Foda-se o coração. Rob pensou. Respirou fundo, puxou a corda de seu arco atrás de sua orelha, mirou na cabeça da criatura e soltou a flecha. Desta vez a flecha foi direto ao alvo, mas a cabeça do vampiro virou numa fração de segundos e a flecha parou no ar antes de encostar em sua testa. Enquanto a mão esquerda do vampiro suspendia Azurya pelo pescoço, a mão direita segurava a flecha e os olhos do vampiro encaravam o arqueiro.
Numa velocidade sobre humana, o vampiro lançou a flecha de volta como se fosse um dardo.
Não é possível… Rob pensou, e foi apenas o que pode fazer. A flecha penetrou abaixo de seu ombro, jogando-o no chão.
Hmmm, agora eu posso focar apenas em você pensou o Vampiro e respirou fundo observando a bela maga. Com um leve movimento do seu dedão, o vampiro torceu o pescoço de Azurya para o lado, expondo a jugular que pulsava por debaixo de sua imaculada pele pálida, coberta levemente pelo suor da batalha e agora avermelhada pela asfixia.
Os olhos da maga observavam embaçados, de soslaio, as longas presas do vampiro salivando profusamente ao se aproximarem de seu pescoço.
Lambeu o pescoço de Azurya, logo em cima da jugular e apertou-o mais um pouco, fazendo-a soltar um grito engasgado de dor, quase perdendo a consciência. Pegou seu longo cabelo loiro com a mão direita, tingindo-o com o sangue de dúzias de vítimas, e trouxe para perto de seu nariz, cheirando-o profundamente. Em seguida puxou-o brutalmente para baixo, esticando o pescoço da maga. Aproximou sua boca e abriu-a de forma descomunal, expondo suas enormes presas e encontrando-as na jugular. Sentia um prazer enorme no momento ideal em que a pele da vítima cedia à pressão e era perfurada, fazendo jorrar os primeiros jatos de sangue dentro e fora de sua boca.
Neste exato momento, com uma das mãos em suas costelas, corria o anão em direção ao vampiro, o amuleto de Pulque brilhando em volta do seu pescoço.
“AAAAAAAAAAHH!”, tirou a mão de sua costela, pegou o machado do chão assim que passou por ele e arremessou-o com tanta força que caiu pra frente logo em seguida, apoiado em seus braços. Olhou para cima e viu seu machado girando no ar e acertando em cheio o vampiro na nuca, fazendo a lâmina do machado atravessar pela boca e parar quase tão próximo do pescoço de Azurya quanto os dentes do vampiro estavam até então.
Urrando de dor, o vampiro largou a maga que caiu desfalecida no chão coberto de sangue e girou seu corpo para a direita, estufando o peito enquanto suas mãos procuravam freneticamente a haste do machado atrás de sua cabeça. E ao fazê-lo, expôs seu torço todo para Rob, que estava de pé, se recompondo.
“Te peguei, miserável.” disse o arqueiro olhando nos olhos do vampiro. Esta era a abertura que Rob estava esperando e começou a mandar uma flecha atrás da outra, cada uma num lugar diferente, até achar o coração. Até acabarem as flechas.
A cada flecha que perfurava seu corpo, o vampiro grunhia com o impacto e lutava para manter o equilíbrio. As flechas perfuraram primeiro os pulmões e foram descendo até a cintura, formando uma coluna de três flechas em cada lado.
Para sua surpresa, o vampiro tirou o machado de sua nuca e gargalhou, engasgando com o próprio sangue e cuspindo alguns dentes para fora de sua boca. Em seguida arremessou o machado na direção de Rob, que sabia que só conseguira seu esquivar por um triz porque o vampiro já se encontrava debilitado.
Não é possível, pensou Rob. Onde esse miserável escondeu o coração?
Eis que de repente um vulto pula de uma viga no teto da taberna.
“Em cima do pintooooo!” gritou Zach, pegando todos de surpresa ao cair heroicamente em cima do vampiro, usando o momento de sua queda para enfiar brutalmente a faca de caçador de Rob - sim, ele ‘achou’ ela de novo - na área abaixo do umbigo do vampiro. Logo em cima do pinto.
“N-não…” gaguejou o vampiro, caindo de joelhos e tentando esboçar alguma reação mas perdendo controle de seus membros e conseguindo apenas olhar nos olhos do Wee, incrédulo de ter sido derrotado por tão ridícula criatura.
“Não cai em cima de mim.” disse o Wee, dando um tapa no rosto do vampiro e fazendo-o cair de lado. “Eca!”, disse em seguida, vendo sua mão suja de sangue.
“Azurya!”, alguém clamou. Era Khelgar, ajoelhado a seu lado, verificando como a maga estava. Rob e Zach correram para se juntarem ao anão.
