No final daquela tarde, quase à noite, a praça do centro da cidade estava como de costume; pessoas retornavam para as suas casas e as últimas lojas estavam fechando. Não havia muitas pessoas na rua, diferente de mais cedo que era um fervo. A praça possuía uma parte central, que havia antigamente um grande chafariz que foi demolido para dar lugar para as pessoas caminharem, e onde uma vez por mês acontece a feira de artesanato local. Em volta deste centro, haviam vários grandes canteiros de árvores nativas da região e arbustos.
De um dos arbustos começou a surgir uma luz brilhante. Aquela luz que já havia sido vista anteriormente na chegada dos dois inimigos anteriores: Rosália e Itzel. A luz, então, tomou forma e se revelou uma mulher de aparência jovem, com estatura média-baixa, pele clara, cabelos rosa claro em tom pastel, trançados e presos no alto em cada lado. Seus olhos eram simpáticos e penetrantes, em cor âmbar, e sua maquiagem era suave. De acessório possuía dois earcuff dourados com gemas penduradas que pareciam preciosas. Utilizava um collant em tons de azul e âmbar com pedras incrustadas e botas de cano curto na mesma paleta.
- OHHH! Cheguei! É real mesmo! - disse a mulher entusiasmada.
- Bem vinda Maureen! - Itzel a cumprimenta.
A chegada de Maureen ao planeta já era esperada pelo homem de cabelos verde água. Ele trouxe consigo uma blusa de manga comprida em tom de amarelo e com um ursinho estampado, para entregar a ela. A moça pegou a blusa em suas mãos e se demonstrou muito feliz.
- Ahhhh que linda! Essa blusa é a minha cara!
- Que bom! Achei que ia gostar. - Ele diz contente. - Vamos até a minha casa. - Ele anuncia e começa a caminhar na frente.
- Tá bom! - Maureen veste a blusa e começa a acompanhá-lo. Ela observa todos os lugares com atenção, os prédios, as árvores, o chão, o céu. Tudo era muito diferente de sua terra natal. - Que lindo! Deve ser bem legal morar por aqui. - ela fala para Itzel com animação.
- Ah sim! É sim.
Os dois continuaram a caminhar. Maureen observava tudo que podia; arquitetura, plantas, comportamento das pessoas… Nada escapa ao seu olhar.
- Eu estava meio preocupada. Rosália disse que aqui era horrível, cheio de monstros. E que eu seria atacada imediatamente.
- Ah! Rosália tende a exagerar um pouco.
- Inclusive, ela estava preocupada se eu te reconheceria. Pensou que você estaria desfigurado. Mas você me parece bem. - A fala de Maureen fez com que Itzel olhasse confuso para ela. Ele não se aguentou e soltou uma gargalhada alta, dado o absurdo que sua amada Rosália estaria imaginando.
Após uma caminhada de aproximadamente quinze minutos, eles param na frente de um edifício de esquina de duas torres, e dezesseis apartamentos grandes. O térreo possuía salas comerciais, era em tom de creme, rosa antigo e a área dos corredores em marrom. Próximo a ele ficava uma loja de artigos de luxo para banheiro e na outra esquina havia um posto de gasolina. O prédio também ficava próximo ao campo de futebol da cidade, porém não tanto quanto o de Adonis, já que este era mais próximo ao centro, o do rapaz era próximo ao colégio.
- UAU! Você está morando nessa casa enorme? - Maureen perguntou, impressionada com a construção.
- HAHAHAHAHA. Não é grande não. - riu Itzel com a ingenuidade dela. - Isso é um prédio. Tem várias casas nele de outras pessoas. Chamam de apartamento.
Os dois entraram no local e ele foi conduzindo até o apartamento em que estava morando. Chegando ao local ele abriu a porta. Dentro do apartamento estavam seus três colegas de quarto: Ren, que era já conhecido dono da vídeo locadora; outro rapaz de aparência bem jovial, Dylan, de olhos verdes, cabelos ondulados e castanhos, escondidos por uma touca de malha e roupas compridas de cor azul saturada e laranja; e outro homem, Kenta, alto de aparência mais agressiva, vestes pretas de couro, cabelo arrumado com gel para ficar espetado e com maquiagem preta nos olhos e boca, apresentando ainda alguns piercings nas orelhas e sobrancelhas.
