Eu nunca imaginei que a raiz de seu problema fosse da Casa Principal. Quando retornar para casa, eu visitarei minha avó para perguntar se ela sabe de algo.
Mesmo assim, eu não entendo por qual razão eles perpetuam boatos que causam detrimento para Kemiro.
Refletindo, Mandipha indaga:
— Mas por qual motivo eles permeariam tais boatos? O que a Casa Principal poderia ganhar com isso?
Balançando sua cabeça, Kemiro responde:
— Eu não acredito que seja algo originado pela Casa Principal. Lá, é apenas a origem.
— Certamente faz mais sentido. Porém, o que levaria alguém a persegui-lo tão avidamente? Aconteceu algo em seu passado que originaria tal ressentimento…
Antes de terminar sua pergunta, Mandipha conecta os pontos, chegando à conclusão de que realmente existe alguém que pode ressentir Kemiro.
Notando o franzir das sobrancelhas de Mandipha, Kemiro compreende a conclusão a que ela chegou, ele comenta:
— Minha primeira dedução é que foi minha família, bem, mas precisamente meu irmão Engel. Mas, sinceramente, mesmo não conseguindo se recuperar até hoje dos ferimentos daquele dia, sua vida é plena dentro da Casa Principal. Também, raramente o vejo, mesmo durante as reuniões da Casa Principal.
— Você faz ideia do porquê outro indivíduo poderia tramar contra você?
— Isso não importa. Não importa quem ou por que continuamente estes boatos são espalhados. A questão é que, mesmo sabendo destes boatos, a Casa Principal não toma a iniciativa a fim de pará-los. — Olhando para o teto, ele continua. — Para a Casa Principal, estes boatos não lhes afetam em nada, portanto, eles não veem a necessidade de interrompê-los. No pior dos casos, eles veem algum mérito em sua perpetuação.
Olhando para Mandipha, Kemiro pergunta com um sorriso triste:
— Você consegue dizer, qual sentido haveria em revelar minha Herança? Eu agradeço a Hein’Ra por durante meu treinamento quando criança, eu acabei revelando minha Herança, mas eles não conseguiram verificá-la, então, eles deduziram que era apenas uma tentativa minha de fugir do condicionamento. — Kemiro averte seu olhar, com uma expressão amarga. — Não existe razão para aceitar o tratamento de quem causou minhas feridas.
Mandipha, pela primeira vez em sua vida, não sabe quais palavras utilizar para suportar alguém. Sua falta de palavras gera frustração que transparece com ela abaixando sua cabeça com orelhas murchas.
Percebendo isso, Kemiro suspira silenciosamente, dizendo:
— Bem… é isso! Certamente, o Ovo Divino é a razão de sua Deusa estar interessada em mim. Estes são meus segredos, Mandipha. Existem vários pormenores que não são relevantes neste momento. — Sorrindo inquietamente, ele comenta. — Para ser sincero, já tem muito tempo desde que tive uma conversa sincera com alguém sobre minha Herança. Estou até me sentindo um pouco nervoso. — Olhando para Mandipha, ele diz. — Eu estou contando com você para manter meus segredos, afinal de contas, agora nós somos cúmplices.
Mandipha levanta sua cabeça apenas para ver Kemiro dando-lhe uma piscadela. Ainda chocada com toda informação mais chocante do que ela jamais imaginou, ela precisará de tempo para digerir tudo, mas agora, com um sorriso sincero, ela exclama:
— Sim! Guardarei seus segredos como meu tesouro!
Cativado por Mandipha, Kemiro não consegue averter seus olhos. Fechando-os, ele reflete:
Independente do que aconteça no futuro. Eu não quero me arrepender deste momento. — Lembrando-se de algo, ele diz:
— Ah! Agora que nós tivemos esta conversa sincera, eu gostaria de oficializar nosso noivado.
Levantando, Kemiro vai até sua mesa e pega o estojo de joias esculpido na pedra branca.
