequeno em estatura, mas grande de coração!” Ele ficou em pé no banco novamente, levantando uma faca de caçador em sua mão direita.
Rob não acreditava no que estava vendo. Olhou para sua bainha e a faca não estava mais lá. Desta vez a sua reação não foi de pedir a faca de volta. Ele estava incrédulo. Tinha amarrado a faca na bainha a poucos minutos. Como ela foi parar na mão de Zach? Havia algo de misterioso com a pequena figura à sua frente.
“Devolve a minha faca!” ele pediu, desta sem gritar.
“Oh! Essa faca é sua? Você precisa ter mais cuidado. Tente dar um duplo nó ao amarrá-la na sua bainha.” disse, devolvendo-a para Rob.
“Vou dar um triplo, desta vez.”
“Já sei como eu posso te ajudar!”
“Uh?”
“Não sei se você percebeu, mas eu sou muito bom em achar coisas.”
“Não acho que achar é o verbo correto.”
“Eu vou achar as pessoas que você precisa para o seu grupo!”
“Eu não preciso de…”
“Ok. Eu já volto!” disse Zach, pulando de sua cadeira.
"Não! Espera!”, gritou Rob.
Mas já era tarde demais e o pequeno Zach rapidamente sumiu no meio das dúzias de pessoas Grandes sentadas na taberna.
Esse maldito Wee ainda vai me arrumar problema, pensou.
Em seguida conferiu seu bolso, sua bainha, seu elmo, seu arco e flechas. Estava tudo ali. Suspirou aliviado.
Comments (0)
See all