Depois de sua breve conversa com Miranda, Fin voltou apressado para a forja, preocupado em terminar alguns trabalhos que estavam em andamento. O som do martelo batendo no ferro ecoou pela pequena oficina enquanto ele moldava o metal quente. Clare entrou logo depois, sentindo o calor que emanava da forja. Ela cruzou os braços, observando Fin com um olhar desconfortável.
— Você não vai sair mais, né? Porque se for pra continuar com essa história de forjar e depois sair correndo, vou começar a achar que você tá se escondendo aqui de propósito. — Clare reclamou, com um tom de voz descontraído, mas com um toque de irritação.
Fin riu, limpando o suor da testa enquanto parava o martelo por um momento.
— Não, não, estou quase terminando. Só tinha que dar uma ajeitada nisso aqui e... ah, você sabe como é, né? Preciso de mais tempo com isso aqui.
Clare revirou os olhos, mas se aproximou de Fin, observando o trabalho meticuloso dele. A forja era o único lugar onde Fin parecia realmente confortável, a única coisa que o conectava com o passado que ele nunca conheceu.
— Mas você fica aqui o tempo todo, Fin. Não sai, não tem um tempo pra nada além disso. O que você vai fazer quando terminar essa... essa forja, o que será da sua vida? — Clare perguntou, com um tom curioso, tentando entender o que passava pela cabeça de seu amigo.
Fin parou por um momento, observando o ferro que estava trabalhando. Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos se afastaram e ele olhou para a parede, onde alguns instrumentos de seu pai estavam pendurados, ainda como estavam quando ele era mais jovem.
— Esta forja... — Fin começou, com um tom de voz mais sério. — Foi onde meu pai trabalhava. Miranda... ela raramente fala dele. Quando fala, só diz que ele era legal, que gostava de fazer coisas boas para as pessoas, mas nada muito específico.
Clare sentiu que a mudança no tom de voz de Fin indicava algo mais profundo. Ela se aproximou dele, apoiando a mão no ombro de Fin, tentando reconfortá-lo.
— Você nunca o conheceu, né? — Clare perguntou suavemente.
Fin assentiu com a cabeça, mas parecia desconfortável em falar sobre isso.
— Não. Eu... eu fui deixado com Miranda quando eles partiram. Não sei nada sobre meu pai e não sei se quero saber, na verdade. Eu só... eu só sei que preciso continuar aqui, porque é o único pedaço dele que eu tenho. Essa forja, os utensílios, tudo isso, sabe? — Fin falou, os olhos mirando as ferramentas com um olhar distante.
Clare ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que Fin havia dito. Ela sabia o quanto ele tentava encontrar sentido nesse legado que o conectava a um homem que nunca teve a chance de conhecer.
— Você é mais parecido com ele do que pensa, Fin. Não é só por causa da forja... é pela sua paixão. Eu vejo isso em você quando está trabalhando. Você não precisa ser uma cópia dele, mas se importar com algo, de forma tão intensa... isso, você já tem.
Fin sorriu fraco, tocando a amurada da forja.
— Talvez você tenha razão, Clare... Mas a verdade é que eu não quero perder tempo com coisas que não posso controlar. Isso aqui, eu posso controlar. Fazer armas, criar armaduras... isso me dá algo para focar, sabe? Algo para... — ele parou, pensando nas palavras. — Algo para deixar minha mente ocupada.
Clare percebeu que, apesar de tudo, Fin estava tentando encontrar seu próprio caminho, mesmo que isso fosse cercado por mistério e o peso da ausência de seu pai. Ela sabia que, em algum lugar dentro dele, havia algo que o impelia a continuar nesse caminho.
— E você? — Fin perguntou, querendo mudar de assunto, já que a conversa estava começando a ficar um pouco pesada. — O que você quer fazer quando crescer, Clare?
Clare pensou por um momento, mordendo o lábio.
— Eu quero ser chef de cozinha... — ela disse com um brilho nos olhos. — Sempre gostei de cozinhar e experimentar novos sabores. Mas você sabe, mãe é aventureira e nunca fica muito tempo em casa, e o pai fica na fazenda cuidando dos animais e da plantação. Então, eu acabo tendo que me virar sozinha em casa... não que eu me importe. Só que... às vezes, sinto falta de conversar mais com ela.
Fin a olhou com empatia. Ele sabia que a vida de Clare também não era fácil, e ela havia crescido de forma independente, assim como ele, com as suas próprias dificuldades.
— Eu sei como é... — Fin murmurou, pensativo.
Um silêncio confortável caiu sobre os dois enquanto o som da forja preenchia o ambiente. Então, algo fez Fin sorrir, e ele falou, com um tom mais leve.
— Lembra da época em que brincávamos juntos? Quando éramos mais novos, no campo atrás da vila?
Clare riu, lembrando do tempo em que as brincadeiras eram mais simples e despreocupadas.
— Ah, lembro sim! Você sempre estava com aquela armadura de papelão gigante, tentando ser um cavaleiro, e o Jhon com a espada de papelão, dizendo que era o mais forte.
Fin sorriu, fechando os olhos por um momento enquanto a memória se formava em sua mente.
Era um dia ensolarado. Clare, Jhon e eu... nós três corríamos pelo campo, fingindo que éramos heróis. Jhon, com sua espada improvisada de madeira, sempre sério e focado, enquanto eu usava uma armadura de papelão que mal me deixava me mover. Clare estava com um cajado de madeira, fazendo feitiços imaginários, como uma maga poderosa.
Lá estávamos, rindo e nos divertindo, sem saber o que o futuro nos reservava.
— Você sempre foi a maga, Clare, com o poder de... sei lá, fazer feitiços de vento com aquele cajado de madeira. — Fin falou, sorrindo para ela.
Clare revirou os olhos, mas não conseguiu evitar sorrir também.
— E você? Com essa armadura de papelão... sempre achando que estava pronto para lutar.
— E Jhon, como sempre, o líder do nosso grupo. O guerreiro que ia derrotar qualquer monstro com a espada de madeira.
Os dois riram da lembrança, mas, por um momento, o sorriso de Fin se desfez. Ele sabia que os tempos haviam mudado, mas a lembrança daqueles dias trazia uma sensação de conforto e esperança para o futuro. Mesmo sem o apoio de Jhon, ele ainda sentia que, de algum jeito, eles estavam todos juntos, em espírito.
— A gente devia fazer algo assim de novo... um dia, quando tudo isso acabar. — Fin disse, mais para si mesmo do que para Clare.
Clare, com um sorriso suave, respondeu.
— Quem sabe, Fin. Quem sabe.
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