Mandipha nem tem tempo para realmente compreender suas palavras, mas seu coração palpita quando Kemiro retorna com o estojo, sentando-se ao seu lado, oferecendo o estojo, ele diz:
— Nosso relacionamento esteve fadado a nunca ser “normal”. — Kemiro abre o estojo. Mandipha fica surpresa com o conteúdo. Um colar formado por dois gatos esculpidos de um cristal negro brincando em volta de uma Gema Espiritual esférica de cor branca com expressões felizes. Ele continua. — Independente de sua razão para sugerir este noivado. O que importa para mim é se você deseja criar uma conexão verdadeira comigo, pois, se você estiver disposta, eu escolho formar uma família com você! O que você realmente deseja, Mandipha?
Kemiro dá seu melhor para suportar as “borboletas” em seu estômago que fazem até mesmo os músculos de sua barriga contraírem.
Mandipha não dá atenção ao colar à sua frente. Ela apenas troca olhares com Kemiro, que não averte seu olhar, aguardando sua resposta, sem perceber, tendo uma expressão nervosa. Os círculos de sua Akrava movem-se de maneira errática, refletindo seu estado interno.
Em silêncio, a mente de Mandipha não está o caos que ela imaginou que sentiria quando este momento chegasse, ela reflete:
Quando Maranshipha me fez a proposta, eu realmente achei que minha Deusa havia perdido alguns parafusos.
E pensar que, após me ignorar por quase um ano, você seria tão intenso em se revelar para mim. Minha mãe e vovó estavam certas: “A não ser que você consiga convencê-lo a abri-la, você nunca conseguirá quebrar a concha que são os sentimentos de um homem. Apenas assim, você poderá receber o maior dos tesouros”.
Tão poderoso, ainda sim frágil. Obstinado, porém cheio de dúvidas. Sinceramente, não importa o que o futuro tem reservado. Hoje, eu faço minha escolha!
Kemiro sente sua ansiedade crescer exponencialmente a cada segundo que o silêncio de Mandipha perdura. Eles apenas continuam trocando olhares. Então, ele é pego de surpresa.
Mandipha aproxima seu rosto enquanto fecha seus olhos. Logo, seus lábios se conectam.
Brevemente, Kemiro congela com a ação inesperada. Porém, Mandipha insiste gentilmente mordendo o lábio superior de Kemiro, que finalmente volta a si.
Respondendo, Kemiro se inclina levemente à frente, permitindo que seus lábios entrem numa dança gentil, mas ávidos, por mais da sensação.
Eles provam seus lábios, perdendo um pouco da timidez a cada respiração. Kemiro surpreende Mandipha ao tocá-la com sua língua. Ele sente Mandipha tremer levemente, mas ela não resiste.
Com a recepção positiva, Kemiro acaricia seu rosto com sua mão esquerda, do qual Mandipha aceita, pondo sua mão direita sobre a dele.
Kemiro esconde sua surpresa ao sentir o quão áspera é a língua de Mandipha, mas, isso não lhe é uma barreira. Avidamente, ele demanda por mais. Mesmo inexperiente, Mandipha não é tímida em responder às suas demandas.
Compartilhando de uma breve conexão, naturalmente, ambos se afastam. Kemiro dá uma mordiscada no lábio inferior de Mandipha como último ato.
Mesmos separados, seus rostos estão próximos o suficiente para ambos sentirem a respiração quase um do outro.
Se inclinando para frente, Kemiro toca seus rostos, esfregando levemente suas bochechas. Compreendendo a carícia, Mandipha responde prontamente. Kemiro cria um caminho de beijos gentis pela bochecha direita de Mandipha, através de seu maxilar, fazendo-a naturalmente levantar sua cabeça, onde Kemiro continua seu caminho beijando seu pescoço.
— Mmm.
Ouvindo a doce voz de Mandipha, Kemiro volta a si. Beijando-lhe nos lábios, ele se afasta, dizendo:
— Você quase fez meu coração parar. Não imaginei que você tivesse experiência.
Sentindo seu corpo quente, Mandipha consegue se acalmar, percebendo o sorriso provocador de Kemiro. Ela usa sua mão para empurrar gentilmente o rosto de Kemiro para longe, enquanto protesta:
— O que você quer dizer com experiência? Esse foi meu primeiro beijo, mas certamente não foi o seu!
