Com medo do que me aguardaria, junto de Marco decidi que o melhor seria entrarmos em algum local com muitas pessoas, afinal, quem quer que esteja nos caçando, não faria seu movimento em um local cheio, ao menos era o que eu esperava, mas tinha me esquecido das outras nove pessoas, se tudo aquilo realmente fosse real, como eu poderia sobreviver encarando nove ‘super-humanos’? E não só eu, mas Marco também estava envolvido nesse jogo de caça onde somos meras formigas andando na 25 de março em véspera de natal.
- Você acha mesmo que isso não é uma pegadinha? Digo, alguém pode estar tirando com nossa cara! Eu não sei se aquilo que achamos é mesmo uma bomba, precisamos que alguém que analise, sabe, e mesmo se for uma pegadinha ou real, acho que ainda deveríamos levar isso até a polícia, Naiara. – Por nossa sorte, havia um shopping a três quarteirões da delegacia, não era muito grande, mas pelo menos me sentia mais segura lá, nos sentamos na praça de alimentação depois de comprarmos café, eu ainda estava tentando acreditar em tudo aquilo, uma situação tão surreal não poderia ser digerida tão facilmente.
- Eu acredito que seja real, é a única explicação, Marco, eu não sei o que fazer. – Tentava tomar o frapuccino aos poucos, mas naquele momento não tinha vontade de fazer nada, muito menos de comer ou beber. – Claro que não temos como provar nada ainda, mas se minha teoria estiver correta...
- Então, você acha mesmo que o ‘portador’ que volta no tempo está atrás da gente? Pelo que você me contou, ele só pode voltar no tempo três vezes ao dia, e com a situação presente, ele voltou no tempo duas vezes hoje já, primeiro, pra se antecipar e ir até a delegacia, e depois, pra armar a ‘bomba’ em meu carro. – Marco havia entendido o que eu quis dizer, mesmo que seu olhar ainda seja cético, e eu não o culpo, mas havia algo de errado nesse pensamento.
- Isso pode ser um equívoco da sua parte, ele pode não ter usado nada, por exemplo, pode ser que ele só tenha arriscado nos denunciar, se bem que acho isso muito improvável, ele de alguma forma tinha que saber que iríamos pra delegacia, e levando em conta tudo que o Lúcifer me disse, ele não ajudará os portadores, e os portadores, antes do Lúcifer me entregar a chave, sabiam que eu seria uma das escolhidas, ele citou algo como ‘ir para o próximo’, acho que no caso, se eu recusasse, ele iria escolher outra pessoa para entregar a chave, sendo assim, eu não seria o único alvo deles, e eu não acho que tem como eles saberem que eu fui escolhida, porque poderia ser qualquer um, então eles tem que descobrir por si só, acredito que funcione dessa forma, e eu não consigo acreditar no fato de que alguém tenha me descoberto, se o que eu disse estiver correto, ao menos é claro, que essa pessoa tenha ficado esperando na frente da delegacia, ou então... – Tive um pequeno vislumbre naquele momento, abri bem meus olhos enquanto percebia que Marco não entendia muito bem o que eu dizia.
- O que foi?
- Como eu disse, é mais provável que esse portador tenha ficado esperando o ‘escolhido’ ir até a delegacia denunciar Lúcifer, depois que eles receberem suas habilidades, aposto que eles ficaram sabendo de ‘nós’, e com isso, prepararam seus movimentos para nos descobrir, é só uma hipótese mas, o que você faria para descobrir a identidade de alguém que entregaram uma chave que pode conceder qualquer desejo se guardada por 90 dias? Considerando que isso ESTÁ acontecendo mesmo, se o portador da viagem no tempo já nos encontrou, quer dizer que ele só pode morar nessa cidade, pois não teria como ele descobrir, se morasse em outra, aliás, nenhum dos dez saberia ao menos que nossos nomes fossem passados, mas como creio que eles não foram, porque até agora, só tivemos UM ataque, então significa que todos os portadores são dessa cidade, e todos eles estão esperando o meu movimento para começarem, isso porque eles não tem como saber quem foi escolhido, mas agora o portador da viagem no passado sabe, porque ele se arriscou e ficou me esperando.
- Ok, eu acho que entendi, mas, suponhamos que ele tenha mesmo te esperado na delegacia, você disse que não tem como definir quando tais portadores receberam suas habilidades, e se eles tivessem recebido a mais de um mês, por exemplo? Você acha que ele ficaria na porta da delegacia esperando o tempo todo? Mesmo se ele ficasse em um carro, ele estaria na frente da delegacia! Alguém iria desconfiar. – Marco havia chegado no ponto correto, mas havia uma alternativa para isso.
- De fato, ao menos que ele não tenha ficado em um carro.
- O que quer dizer?
- Há várias casas na frente e ao redor da delegacia.
- Está dizendo que ele alugou uma casa perto da delegacia?
