Prevendo isso como 50% de chances de acontecer, eu não podia esperar até o 90 aparecer, afinal, ele me disse que haviam outros 9 portadores com poderes diferentes, poderia existir alguém com um poder mais eficaz do que o meu, e ele me disse também que só quem pegasse a chave, poderia ter as habilidades consigo para sempre, mas que os portadores não poderiam lutar entre si, e que quem matasse um dos portadores teria seus poderes abdicados, era proibido matar tanto por si só ou por terceiros, portanto, venceria quem fosse mais rápido, eu duvidei que seria o único a pensar na delegacia, era um pensamento óbvio, mas duvido que todos eles teriam a sorte que eu tive. Felizmente, minha irmã mora na frente da delegacia. Eu só tinha que dizer que havia aborrecido minha mãe e queria ficar lá alguns dias, ela morava sozinha com seu filho de 7 anos depois que se separou do seu marido, outro bêbado de merda, parece que nossa família nunca teve sorte nesse quesito, no entanto, eu sabia que ela não iria querer que um fracassado inútil como eu ficasse em sua casa, por isso eu tive que usar todo meu dinheiro, afinal, eu estava crente que aquela história era real, mesmo se eu ficasse sem nada (como eu já quase era) não faria diferença, porque aquela chave poderia me conceder qualquer desejo. Á partir do momento que decidi me entregar a esse objetivo esqueci toda minha humanidade, todas as regras impostas pela sociedade para me manter um cidadão vivendo dentro do ‘padrão’, eu estava preparado para matar ou morrer, aquela, eu tinha certeza, era a única chance de mudar minha vida.
Oferecendo tudo que eu tinha para minha irmã, ela me deixou ficar em sua casa por 1 mês no máximo, e eu duvidava que o tempo para escolher o candidato a guardar a chave seria maior do que isso, pelo que ele disse. Ficava todos os dias olhando através da janela do quarto onde eu fiquei, que por sorte, era bem na frente da delegacia, não exatamente na frente pra ser preciso, mas era na casa do lado da casa que ficara bem na frente, e da minha visão, dava pra ver muito bem quem entrava e saía de lá. No começo minha irmã começou a pensar que eu já tinha perdido todos os parafusos quando ela me viu espiando pela janela, mas na maioria das vezes trancava a porta do quarto e ela nem se importava com minha presença ali, desde que eu não enchesse ela ou nem sujasse a casa. Passei a observar a delegacia daquela janela por duas semanas, eu já estava angustiado, pensando que teria que ficar mais de um mês ali. Duvido que alguém estava fazendo aqui, como eu, e mesmo se alguém tivesse tido a ideia da delegacia, duvido muito que eles fariam isso! Eu era o único no momento preparado pra dar o bote, talvez eu tenha sido escolhido desde o começo para derrotar quem quer que seja que apareça com a chave, eu sentia que era especial, desde pequeno, todos os professores diziam que eu tinha um potencial enorme, mas as pessoas não acreditaram em mim, me deixaram de lado por minha aparência, mas agora era minha ascensão, a hora em que o mundo girava, eu iria esfregar na cara de todos que desacreditaram em mim, salvarei o mundo e nunca mais vou ser julgado, quem sabe, ela até volte pra mim... é claro que voltará! Eu não estava nem aí pra salvar o mundo na verdade, via a maioria dos lixos por ali como descartáveis, se pudesse botaria fogo na maioria, tudo que me importava era ser notado por ela, queria que ela me desse a segunda chance que nunca tive, e eis a oportunidade, eu ficaria dias e noites olhando por aquela janela se possível, pensei comigo, e foi o que fiz, mal dormia, comecei a tomar vários remédios para me manter acordado, ficava impaciente olhando para a palma de minha mão e para a delegacia, até que naquele domingo, finalmente aconteceu.Quando o 90 apareceu na palma da minha mão eu fiquei mais atento do que nunca, tomei vários energéticos, eu precisava descobrir quem era o keymaster, várias pessoas entravam todos os dias naquela delegacia, não seria fácil distinguir, mas certamente, pelo que calculei, a pessoa não iria sozinha, ela correria risco demais, depois de saber sobre os portadores, mas não era uma certeza, e mais, ela estaria com medo, uma pessoa inquieta e paranoica, e isso eu poderia notar facilmente usando um binóculo que havia comprado em uma loja de 1,99. Horas depois da marca ter aparecido em minha mão, notei a figura de uma mulher, junto de um homem, na frente da delegacia. Até então haviam entrado duas pessoas lá, mas uma era uma senhora de idade, e a outra pessoa parecia ser um juiz, então descartei esses dois, com a chance de estar errado fazendo um julgamento pelas aparências, afinal, eu não sabia qual o critério que usaram para escolher o keymaster, mas eu tinha certeza que não seria alguém poderoso nem uma senhora com um pé na cova, mas quando ela chegou, percebi logo que aquele era meu algo. Uma garota com cabelos louros um pouco acastanhados, ela parecia ter entre 20 e 25 anos, estava claramente abalada e apática, assim como o rapaz ao seu lado, também parecendo ter a mesma idade dela, logo notei que os dois olhavam para todos os lados antes de entrar, e foi aí que tive certeza que esses dois estavam com a chave.