— Ainda bem que não foi! Se eu fosse inexperiente, eu não teria ideia de como lidar com esta situação.
Mandipha não sabe o que fazer com a franqueza de Kemiro. Ela usa sua mão esquerda para puxar a bochecha de Kemiro, exclamando:
— Tamanha audácia! Você vai me contar os detalhes!
— Zim! Ziim! Beu conto! Bas, imbordante!— Mandipha solta sua bochecha, mas mantém seu olhar afiado. Kemiro esfrega sua bochecha com uma expressão dolorosa. A sobrancelha de Mandipha treme desacreditada na farsa de Kemiro, sabendo que é impossível ele ter sentido a menor dor com seu puxão.
Voltando sua atenção para o colar, Mandipha comenta expectante:
— Esse colar é um artefato, não é?
— Sim. É um artefato que fiz especialmente para você. Você me permitiria? — Pergunta Kemiro, enquanto pega o colar, separando a pequena trava.
Mandipha sabe do valor dos artefatos criados pela Casa Boronéa. Mesmo um criado por um membro de uma Casa Suporte, faria o mercado ir à loucura. Isso devido à qualidade e raridade de cada item criado.
Ajeitando seus longos e espessos cabelos brancos, Mandipha vira de costas, tirando seus cabelos da frente, ignorando a sensação quente de seu rosto corando.
Kemiro usa a oportunidade para admirar sua nuca, percebendo como, diferente de humanos, a linha de cabelos de Mandipha, embora uma pelugem branca, curta e macia como seda, se estende até conectar-se com suas costas. Não gastando tempo demais em contemplação, Kemiro põe o colar em Mandipha.
— Pronto.
Mandipha se vira apreciando o colar em sua palma. Ela sorri, notando as expressões felizes dos gatos, demonstrando a maestria das habilidades de Kemiro.
Algo então chama sua atenção, pois analisando cuidadosamente, ela consegue notar que, através do corpo dos gatos, relâmpagos com tom opaco percorrem sua superfície intermitentemente.
— Kemiro. Não me diga que… — Mandipha olha para Kemiro com uma expressão surpresa, apenas para descobrir seu sorriso.
— Você notou bem rápido. Eu esculpi seu colar e corrente do meu Al’Kan.
Suspiro!
Mesmo já tendo a resposta, Mandipha tem seu coração palpitar.
O que é o Cristal Al’Kan? Um dos materiais mais raros e escassos da Terra. Porém, sua apreciação vem de duas de suas qualidades únicas: uma sendo que o Cristal Al’Kan é indestrutível a não ser que seja atingido por outro Cristal Al’Kan de qualidade superior ou um poder avassalador. A segunda sendo que apenas o indivíduo que criou o Cristal é capaz de manipulá-lo e alterar sua forma.
Um artefato criado utilizando Al’Kan? Nunca ouve um anúncio da Casa Boronéa ter conseguido tal feito! — Mandipha reflete, mas ela logo entende a razão. — Claro que seria impossível. Não é segredo que a Casa Boronéa se aliou ao Povo do Cristal a fim de conseguir um descendente com ambas as linhagens.
Até o momento, Engel é o primeiro conhecido, porém, não existem motivos para a Casa Principal não anunciar, caso eles tenham conseguido fabricar um artefato mesclando ambas as linhagens, já que tal anúncio aumentaria o valor dos artefatos e influência dos Boronéa.
Em nome da Hein’Ra! Kemiro deve ser o primeiro com tal conquista. O que mais? Seu Al’Kan é superior à própria Helga, sua mãe, considerada a mais poderosa entre o Povo do Cristal!
Mandipha tem a sensação de o colar aumentar de peso. Inspirando fundo, emocionada, Mandipha diz:
— Minha família certamente ficará satisfeita com um dote inestimável como este.
