Capítulo 5 - Vinho élfico
E assim começou a longa saga dos Skullcrushers. Quais aventuras teriam à sua frente? Quais os perigos iriam enfrentar? Quantos aliados e inimigos encontrariam no seu caminho? E como tudo iria terminar? Essa intrincada tapeçaria do destino que os uniu estaria sendo costurada pelas mãos de Myandra, a deusa do Destino e só ela conseguia enxergar o que estava por vir.
Cavalgavam os quatro, cada um em sua montaria. Rob e Azurya em seus respectivos cavalos enquanto Zach e Khelgar em seus respectivos pôneis.
“Qual a distância até o pântano?”, Rob perguntou olhando para Zach, que analisava um de seus mapas do continente.
“Pelos meus cálculos…” começou a contar nos dedos enquanto fazia caretas. “Uns cem quilo… hmmm, não pera.” e começou a contar novamente.
“Ah!” gritou impaciente Khelgar. “Isso é inútil! Ele não sabe contar. Me dá esse mapa aqui!” o anão esticou o braço tentando pegar o mapa de Zach, mas o Wee facilmente tirou-o de seu alcance, gargalhando.
“Cuidado pra não cair.” disse Zach. “Você já fez muitas oferendas para Pulque esta manhã.” fez um gesto simulando uma caneca de cerveja sendo levada à boca e depois fez uma careta de bêbado com a língua para fora.
“Bah!” resmungou o anão. “Anões não ficam bêbados muito fácil! Acho até que vou fazer mais uma oferenda!” disse, se abaixando para tentar pegar seu cantil dentro da bolsa lateral da sela e se desequilibrando ao ponto de quase cair. Todos riram da cena. Até Azurya esboçou um pequeno sorriso de canto de boca. Rapidamente Khelgar desistiu e segurou as rédeas com força. A verdade é que o anão odiava cavalgar. Nunca se deu bem com nenhum tipo de animal e especificamente odiava qualquer atividade em que não pudesse sentir o chão firme debaixo de seus pés.
“Duzentos quilômetros.” respondeu finalmente Zach, mordendo sua língua enquanto olhava para o mapa com um olho fechado e girava-o para ter certeza que estava olhando do lado certo.
“Você tem certeza que você sabe o que está dizendo?” perguntou Rob um pouco apreensivo. Embora Zach tenha dito que era um cartógrafo, sua leitura do mapa não estava transmitindo muita confiança.
“Absoluta!” respondeu bem sério o Wee. Mesmo quando ele fazia cara de sério, era difícil levá-lo a sério. Ficava sempre a sensação de que ele estava segurando um sorriso. “Bom. Não ceeeem por cento de certeza, porque sempre tem que ter uma margem pra erro. Mas uns noventa por cento. Um pouco mais, um pouco menos. A não ser que eu tenha errado muuuuuito. Mas eu acho que não. Eu usei todos os meus dedos para contar!” disse confiante, “A gente vai subindo metade do caminho até chegar aqui!” apontou o dedo no mapa. “Hmmm, não, aqui!” apontou em outro lugar e ficou um pouco confuso, trazendo o mapa para perto de seus olhos. “Sim, é aqui mesmo!” apontou repetidamente no mapa. “Deve ser bem rápido, porque a gente tá na estrada principal que corta o reino dos Escudos Brancos de norte a sul. Se ao invés de ir pro pântano a gente continuasse nela, a gente iria chegar em Tilissar. Ela atravessa Tilissar bem como todas as outras cidades ao norte, incluindo Shalamar, a capital.”
O reino dos Escudos Brancos era considerado um dos mais fortes e ricos reinos dos humanos e muito ouro foi investido na construção de belíssimas e largas estradas feitas com pedras bem trabalhadas criando uma superfície o mais plana possível, o que permitia o rápido movimento de comércio entre as cidades, bem como a rápida movimentação de tropas. Eram largas o suficiente para permitirem três carroças passarem, uma ao lado da outra, com certa folga.
