Trocarem olhares, Kemiro lembra-se de algo, ele indaga:
— Agora que estamos alinhados com relação a nosso relacionamento, tem algo que gostaria de perguntar. Sua visita é um pouco inesperada, existe alguma razão em particular?
— Sim, eu tinha. — Com um sorriso desconcertado, ela continua. — A verdade é que nossa casa recebeu uma comissão da família Real para uma investigação e recuperação de dados dentro da Zona Fantasma. Tal comissão foi enviada para todas as Casas Pilar. Eu não participarei, porém, minha intenção era de lhe oferecer uma aliança para nossas equipes participarem em conjunto. Mas meu planejamento não será necessário. — Expressando um sorriso charmoso, ela continua. — Sinceramente, eu não me importo, eu ganhei algo ainda mais precioso.
Avertendo seu olhar, a fim de esconder um sorriso satisfeito, Kemiro gentilmente aperta o nariz de Mandipha, dizendo:
— Olha, você usando essa conversa doce pra cima de mim. Isso não tem nenhum efeito em mim.
Na verdade, está sendo mais efetivo do que imaginei. — Reflete Mandipha, permitindo a brincadeira.
Escondidos atrás de seu sorriso, Kemiro possui pensamentos sombrios:
Já deveria estar acostumado com isso. Mas sempre que me deparo com a diferença de tratamento entre as Casas Principais e as Casas de Suporte meu estômago revira em desgosto!
Aquele velho decrepito agiu como se estivesse me fazendo um favor, mas a comissão foi enviada para todas as famílias? Bastardo, sem vergonha!
— Se você quiser, nós ainda podemos fazer uma aliança. Certamente será benéfico. — Mandipha diz, afastando gentilmente a mão de Kemiro de seu nariz.
Kemiro balança sua cabeça dizendo:
— Eu agradeço a proposta. Porém, esta aliança, no momento, não é a melhor escolha. Lembre-se de que eu requisitarei o Direito à Conquista. No longo prazo, será um demérito pra mim.
O que eu estou pensando? Claro que uma aliança não será benéfico para ele no momento. — Mandipha morde lábio inferior, pois Kemiro tem razão.
Sendo capaz de perceber os traços de frustração que Mandipha tenta esconder, Kemiro exclama:
— Você também deve evitar insinuar qualquer tipo de tratamento a meu favor para os membros de sua equipe. Pelo contrário, você deveria incentivá-los a me testar caso existam sinais de insatisfação contra nosso noivado.
— Eh? Por quê? Isso lhe traria ainda mais problemas. Se você não sabe, mas, nós somos muito competitivos, então, se eu, a Sacerdotisa, favorecer tal comportamento, eles não se conterão em desafiá-lo! — Mandipha expressa agitada.
— HAHAHA! Melhor ainda. No longo prazo, isso será benéfico, então você não precisa se preocupar. Mudando de assunto, já que você mencionou antes, tem algo que eu também gostaria de confirmar.
Mandipha sente-se conflitante com a decisão de Kemiro, mas escolhe não questionar sua decisão.
— Qual seria o tópico?
— Você comentou que tem expectativas de que eu tenha mais esposas, você poderia explicar melhor o que quer dizer?
— Sim. Eu sei que grande parte das Casas Pilar, incluindo a Casa Boronéa, possui uma cultura monogâmica, porém, em nossa cultura, quanto maior uma família, e maior a Qualidade dos membros que compõe dita família, mais influência ela possui. Bem, não pense que aceitarei qualquer mulher que você tenha interesse. Como descendente direta da Casa Hauveron e Sacerdotisa da Deusa Maranshipha, meus requerimentos para a Qualidade de uma pretendente são altos. Você é contra tal arranjo?
Sorrindo, Kemiro responde:
— Não. Pelo contrário. Eu tenho alguém que gostaria de indicar. Um membro da minha equipe, Amira Telffira.
Checando suas memórias, Mandipha responde:
— Ela é uma das descendentes da Torre da Lua Vermelha, certo? Se não me engano, é uma casa formada apenas por Bruxos e Feiticeiros. — Hesitante, ela indaga. — Não me diga que vocês tinham um relacionamento antes de eu anunciar nosso noivado?
— Não. Nada disso. A verdade é que ela é uma das pessoas que tem conhecimento de minha Herança.
— É por esta razão que você está a indicando?
Kemiro balança sua cabeça, continuando:
— Não. Infelizmente, eu não posso dizer muito sobre ela, pois ambos estamos sobre um juramento. Isso envolve a razão de eu ter conseguido recrutá-la para minha equipe. Mas, eu posso garantir que ela possui Qualidade como Bruxa que não perde pra mim.
O quê? Ele está sério sobre isso? Sendo sincera, a Qualidade de Kemiro como Ma’Ji é superior à minha! Mas, ele está dizendo que existe um indivíduo que se equipara a ele? Em nome da Hein’Ra!
Mas para ele elogiá-la tanto. Será que ele tem sentimentos por ela?
— Kemiro, você por acaso gosta de Amira?
— Sim.