“Ela está…?” perguntou Rob, incapaz de completar a frase, olhando para o corpo desfalecido de Azurya, todo coberto de sangue.
“Ela sofreu um grave trauma no pescoço, mas está viva.” disse Khelgar, para o alívio de todos que notaram que ela ainda respirava, embora com certa dificuldade.
Aos poucos a cor foi voltando ao rosto de Azurya e ela retornou a consciência, mas não conseguia se levantar. Sentia que tinha algo de errado com seu pescoço. Não conseguia mexê-lo direito e a dor era insuportável.
Retirando o símbolo sagrado de Pulque do seu pescoço, Khelgar posicionou-o no chão à sua frente e fechou os olhos em oração para seu Deus. Suas mãos brilharam com um leve tom amarelado, iluminadas pela energia divina de Pulque. Aos poucos a pequena caneca prateada começou a se encher com um líquido azulado.
“Uau!” exclamou Zach, muitíssimo curioso. Estava em pé ao lado do anão, observando cada detalhe.
O anão levantou gentilmente a cabeça de Azurya com a mão esquerda enquanto a direita derramava o líquido em pequenas quantidades dentro de sua boca. “Engula devagar, mesmo que doa, mas beba tudo.” A maga consentiu e deixou o líquido descer por sua garganta, segurando a vontade de tossir para não cuspi-lo para fora.
“Isso vai curar ela?” perguntou Zach. “Eu tenho uma unha encravada no meu dedão do pé direito que está me incomodando há dias. Será que Pulque consegue desencravar minha unha?”
“Embora Pulque seja aliado do Deus da Guerra e suas bênçãos são geralmente dadas antes das batalhas, não é raro ele conceder a benção da cura para aqueles que demonstraram bravura em seu nome. Se ele aprovou a atuação de Azurya, ela receberá sua benção.” explicou o anão.
“Tá mas e minha unha encravada?” tirou a bota e colocou o dedão do seu pé perto do rosto do anão. “Olha ai!”
“Tira isso daqui!” , o anão afastou o pé de Zach.
“Olhem! Azurya!” Rob apontou para a maga, que começava a levantar a cabeça e pouco depois se ajoelhou e levantou se apoiando em seu cajado. Passou a mão no pescoço, que se encontrava agora completamente curado.
“Obrigado, Khelgar.”, ela agradeceu, apertando as mãos do anão. (obs: se o chao estava todo sujo de sangue, azurya tb se sujou. Bobear tinha ate mrmbrod de pessoas mortas a seu lado)
“Eu não fiz nada.” ele respondeu. “Agradeça a Pulque. Eu sou apenas o instrumento para sua obra divina.”
A maga consentiu e então viu o corpo do vampiro caído de lado no chão. Algumas pessoas começaram a sair detrás do bar e se aproximaram do meio da taberna para ver o vampiro abatido.
“Ele está morto?”, perguntou o mago do grupo de Percival, se juntando a eles.
“Não.” respondeu Rob.
As pessoas que tinham saido detrás do bar, voltaram correndo para lá imediatamente. A barda, já mais controlada, também se juntou aos demais herois.
“Obrigada por me proteger.” ela abraçou Azurya.
A verdade é que Azurya não sabia ao certo se teve ou não intenção de defender a maga. Sabia que tinha que buscar um ângulo para atacar o vampiro e perto da porta de entrada era uma boa opção. Ela apenas acenou positivamente com a cabeça para a barda e então voltou-se para Rob.
“O que precisamos fazer para matar ele de vez?”, ela perguntou.
“Eu estudei um pouco sobre vampiros antes de vir para Berespar.” respondeu Rob. “Ao perfurar o seu coração, o vampiro fica paralisado num estado de torpor. Mas não está morto. O ideal é destruir o corpo dele por completo. Podemos jogá-lo na luz do sol quando amanhecer. Água benta também serve para queimar seu corpo.”
“Então se tivéssemos uma quantidade grande o suficiente de água benta, poderíamos derrete-lo e ele seria finalmente destruído?" Azurya perguntou.
“Sim.” respondeu Rob.
“Ok.”, ela olhou para Khelgar. “Vamos precisar da ajuda de Pulque mais uma vez. Você consegue pedir para ele benzer um pouco de água?”
“Sem problemas.” disse Khelgar. “O que você tem em mente?”
“Ajeitem o corpo do vampiro aqui no chão”, ela pediu e Rob, Zach, Khelgar e o mago moveram o corpo do vampiro de forma a ficar deitado em linha reta no chão, os braços cruzados sobre a barriga.
