O sol está no pico, com céu claro e poucas nuvens. A Floresta do Juramento é grande e densa, possuindo árvores gigantes, criaturas ferozes que fogem da concepção humana, muitos tentam desbravar suas entranhas para descobrir seus segredos antigos na esperança de conseguir tesouros e uma boa vida, encontrando apenas o encurtamento de sua vida nas garras de alguma fera ou flora mística do lugar. As criaturas místicas e misteriosas da floresta notam quando a presença de invasores, fugindo ou se escondendo, enquanto os grandes predadores apenas não reagem. Um grito alto ecoa assustando as aves para longe, correndo entre as trilhas da floresta, um pequeno felino semelhante a um leão branco, com cristal azul em sua testa, logo atrás dele, um garoto de pele queimada, turbante, sem camisa com uma faixa de emblema amarrada em sua cintura composta de uma faixa azul no centro e laterais grossas brancas. Ele grita enquanto corre nitidamente fugindo de algo.
– DISGRAMA! Droga Mantis! CÊ TINHA QUE MORDER A CAUDA DAQUELE GROULS!?
O pequeno leão branco solta um alto berro.
– MIAAAAWWW!
O garoto que se chama Fidem responde com lágrimas desesperadas em seus olhos.
– AGORA NÃO ADIANTA DESCULPAS!
Atrás dos dois, criaturas os perseguem de forma desesperada. As criaturas não são maiores que um metro, não possuem olhos, pele clara com manchas vermelhas, apresentam bocas grandes e dentes retilíneos, mãos com três dedos, caudas sem pelo e pernas retorcidas. Conhecidos como Grouls, são uma das criaturas mais simples nascidas do conglomerado da Calamidade. Sozinhos são fáceis de vencer, mesmo um aventureiro de baixo rank consegue derrotar um com alguma estratégia ou força, porém quando em grupo, até altos ranks enfrentam dificuldade.
Uma criatura consegue se aproximar o suficiente para tentar morder a perna de Fidem, fazendo-o cair em cambalhotas, alguns itens estranhos são derrubados no caminho, só parando quando bate num tronco de árvore gigante. As criaturas cercam o garoto, mas não se aproximam, pois na frente deles a criatura que o havia mordido, está caída no chão com espasmos involuntários, a parte frontal da sua cabeça está completamente destruída. Fidem está levemente machucado pela queda, em sua perna uma leve barreira brilha desaparecendo em seguida. Fidem se levanta e fala para seus perseguidores.
– Ar… N… Não pensem que eu cairei tão facilmente!
As criaturas estão receosas, aproximando vagarosamente. O pequeno leão, Mantis, salta à frente de Fidem.
– Mantis!? O que você está fazendo?! Saia daqui!
Mantis apenas ignora Fidem. O garoto sorri pela coragem de seu aliado preparando-se para o combate.
– Se for assim… Vamos com tudo Mantis!
Observando-os nas copas das árvores e arbustos, um homem com olhos cerrados responde a seu aliado.
– Já vi o suficiente… Acabem com eles!
Os Grouls saltam em conjunto, o que faz o Fidem fechar seus olhos por alguns segundos esperando o golpe que não chegou. Com um pouco de receio ele abre vagarosamente seus olhos vendo que todos os Grouls a sua frente já estavam mortos. Os corpos estavam caidos por todo tipo de ataque, dés de lanças e flechas, a cortes mágicos e espetos de gelo. Um homem loiro, com uma cicatriz no rosto se aproxima de Fidem, batendo palmas para ele, dizendo.
– Então que belo show, garoto!
Fidem responde ainda atônito.
– Q… Quem é você?
Em seguida o homem chamando Jeff, estende seus braços respondendo ironicamente.
– Não consegue perceber assim que vê, meu rapaz? Eu sou um benfeitor. Um nobre que ajuda os fracos e necessitados, claro que com um pouco de ganho.
Fidem ainda está parado sem reação. Jeff se aproxima, pondo a mão no ombro do garoto, com um olhar sombrio e sorriso maléfico, diz.
– E claro que esse serviço de resgate foi uma cortesia. Pra mostrar que fugir de nossa “escolta” não é possível, perfeita para um nobre.
Fidem se livra do homem, ficando em guarda. O homem segura o cabo de sua espada com o rosto sombrio. Fidem diz com os punhos cerrados.
– Quem mandou você? Não me pegaram viv! AH!
Fidem cai desacordado após um ataque surpresa na nuca por uma capanga de Jeff. O homem ficou visivelmente desapontado pela intromissão indaga em tom jocoso.
– Ora, mas que desmancha prazeres, senhorita Junifer.
A jovem garota que não parece ter mais de 14 anos, pele escura, cabelos encaracolados esverdeados, abaixa seu olhar e responde apreensiva.
– C…como o senhor havia falado, se o senhor, o matasse, não teríamos ganho algum.
Ela parece nervosa, sem olhar para o rosto de Jeff. A atenção deles se perde quando outro capanga careca não estava conseguindo segurar o pequeno leão, Matis se solta e ainda arranha o rosto do mercenário que tentou segura-lo, fugindo para a mata. O homem berrou de raiva.
