“FILHO DA PUTA!” Rob gritou indignado, batendo na mesa, mas seu grito acabou sendo abafado pelos aplausos de todos os demais presentes. Inclusive Zach, que batia palmas freneticamente, até receber um olhar fulminante de Rob.
“Uma rodada por conta da casa!”, anunciou o taberneiro. “Viva os Heróis Dourados!” levantou sua caneca e todos os clientes da taberna também levantaram suas canecas para brindarem seus novos heróis. Uma barda do grupo de Percival subiu em outra mesa e começou a tocar sua flauta, animando todos os presentes, que batiam palmas para acompanhá-la. Os demais membros do grupo também subiram, cada um em uma mesa, e começaram a dançar e bater palmas, enquanto as garçonetes levavam bandejas carregadas de cerveja para todos. Esta era provavelmente a melhor noite da história de Berespar! Exceto para quatro pessoas no canto da taberna que observavam tudo muito sérias.
“Algo está errado.” disse Azurya, olhando para Percival e sua turma.
“Sim. As palmas estão completamente fora do ritmo da música.” disse, Zach. “O certo seria assim.” e começou a bater palmas para demonstrar.
“Pulque comemora a bravura desses heróis.” Khelgar terminou sua cerveja e assim que a garçonete trouxe as cervejas por conta da casa, ele pegou mais duas para si.
Percival dançava em cima da mesa, girando o seu corpo e fazendo o sangue da cabeça decepada do vampiro jorrar para todos os lados. As pessoas, inebriadas pela morte do vampiro, achavam graça da cena grotesca. Percival pulou da mesa e começou a dançar pela taberna, indo de mesa em mesa, para que todos pudessem ver a cabeça do vampiro de perto.
“Parabéns.” disse Rob a Percival, quando esse chegou na mesa do arqueiro. Percival parecia ignorá-lo.
Zach passava o dedo no enorme canino do vampiro.
Rob chutou a canela de Percival, fazendo-o cambalear e parar de dançar. O arqueiro finalmente conseguiu sua atenção.
“Ei! O que foi amigo?” disse Percival. “Sorria! O seu herói aqui matou o vampiro malvadão!” disse, gargalhando e batendo a cabeça do vampiro na mesa, fazendo espirrar sangue em todos os presente.
“To vendo.” Rob rangeu os dentes. “Apenas uma pergunta.”
“Diga!”, Percival
“Você enfiou uma estaca no coração do vampiro?”, perguntou Rob, limpando o sangue de seus olhos.
Percival cuspiu o gole que tinha acabado de dar em sua cerveja e gargalhou. “Amigo! Deixe os profissionais trabalharem! Vai beber sua cerveja e festejar! O vampiro está morto!” disse, saindo em seguida da mesa de Rob e dançando em direção à porta de entrada da taberna.
“Idiota.” Rob sussurrou.
De repente, um grito estridente de uma mulher aterrorizada ecoou pela taberna, interrompendo a bateção de palmas e chamando a atenção de todos os presentes. A mulher apontou para Percival, que olhava para ela sorrindo, sem entender porque todos olhavam em sua direção.
Atrás de Percival, acabara de entrar uma nova pessoa no estabelecimento. Sendo mais preciso, um corpo ensanguentado sem cabeça.
A cabeça do vampiro segurada por Percival abriu os olhos e sorriu, mordendo a mão do dançante guerreiro que urrou de dor e a deixou cair no chão. Assustado, Percival saiu correndo para o fundo da taberna.
O vampiro pegou sua cabeça do chão e posicionou-a de volta em seu lugar.
Contorcendo seu pescoço e produzindo audíveis estalos, o vampiro encarou todos os presentes e depois voltou seus olhos para a garçonete que há pouco anunciara sua chegada, a poucos passos de distância..
“Não precisa trazer o cardápio. Eu vou me servir do buffet.” sorriu, lambendo seus enormes caninos.
Com a mesma facilidade de pisar numa formiga, ele rapidamente moveu-se para agarrar a mulher e num movimento horizontal decepou sua cabeça com uma das mãos, transformando o corpo dela numa fonte humana de sangue. A enorme língua do vampiro se deliciava com cada gota que caía em seu rosto.
Em uma questão de segundos, a taberna tornou-se num abatedouro. O vampiro movia-se tão rápido que era difícil acompanhar com os olhos. Via-se apenas o seu vulto movendo como um raio negro, decepando membros e fazendo muito sangue jorrar para todos os lados. Gritos aterrorizantes permeavam o local, instaurando um pânico generalizado. As pessoas começaram a correr para o fundo, atrás do bar, derrubando tudo e todos no caminho, chegando algumas pessoas a se pisotearam.
Percival e seus companheiros olhavam incrédulos para a cena. Como o vampiro sobreviveu à decapitação?
“Belo trabalho, imbecil.” Rob olhou puto para Percival e pegou seu arco e flecha.
Azurya já se encontrava de pé com os olhos fixados no vampiro. O cristal do cajado já brilhava em preparação para sua próxima magia.