Azurya posicionou-se perto do vampiro e ficou encarando-o. A sensação de quase morrer ainda estava fresca em sua mente e ela sentia que iria lhe perseguir por muito tempo ainda. Os olhos do vampiro estavam fechados, como se estivesse dormindo e isso a irritava. Ela queria que ele estivesse acordado, observando-a lhe destruir assim como ele fez, ou tentou fazer com ela. Queria que ela fosse a última coisa que ele veria nos seus segundos finais de existência. Batendo seu cajado no chão ela começou a verbalizar em alto tom as palavras mágicas de um feitiço e pequenas poças de água começaram a se formar em volta do corpo do vampiro. As poças começaram a crescer e se juntar e na medida que iam crescendo de volume elas subiam verticalmente, como se estivessem construindo um bloco de água que cobrisse todo o corpo do vampiro. Assim que o corpo do vampiro estava completamente submerso no bloco de água, ela virou para Khelgar.
“Sua vez. Peça para Pulque abençoar esse volume de água.”
Assim como o anão, Rob, Zach, o mago e a barda estavam impressionados com o controle mágico de Azurya.
“Não demore muito.” ela disse para o anão, rangendo os dentes. “Manter esse volume de água nesse estado por muito tempo, sem se desfazer, não é nada fácil.”
A mão direita de Azurya segurava firme o cajado, cujo cristal azul brilhava de forma constante, servindo de condutor para o feitiço. A cada leve intermitência no brilho do cristal, o bloco de água tremia um pouco, como se ameaçasse se desfazer.
O anão se posicionou perto do vampiro, beijou seu amuleto sagrado e pôs as mãos no bloco de água.
“Ó Pulque, Deus dos Bravos e Destemidos, ouça seu mais fiel servo que lhe suplica pelo seu toque sagrado neste momento, para que possamos destruir finalmente o inimigo e vencer a batalha. Infinita é a minha fé, minha lealdade e meu comprometimento em espalhar sua palavra. Por favor, conceda-me sua graça.” rezou Khelgar e poucos segundos depois suas mãos brilhavam com a luz amarelada da energia divina de Pulque.
A energia que saía das mãos de Khelgar começaram a se espalhar pelo bloco d'água rapidamente. Azurya continuava concentrada, mas começava a demonstrar sinais de fraqueza. A luz do cristal começou a brilhar de forma intermitente, causando pequenas ondas no bloco de água que ameaçava se desfazer. A maga segurou o cajado com ambas as mãos, se esforçando ao máximo para dar a Khelgar o tempo necessário.
A energia de Pulque já cobria metade do bloco e começou a descer, encostando no corpo do vampiro, fazendo sua pele derreter como se a água fosse ácido. Os olhos do vampiro, então, se abriram e ele soltou o que parecia ser um grito agonizante, mas inaudível por estar debaixo d'água. Ele olhou para Azurya e a encontrou encarando-o de volta. Ele sorriu para ela um sorriso quebrado de sua boca deformada pelo machado de Khelgar. Em sua longa vida ele já tinha feito incontáveis vítimas e sabia que mesmo sendo destruído agora, ele ainda estaria presente nos pesadelos da maga. Porém, era isso o que ela precisava naquele momento. Precisava reviver o medo que sentiu nas garras desse monstro, indefesa, sem reação, à mercê do próprio mau que lhe agarrava pelo pescoço. A fúria se tornou em adrenalina e Azurya gritou, expelindo todo o ódio que sentia naquele momento, fazendo o cristal brilhar mais forte que nunca. O bloco de água se recompôs e a energia divina de Pulque terminou por cobrir todo ele, fazendo com que o corpo do vampiro rapidamente se dissolvesse, escurecendo a água com a cor dos restos mortais dissolvidos do vampiro.
Azurya não conseguia mais enxergar o vampiro devido a cor escura da água. Não queria interromper o feitiço enquanto não tivesse certeza de que o monstro já tinha sido destruído. Então, numa fração de segundos, na medida que a água mexia, ela podia ver rapidamente o rosto do vampiro. Onde antes existia pele, cabelo e carne, agora só havia o esqueleto. A luz do cajado então se apagou e o bloco de água se desfez, espalhando uma fétida água escura para todos os lados. Sobrara no chão apenas o esqueleto semi-dissolvido do vampiro.
“Agora ele está morto?” perguntou Zach.
“Sim. Sim, meu amigo.”, Rob colocou sua mão no ombro de Zach. “Nós conseguimos.” ele gargalhou. “Nós conseguimos!” levantou seus punhos para o ar excitado. “Porra! Matamos esse filho da puta!” e em seguida ele parou para olhar para o esqueleto do vampiro e levantou a sua bota.
“SKULLCRUSHERS!”, gritou e em seguida esmagou a cabeça do vampiro com sua bota.
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