Ao amanhecer de um novo dia na mansão de Kemiro, que, mesmo sendo modesta para os padrões das famílias Pilar, possui dimensões extensas, comportando quadras para prática de diferentes esportes e um ginásio fechado.
É no ginásio que se encontram Kemiro, Safix, Mandipha e seus acompanhantes. Aine ainda está dormindo.
BADAM!
Algipha é arremessada por Kemiro, caindo de costa no chão.
— Parem! A vitória novamente é de Kemiro. — Comenta Alber, agindo como juri.
— Como pode isso? — Ainda no chão, ela olha para Kemiro protestando. — Quatro vezes? Como eu nunca ouvi falar de sua força?
— Bem, na minha situação, é melhor agir de maneira reservada. — Responde Kemiro, mantendo uma pose relaxada, expressando um sorriso enigmático.
— É frustrante não conseguir fazer você nem suar! Não sabia que a família Boronéa tinha uma Arte Marcial deste nível, qual é o nome? — Reclama Algipha, recebendo uma toalha de Mandipha para limpar o suor que está encharcando as roupas de treinos que elas trouxeram, já planejando desafiar Kemiro.
— Felizmente, esta arte não é da família Boronéa. Safix foi quem me instruiu. — Kemiro averte seu olhar brevemente, olhando para o chão, então, olhando para Safix sorrindo, ele continua. — Se não fosse por minha Mestra Safix, eu jamais aprenderia algo perto desta Arte Marcial.
— Lorde Kemiro, eu já disse para não se referir a mim desta maneira. Tudo que fiz foi lhe mostrar alguns movimentos, você obteve maestria por conta própria. Quando você aprenderá isso? Pessoas terão a ideia errada se você continuar a se referir a um servo desta maneira.
— Ouch! Tão rígida. Hehehe!
Mesmo com seu comentário ríspido, contrariando suas palavras, Safix possui uma expressão satisfeita, elegantemente em pé fora da arena com suas mãos em frente a seu corpo.
Enquanto Kemiro age de maneira engraçada, sendo lecionado por Safix, aliviando o humor da situação, Mandipha é a única a perceber a súbita mudança de humor em Kemiro ao ouvir a questão de Algipha.
Eu sempre tive dúvidas em como Kemiro conseguiu se desenvolver como pessoa, mesmo após ser praticamente rejeitado por sua família. Pelo visto, Safix é o principal alicerce que permitiu que ele não se quebrasse. Terei que elevar o status de Safix, sendo a pessoa a quem eu devo ganhar sua total confiança.
— Você quer continuar? Claro, se você não tiver energia, eu posso entender. Eu também estou cansado, mas estou disposto a aceitar seu desafio.
Kemiro usa um tom robótico e provocativo enquanto balança sua cabeça para os lados.
Kuuhh! Cansado? Você nem está suando. Abusado! Mas, realmente, nós não sabíamos nada sobre Kemiro. — Reflete Algipha. — Parece que o fato dele ser Par de um Sere’No de alto ranque camuflou seu potencial. A questão agora é se foi uma infeliz coincidência ou intencional.
Enquanto reflete, Algipha olha para Mandipha, sentindo-se envergonhada por ter seu orgulho como a guardiã de sua irmã abalado após perder para Kemiro, a quem julgava inadequado.
Interpretando erroneamente o olhar de Algipha, Mandipha toca seu ombro com uma expressão determinada, dizendo:
— Descanse um pouco, eu a vingarei.
O canto da boca de Algipha estremece chocada, mas ela não consegue exprimir as palavras para corrigir sua irmã.
— Oh! Desta vez, será você? — Comenta Kemiro, com um olhar interessado, observando Mandipha parar a dez passos de distância dele.
— Sim. Eu posso não parecer, mas eu tenho orgulho em ser a parceira de treinamento de minha irmã e Tio Alber. Mas, já que esta é uma ocasião especial, por que não fazemos uma aposta amigável?
Notando o sorriso sapeca de Mandipha, Kemiro apenas acena com sua cabeça para que ela continue.
— A aposta será a seguinte: O vencedor pode ordenar o perdedor a cumprir um pedido!
— Interessante! — Kemiro então indaga. — E qual será a condição de vitória e limitações do pedido?
— Para a condição de vitória, será fazer o oponente tocar as costas no chão por qualquer meio necessário. — Após uma breve pausa, com um olhar insinuativo, Mandipha continua. — É realmente necessário pensar em termos entediantes como “limites”?
As sobrancelhas de Algipha e Safix saltam ouvindo suas palavras. Alber e Almer, que estão observando no canto do ginásio, apenas trocam olhares suspirando, devido Mandipha demonstrar traços de sua real personalidade.
