— Para você não conseguir responder uma simples pergunta sobre seus sentimentos. Parece que você precisa de um incentivo.
Ainda mais confuso com as implicações da exclamação de Daliah, Kemiro não percebe que ela troca olhares com Kirianna.
Com velocidade sobre-humana, Kirianna move-se para trás de Kemiro, o abraçando, imobilizando seus movimentos, por segurá-lo por debaixo de seus braços, Kirianna cruza seus dedos atrás da nunca de Kemiro.
Finalmente voltando a si, Kemiro tem um sobressalto com o desenvolvimento inesperado. Por mero impulso, flexionando seus músculos, ele, sem querer, desarma a imobilização de Kirianna.
Isso a choca tremendamente. Nesta fração de segundos, sua mente quase fica em branco, mas sendo bem treinada, Kirianna eleva o nível de ameaça de Kemiro para o mais alto possível.
Ela então, colando seus corpos, abraça Kemiro usando de toda sua força, enquanto puxa uma adaga como bisturi de sua manga, levando-a até o pescoço de Kemiro.
Eu queria que ela apenas assustasse Kemiro, por que ela está sendo tão intensa? — Reflete Daliah, confusa por não perceber o choque ocorrido entre ambos.
— Talvez agora você consiga responder sinceramente…
Antes que pudesse continuar, Daliah é interrompida por Kemiro que, ignorando sua situação, levanta sua mão com uma expressão séria dizendo:
— Um momento. Eu estou contemplando!
Fechando seus olhos, inspirando profundamente, Kemiro reflete:
Em nome da Hein’Ra. Ela não está usando sutiã!
Devido ao refinamento perfeito de seu corpo, Kemiro possui uma percepção apurada de seu corpo, assim, com toda a pressão aplicada por Kirianna, que é praticamente de sua estatura, se concentrando, ele consegue senti-los perfeitamente.
Independentemente da razão da matriarca ter me chamado aqui, eu vou perdoá-la por sua rudez, após receber este presente inesperado.
Porém, eu devo aproveitar esta oportunidade para testar meus planos em incluir Amira em minha família. A final, eu não sei quando outra oportunidade de me encontrar com a matriarca surgirá.
Decidido, Kemiro diz:
— A matriarca indaga o que Amira é para mim? Essa é uma pergunta boba. Claro que Amira é uma das pessoas mais estimadas em minha vida. Mesmo entre todos aqueles que professam ser capazes e habilidosos, Amira foi a primeira a reconhecer minha Qualidade, mesmo quando eu estou fazendo meu melhor para escondê-las. Não apenas isso, mas, ignorando nossa diferença de status, ela me trata como um igual. — Após uma breve pausa, ele olha dentro dos olhos de Daliah, dizendo: — Como tal, Amira é alguém que eu almejo que faça parte de minha família no futuro.
Kemiro mal fecha sua boca, ele sente sua pele penicar por todo seu corpo. Ele nota que até mesmo Kirianna treme levemente, o apertando ainda mais.
A causa sendo a energia de Daliah, que antes fluía em volta de seu corpo, mas agora expandida para cobrir todo o andar.
De trás de suas costas, cresce um par de asas como morcego de cor branca, lustrosas como seda. Seus olhos dourados agora brilham com um tom vermelho, queimando como um sol.
O pulso de sua energia empurra os documentos e os objetos acima da messa para os lados. Se levantando, ela diz com um tom sombrio:
— Você é muito audaz para afirmar na minha frente que quer fazer da minha filha uma mera concubina! Por se atrever a dizer tal absurdo, eu deveria castrá-lo.
Observando a matriarca dando a volta na mesa, caminhando em sua direção, mantendo sua calma, Kemiro diz:
— Sua opinião apenas supõe que Amira seria tratada de maneira diferente. Não subestime meus sentimentos por Amira. Minha afeição por ela vai além do mero interesse carnal. Também, ela ser a única herdeira da família Telffira, não possui nenhum valor pra mim!
Enquanto ouve Kemiro, Daliah chega a menos de um passo em frente dele, abrindo suas enormes asas, ela diz:
— Você realmente tem um dom extraordinário com palavras. Mesmo você não sendo digno, antes, pelo bem de Amira, eu estava cogitando permitir que você ficasse ao lado dela. Mas, pelo visto, você precisa ser posto no seu lugar primeiro. Minha filha está muito acima de uma mera sacerdotisa qualquer, de um mero clã, preso nesta dimensão inferior! E você, um descendente abandonado de uma família inferior, está sonhando em fazer da minha filha uma concubina?
Surpreendendo Kemiro, Daliah agarra sua virilha firmemente, um movimento que ele não percebeu até o resultado final. Daliah, indaga:
— Não pense que ser o Par de um Sere’No de ranque alto significa qualquer coisa para mim. Bani-la de volta, para qualquer dimensão que você tenha a invocado, é tão fácil quanto estalar meus dedos. Então, me diga, o que lhe dá tanta confiança em fazer tal afirmação?