“Ok. Então devemos fazer uns dois dias na estrada. Talvez menos se aproveitarmos o bom tempo hoje e apertarmos o passo.” disse Rob. “E depois? Se me lembro bem, os Pântanos Profundos ficam a nordeste.”
“Sim.” concordou Zach. “Depois a gente sai da estrada e começa a viajar pela planície seguindo o rio. Ele deve nos levar até o pântano.” concluiu e enrolou seu mapa, guardando-o em seguida.
“O ritmo será menor pela planície. Talvez três ou quatro dias. Quase uma semana de viagem.” disse Rob.
‘A cada dia que se passa, maiores as chances de não encontrarmos o filho de Xyxor vivo.’, ele pensou em seguida, mas guardou esse pensamento para si. Não queria desacreditar seu grupo logo no início da missão. A verdade é que ele estava tentado pela recompensa de cem moedas de ouro. Não tinha como não tentar ganhar essa recompensa. Além de todo o ouro, o sucesso dessa missão para um cliente tão rico poderia catapultar o nome dos Skullcrushers por todo o reino.
Continuaram cavalgando o dia inteiro fazendo poucas e breves pausas para comer, descansar, e dar água para os cavalos e pôneis. A estrada era bem movimentada e ao longo do dia viram algumas caravanas de mercantes e outros viajantes chegando por estradas adjacentes, indo para Tilissar, bem como outros vindo do norte para outros destinos. Cruzaram com a patrulha da guarda real apenas uma vez o dia inteiro e com apenas dois patrulheiros, o que deixou Rob um pouco apreensivo. As estradas estavam sendo pouco patrulhadas. Porém, fizeram um excelente ritmo no primeiro dia de viagem e estava muito satisfeito com isso, embora todos estivessem exaustos.
Nesta altura da estrada, ela cortava em meio a um enorme bosque. Seria um bom lugar para acampar sem serem vistos por quem passava pela estrada. Afastaram-se a uma distância segura e assim que encontraram uma pequena clareira, montaram seu acampamento.
A noite caía e todos já se encontravam aquecidos em volta da fogueira de estômagos cheios. Zach preparou um belo jantar com os coelhos que Rob caçou. Khelgar carregava um grande estoque de cerveja, mas também levava consigo outras bebidas e, para celebrar a primeira noite deles juntos na estrada, abriu uma garrafa de vinho élfico que foi rapidamente esvaziada por todos, inclusive Azurya que acompanhou Khelgar e Pulque a cada gole.
Todos encontravam-se deitados em volta do fogo, já se preparando para dormir. Todos menos Rob, que se levantou e perguntou para Azurya:
“Está tudo bem? Você parece mais distante desde hoje de manhã.”
A pergunta estava na mente de todos, que olhavam ansiosos para a maga na esperança de entender o que lhe afligia. Ela apenas consentiu com a cabeça, como se não estivesse interessada em continuar a conversa. Porém, o vinho élfico acendera um fogo dentro dela, aquecendo o sangue em suas veias e fazendo-a entrar em contato com seus sentimentos.
“Meus… meus pais eram fazendeiros.” ela finalmente quebrou o silêncio, fixando seus olhos na fogueira, como se no meio da brasa ela conseguisse enxergar um filme do seu passado.
"Há, uma história!” Zach assentou e cruzou as pernas para prestar atenção, apoiando seu queixo em suas mãos.
A garrafa de vinho élfico havia acabado. Khelgar abriu então uma garrafa de cerveja - tinha re-estocado bastante em Berespar - e encheu o copo de todos, exceto Rob. O arqueiro faria o primeiro turno de vigília do acampamento e queria estar bem acordado. Enquanto todos sentavam em volta da fogueira, ele preferia ficar em pé escorado numa árvore, seus braços cruzados, metade de sua atenção nos seus companheiros e metade nos arredores.
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