– Ah! Maldita quimera!
Jeff põe a mão no rosto desvencilhando do assunto anterior. Um outro capanga, aproxima-se e pergunta apontando para os corpos dos Grouls.
– Senhor? O que devemos fazer com os corpos dos Grouls?
Jeff olha com desdém, respondendo.
– Não se preocupe.
O capanga insiste nervoso.
– Mas senhor os cadáveres da Calamidade tem que ser destruídos para não gerar uma estigma na terra e…
Jeff o interrompe sem muito caso.
– Apenas olhe.
As criaturas começam a evaporar, seus corpos vão se desfazendo em cinzas como se estivessem queimado a muito tempo. Um vento soprou a poeira para longe fazendo todos os resquícios das criaturas desapareceram. Jeff começou a rir e explica sem olhar a cena.
– Ha ha ha! A Floresta do Juramento não tolera a Calamidade, vocês acabam de ver um expurgo natural da terra. Muito bem, muito bem, vamos aproveitar e voltar para nosso objetivo anterior, tropa. E garantir que nem mais um tesouro fuja de nossas mãos não é mesmo? Senhorita Junifer?
Um silêncio toma o ar. Em seguida Jeff olha para outro jovem de seu grupo, por volta de 15 anos, de cabelos pretos curtos, óculos quadrados, de pele clara dizendo.
– Mickael!
O garoto prontamente fica em posição de sentido. Dizendo rapidamente.
– Sim, Senhor!
Jeff dizendo com um tom debochado.
– Já que a senhorita Junifer se mostrou proativa com a questão do prisioneiro, vocês, sendo da mesma vila não é? Vai ajuda-la com isso.
Ele suando frio acena com a cabeça. Vai até sua aliada começando a amarrar o Fidem. O garoto pergunta para Junifer, sussurrando.
– Você é louca?
Ela lhe responde também sussurrando.
– Só evitei uma morte desnecessária.
Mickael retira seu arco entregando-o para Junifer, logo em seguida Mickael levanta o pequeno Fidem, colocando-o com as mãos amarradas e mordaçado sobre o ombro. Dizendo finalmente para Junifer.
– Continue fazendo algo assim e só encontrará a morte mais cedo.
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Jeff e seu capanga careca, que se chama Korjak, estão olhando do alto de uma elevação a floresta e comparando com o mapa misterioso que possui. Um rio corta a floresta e muitos montes e ruínas de arcos de pedra estão espalhados pela paisagem. Jeff indica para Korjak.
– Nós já exploramos esse quadrante. Foi onde achamos aqueles tesouros da última vez… Vamos para além do rio e…
O careca está um pouco desconcertado e não consegue deixar de falar.
– Senhor… Porque levar a criança?
Jeff respondeu sem emoção e de forma espontânea.
– Ele é nobre e aspirante de Cruzado. Certeza que vai ter uma boa recompensa.
O Korjak fica surpreso com a informação.
– Ele é um aspirante!?
Jeff olhando para a paisagem, respondendo ainda sem fazer muito caso da situação.
– A faixa da cintura dele, quem a usa são os aspirantes da capital. Nas fronteiras os aspirantes já são formados como Cruzados. Talvez por isso você não saiba.
Korjak fica mais surpreso a cada revelação de seu líder.
– Da Capital!? O que ele faz aqui!?
Apenas nesse momento Jeff parece demonstrar algum interesse rindo e olhando para o acampamento logo atrás dele.
– Eu não sei Korjak, mas esse garoto seguiu até aqui, atraindo até a atenção da Calamidade. Seja o que for, não é algo que devemos nos meter.
Korjak franze o cenho, dizendo levianamente revelando a forma de pensamento básica das pessoas sobre a Calamidade e seus monstros.
– Os Grouls? A Calamidade é só uma massa de bestas, burra e…
Jeff o interrompe rindo de forma insana. Pondo a mão no rosto e olhando para Korjak insanamente.
– Criaturas tão burras… Que conseguiram devorar metade do mundo! Que estamos em guerra há mais de 1000 anos! Sim, claro! Quão estúpidas, elas!
Ele põe a mão no rosto olhando para o chão com raiva e voltando em seguida para seu semblante desinteressado e sorriso debochado. Ele abraça de ombro a Korjak enquanto diz.
– Não… Estúpidos é quem luta contra o inevitável! Devemos apenas lutar por nós mesmos, Kojak, aproveitar para ter uma boa vida antes que esse mundo acabe.
Jeff volta para o acampamento com Korjak, Fidem estava com os braços amarrados ao tronco e mãos atadas, deixando apenas os pés livres para andar. Jeff não pode evitar olhar para o garoto com altivez, dizendo em voz alta.
– Nossa que olhar feroz, garoto. Cadê a gratidão por “resgata-lo”? Seja como for, agora você faz parte disso, nós não somos privilegiados como as pessoas da capital. Essa é a regra da sobrevivência aqui além das fronteiras.
Fidem o observa irritado sem abaixar a cabeça. Jeff senta-se em uma caixa de suprimentos e entrelaçando os dedos olhando para Fidem.