Notando a falta de reação de Kemiro, que está de cabeça baixa olhando para ela, apertando sua pelves, Daliah fecha sua mão com mais força.
Agora sendo surpreendida, Daliah fica chocada, quando Kemiro levanta sua cabeça com um sorriso debochado, dizendo:
— Como eu disse, vocês que professam ser poderosos acabam cegados por suas próprias capacidades.
Antes que pudesse processar as palavras de Kemiro, Daliah sente uma dor intensa em sua Intenção. Ela sente, também, uma forte dor em seu pulso, largando a virilha de Kemiro. Mas, antes que pudesse reagir, seu corpo é puxado para trás por seu pescoço, braços, antebraços, coxas, tornozelos e cintura.
— Daliah!
Ouvindo a voz desesperada de Kirianna, Daliah volta a si, apenas para ficar chocada além da descrição de palavras.
Todo seu corpo e asas estão sendo presos e suprimidos por cubos pretos. Em volta de sua cabeça, pescoço, coração e abdômen existem dezenas de estacas pontiagudas do mesmo cristal preto estáticas a menos de milímetros de perfurá-la.
— Guuhh!
Ouvindo o gemido, Daliah volta sua atenção apenas para ver Kemiro segurando as mãos de Kirianna, afastando-as sem dificuldades.
Percebendo que não consegue ganhar numa competição de força bruta, Kirianna tenta se afastar de Kemiro, apenas para ser presa por cubos pretos, que lhe prendem pelo pescoço, braços e pernas.
— Poder usar minha Herança sem reservas… é libertador. — Kemiro diz, suspirando satisfeito. Caminhando em direção à matriarca, ele avisa. — É melhor você não reagir. Embora eu acredite que você conseguirá escapar, se você tentar me ferir, eu retaliarei sem reservas. Mas isso machucará Amira, então, vamos evitar derramar sangue desnecessariamente.
Mesmo vivendo todos esses séculos, eu posso contar em uma mão, às vezes que alguém me rendeu desta maneira! — Reflete Daliah. Franzindo, ela diz:
— Você herdou a linhagem de Helga? O que a Casa Boronéa está planejando por esconder sua Herança?
— Casa Boronéa? O que a faz pensar que eles sabem mais do que você? Pra eles, eu sou apenas uma falha, assim como eu planejei.
Vendo o sorriso puro de Kemiro, enquanto ele brinca com a adaga afiada sem se cortar, Daliah não consegue segurar seu sorriso. Com uma expressão condescendente, ela afirma:
— Pelo visto, o tempo tem me “cegado”. Para não conseguir perceber que você está escondendo algo assim. — Olhando para Kemiro com um olhar profundo, ela reafirma. — Não. A verdade é que você é mais capaz do que lhe dei crédito. Mas, eu fico feliz que minha Amira conseguiu me superar em descobrir sua Qualidade. Para você ser capaz de me render desta maneira, eu lhe devo desculpas pela maneira rude como agi.
— Isso não é nada. Você parece não entender o valor que possui, como mãe de Amira. — Balançando sua mão, Kemiro faz todos os cristais desaparecerem, ele continua. — Se for para proteger Amira, eu mataria até mesmo Deuses!
Tanto a expressão de Daliah quanto Kirianna se alteram por motivos secretos, além do absurdo da afirmação de Kemiro.
— Mataria Deuses… — Com uma expressão deprimida, Daliah suspira, dizendo enquanto retrai suas asas. — Aceite este conselho de alguém que já experienciou mais que você na vida: tenha cuidado na frente de quem, você faz afirmações semelhantes no futuro. Já vi muitos morrerem por muito menos.
— Agradeço o ensinamento. — Kemiro responde sinceramente, ao notar a expressão pensativa de Daliah.
Olhando para Kemiro, Daliah hesita, dizendo:
— Eu estou perguntando isso, não como a matriarca da família Telffira, mas como a mãe de Amira. O que foi que atraiu Amira até você? Ela se recusa a revelar qualquer detalhe.
Amira é realmente muito possessiva. — Kemiro reflete, balançando sua cabeça.
— Bem, um dos motivos de ela não revelar nada é devido a nós estarmos sobre um juramento. Mas, nunca esperei que ela mantivesse até isso em segredo. — Após uma breve pausa, Kemiro continua. — Eu não vou revelar o real motivo, porém, eu vou revelar pelo menos uma das razões. Eu permitirei que Amira possa revelar o segredo do pacto apenas para você, então, você pode perguntá-la depois.
