Mulheres vestidas com roupas pretas. Bancos de madeira que lembram aqueles de igreja e um púlpito velho. O único som era a pregação de uma líder de orelhas pontudas, pele vermelha, unhas cumpridas e um sorriso amedrontador. “O que diabos estou fazendo aqui?” Perguntou para si mesma uma moça escondida no último banco.
— Irmãs, nosso plano de sequestrar todas as crianças da cidade está quase completo! — disse a líder — Agora precisamos discutir como faremos biscoitos com a carne delas…
“Bruxas devoradoras de crianças, era tudo que eu queria para terminar o dia!” pensou Thadeu. Não pense que as bruxas são pessoas ruins, muito pelo contrário, do mesmo modo que existem pessoas assim em qualquer lugar, também existe nesse meio. Eu mesma sou uma bruxa e odeio quem faz isso! Mas voltando aos nossos heróis… Thadeu estava mais envergonhado do que sua companheira. Quem não iria? Maquiagem branca, seios postiços do tamanho de duas melancias, uma barriga de mentira e até calcinha para ninguém desconfiar da sua verdadeira identidade! Essa era a situação dele. “Maldita seja a hora que topei estudar a arte do disfarce!” Gritou em seus pensamentos.
— João e Maria foram os únicos que escaparam de nossa receita e, para nossa infelicidade, foram os formadores das caçadoras de bruxas… maldita seja Ji Young!!!! — gritou a pregadora.
“Que hora ela vai falar o maldito código…” dizia a moça para si mesma. O seu mestre deixou claro que só poderia rolar matança quando a bruxa abrisse o bico! Kami, desde o dia que entrou para a ordem da serpente, curtia uma boa matança. Thadeu olhou para ela. Ele fez uma careta que provocou um sorriso nela. Quando Kami percebeu o deslize, fez uma expressão brava. Os dois estavam há 20 dias nessa porcaria de disfarce fingindo ser bruxas, um passo em falso e…
— Posso saber o motivo do seu sorriso? — perguntou uma bruxa.
— Irmã, cuida da sua vida que eu cuido da minha — afirmou Kami tentando forçar sua voz de velho caquético.
— Estamos aqui para prestar atenção na madre suprema, não para deixar nossa mente passear em coisas triviais! — disse a bruxa com uma voz metida, como aquelas mulheres que fingem serem chiques.
— Quem não está prestando atenção é você, ou não teria reparado no meu sorriso…
— Silêncio vocês duas, não estão vendo que estou tentando prestar atenção na madre? — gritou a bruxa da frente.
— Pelo amor de Sýnpam, calem a boca! — disse outra bruxa.
— Vocês podem parar de ficar cochichando? Não estão vendo que o plano perfeito está sendo dito pela nossa madre? — gritou outra voz.
Para infelicidade de Thadeu, todas as mulheres começaram a discutir. A madre deixou de falar. Não ter sua voz respeitada era uma afronta para sua grandiosidade. Kami teve uma crise de riso. Aquelas coisas feias brigando como se estivessem na fila do pão em terra de passa fome era divertido.
— Calem a boca!!!! — gritou a Madre.
— Você mandou a gente calar a boca? — perguntou Thadeu tentando contornar a situação que ele mesmo provocou — Não foi você que disse para ninguém ser maior que ninguém no nosso meio?
— O quê? Tem noção que meu nome é madre? Isso significa que sou superior a todas vocês, sua mula sem cabeça estúpida e…
— Espera, ela tem razão! — gritou a voz de Kami entrando na brincadeira — Você não devia tratar a gente como inferiores, somos todas iguais…
“O que diabos estou fazendo?” Pensou Thadeu. Kami sacou duas semiautomáticas de seu casaco. Os olhos dele se arregalaram. “Ela só pode estar de sacanagem!” Gritou Thadeu em seus pensamentos. Agora era tarde. Se existia um plano de sair dali sem baixas, foi por água abaixo. A luz do ambiente refletiu no cano da arma, chamando a atenção da Madre.
— Irmãs, temos uma… — antes que ela terminasse sua fala, o projétil penetrou sua testa.
A madre gritou. Ela é uma bruxa do mal, aquela coisinha pequena não a mataria. As outras, com expressões de susto, ficaram imóveis. Logo em seguida, Thadeu descarregou sua arma na direção das bruxas. Elas caíram no chão em forma de faíscas.
— Thadeu, não podemos deixar a Madre escapar! — gritou Kami.
O olhar maligno da madre era o suficiente para dizer o que estava por vim. Ela esticou seus dedos esqueléticos em direção aos nossos heróis e convocou um feitiço antigo, o famoso Fulmoj frapu vin! Raios saíram debaixo das unhas de sua mão. Kami percebeu o reflexo azul vindo em sua direção e saltou para direita. O raio atingiu o chão, causando uma pequena explosão. Pedaços de banco e piso foram arremessados para todos os lados. Thadeu não teve tanta sorte. O raio acertou a sua barriga, jogando ele contra um pilar de madeira.
— Thadeu! — gritou Kami.
