— Por esta razão, você pode imaginar o sofrimento de Almer pelo fato de ele não conseguir se transformar em sua forma bestial, aquela que é nosso maior motivo de orgulho. Isso lhe impedia de ser um pretendente que qualquer mulher Maran, se quer cogitaria escolhê-lo como parceiro.
Eu achei que a reação de ontem foi apenas por felicidade de um “parente doente” ter se curado. Mas, não imaginei que teria um motivo tão complexo por trás. Após ter socado Alber, eu tratei sua condição apenas para ter uma carta contra eles. Porém, eu realmente ganhei muitos benefícios com isso.
Noice!
Notando a falta de reação de Kemiro, Mandipha tem uma expressão incrédula comentando:
— Seu problema é realmente sério, eu não acredito que, mesmo após ouvir que você pode formar um harém, você nem reagiu. Minhas expectativas estão abaladas! Sinceramente, eu estou decepcionada.
Surpreendido com a franqueza dela, Kemiro rebate:
— Não me julgue como uma decepção! Até você aparecer com a ideia desse noivado, eu não tinha nenhuma intenção de constituir uma família. Eu já tenho problemas demais em minhas mãos!
— Você vai precisar reavaliar seus conceitos. Só para você saber, minha mãe é a única com três descendentes na minha família, todas as outras esposas deram à luz a duas ou uma criança. Mesmo antes de minha irmãzinha nascer, minha mãe estava no topo da hierarquia da família! Como sua filha, eu não vou perder para ela, então minha intenção é dar à luz a pelo menos quatro crianças. — Cruzando seus braços e pernas enquanto empina seu nariz, ela exclama. — Como meu Haran, eu espero que você tenha no mínimo sete esposas como meu pai. Melhor ainda se você conseguir mais esposas, a fim de superá-lo e conseguir mais influência para nossa Casa!
Ela está dizendo umas coisas incríveis. Mas eu sinto que estou sendo julgado por falhar, antes mesmo de tentar! — Reflete Kemiro. Ele indaga:
— Você realmente está dizendo algumas coisas absurdas levianamente. Em primeiro lugar, o que é um Haran?
— Haran é como nós referimos a um homem que possui mais de uma esposa. — Articulando suas mãos, ela continua. — Uma coisa que você precisa entender, Kemiro, é que, casando comigo, existem certas expectativas que são esperadas de você, como meu Haran. Formar uma família de apenas dois está fora de questão! Mesmo se eu desse à luz a dez descendentes, eu ainda perderia influência dentro da família. Riqueza e descendentes são dois pilares de nossa cultura. Essa sua “letargia” é algo que, como você disse, nós vamos ter que resolver. — Pondo seu dedo indicador em seu lábio inferior e expressando um sorriso insinuativo, ela continua com um tom lento. — Sua condição é muito fácil para eu resolver!
— Você realmente está agindo como se nosso casamento estivesse “gravado em pedra”. — Kemiro exclama exasperado com a clara provocação nas palavras de Mandipha, enquanto ela lambe os lábios.
Oh! Eu não sabia que ela possui língua semelhante à dos gatos. — O interesse de Kemiro o impede de ficar mais irritado.
Com um tom seco, Mandipha responde:
— E por qual razão lógica você teria para recusar? Olhe para mim. Eu não tenho receio de dizer que não perco nem em beleza e nem em herança familiar. Nem mesmo para as Santas da Casa Real! Por favor, não me entenda mal, não quero parecer estar lhe desmerecendo, mas analisando sua situação, você realmente acha que está perdendo algo? Você? Alguém que, por um motivo ou outro, é excluído pela própria família? Bem, eu admito que não totalmente, já que sua mãe aprovou nosso noivado.
Ouvindo isso, Kemiro se irrita, retrucando:
— Há! Essa decisão foi nada mais do que um ato egoísta dela, sem nem mesmo me consultar.
— Eh? O que você quer dizer com isso? Você comentou que passou todo esse tempo me ignorando a fim de descobrir se eu estava tramando algo, mas você não concordou com o noivado. Até hoje, eu achava que você estava se fazendo de difícil!
— Claro que não! Por qual razão eu aceitaria este noivado, só pra te ignorar depois? Você acha que eu sou burro ou algo do tipo? — Kemiro questiona, exasperado.
— Isso responde muitas coisas. Diálogo é realmente importante para um relacionamento saudável. — Comenta Mandipha em introspecção.
Kemiro não sabe como reagir à expressão pensativa de Mandipha murmurando continuamente. Mas ele é surpreendido quando ela comenta, sorrindo feliz:
— Isso é melhor ainda, Kemiro!
— O- O que você quer dizer?
— Você não acabou de dizer que foi uma ação egoísta de sua mãe? Mas, julgando por sua situação familiar, você não acha que ela fez isso por você?
Kemiro franzi suas sobrancelhas, com uma expressão estranha.
Mandipha continua:
— Não olhe pra mim como se eu fosse louca! Pense friamente sobre sua situação. Mesmo sendo o primogênito de uma família de suporte, você não herdou nenhuma das Linhagens Sanguíneas de sua família. Mesmo todas as conquistas incríveis que você conseguiu publicamente até agora, como sua Akrava e se tornar um Par de um Sere’No de alto ranque, ainda não foram o suficiente para lhe tirar da sombra de seu irmão que herdou tudo e um pouco mais, sendo o principal foco até mesmo da Casa Principal dos Boronéa. Se sua mãe realmente não se importasse, você não acha que ela tentaria focar a proposta do noivado para seu irmão? Em vez disso, no mesmo dia, ela aceitou a proposta, que, pelo visto, ela nem consultou a Casa Principal, já que o anúncio de aprovação deles veio só mais tarde no mesmo dia.