Mantendo seu sorriso enigmático, Kemiro leva sua mão direita até seu queixo, analisando Mandipha dos pés à cabeça, apreciando o conjunto de sapatos exclusivos para treinamento intenso, uma calça estilo Lycra e uma camisa folgada acima de outra blusa justa que se esforça para manter seus fartos seios contidos. Hoje, seu cabelo está todo trançado, com a parte rosada se destacando no conjunto branco. Com um sorriso lascivo, Kemiro provoca:
— Se você continuar assim, eu vou realmente me apaixonar por você.
Mesmo suas bochechas rosadas ao ser encarada insidiosamente, Mandipha não acua, afastando seus pés enquanto move seus braços fluidamente numa posição de batalha. Kemiro nota que as íris de Mandipha começam a brilhar opacamente enquanto ela diz com um sorriso charmoso:
— Seu bobo. Essa é minha intenção!
Sua cauda, que movimentava num padrão de ‘S’ para, ficando reta em resposta ao movimento de Mandipha, se impulsionando na direção de Kemiro.
Ainda surpreso com as palavras de Mandipha, Kemiro tem um sobressalto ao perceber a potência no ataque da palma direita que Mandipha direciona ao meio de seu peito.
Demonstrando sua maestria, Kemiro rapidamente entra numa posição defensiva. Movimentando seus braços num padrão circular, ele intercepta o ataque de Mandipha, deslocando o poder do ataque para cima.
Sua defesa deixa seu lado direito brevemente exposto, onde Mandipha procura conectar outro golpe com sua palma esquerda. Porém, Kemiro abaixa, se jogando para a esquerda, ao mesmo tempo que ele chuta com sua perna direita para desestabilizar a perna direita de Mandipha.
Ela imediatamente levanta sua perna direta, desviando da rasteira. Aproveitando desta brecha, Kemiro aproveita seu movimento para girar seu corpo e impulsioná-lo de volta, atacando uma sua palma direita com grande momento mirando no abdômen de Mandipha.
Porém, o que ele achou que era uma brecha, na verdade, foi uma finta preparada por Mandipha que, antecipando seu movimento, usa sua perna direita para pisotear e desestabilizar Kemiro, fazendo-o desistir do golpe para se defender, conseguindo perturbar seu centro de gravidade.
Aproveitando-se da má colocação de Kemiro, Mandipha o usa para impulsionar seu corpo para trás, movendo sua perna esquerda, que sobe como uma marreta mirando o maxilar de Kemiro.
Se aproveitando da repulsão criada pela pisoteada, Kemiro move sua cabeça para trás, desviando do chute, sendo tocado de raspão no queixo.
Mandipha elegantemente faz um giro, mantendo sua posição inicial. Sua expressão é de surpresa em como Kemiro conseguiu desviar, mesmo estando numa posição infavorável. Ela apenas observa enquanto Kemiro dá três cambalhotas até conseguir reduzir seu momento e parar.
Ele leva sua mão até seu queixo, limpando a borracha queimada provida do sapato de Mandipha. Observando isso, Mandipha tem uma realização:
— Kemiro… você refinou seu corpo perfeitamente!
Com exceção de Safix, os membros da Casa Hauveron têm expressões de choque.
Por que eu não pensei nisso antes? Agora eu entendo a razão dele ter conseguido me arremessar com apenas um soco! Mas, ainda não explica a sensação de estar congelado antes do golpe. — Reflete Alber.
Para o demérito de Kemiro, o refinamento perfeito de seu corpo, sendo do ranque 4, o faz ser tão resistente quanto uma rocha maciça quando elevada a seu ápice. Então, treinar com outras pessoas o põe sobre grande estresse por ele precisar estar sempre consciente em calcular o nível de força utilizada. Com um refinamento perfeito de ranque 4, ele possui força suficiente para manusear 600 kg, igual a uma pessoa normal que manuseia uma pena.
Mandipha e Algipha observam Kemiro com olhares de admiração, pois mesmo que a Arte de Refinamento de Corpo Perfeito seja amplamente conhecida, é ínfimo o número de Ma’Jis que optam por praticá-la. Isso devido ao controle minuto necessário para manusear sua Ma’Jia e bombardear o corpo durante todo o processo, gerando uma dor que se torna mais intensa a cada ranque. Este é um dos motivos de Kemiro não ter conseguido progredir mais no refinamento de seu corpo.
Não tem nenhum ferimento! — Analisa Mandipha enquanto Kemiro está limpando seu queixo. — Eu usei força o suficiente para nocautear qualquer Ma’Ji de baixa Qualidade. Mas, para sua pele, nem ficar avermelhada. Ele precisa estar, no mínimo, no ranque 2 de refinamento!
Então, ela tem outra realização dizendo:
— Parece que este desafio é injusto para você.
— Se você entende isso. Você poderia pegar leve comigo?
Comenta Kemiro, desinteressado enquanto caminha em direção a Mandipha, preparado para continuarem. Ouvindo sua pergunta, Mandipha responde:
— Pegar leve? Eu não poderia imaginar uma situação mais oportuna. O que eu espero é que o refinamento de seu corpo seja alto!