Os três assistiam TV e bebiam cerveja, ao escutarem a porta abrindo logo se viraram para cumprimentar Itzel. Ren, o mais animado, levantou-se com a cerveja na mão para oferecer ao seu colega. Mas logo o cumprimento de boas vindas foi interrompido, pois os três estavam boquiabertos com a garota que Itzel havia trazido consigo.
- Você mora com humanos da Terra? - pergunta Maureen para Itzel
- Sim! Moro sim! Eles são inofensivos. - responde Itzel animado. Enquanto os dois se conversavam, Ren se aproximou de seu amigo e o puxou para o canto para tirar satisfação:
- Itzel, você não disse que tinha namorada.
- Não, ela é só uma amiga. - respondeu um pouco incomodado.
- Amiga? Pô mano, apresenta essa sua amiga aí! - pediu Dylan, o rapaz de boina.
- Essa é Maureen. Vou mostrar a cidade pra ela. Até mais. - Itzel respondeu rapidamente e já foi saindo com sua amiga em direção à porta.
Enquanto eles saíam, os três que ficaram apenas fizeram um “HUUUUMMM” em uníssono, bem alto. Itzel se demonstrou ainda mais irritado e bateu a porta com força. Maureen se espantou com a atitude de seu amigo.
- Itzel, é como Rosália disse? Você está sendo mantido em cativeiro? - pergunta ela bastante preocupada. Eis que estão sozinhos, ela aponta para os seus olhos e dá duas piscadas. - Pisque duas vezes se precisar de ajuda! - Ele encara a moça de cabelos rosa claro de maneira sem graça e dá um suspiro longo. Ele volta a caminhar e a explicar um pouco sobre sua vida no planeta.
- Eu trabalho com eles e divido o aluguel.
- O que é um aluguel? - Maureen demonstra curiosidade com os hábitos locais.
- É quando você paga para morar numa casa emprestada. - responde buscando formas simples de se fazer entender. Enquanto conversam, seu amigo Ren, claramente alcoolizado abre a janela e grita do segundo andar:
- TENHAM UM BOM ENCONTRO!
Itzel queria xingar o amigo, mas ficou tão chocado que a única coisa que conseguiu fazer foi ficar encarando a janela boquiaberto.
- Itzel, eles acham que estamos juntos? - perguntou Maureen percebendo que tinham acabado de entrar em uma situação desagradável. - Porque não fala que já tem a Rosália?
- Eu… não falo sobre minha vida pessoal. - Itzel não deu detalhes, apenas respondeu de forma simples.
Eles chegam na lancheria próxima, um lugar não muito grande, porém aconchegante e famoso na cidade. Localizado na esquina, serviam no local e também faziam várias tele entregas. Serviam a especialidade local, que era o X Salada com maionese caseira, milho e ervilha, além da carne; é claro; e do alface e vinagrete.
- Ohhh! Vamos experimentar comidas da Terra? - A moça perguntou contente.
- Vamos! Convidei Koa e Adonis também!
Os dois foram procurar uma mesa com quatro cadeiras para caberem todos. Enquanto isso, um jovem ruivo se aproximava do local. Ao ver seus amigos, abriu um sorriso e os cumprimentou animado:
- Daê! Itzel, Maureen! Como tão? - Adonis apressa o passo para chegar mais perto.
- Oi Adonis! Koa já está vindo? - Itzel pergunta.
- Ah não. Ele disse que não precisava porque você ia cuidar de mim. - Itzel não gostou de escutar aquelas palavras pois percebeu que precisaria pagar o lanche de todos sozinho, além de ter que ficar de babá.
- Senta aí! - Maureen aponta para a cadeira.
- Valeu! - o jovem respondeu puxando a cadeira e se sentando.
- Eu vou pedir o que acho que vão gostar. - Itzel começa a analisar o cardápio, já parecia bem familiarizado com o local, e, como conhecia seus amigos, saberia o melhor para escolher para eles.
- E isso é bom? - Maureen pergunta olhando a imagem do X Salada no cardápio.
- Não entendi nada. - Adonis pega o outro cardápio para ler as opções mas não entendia bem o que cada prato e bebida eram.
Itzel chama o garçom e faz o pedido para todos. Enquanto isso, Maureen começa a conversar em paralelo com o mais novo.
- Conta aí Adonis, o que veio fazer?
- Eu? Ah, tentar localizar as Potentia. - disse num tom irritadiço.
