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Sara [e] Alana (cancelada; em breve na Amazon)

Capítulo 4 - Você (não) é uma fidalga

Capítulo 4 - Você (não) é uma fidalga

Sep 13, 2024

A sineta na porta anunciou a chegada de uma menina de cabelos negros e olhos azuis à loja de música. 

Violões, baterias, guitarras, teclados e outros instrumentos de vários tipos e tamanhos passaram pelos olhos de Sara conforme ela caminhava naquele ambiente com aroma de madeira e um leve cheiro de couro, parando somente ao chegar na seção de violinos, repousados em suportes na parede.

 Procurou pelos violinos de 51 e 56 centímetros. Não se preocupou com os preços, sua atenção estava no tipo de madeira e no brilho do verniz. Qual deles seria aquele que o seu pai havia encomendado para o seu aniversário de nove anos? Um presente tão especial deveria ter sido escolhido por ela mesma, afinal, era a própria Sara quem saberia o violino ideal para o seu tamanho.

— Quer ajuda, menina?

Sara virou-se e encontrou um rapaz de olhos vermelhos, ocupado em passar uma esponja na capa de alguns discos empilhados no balcão.

— Vim pegar um violino que meu pai encomendou — respondeu ela, aproximando-se do funcionário. — É meu presente de aniversário.

— Ah, é? — O atendente largou a esponja e apanhou um pano macio, dando prosseguimento à limpeza. Olhou para a menina como se avaliasse se ela estava brincando ou realmente dizendo a verdade. Ele finalmente soltou o pano e pegou uma agenda ao lado, abrindo-a com um estalo leve. — Qual o nome do seu pai?

— Camilo. Camilo Buarque.

O atendente tamborilava suas unhas de cor vermelha sobre o tampo enquanto os olhos da mesma cor pareciam buscar o nome do comprador. Ele intercalou o olhar duas vezes entre a garota e a folha de papel antes de dizer:

— Tem uma entrega marcada para Camilo Buarque, sim. Só que… — E cravando o olhar na criança, completou: — você não é filha dele.

Sara suspirou e fechou os olhos. Suprimiu a vontade de bater o pé no chão e de vomitar palavras raivosas. Havia prometido ao pai que manteria a calma em situações como aquela. 

— Esse tal Camilo Buarque, pelo que está anotado aqui, é um fidalgo — continuou o atendente, batendo o dedo na agenda — Mas você, claramente, não é. Tem tanta aura no cabelo quanto eu. — Ele sacudiu os cabelos castanhos, sem um traço de cor.

— Eu sou uma fidalga! — Sara contestou.

Não perdeu tempo com explicações. Foi logo tirando do bolso sua carteirinha do Jardim de Infância. Nas mãos do atendente, a carteirinha foi virada e revirada, checada como se ali houvesse uma charada.

— Viu? O nome do meu pai tá escrito aí.

O atendente esboçou um sorriso debochado.

— Sara, isso que você está fazendo é muito feio. Não sei quem te ajudou a falsificar essa carteirinha, mas é errado. Isso é crime, sabia? Pessoas vão pra cadeia por causa disso.

— A carteirinha não é falsa! — protestou a menina, elevando o tom de voz.

— É sim, e você sabe — acusou o rapaz, com o dedo em riste. — Você ia usá-la para roubar o violino de outra criança.

— Não ia não!

— Olha, eu poderia perguntar quem te pediu pra fazer isso. Porque isso é caso de polícia. Mas o patrão deixou a loja por minha conta hoje e não tô a fim de problema. Então vou fazer vista grossa, tá legal. Conhece essa expressão? Quer dizer que não vou te dedurar.

— E eu vou descer a lenha nessa porcaria de loja se você não der meu violino. Conhece essa expressão? Quer dizer que vou falar mal dela pra todo mundo, seu vulgar burro!

— Escuta, garota. Se quiser um violino, volte aqui com seu pai ou sua mãe ou qualquer outra pessoa que tenha dinheiro, entendeu?

Sara estava com o desejo latente de pegar o violão de mostruário ao lado do balcão e dar com ele na cabeça daquele vulgar estúpido.

Nesse momento, a sineta da porta soou novamente e anunciou a chegada de um homem alto e em boa forma, de pele negra, olhos escarlates e cabelos com tranças escuras e vermelhas. 

— Papai — sussurrou Sara, aliviada.

— Seu pai, é? — disse o atendente, soltando uma risada de descrença. Para ele, não tinha como aquelas duas pessoas serem pai e filha.

— Papai! — Sara gritou, erguendo a mão.

O homem sorriu para a filha e se aproximou.

— Sara, pegou seu violino?

— Não. Esse moço diz que não sou sua filha. E eu ainda mostrei minha carteirinha.

— Sério? — disse o fidalgo, direcionando um olhar espinhoso ao atendente.

Sara degustou a face atônita do vulgar com o sorriso triunfante de quem diz “Viu só?”. O rapaz ainda intercalou o olhar entre o semblante satisfeito de Sara e a cara de poucos amigos de Camilo antes de começar a gaguejar uma desculpa.