Mandipha é pega de surpresa com a resposta seca de Kemiro. Mas ele continua:
— Ela foi a primeira a reconhecer minha Qualidade. — Apontando para seus olhos, ele continua. — Porém, eu respeito muito suas habilidades e compreensão sobre a Ma’Jia e Hein’Ra. Entre outros fatores.
Percebendo a insinuação de Kemiro, Mandipha reflete:
Ele quer dizer que ela também possui Akrava ou algo que a equipare? Interessante, pelo visto seu juramento não é tão rígido quanto o que fiz. Se não, ele não conseguiria revelar informações de maneira ambígua. Mas, por via das dúvidas, é melhor que eu não expresse em voz alta.
Acenando com sua cabeça, Mandipha diz:
— Entendo. Se a qualidade dela se equipará à sua, eu não tenho razões para negar. Entretanto, você tem confiança de que consegue conquistá-la em fazer parte de nossa família?
— Não posso afirmar com certeza. Porém, sei que a possibilidade está longe de ser zero.
Inclinando sua cabeça para o lado, Mandipha pergunta curiosa:
— Você está sendo ambíguo. Qual a razão desta conclusão?
— Desculpe. Isso tem a ver com nosso juramento. — Kemiro responde, coçando sua bochecha sem graça.
Observando Kemiro em silêncio por alguns instantes, Mandipha diz:
— Entendo. Não tem o que fazer. Eu confiarei em você. Quando vocês discutirem o tópico e, caso você receba uma resposta positiva, por favor, nos apresente, para que eu possa ter uma conversa com ela. OK?
— Sim. Certamente o farei.
Perfeito! Essa ideia de harém não poderia me ser melhor. Se eu conseguir incluir as habilidades de Amira durante meu processo de fabricação de artefatos, eu conseguirei alcançar outros níveis na qualidade de minhas criações!
Satisfeito com o desenvolvimento, olhando para o relógio, Kemiro comenta:
— Se você não tiver nenhum tópico para conversarmos, já estamos aqui há algumas horas, seus atendentes devem estar preocupados.
— Eu não posso negar tal possibilidade. — Mandipha se inclina para Kemiro, dizendo. — Por agora, já estou mais do que satisfeita com nosso progresso.
Kemiro se levanta, deixando Mandipha no vácuo. Ele diz, estendendo sua mão para ela:
— Hoje, posso afirmar que estou, mais uma vez, recebendo as bênçãos da Hein’Ra.
Mandipha quer dizer algo, mas hesitante, ela desiste, apenas aceitando a mão de Kemiro. Sorrindo, ela diz:
— Quem está usando palavras doces agora?
Para a surpresa de Mandipha, ela mal levanta e Kemiro a puxa, abraçando sua cintura com seu braço esquerdo e guiando sua mão esquerda para abraçar seu pescoço. Ele sussurra, olhando em seus olhos:
— Doces, sim, porém verdadeiras.
Ele, então, conecta seus lábios aos delas. Não hesitando, seguindo seus instintos, Mandipha responde sem reservas, abraçando o pescoço de Kemiro.
Satisfeito com sua resposta, Kemiro a abraça mais ternamente, pressionando seus corpos cada vez mais. Os fartos seios de Mandipha se distorcem com a pressão, mas isso apenas energiza Kemiro, que, mantendo seu abraço com seu braço esquerdo, move sua mão direita para a nunca de Mandipha, acariciando ternamente a pelugem em seu pescoço.
Os suspiros, somados aos doces gemidos de Mandipha, servem de prova para Kemiro de que ela não deseja se separar.
Ele a trata com ainda mais ternura, onde Mandipha sente-se derretendo, emitindo uma voz ainda mais doce.
Entretanto, Kemiro não sente nada além de vazio, refletindo:
Por quê? Mesmo abraçando uma mulher tão perfeita, por que eu não sinto nada? O que há de errado comigo?
— Mmmm! Kem… Kemiro! Mmm!
Kemiro, perdido em seus pensamentos, ignora o chamado, apenas beijando-a em seu pescoço frustrado.
Mas ele é obrigado a parar, quando Mandipha o abraça fortemente. Mais força do que ele imaginou que ela pudesse exercer.
Ela aproxima seus lábios de seu ouvido, dizendo com um tom gentil:
— Está tudo bem. Você não precisa se preocupar. Juntos, nós conseguiremos lidar com sua situação. Eu já recebi e aceito seus sentimentos.
Mandipha sente o corpo de Kemiro estremecer brevemente, enquanto ele a abraça mais forte, dizendo:
— Me desculpe.
Ouvindo isso, Mandipha segura o rosto de Kemiro, o guiando para ficarem de frente um para o outro. Olhando profundo em seus olhos, ela diz:
— Você não tem por que se desculpar. Você não fez nada de errado. Porém, eu não quero que você se force a agir desta maneira. Eu preciso que você se prepare para ser vitorioso em seu Direito à Conquista. — Beijando levemente os lábios de Kemiro, ela afirma. — Eu disse antes, e afirmarei novamente. Se você vencer este desafio, eu serei sua e você será meu. Então, eu poderia suportá-lo, não importa o que for necessário.