- Não precisa alugar, esse cara tentou nos matar seriamente! Ele pode ter matado alguém com seus poderes e usado a casa.
- E sugere que investiguemos todas as casas ao redor?
- Todas não, há um número limitado de casas. Precisa ser uma residência que dê pra enxergar a delegacia e estar a menos de dez minutos a pé, o tempo necessário que ele teve, antes da nossa chegada. Antes de entrarmos em seu carro eu fiquei analisando os arredores já pensando nisso, contei 3 casas no quarteirão da frente, uma na outra esquina da direita, e duas casas na lateral esquerda, totalizando 6 casas com visão para a porta da frente da delegacia. – Parei para respirar e olhei para o relógio de prata em meu pulso que usava todos os dias.
- Mas o que está sugerindo? Que vamos atrás desse cara? – Marco parecia espantado, mas eu não tinha dúvidas em minha mente. Era matar ou morrer naquele instante, Marco não sabia que se eu vencesse aquele jogo, a chave seria entregue para Lúcifer que destruiria metade do mundo, mas eu precisava da ajuda dele, por Vitor, precisava vencer esse maldito jogo, mesmo que eu tenha que derramar sangue, no momento em que peguei aquela chave pensando que isso seria real, abandonei toda minha natureza pacífica e me transformei em uma fera selvagem disposta a dilacerar carne até o fim para chegar ao topo, me sentia mal por Marco, mas naquele momento eu só tinha um objetivo: Salvar Vitor e sobreviver. Eu iria cumprir minha promessa com ele, eu iria até aquele lugar.... Mas como eu poderia matar esses portadores? Eu já tinha algo em mente, mas não sei se era certo. Eu só estava esquecendo de um detalhe, que Marco se lembrou naquele momento.
- Você pretende mesmo matar ele? Acha que isso é real?
- Marco, isso é real, se eu não matar, irei morrer!
- Mas isso é loucura! Como poderia? Se esqueceu que o cara nos denunciou? Se ele morrer, seremos os primeiros culpados! – Marco parecia eufórico, ele me olhava com certa fúria, e lhe dava razão. Eu havia perdido minha humanidade.
- E quem disse que eu o assassinarei? Não nego que ele tem que morrer, mas se eu o matasse diretamente, é claro que seria culpada.
- Então o que fará?
- Farei com que pareça um acidente. – Depois dessas palavras, Marco se levantou e colocou as duas mãos na cabeça, ele não acreditava no que ouvia. Nem eu acreditava no que eu estava falando.
- Acidente? E como planeja isso?
- Eu ainda não pensei nos detalhes, mas eu tenho algo pra começar. Só preciso que a morte dele pareça acidental, não é? – Eu pareci sorrir naquele instante, será que no fundo... eu estava empolgada com aquele ‘jogo’? Foi quando percebi que os olhos de Marco estavam vermelhos, ele estava tão indignado comigo?
- Naiara...Você sempre foi a melhor aluna do nosso curso! Não só do nosso curso, mas da faculdade toda, ganhou vários prêmios como melhor aluna, ganhou várias bolsas no exterior, você é a droga de um gênio, então, como pode dizer isso? Vamos até a polícia, diremos tudo, não tem outro jeito, ninguém vai matar ninguém...– Marco fez uma pausa e colocou uma das mãos sobre a mesa, abaixando sua cabeça.
- Qual o problema Marco? – Naquele instante percebi o que acabara de acontecer.
- Naiara, chama o segurança. – Os olhos de Marco começaram a se fechar, e sem que eu pudesse fazer algo, ele deu de cara com a mesa, paralisado. Pedi a mesma bebida que o Marco, um frapuccino de brigadeiro, e já pensei na possibilidade disso acontecer, se o portador da viagem ao passado estivesse nesse shopping, ele certamente agiria, se ele nos visse pegando alguma bebida, ele poderia fazer um movimento, como voltar no tempo, entrar dentro do Starbucks e colocar algum veneno ou sonífero nas nossas bebidas, mas pensei na possibilidade dele não matar aqui dentro, isso levantaria suspeitas, e ele não agiria atingindo nós dois, ele focaria só em uma pessoa, para deixar o outro com aberturas, quando chegamos na mesa, eu peguei a bebida do Marco sem que ele percebesse, me senti mal por isso, mas eu não posso morrer, de forma alguma, e isso foi necessário para confirmar que tudo isso é real, os portadores, a chave, e no momento, o portador da viagem ao passado, que estava nesse shopping me focando. Seu alvo era a mim, mas como Marco foi atingido, ele iria fazer seu próximo movimento. Considerando essa como sua segunda viagem ao passado, na pior das hipóteses, ele vai fazer seu próximo movimento logo em seguida. Coloquei minha mão no pescoço de Marco para sentir seu pulso, felizmente ele estava vivo, aquilo devia ser só um sonífero forte, eu peguei minha bolsa e chamei o segurança mais próximo, pareci desesperada para não levantar nenhuma suspeita.
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