Meu pensamento inicial foi o de voltar no tempo e armar uma emboscada quando eles parassem o carro a poucos metros da delegacia, mas isso seria arriscado, eu não poderia assaltar duas pessoas na frente de policiais, por esse lado, eu estava em desvantagem, acho que, se não fosse pelo meu poder, qualquer outro portador não poderia fazer nada diante de uma situação dessas, lidando com policiais, por mais que seus poderes sejam excepcionais, mas o meu poder era capaz de mudar o rumo das coisas, foi então que pensei em um modo mais seguro de agir, eu não iria ter a chave logo de início, isso seria um tanto impossível, visto que eles podem nem tê-la trazido, então pensei em voltar 10 minutos antes deles terem entrado na delegacia e denunciá-los. Inventei a desculpa de que eles eram dois drogados – ela, uma ex minha - que estavam me perseguindo e ameaçando, dei a descrição completa deles, até a roupa que estavam vestindo, com isso, os policiais não poderiam nem sonhar em desconfiar de mim. Fiz isso para mantê-los na delegacia e impossibilitá-los de futuramente, chamarem a polícia, pois eles estariam sob suspeita, e não havia meios de saírem dessa situação. Não obstante a isso, minhas ações não poderiam parar por aí, eu ainda não tinha total certeza de que um desses dois era o keymaster, então precisava confirmar, se eu abordasse dois inocentes, eu poderia voltar no tempo, é claro, para me safar, mas isso desperdiçaria meu poder, e o 90 já havia aparecido, eu não tinha tempo a perder, os outros portadores agiriam, eu não podia errar nem se quer uma vez, foi então que fiz algo que havia pensado bem antes deles terem chegado na delegacia. Na madrugada, dias antes deles chegarem, quando o movimento nas ruas estavam calmo e eu podia ouvir com clareza qualquer carro ou pessoa que se aproximasse da delegacia, criei uma peça de metal que remetia àquelas bombas usadas em filmes americanos pra se colocar embaixo de carros e explodi-los assim que alguém girar a chave de ignição, essa era uma ação necessária, coloquei um rastreador que comprei dias antes com todo dinheiro que havia sobrado, onde quer que eles fossem, eu estaria na cola e confirmaria se a pessoa era o keymaster, ou melhor, eu poderia simplesmente ir até a delegacia quando eles fossem embora e perguntar simplesmente se eles haviam ido até lá inventando uma história sobre mim, mas nem foi necessário, quando vi a garota indo embaixo do carro e tirando a peça fake que montei por lá, tive a certeza de que era ELA a keymaster. Até então eu havia usado uma viagem no tempo naquele dia, consegui com sorte colocar o dispositivo embaixo daquele corola rapidamente enquanto eles estavam na delegacia, se ela soubesse de mim ou do meu poder, ela presumiria que eu usei ele duas vezes, uma para avisar os policiais, e a outra para colocar a ‘bomba’ embaixo do carro. Mas com ela descobrindo a peça, meus planos foram apenas aprimorados. Quando os dois foram até o shopping, percebi que estavam querendo se esconder. Eu devia agir agora ou algum outro pegaria meu lugar, tinha que conseguir a chave mesmo que eu tivesse que tomar ações que me colocariam em risco, foi então que usei a viagem no tempo pela segunda vez naquele shopping, esperei para ver se eles iriam comer ou beber algo, e quando vi que eles pediram bebidas no Starbucks, voltei no tempo e consegui colocar um sonífero potente que minha irmã tinha em sua casa, nessa, eu dei sorte, dei sorte também porque quando a atendente chamou pelos dois nomes, eles estavam