— Isso…
Kemiro entra em choque, refletindo no argumento de Mandipha:
Não é possível! Já faz praticamente quatro anos desde que eu disse para minha mãe que estava cansado de esperar por eles!
Certamente ela disse que eles sempre estiveram esperando um “sinal” que eu não os odiava mais. Porém, não é assim que uma família age, certo? Meu irmão é um idiota controlado pela Casa Principal. Mas meus pais, depois de me tratarem daquela maneira, só porque eles acreditam que eu não herdei nenhuma de suas linhagens, eles esperam que eu rasteje atrás deles?
Eu não cometi nenhum erro. A maneira em que eles me tratam é mais do que prova de que estão interessados apenas se eu herdei alguma de suas linhagens ou não.
Agora, você quer me dizer que, a decisão egoísta da minha mãe, foi tendo o meu melhor interesse em mente? Não fode comigo! Eu não vou aceitar isso!
Notando que Kemiro se afundou em seus pensamentos, Mandipha chama sua atenção exclamando:
— Pense bem, Kemiro. Em vez de permitir que você simplesmente viva ofuscado por seu irmão, sua mãe aceitou nosso noivado como uma maneira de abrir um caminho diferente para você trilhar! Eu tenho certeza de que esta é uma demonstração de amor por você. — Notando que Kemiro possui uma expressão amarga, Mandipha suspira, continuando. — Se você não tem nada para que ela se orgulhe em agir a seu favor, mas, mesmo assim, o faz, eu não consigo ver isso além de um amor incondicional!
Percebendo que Kemiro não reage, Mandipha reflete:
Apenas tendo contado direto para eu conseguir ver o quão profundas são as cicatrizes geradas pela desunião de sua família. Se ele continuar assim, não vamos fazer nenhum tipo de progresso.
Continuarei a acreditar nas palavras de minha Deusa. Então, esta pode ser uma oportunidade para mim.
— Kemiro, olhe pra mim. — Forçando Kemiro a sair de seus pensamentos, Mandipha continua. — Eu não quero fingir que entendo como você se sente, porque eu não sei. — Mandipha estende sua mão direita com a palma aberta para Kemiro, dizendo. — Entretanto, se você me aceitar, eu gostaria de lhe prover suporte, por agora, uma amiga se achar melhor. — Mandipha levanta seu dedo indicador, dizendo. — Porém, eu não faço amizades vazias e, por mais que eu admire tudo que você conquistou até o momento, apenas isso não é o suficiente para me mover.
— Uma amizade por interesse. — Kemiro comenta com seus olhos afiados e um tom decepcionado.
Ignorando a atitude de Kemiro, Mandipha responde secamente:
— Sim! Não seja inocente de achar que existe qualquer relacionamento sem interesse na vida. Até se você quiser meu amor incondicional, você vai ter que conquistá-lo, mas antes disso, terá que provar ser digno de recebê-lo. — Ajeitando sua posição, ela encara Kemiro dizendo. — Já demonstrei e provei minha sinceridade com seus questionamentos. Que tal você ser sincero com apenas uma única pergunta que tenho: o que faz você ser tão especial, para minha Deusa me fazer a proposta que ela fez?
Após um longo silêncio encarando um ao outro, Kemiro finalmente diz:
— Eu não me importo em ser sincero, porém, por mais que suas palavras sejam bonitas, não pense que eu estou tão desesperado para cair por palavras doces sussurradas em meu ouvido. Do meu ponto de vista, você tem a Casa Hauveron e uma Deusa por trás de você. Embora eu ame aqueles poucos que estão do meu lado, eu ainda estou em desvantagem. Se você realmente quer minha sinceridade. Prove!
— Justo.
Mandipha diz, fechando seus olhos.
Repentinamente, ela os abre, seus olhos azuis se tornam amarelos brilhando como dois sois. Seu cabelo trançado se desfaz passando a flutuar como ondas no oceano. Seu corpo é envolvido em uma aura dourada que, move suas roupas assim como seus cabelos. Ela exclama com um tom espectral:
— Em nome da Deusa e Besta Divina Maranshipha. Aquela Que Honra a Verdade. Eu, Mandipha Hauveron, sua Sacerdotisa, invoco seu Nome em meu Juramento que, não existe maldade em meu coração e nem falsidade em minhas palavras, pois, Kemiro Boronéa, a quem faço esta jura, tenha a certeza de que não lhe desejo o mal. Qualquer segredo revelado em nome deste juramento, eu o guardarei até o fim de meus dias, ou até que você permita que o segredo seja revelado… Caso eu, a portadora deste juramento, não o honre, que a Hein’Ra me abandone.
Kemiro pode sentir a pressão das ondas emitidas pela aura dourada em volta de Mandipha.
É minha primeira vez sentindo um poder tão… puro… e sagrado. A aura de Azarthine é semelhante, mas, diferente de alguma maneira que não consigo definir bem.
Após terminar o juramento, a aura dourada começa a esvair, seus longos cabelos anelados, agora soltos, caem sobre seu corpo como um véu branco, fazendo Kemiro sentir o desejo de prestar adoração. Um sentimento alienígena para ele.
Sua mente trabalha intensamente para processar o peso de um juramento, não apenas invocando o nome de um Deus, mas em nome da Hein’Ra.
Por que ir a tal extremo? — É a pergunta repetindo constantemente em sua mente. Porém, ele não se atreve a perguntá-la verbalmente. Kemiro já sabe a resposta.
Mandipha não diz nada, com suor condensando em sua testa, apenas fica em silêncio, esperando a decisão de Kemiro. Não há nada mais para se dizer.
Ela não precisa dizer nada.
Percebendo isso, Kemiro serra seus dentes. Lentamente, ele abre sua boca.
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