Khelgar colocou parte da cerveja na caneca prateada em seu pescoço e em seguida bebeu dela. Colocando suas mãos nas costas de Azurya e Rob, fechou os olhos e rezou brevemente para seu Deus.
“Pulque, conceda sua benção a esses bravos heróis que agora caminham de encontro à morte.”
As mãos do anão brilharam e a luz caminhou de suas mãos para os corpos de Azurya e Rob. Ambos sentiram o equivalente a uma injeção de adrenalina em seus corpos.
“Cadê Zach?” Rob perguntou.
“O covarde se escondeu.”, respondeu Khelgar, decepcionado. Percorreu os olhos pela taberna mais uma vez para tentar encontrar o Wee. A porta de entrada estava no canto oposto à mesa deles. Todas as mesas entre eles e a entrada já estavam vazias, exceto pelos corpos desmembrados de vítimas do vampiro. O mesmo podia ser dito sobre todo o resto da taberna, até o fundo, onde alguns sobreviventes se escondiam atrás do bar.
No meio da taverna, em poucos segundos os Heróis Dourados estavam reunidos em frente a mesa em cima da qual Percival continuava em pé. A barda e outros dois guerreiros empunhavam espadas curtas e um mago preparava uma magia, suas mãos envoltas por chamas.
“Ei feioso!” gritou Percival, apontando sua espada longa na direção do vampiro. “Pare de atacar os mais fracos e vem aqui para eu arrancar a sua cabeça novamente!”
O vulto do vampiro parou em frente ao bar atrás do qual havia encurralado o resto de seu buffet. Do bar até a porta de entrada havia apenas pedaços de mesas, cadeiras e corpos desmembrados numa enorme poça de sangue. O vento fazia questão de forçar sua entrada, batendo portas e janelas e produzindo um uivo sinistro.
O vampiro andou confiante em direção a Percival. O mago então soltou um jato de chamas na direção do vampiro, que parou a magia com sua mão esquerda até a mesma se extinguir. Sua mão, queimada pelas chamas, se regenerou em poucos segundos.
“Vamos ficar so olhando?”, Khelgar perguntou.
“Espalhem-se. Circulem o vampiro. Assim que eu soltar minha primeira flecha, ataquem.”
Ambos concordaram e se afastaram, cada um se posicionando de um lado.
Não estava esperando isso agora. Merda., pensou Rob, contando rapidamente as poucas flechas que tinha consigo naquele momento. Teria que fazer cada flecha contar.
Os dois guerreiros ao lado da barda correram na direção do vampiro, cada um flanqueando-o por um lado. Percival pulou da mesa e correu em linha reta até o vampiro com sua espada levantada acima do ombro direito. A barda hesitou, paralisada de medo enquanto o mago preparava um encantamento.
Os guerreiros então atacaram juntos, cada um de um lado do vampiro, mas este apenas desviou dos ataques e depois agarrou as mãos dos guerreiros que estavam empunhando as espadas e num ágil movimento, arrancou os braços de seus corpos, fazendo os guerreiros caírem no chão em espasmos de dor. Embora tenham falhado em seu ataque, os guerreiros distraíram o vampiro tempo suficiente para o mago encantar a espada de Percival com chamas e para Percival enterrar sua longa lâmina no meio do peito do vampiro.
Eles conseguiram! pensou Rob.
Mas desta vez não seria tão fácil. O vampiro não pareceu sentir o golpe e apenas sorriu para Percival que, ao terminar de enterrar sua espada no peito do vampiro, encontrava-se face a face com o mesmo. Era possível sentir o bafo pútrido de morte vindo da boca da terrível criatura.
“Eu movi meu coração.” disse o vampiro, encarando os olhos arregalados de Percival.
“N-não!” gaguejou Percival, tentando puxar sua espada que encontrava-se presa no peito do vampiro. “NÃO É POSSÍVELl! EU TE MATEI! EU TE MATEI, SEU DESGRAÇADO!”
E essas foram as últimas palavras do bravo guerreiro antes do vampiro decepar sua cabeça num rápido corte horizontal feito com uma das mãos enquanto a outra segurava sua cabeça pelos cabelos.
“Agora estamos quites.” disse o vampiro para a cabeça de Percival, levantando-a na altura de seus olhos. Assim que o corpo de Percival caiu morto aos seus pés, segurou a lâmina da espada com sua outra mão e empurrou-a para fora de sua barriga, fazendo-a deslizar no chão por vários metros. Voltou, então, sua atenção para a barda e o mago pouco a frente.
Ao ver a facilidade com que o vampiro matou seus amigos, a barda desesperadamente largou sua espada e correu em direção a porta de entrada.
Num único gesto, o vampiro fechou todas as janelas e a porta, interrompendo o barulho do vento e fazendo um silêncio macabro reinar no lugar. Ouvia-se apenas o som das labaredas queimando as toras de madeira na lareira e o choro contido das pessoas escondidas atrás do bar, que tentavam engolir o desespero para não chamar atenção para si. Todo o chão da taberna estava coberto de sangue, urina, fezes e restos mortais, que produziam o pútrido cheiro de morte que agora permeava o ar do Beholder Caolho.