— Não se preocupe comigo — respondeu ele enquanto tentava mexer a perna — pegue a maldita informação…
A bruxa não tinha só aqueles truques. Ela conhecia muito bem o estilo demônio e usaria todo seu Výnami interior para acabar com os invasores. ( Výnami é a energia que temos em nosso corpo que podemos transformar em magia). O problema do estilo demônio é que ele cobra um alto preço de bondade, fazendo seu Výnami se corromper pouco a pouco, transformando sua pessoa num ser maligno, tal como o demônio que te emprestou os poderes. A bruxa não era mais humana, mas sim um semi demônio. Para derrotá-la, a pessoa precisaria usar o estilo anjo. O problema é que Kami e Thadeu não são bruxos!
— Madre, que tal você parar com seu showzinho… — disse Kami preparando sua semi automática — e me conta de uma vez o maldito código!
— Acredita mesmo que vou dar algo tão importante para nossa ordem de graça? ….
Antes que a bruxa terminasse sua fala, Kami descarregou sua arma na cabeça da mulher. Thadeu se ergueu do chão e deu cobertura para sua amiga. Ele derrubou as bruxas da direita, dando uma oportunidade de ouro para Kami saltar para cima do palco sem ser atrapalhada pelas fanáticas. A madre se ergueu mais uma vez. Agora ela estava nervosa. Kami não deu tempo para sua inimiga pronunciar outro feitiço. Ela cravou seu salto alto na barriga da bruxa e enfiou o cano da sua arma na boca dela.
— Seu Výnami não é eterno, bruxa maldita…
Thadeu sabia o que seguiria. Kami estava descontrolada. Eles precisavam daquele maldito código. Sem conseguir fazer movimentos, ele pensou numa única solução. Ele mirou seu revólver num ângulo perfeito. A bala viajou rumo à semiautomática de Kami, desarmando sua companheira antes que ela estragasse tudo.
— Thadeu, seu filho….
A bruxa aproveitou a distração de Kami e convocou um feitiço que paralisou nossa heroína. Thadeu precisava fazer alguma coisa ou ela morreria! “Certo, respire fundo… qual órgão eu posso atirar sem matar essa bruxa miserável? Lentamente ele encheu seu pulmão de ar. Tudo ao seu redor ficou lento, quase parado por uma força divina. A bruxa não parava de se mexer. Ela movimentou todo o seu corpo para conseguir convocar uma nova magia. Thadeu continuou prendendo o ar…. Finalmente, uma oportunidade. Ele soltou o ar do seu pulmão. O seu revólver disparou e acertou o deltoide da maldita.
— Kami, põe ela para dormir!!! — gritou Thadeu.
Ela puxou uma agulha de seu bolso e enfiou na garganta da infeliz. Uma poção adentrou o sistema nervoso da bruxa, fazendo seu corpo ficar paralisado. As outras mulheres, percebendo que sua mestra não se levantaria para protegê-las, fugiu desesperadas. “Inferno, elas não podem sair desse jeito!” Pensou Kami descarregando sua arma contra as fugitivas.
Dias depois, eles se encontraram com o seu mestre. Ser o chefão da ordem não era tão fácil assim. Thadeu sabia disso e por esses e outros motivos, não queria ter tal cargo. Kami, por sua vez, via nesse cargo um meio de fazer Miragem se tornar um lugar melhor. É claro que o velho cego preferia mil vezes Thadeu como chefão, do que Kami e sua raiva descontrolada.
— Vocês dois são uma vergonha — gritou o velho cego.
O lugar era escuro, no teto havia uma estátua de cobra, e ao redor, armaduras antigas e quadros de líderes mortos. Os outros membros, de joelhos, observavam o velho corrigir seus dois discípulos. Ninguém ousaria tossir enquanto ele falava.
— Mestre, foi um erro meu… — disse Thadeu.
— Não tente assumir a culpa, foi erro meu ter sorrido bem naquele momento… — respondeu Kami.
— Calem essa boca! — gritou o cego — Vocês dois erraram. Thadeu, o que fez você se tornar um piadista? Lembro de ter treinado um assassino, não um comediante. E você, Kami, o que posso dizer? Uma assassina letal, usando sua beleza para seduzir os alvos, você já matou pessoas que nem eu sonharia em matar, mesmo assim se entregou a sua sede de sangue mais uma vez!
— Senhor… — sussurrou Kami.
— Cale sua boca, ou eu mandarei cortar sua língua! — gritou o velho e, logo em seguida, se virou para encarar uma estátua velha e empoeirada. — Nossa ordem já foi grande. Reis e rainhas morreriam em nossa mão. Éramos caçadores de monstros e, diz a lenda, que chegamos a matar um deus! Mesmo assim, Benigna Katarin Dragomir colocou tudo a perder ao nos abandonar. Ela fez Abrek nos caçar e fez com que nossa ordem se tornasse o que somos hoje, um punhado de nada. Vocês foram escolhidos por mim para consertar essa bagunça, será que me compreendem?
— Senhor, falhamos em não deixar a bruxa falar o código e erramos ao usar nossas armas para atrair atenção desnecessária à missão…
— Thadeu, pela última vez, se você tentar se desculpar de novo, eu faço você ficar cego, tal como eu… — suspirou o velho — Vocês dois me decepcionam. Mas vejo em vocês meus dois filhos, por isso lhes darei mais uma oportunidade. Amanhã revelarei o seu próximo alvo. Os nossos capitães acharam que eu devia dar esse alvo para eles, espero que eu não esteja errado, porque, se eu tiver… vocês dois morrem.
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