– Mas eu estou verdadeiramente curioso, de tudo que você poderia trazer, logo uma quimera? Eu sei que crianças têm uma visão até fantasiada da realidade, mas quimeras são só bichos incapazes de sobreviver sem seus donos. Ou achou que por parecer uma fera, ela é uma? Crianças e seus bichinhos.
Fidem depois de ouvir tudo isso começa a rir. Atiçando a curiosidade de Jeff e o irritando levemente. Ele manda que Junifer retire a mordaça com um gesto e pergunta irritado.
– O que é engraçado garoto?
Fidem tossindo um pouco por estar muito tempo amordaçado, responde.
– Então você não é alguém enviado dos Manifestos? Você nem faz ideia de o que é a Mantis. Ela é muito mais capaz do que você pode imaginar. Eu vim aqui para encontrar a Salém! Eu vou encontrar o tesouro das Virtudes para acabar com a Calamidade e…
ROAR!
Interrompendo o que Fidem falava, um grande rugido é escutado distante do acampamento, quase todos ficam alarmados, Jeff estava se mantendo calmo, caminhando até o garoto, diz com um pouco de pesar.
– Crianças…Você veio até aqui acreditando nesse conto de fadas?
Pegando o garoto pela gola o levanta com apenas um braço.
– Escuta aqui menino. Isso é tudo mentira, heróis que expurgaram a Calamidade apenas com um toque? Que prenderam o mal por 1000 anos? Acorda, se o Castelo de Salém existiu, ele foi destruído pela Calamidade e todas as Virtudes estão agora no estômago daquela besta.
Vendo que Fidem não respondia ele lança o garoto ao chão, se afastando. Diz com conhecimento adquirido a anos de expedições.
– Esse rugido foi uma Fera natural da Floresta do Juramento. Lamento dizer, mas sua querida Mantis já deve estar…
Jeff para de falar quando notando a frente do grupo, o salto da copa de árvores do pequeno Leão, com o Cristal em sua testa.
– Mas que curioso. Sobreviveu e voltou, mas porque? A merd...
Atrás de Mantiz dois grandes seres bípedes, com cerca de 4 metros de altura, cabeças longas e afiladas, dentes pontudos, olhos frontais, com caudas grandes e aspectos primitivos com o corpo completamente tomado por penas. As duas criaturas olham para todo grupo, lançando um rugido. Jeff ainda consegue dizer consternado.
– Ah droga. Maldita quimera.
As criaturas avançam violentamente, os mercenários se espalham e lançam ataques de vários lados. Um mago prepara uma magia, mas antes que consiga fazer algo é abocanhado por uma das criaturas. Jeff irritado passa os comandos para o grupo que agora se encontra num completo caos. Fidem aproveita esse momento para escapar, correndo se desvencilhando de seus raptores. Ele corre sem parar numa direção até chegar num tipo de penhasco onde abaixo o rio corria violentamente. Fidem para de correr olhando ao seu redor. O arbusto começa a sacudir e Mantis surge do matagal miando atrás dele.
– Mantis! Eu sabia que você ia conseguir! Agora me ajuda!
Fidem vira-se e a pequenina quimera arranha as cordas que o amarram, que se partem, liberando-o rapidamente. Fidem berra.
– Ar! finalmente!
Atras dele uma voz familiar grita cansado chegando para encurralar. É a voz de Mickael.
– Parado aí!
Fidem apenas vira-se consternado.
– O que foi agora?
Junifer esta de um ladotentando flaquear Fidem, enquanto Mikael aponta uma flecha para o garoto ainda mais proximo das árvores. Fidem levanta seus punhos diz novamente.
– Vocês não desistem, né?
Mickael insiste com sua postura ativa.
– Não queremos te machucar! Só se entregue é melhor!
Fidem responde dando pequenos passos para trás.
– Isso não vai acontecer.
Todos ficam se olhando apreensivos. Tanto Mickael quanto a Junifer não querem lutar, então lembrando o que sua aliada falou Mickael abaixa o arco e flecha primeiro, se desarmando e com as mãos estendidas fala mais amigavelmente.
– Tudo bem, olha…
BAAM!
– MICKAEL!!!
Junifer grita notando o ataque surpresa de uma das criaturas sobre seu aliado. Mickael é atingido lateralmente pela cauda de um dos grandes T-Rex que permaneceu seguindo eles do acampamento. Junifer corre até seu companheiro, percebendo que ele ainda está vivo. A criatura foca neles dando a oportunidade perfeita para Fidem fugir. Fidem se vira, mas retira de seu ombro um broche especial. O emblema azul e detalhes de ouro brilham com uma energia fina. Ele diz apertando o talismã.
– Meu inimigo é a Calamidade, uma Virtude protege a todos!
Ele corre em direção dos dois caídos, os puxando em direção ao penhasco. Junifer pergunta se espantando com a força de Fidem.
– O que você está fazendo?!
Fidem grita enquanto segura seu emblema fechando os olhos.
– Salvando a vida de vocês!
Assim todos caem no penhasco, e desaparecem nas águas do rio, levados pela correnteza.
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