tão desatentos que nem perceberam que eu mesmo peguei suas bebidas e levei até suas mesas, eles apenas olhavam um no outro, eu estava vestido formalmente com uma camisa social e calças pretas, eles pensaram que se tratava de um atendente de lá ou então de um cliente fazendo uma boa ação, e no meio do percurso até sua mesa, coloquei o sonífero em pó no café da garota, afinal, ela era meu alvo, seu nome era Naiara. Feito isso, ela desmaiaria em poucos minutos depois de um gole, e antes mesmo de voltar no tempo no shopping, eu já tinha pensado em tudo, peguei uma faca de cozinha na casa da minha irmã assim como meu revólver, e observei antes de entrar, o local onde as ambulâncias paravam no estacionamento, se ela desmaiasse com o sonífero, certamente uma ambulância iria conduzi-la até o hospital, e essa era minha chance. Quando vi que quem havia desmaiado era o seu amigo ou seja lá o que fosse, percebi rapidamente que ela havia notado a situação, ela usou ele pra se safar, e naquele instante, tive medo. Eu não estava lidando com qualquer um por aí. Corri até o estacionamento esperando a ambulância chegar, felizmente, havia apenas um motorista e uma enfermeira no veículo, os bombeiros do shopping iriam conduzir o rapaz para dentro da ambulância, e pelo que previ, depois de saber tudo, a garota iria acompanha-lo, afinal, ela também queria me pegar. Eu entrei na ambulância e cortei a garganta do motorista sem que ele pudesse reagir, joguei seu corpo embaixo do banco e vesti seu boné, se me notassem, eu estaria encrencado, mas ainda tinha uma viagem no tempo na manga. Quando os bombeiros colocaram o rapaz na ambulância, vi pelo retrovisor do meio que a garota estava indo também, ela, a enfermeira e o rapaz. Essa era minha chance perfeita, eu não podia desperdiçar! Eu parti com a ambulância para o fim da cidade, iria leva-la até um local afastado e tortura-la até ela me dar a chave, eu também estava com meu revólver, como sempre andava com ele, mesmo quando ia até o bar, não tinha como ela me parar naquele momento, se ela estava desconfiada e pretendesse fazer algo, eu apenas voltaria no tempo, e em todo caso, como precaução, fiz uma carta antes de sair de casa, dizendo para ela me entregar a chave no determinado endereço escrito no papel. Depois de ter matado a enfermeira, uma ação necessária e que não me deixou mal de alguma forma, percebi que a polícia estava atrás da ambulância. A garota havia mesmo previsto meus movimentos. Eu havia perdido naquele dia, mas ainda tinha minha última carta na manga, aquela carta ameaçando os familiares dela. Eu não pretendia usar mais uma viagem no tempo, eu iria fugir, ou tentar, porque se eu fizesse a viagem, a carta não seria entregue para ela, e minhas ações só iriam ser em vão, visto que eu não poderia mais usar a viagem naquele dia! Então resolvi arriscar, depois de bater a ambulância no meio de um matagal, corri para fora o mais rápido que podia, felizmente, ninguém tinha me visto. Eu tirei a camisa social que tinha e coloquei uma regata que havia em minha bolsa, saí andando na outra vicinal como se fosse apenas um pedestre. Agora tudo que me restava era esperar que ela caísse naquela falsa ameaça, afinal, eu nem conhecia seus pais ou sabia quem ela era, a não ser seu nome, mas se ela for alguém que ama os pais, vai levar a chave até o endereço que dei, que na verdade nada mais é do que a casa da minha ex esposa. Eu iria ter dois desejos em um só dia.
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