Kemiro é tomado por uma multitude de emoções. Se inclinando, tocando suas testas, ele afirma:
— Sim. Eu conquistarei a vitória!
◆◇
Na sala de acesso ao espaço em que Kemiro e Manidpha estão, Algipha, Alber, Almer e as atendentes de Mandipha junto Safix e Aine estão aguardando de fora.
Algipha comenta irritada:
— Você tem realmente certeza de que não existe outra maneira de abrir esta porta, Safix?
Não perturbada pelo tom irritado de Algipha, Safix responde calmamente:
— Pela nona vez, senhorita Algipha. Apenas Lorde Kemiro e Lady Azarthine conseguem acessar esta porta. Vocês já estão esperando aqui por mais de uma hora, por favor, por que não esperam em nossa sala de recepção, onde estarão melhores acomodados?
— Eu recuso! O que é que ele quer conversar, que é necessário ser tão secretivo?
Além de seu trabalho como atendente, Algipha é superprotetora, desde o nascimento de Mandipha. Ela sempre agiu como um muro a fim de proteger Mandipha, até mesmo de outros membros de sua Casa.
Mandipha sempre foi assim! Por trás de sua atitude reservada, ela é totalmente cativada por qualquer coisa que chame sua atenção, ignorando todos à sua volta a fim de saciar sua curiosidade.
Mesmo sendo um pivô central no planejamento de nossa família, ela nunca perdeu esse lado dela. Bem, isso só faz ela ser mais fofa. Mas eu gostaria que ela tivesse mais noção de como suas ações afetam aqueles à sua volta.
Como ela pode aceitar de bom grado ir para um lugar desconhecido com Kemiro? Um lugar que eu não posso alcançá-la se necessário!
Conhecendo Algipha, Alber conhece a intensidade de seus sentimentos por Mandipha. Ele comenta:
— Algipha, acalme-se! Em primeiro lugar, você não precisa se preocupar tanto. Mandipha não acompanharia Kemiro se ela não acreditasse que ele é digno de confiança. Em segundo lugar, se você continuar a questionar desta maneira, parecerá que você está questionando a moral de Kemiro.
— N- Não é esta minha intenção.
Mesmo parecendo apenas um comentário simples, Algipha entende que Alber está lhe repreendendo.
Provando isso, quando ela olha de canto de olho para o lado, ela nota que Safix está lhe observando com um olhar afiado. Mesmo Safix não manifestando nenhuma Ma’Jia, os instintos de Algipha exclamam que existe perigo em ir contra tal indivíduo.
Mas, seus instintos apenas excitam Algipha, por raramente encontrar alguém que a faça se sentir assim. Infelizmente, antes que ela pudesse testar Safix, a voz de Aine ecoa pela sala:
— Eles estão de volta!
A atenção de todos se volta para a porta, que estremece como um espelho d’água, com Kemiro atravessando.
Mas algo pega todos de surpresa. Segurando sua mão, Kemiro está cuidadosamente guiando Mandipha, enquanto ela está de olhos fechados.
— Pronto, Mandipha. Chegamos. Pode abrir seus olhos.
— Eu não acho que eu vou conseguir me acostumar com essa passagem tão cedo. — Mandipha exclama com um tom fraco.
Quando ela abre seus olhos, ela nota todos os observando.
— Oh! Vocês estavam esperando todo esse tempo?
Mas ninguém a responde, pois todos estão observando a maneira próxima com a qual eles estão agindo. Algipha é a primeira a se manifestar, tremendo, olhando para eles de mãos dadas:
— Ma- Man- Mandipha, o que aconteceu? Por que seu cabelo está solto?
Passando a mão em seus cabelos com uma expressão surpresa, Mandipha finalmente percebe, porém, antes que pudesse responder, Kemiro abraça sua cintura, gentilmente a beijando no rosto, o que a faz corar. Ele diz, sorrindo:
— Nada de mais, nós apenas estávamos nos conhecendo melhor.
— Oh! Kemiro! — Mandipha responde, levando suas mãos até seu rosto, enquanto usa sua longa cauda para agarrar em volta da cintura de Kemiro.
Todos possuem diferentes expressões. Aine cora cobrindo seu rosto, deixando aberturas entre seus dedos.
Almer olha para Kemiro com reverência. Alber possui uma expressão complicada. Safix apenas suspira, balançando sua cabeça.
— Ke- Ke- Ke- Ke…
Algipha treme, tendo dificuldades para formar palavras coerentes.
Surpreendendo todos, Algipha libera sua Ma’Jia pulando em direção a Kemiro enquanto se transforma em sua forma bestial humanoide que, diferente de Mandipha, possui pelos dourados. Ela grita com uma expressão insana:
— KEMIRO, QUAL É A COR DO SEU SANGUEEEEEE?
Novamente, os empregados trabalhando na residência acima, por um longo tempo, ficam assustados com os tremores e vozes exaltadas emanando do subsolo da mansão.
Comments (1)
See all