— Mandipha! — Exclama Algipha ao sentir o surgimento de Ma’Jia emitido por sua irmã.
Ignorando Algipha, Mandipha libera sua Ma’Jia gerando uma corrente de ar intensa dentro do ginásio, o suficiente para tremer as janelas reforçadas.
Ela tira seus sapatos sem cuidado, arremessando-os para o lado do ginásio. Relaxando seu corpo, ela fecha seus olhos enquanto condensa sua Ma’Jia em volta de seu corpo, então sua transformação se inicia.
Pelos começam a tomar conta de toda sua pele. Sua forma humana distorce. Sua altura e músculos crescem levemente. Suas mãos e pés se alongam, onde suas unhas se tornam em garras retráteis. Coxins manifestam-se em suas palmas e dedos. Seu rosto se alonga curtamente, tomando a forma lembrando um tigre terrestre. Abrindo seus olhos, sua pupila, agora vertical, encara Kemiro. Ela diz:
— Agora, eu não vou pegar leve… Por favor, não me decepcione.
Após sussurrar as últimas palavras, Mandipha desaparece.
PAAAA!
Um estalo estridente reverbera através dos presentes, fazendo-os perder o foco por um instante. Rapidamente se recuperando, eles notam que o som veio de um chute alto de Mandipha, que foi defendido por Kemiro utilizando seus braços cruzados acima de sua cabeça.
— Hahaha! Perfeito! Eu usei força suficiente para derrubar um Ma’Ji com ranque 2, mas para você se manter firme assim, você está no ranque 3? — Mandipha faz uma pausa, e continua — Não. Você deve, no mínimo, estar no ranque 4!
Surpreso e levemente irritado pela personalidade inconsequente que Mandipha está revelando, ele segura-a pelo tornozelo, girando para arremessá-la no chão, dizendo:
— Sua “gata” malcriada!
Mandipha não consegue reagir a tempo, porém, ela consegue amortecer sua queda usando seus braços. Aproveitando sua estabilidade, ela conecta um coice no rosto de Kemiro, que, pego de surpresa, acaba soltando-a. Continuando, Mandipha gira e acerta outro chute no estômago de Kemiro, o arremessando para trás.
— Você está pelo menos tentado ganhar? Você não precisa se segurar, eu aguento!
Com seu humor elevado, Mandipha sorri provocante, mostrando longos caninos brancos como marfim.
Kemiro apenas suspira, não sendo contagiado pela euforia de Mandipha, que age como um animal que conseguiu um brinquedo novo. Ele reflete:
E pensar que a Sacerdotisa da Casa Hauveron possui uma personalidade tão intensa. Você realmente não pode julgar alguém pela aparência.
Minha intenção inicial em aceitar o desafio de Algipha foi para testar minhas capacidades, mas ela se segurou demais. Ainda bem que Mandipha está se divertindo, com isso, eu finalmente descobri as limitações do meu ranque de refinamento.
O ranque 4 é mais do que suficiente para bater de frente com a forma bestial humanoide de Mandipha, entretanto, se fosse uma batalha de vida ou morte, fatores incertos surgem. Começando pelo fato de eu estar constantemente com um nível baixo de Ma’Jia. Embora minha resistência já se equipare a de um descendente de Bestas Místicas, numa batalha de atrito, eu facilmente perderia se não me preparasse de antemão.
— Eu vou ficar triste se você continuar a me ignorar, sabia?
Mandipha aparece repentinamente ao lado de Kemiro, lançando um soco com sua mão direita em seu rosto.
Porém, Kemiro não é surpreendido, pois neste momento ele está fazendo uso de sua Akrava, sendo capaz de acompanhar o fluxo óbvio de Ma’Jia manifestado por Mandipha.
Surpreendendo-a, sem utilizar nenhuma Arte Marcial, com sua mão direita, Kemiro dá um tapa na mão de Mandipha, direcionando o golpe para cima.
Usando sua mão esquerda, ele segura Mandipha pela axila, mantendo seu braço direito levantado. Mandipha estremece sentindo a força da pegada, mas sua atenção é voltada para os olhos de Kemiro, ouvindo-o dizer:
— Você disse que aguenta, certo?
Mandipha não responde nada, pois ela é distraída pelo movimento da mão direita de Kemiro que ele põe sobre sua clavícula, fazendo-a franzir suas sobrancelhas, dizendo:
— Você não acha que está adiantando seu pedido, antes de ganhar?
Kemiro apenas sorri pelo canto da boca, dizendo:
— Você vai cair.
Eh?!
Kemiro mal termina de falar e Mandipha sente um choque em sua Intenção que a faz perder os sentidos e movimentos de seu corpo, como se ela tivesse sido sacolejada bruscamente.
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