Chegando à porta, por mais que tentasse, a barda tentasse não conseguia abri-la. Tentou desesperadamente e acabou ajoelhando-se em lágrimas, sem nenhuma esperança de sair de lá viva.
O mago encarava o vampiro sem sair do lugar. Difícil saber se por pura bravura ou um medo paralisante. Mais provável que fosse o último.
O vampiro o encarou de volta e sorriu, levantando a cabeça de Percival e deixando o sangue escorrer dentro de sua boca. Em seguida, arremessou a cabeça no estômago do mago que se curvou e caiu no chão.
Sabia que podia matar todos ali presentes muito mais rápido mas queria apreciar o momento e brincar com a sua comida. Caminhou lentamente na direção do mago, observando com prazer como o medo e o desespero cresciam em sua presa a cada passo.
O mago ainda estava agachado no chão, tentando se recompor, quando percebeu a presença da morte à sua frente. Queria preparar uma última magia, um último ataque antes que sua vida lhe fosse ceifada por aquele monstro, mas não conseguia acalmar sua mente para se concentrar. Seu estômago embrulhou, sentia calafrios por todo o corpo e sua boca tremia como se estivesse com hipotermia.
Uma lágrima escorreu de seu olho na realização de que nada mais podia fazer. Fechou os olhos e lembrou de sua esposa e filhos, tentou se conectar ao amor que sentia por eles naqueles últimos segundos de vida, pois era o mais próximo que chegaria de se despedir deles. Agarrou-se naquele sentimento e começou a se acalmar. Que venha o golpe final. Estou pronto, pensou.
Um silvo cortou o silêncio da noite, seguido por um gutural engasgar. O mago abriu seus olhos e viu o vampiro cambaleando para trás com uma flecha atravessada em sua garganta.
“POR PULQUE!!”, Khelgar gritou, pulando de uma mesa e se projetando no ar, segurando seu machado com as duas mãos por cima de sua cabeça e enterrando-o no ombro direito e quase desmembrando o braço do vampiro.
O vampiro levantou sua cabeça, urrando de dor e expondo seus enormes dentes, mas em seguida se recompôs. Arrancou a flecha de sua garganta e lambeu o seu próprio sangue dela, virando-se então para o anão. O braço direito do vampiro se regenerava rapidamente, fechando a enorme cavidade causada pelo ataque e expulsando o machado de seu corpo, fazendo-o cair ao chão. Não via medo no rosto de Khelgar, apenas determinação. Algo raro. O anão já se preparava para puxar uma faca para atacar novamente e o vampiro apenas chutou-o para longe, tirando-lhe o ar e fazendo seu gorducho corpo voar até o fundo da taberna, quebrando mesas e cadeiras no caminho, bem como algumas de suas costelas. O corpo do anão se arrastou pelo chão, deslizando em meio a poças de sangue e pedaços de intestino e outros miúdos de restos mortais.
Naquele mesmo instante, perto da porta de entrada, o cajado de Azurya estava envolto por uma aura azul e uma enorme bola de gelo com um metro e meio de diâmetro se formava no ar à sua frente. A bola então se quebrou na forma de diversas lâminas de gelo que voaram na direção do vampiro e perfuraram suas costas, fazendo o vampiro arquea-la em dor e se virar para a maga.
“Precisamos achar o coração dele! Tentem achar o coração!”, alertou Rob aos demais, enquanto apenas movia-se em busca de um ângulo para atirar no torso do vampiro.
O vampiro olhou para Azurya, depois para Rob no outro lado da taberna e para o anão ao fundo, lutando para recuperar seu fôlego e percebeu que teria problemas. Mas não acreditava que eles eram páreo para ele. O mago patético a seus pés, ainda paralisado de medo, não representava risco real. Ignorou-o e decidiu voltar sua atenção para Azurya, movendo-se rapidamente em sua direção.
Merda! pensou Rob e, mesmo sem ângulo para achar o coração, arriscou mais uma flechada para ao menos tentar retardar o vampiro e dar tempo para Azurya sair de seu alcance. Mas o vampiro movia-se rápido demais e, para sua surpresa e frustração, Rob errou o alvo.
Azurya sabia que tinha poucos segundos para soltar uma magia. Seu cajado brilhou novamente e o ar a sua volta começou a congelar, criando uma barreira de gelo ao seu redor e da barda ajoelhada perto dela.
O vampiro aproximou-se e quebrou a barreira de gelo com um soco de sua mão direita, estilhaçando-a por completo. Logo em seguida pegou Azurya pelo pescoço com sua mão esquerda e levantou-a do chão, esmagando os músculos do seu pescoço e asfixiando-a. A barda gritava descontroladamente, em puro pânico, e encolheu-se no canto puxando os cabelos enquanto observava a cena aterrorizante.
“AAAAARGH!” lágrimas de dor e frustração escorriam dos olhos de Khelgar que tentou se levantar mas levou sua mão às suas costelas, sendo capaz apenas de observar a cena ajoelhado.
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