Sorrindo, Kemiro comenta:
— Dote? Não seja boba. Este é um presente meu para você. Se vamos formar uma família, então eu vou fazer algo grande! Meu primeiro objetivo será calar todas as vozes insatisfeitas em sua Casa. Então, eu anunciarei que, em seis meses, eu visitarei sua Casa a fim de exigir meu Direito à Conquista. Até lá, eu forjarei um artefato para presentar como dote.
Sentindo seu corpo arrepiar. Ela indaga:
— Você vai mesmo? Eu disse isso ontem, porém, como fui eu que sugeri o noivado, você não precisa.
Mesmo dizendo isso, Mandipha aperta o colar em sua mão, expectante com a resposta de Kemiro. Sua ansiedade não está escondida dos olhos de Kemiro, que responde:
— Você também disse que, para uma mulher Maran, ser cortejada pelo Direito à Conquista traz honra.
Mordendo seu lábio inferior, Mandipha sente-se mal por suas palavras, que ela disse apenas para provocar Kemiro para aprender mais sobre ele. Ela comenta:
— Certamente, mas existe uma razão do porquê esta é uma prática cada vez menos utilizada… Se você falhar, nosso noivado será desfeito, e você apenas poderá requisitar outro Direito à Conquista depois de cinco anos!
Kemiro fica surpreso com a nova informação, mas ele responde:
— Não quero que pense que estou desrespeitando o costume, mas, excluindo qualquer indivíduo que use o Direito à Dúvida, se não existem razões para recusa, não é como se a família da noiva batalhasse para eliminar o pretendente, certo?
— Eu entendo o que você quer dizer, porém, essa lógica funciona apenas até você conseguir passar por meu pai. — Fazendo uma pausa refletindo em algo, serrando seus dentes, Mandipha continua. — Sua maior barreira será a final, onde terá que enfrentar meu avô. Pra ser sincera, meu avô é uma das vozes insatisfeitas com a proposta da Maranshipha. Particularmente, ele não gosta da Casa Boronéa, e parte desta insatisfação está sendo refletida para você.
Mandipha pausa, escolhendo suas palavras, ela continua:
— Com tudo que você me revelou até aqui, você certamente possui uma Qualidade excepcional e é muito poderoso, porém, meu avô está em outro nível. Ele já viveu por mais de mil anos e está entre os cinco mais poderosos de nossa casa. Ele é uma ótima pessoa, porém… ele é muito teimoso. — Mandipha sorri com uma expressão complicada.
Levando sua mão até seu queixo, Kemiro comenta:
— Certamente é uma situação complicada, caso alguém tão poderoso decida ir realmente contra nosso noivado.
— Você ainda terá outro demérito por não revelar sua Herança. Mas, eu temo que, se enfrentar meu avô, ele o forçará até seu limite. Esse é um grande problema. — Mandipha diz com suas orelhas murchas e uma expressão preocupada.
Heee! Então, ela não está esperando que eu revele minha Herança. Isso me deixa feliz. — Reflete Kemiro, que diz:
— Bem, isso não é nada para se ficar preocupado demais. Se for necessário, eu revelarei minha Herança. Eu já vive tempo demais nas “sombras”. Se for para revelar meus segredos, não existe melhor oportunidade do que provar para sua família de que eu sou alguém digno de estar ao seu lado.
Enquanto afirma, Kemiro acaricia o rosto de Mandipha com sua mão esquerda, onde ela aceita, apoiando seu rosto em sua mão. Mandipha diz com um tom entristecido:
— Kemiro, me desculpe, mas eu não poderei lhe prover nenhuma informação sobre minha família como parte da tradição. Eu aceitarei caso fique desapontado, mas eu realmente desejo respeitar meus costumes, a fim de, no futuro, poder ter orgulho de minha escolha.
Notando Kemiro se inclinando para frente, Mandipha fecha seus olhos, aceitando um breve beijo.
Kemiro exclama:
— Você não precisa se preocupar. Eu não escolheria de outra maneira. Tudo que eu conquistei até agora foi “as cegas”. Apenas confiando em minhas habilidades. Esse desafio não será diferente. Você apenas precisa se preparar para me receber após minha vitória.
— Sim. — Com um sorriso sincero, Mandipha beija Kemiro.
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