— … N-não sabia que era sua… filha, senhor. Eu pensei que… bem…

Camilo não disse nada. Só manteve aquela expressão dura de quem parecia querer mostrar o que é bom pra tosse. O vulgar provavelmente conhecia essa expressão.

— Eu… vou preparar a nota e entregar o presente da sua filha. Su-sua identidade, por favor.

Os minutos seguintes foram de constrangimento para o vulgar e de impaciência para os dois fidalgos. Finalmente, o estojo com o violino foi entregue nas mãos de Sara.

— Obrigado pela preferência. Voltem sempre.

Camilo simplesmente congelou seu olhar sobre o rapaz.

O vulgar engoliu em seco e apertou os lábios como se houvesse fechado a boca com um zíper. Dava para ver o suor escorrendo em sua testa. Ele, talvez, imaginasse que o aurano soltaria um raio pelos olhos. E por mais que essa ideia soasse divertida para Sara, seu pai simplesmente deu meia volta em direção à porta, chamando-a para ir embora.


***


— Nunca mais piso naquela loja — desabafou Camilo, caminhando com Sara pelas ruas ladrilhadas do polo comercial de Helió. — Se precisar de outro violino ou de algum acessório, vamos a um lugar diferente. Deve haver outra loja de música por aqui — disse ele, perscrutando a fileira de estabelecimentos que margeavam o calçadão.

— Mas eu escolho o violino da próxima vez — frisou a menina.

— Não gostou do que eu comprei? — indagou o pai, olhando para o estojo que ela carregava nas costas.

— Só vou saber quando tocar. E eu não queria fazer isso lá dentro.

— Então toque agora — sugeriu ele, parando de caminhar.

— Agora? No meio do pólo comercial? — Sara também parou, um tanto surpresa.

— E por que não? — disse ele, abrindo um sorriso. — Sua mãe adorava tocar na rua.

— Mas não é melhor testar em casa?

— Em casa só temos três pessoas. Aqui você tem uma plateia.

Sara observou o polo comercial em volta. Pessoas caminhavam pra lá e pra cá, entravam e saíam das lojas, sentavam-se na murada dos canteiros floridos ou nos bancos de madeira, paravam para observar esculturas e chafarizes… Não pareciam interessadas em ouvir música, embora ela houvesse visto alguns músicos se apresentando ao ar livre noutras ocasiões.

— Mas eu nunca toquei em público — confessou Sara, sentindo um frio na barriga.

— Sempre há uma primeira vez. E você tem talento, como a sua mãe.

Sara apertou a alça do estojo, nervosa com a ideia de tocar entre a multidão, animada ao ser comparada com a mãe. Sem demora, um sorriso lhe tomou o rosto. Ela abriu o estojo e revelou o violino que agora era seu. Passou alguns minutos fazendo ajustes no instrumento e, em seguida, ajeitou-o ao seu corpo de nove anos. Preparou-se: uma respiração profunda, uma troca de olhar com o pai, uma espiada nas pessoas em volta, e música!

O som começou tímido, como se tateasse o ar em busca de ouvintes. Não demorou muito, cabeças foram erguidas, passos foram interrompidos, e olhos foram atraídos para a imagem de uma criança habilidosa no instrumento que tocava. Algumas pessoas se aproximaram para ouvi-la mais de perto, oferecendo segundos e até minutos de atenção; muitas outras, no entanto, continuaram presas ao dia a dia.

Sara continuou tocando como se estivesse num palco invisível, com o coração pulsando em cada nota. Sabia que, se tivesse as mechas azuis de sua irmã, talvez mais pessoas parassem para ouvi-la, mas, naquele momento, isso pouco importava. No fundo, também sabia que não precisava de aura para conquistar o afeto de quem quisesse escutá-la.



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Luiz F. Teodosio

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SINOPSE:

Sara e Alana Buarque são irmãs gêmeas de uma família fidalga em Neriquia, onde as duas castas que compõem a sociedade são hereditárias e medidas pela quantidade de aura nos corpos. Mas enquanto Alana ostenta uma aura intensa que tinge seu cabelo de azul, Sara, sem qualquer traço de cor nos cabelos, enfrenta o peso de uma condição rara que a limita, colocando em dúvida seu valor na casta fidalga ao ponto de algumas pessoas considerarem-na uma neriquiana de casta vulgar.

À medida que a idade adulta se aproxima, Sara almeja ingressar na Academia da Aura, uma instituição militar que forma os auranos - guerreiros mágicos destinados a proteger as terras humanas contra monstros conhecidos como desgarrados. No entanto, se apenas os neriquianos com cor nos cabelos têm a capacidade de manipular a própria aura, Sara questiona se poderá realmente trilhar o mesmo caminho de sua irmã.

Com doses de slice of life, romance, drama e ação, "Sara [e] Alana" é uma saga de identidade e autodescoberta, onde o sangue e os sonhos se entrelaçam para além das convenções.

CRONOGRAMA:

Os capítulos são publicados aos sábados.
A 1º temporada terá 33 capítulos.

RECOMPENSAS PARA LEITORES:

Ganhe pontos ao deixar comentários nos capítulos e/ou realizando atividades extras. Ao final de cada temporada, os leitores com as maiores pontuações ganharão ebooks de autores nacionais.

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