- É que pelo visto você tem a mesma idade delas, fica mais fácil. - Itzel se insere na conversa, explicando para Adonis o por quê dele ser o mais adequado para a missão.
- Mas isso não faz lógica! - o ruivo respondeu indignado. - Por que você e a Rosália não procuram? Vocês que viram! Não seria mais fácil?
- Rosália ficou apavorada, não quer mais voltar. Eu só vi a mais velha. Não fixei a aparência das outras. E no colégio fica mais fácil de procurar sendo estudante. - Itzel responde com seu sorriso simpático para persuadir o jovem.
- Tá tendi… - responde colocando as duas mãos na cabeça demonstrando irritação. - Mas cara… tô odiando a escola.
- HAHAHA, então está bem enturmado. - O homem não contém sua risada. - Acho que o que você tem que fazer é encontrar alguém com comportamento estranho.
- Todos são estranhos. Acho que tenho que procurar o contrário… - disse Adonis de maneira sarcástica.
- Você devia arranjar uma namorada. - propõe Maureen de maneira inusitada.
- QUE!??? QUE NOJO!! - Adonis grita em espanto, fazendo um escândalo na lanchonete.
- Maureen… eu não sei como isso vai ajudar na missão. - responde Itzel de maneira controlada, porém igualmente chocado com a proposta.
- Ahhh, vai ajudar a criar boas memórias! Eu tive vários na sua idade!
Os dois encararam ela seriamente, nem responderam. Maureen estava realmente desfocada da missão com sua proposta. Eles continuaram conversando e trocando ideias sobre o planeta e sobre o que estavam passando. Durante esse tempo, um garçom alto, cabelos castanhos, que devia ter por volta dos 25 anos veio trazer a bebida à mesa. A moça olhou para ele e não pôde deixar de comentar que o achou bonito.
- Chegaram as bebidas! - disse Itzel animado. As bebidas foram servidas na mesa. O líquido de cor amarelada na taça de Itzel chamou a atenção de Adonis, que perguntou:
- O que é essa bebida aí que você vai beber?
- Isso é cerveja! É para adultos. Só eu e Maureen podemos beber.
- E essa bebida preta de bolinha é o que? - O jovem perguntou enquanto via Itzel o servindo.
- Se chama refrigerante. É o que as crianças tomam. - Maureen escuta as explicações e pega a taça de Itzel para beber. Animada, acaba tomando tudo em apenas um gole. Ela acaba por sentir o gosto amargo e salgado da bebida e acaba jogando pra fora, enojada.
- QUE COISA HORRÍVEL ITZEL! - disse a jovem com repulsa devolvendo o conteúdo no copo do seu colega.
- NÃO COSPE DE VOLTA NO MEU COPO MAUREEN! - desta vez nem Itzel conseguiu manter a calma, a situação já estava passando dos limites.
- Itzel, tem mais disso? - Adonis mostra a garrafa de refrigerante vazia e colocando o pé na cadeira.
- JÁ TOMOU TUDO? - Itzel se espanta - E senta direito!
- Isso é bom? - Maureen demonstra interesse.
- Muito! - responde o ruivo.
- Traz mais dois refris. - Itzel pede ao garçom.
- Pode deixar, chefia! - o garçom anota o pedido em um bloco de notas.
A noite passa e eles bebem e comem seus lanches enquanto conversam e riem. Ao final da saída, Maureen estava com a barriga cheia de tanto comer. Itzel estava feliz de ter feito seus companheiros se divertirem, e Adonis estava animado por ter reencontrado os dois.
- Ai comi! - disse Maureen colocando a mão na barriga
- Vamos indo, então. - Itzel pagou as contas e foi seguindo caminho.
- Brigadão Itzel! Chama pra próxima! - Adonis cumprimentou os dois e saiu correndo em direção à sua casa. Itzel e Maureen caminham juntos em direção ao prédio em que ele mora.
- Essa noite você fica lá em casa.
- Ahh! Vou ser sua amiga de aluguel? - ela pergunta colocando a mão no rosto, de tão feliz.
- Haha, não. É só hoje, amanhã veremos um lugar pra você. - ele responde cortando a animação dela. - A previsão para amanhã é chuva e trovoada.
A expressão de Maureen muda e se torna mais séria, ela demonstra um sorriso como dizendo que havia compreendido a mensagem.
- Ótimo! Já vou começar a movimentação. - ela responde.
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