Indo até a mesa, Kemiro pega a taça que caiu derramando seu conteúdo. Usando a adaga de Kirianna, Kemiro usa sua Ma’Jia para encantá-la. Relaxando a palma de sua mão, ele faz um corte, mantendo a adaga perfurando sua mão, enquanto seu sangue escorre, até encher metade da taça.
Assim que ele tira a adaga do corte, Daliah é surpreendida em como o corte fecha rapidamente.
Kemiro então empurra levemente a taça em direção a Daliah, sorrindo, ele diz:
— Como uma Vanaphir, tenho certeza de que você compreenderá, se beber meu sangue.
Voltando a si, Daliah tem um leve tremor ao sentir a fragrância emitida pelo sangue, que possui um tom de vermelho puro, parecendo emitir um brilho opaco ao refletir a luz do ambiente.
Com elegância e em silêncio, Daliah pega a taça levando até a boca, seus lábios parecem ressecar em antecipação.
Quando o aroma acaricia seu nariz, ela sente uma corrente elétrica percorrer seu corpo. Porém, ela controla sua reação. Fechando seus olhos, ela bebe todo o conteúdo de uma vez.
Mesmo após esvaziar a taça, ela continua paralisada na posição, até emitir um suspiro quente, que condensa o ar entre seus lábios.
— Entendo. Seu sangue é muito saboroso. Amira é tão boba por tentar evitar que eu descobrisse isso.
Daliah comenta balançando sua cabeça, sorrindo como uma mãe amorosa.
Kemiro possui uma expressão desapontada por um instante, devido à falta de reação de Daliah.
Estranho. Sua reação não chegou nem perto da reação que Amira expressa toda vez que ela bebe meu sangue.
Antes que qualquer um deles pudesse continuar. O Portal oscila com alguém atravessando-o.
— O que Kemiro está fazendo aqui?
Quem atravessa é Amira, companheira da equipe de Kemiro, porém, ela possui uma voz diferente. Ignorando o tom imperativo de Amira, Daliah a repreende:
— Amira, eu já disse para não possuir nada além dos olhos de Laurin! Você está querendo machucar seu Krutriz?
Seu comentário também é ignorado por Amira que fica à frente de Kemiro, o ignorando, ela diz:
— Laurin não é tão fraca quanto a senhora pensa. Em primeiro lugar, eu jamais faria algo que pudesse machucá-la! Mais importante, a senhora quebrou nossa promessa de não invocar Kemiro sem meu consentimento.
— Amira, minha filha. Você me impede de expressar meus agradecimentos a Kemiro por suportá-la por quase cinco anos. Já está bom, não? Fica até parecendo que você acha que eu sou uma ameaça ou algo do tipo.
Notando que sua mãe está com seu rosto levemente corado, as sobrancelhas de Laurin franzem em reação às emoções de Amira, que reconhece tal efeito.
Controlando o corpo de Laurin, Amira se vira para Kemiro, abaixando a gola de sua camisa, tateando seu pescoço, até mesmo cheirando-o, como um cão de caça. Ela então percebe a adaga com sangue na mão de Kemiro.
Levantando o braço de Kemiro, Amira pega a adaga, cheirando-o, sua expressão muda para terror, dizendo:
— Você ofereceu seu sangue para minha mãe?
— Sim, um pouco, por quê? — Kemiro responde confuso, devido à expressão de Amira.
— Aaaaaaah! Kemiro, idiota!
— Por quê?
— Anna, idiota, por que você não o impediu?
— Uughh! — Kirianna, que é fraca contra Amira, sente uma estocada ao ser referida de maneira rude pela primeira vez.
— Mama, idiota! Chupa-cabra!
— PFFFF-! Amira, isso não é maneira de se referir à sua mãe!
Daliah cora, envergonhada com a comparação pejorativa que Amira faz. Comparação que, Amira sempre faz, quando está irritada com ela.
— Eu não ligo! Depois que eu conversar com Kemiro, eu e a senhora vamos ter uma conversa de mulher para mulher no ginásio! Vem, Kemiro.
Amira joga a adaga no chão e sai puxando Kemiro pelo pulso.
— Espere, Amira. Eu e sua mãe estamos no meio de uma conversa. — Kemiro comenta, mas ele não tenta parar Amira, ele também é fraco contra ela.
— Seja o que for, pode esperar. Eu estou usando aquela meia-calça que você comentou que gosta! Ou a conversa com ela é mais importante?
Tosse! Tosse! Tosse!
Kemiro quase engasga sem saber como responder. Ele sente um arrepio em sua nuca, apenas ouvindo vozes sombrias:
— Kemiro…
— Castração é a única salvação…
— Não, pera aí! Eu nunca pedi nada…
Suas tentativas de protestos são em vão, pois Amira o puxa pelo portal e seus lamentos são perdidos, apenas ecos, esvaindo através do andar.
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