Fin olhou mais uma vez para a forja, sua casa de metal e fogo. O calor da fornalha e o som familiar do martelo batendo nas peças eram algo que ele nunca conseguiria deixar de lado, mesmo sabendo que estava prestes a partir para uma missão perigosa. Ele vestiu uma túnica verde que dava um toque mais casual, mas sem perder a praticidade. Suas botas de couro, bem gastas pelo uso constante, completavam a roupa, prontas para a longa caminhada até o Pico da Rocha Negra.
— Acho que hoje vai ser um dia e tanto... — pensou Fin, dando uma última olhada na forja antes de sair para o restaurante de Miranda.
Ele caminhou até o restaurante, um pouco mais rápido do que o normal, como se suas pernas tivessem pressa de sair do vilarejo e começar sua jornada. O lugar onde mais passava o tempo, entre forjas e ferramentas, estava ali atrás de si. Ele sentiu um peso no peito, mas soube que era apenas o receio de deixar sua rotina para trás.
Ao chegar no restaurante, Fin empurrou a porta de madeira e entrou, anunciando sua chegada:
— Oi, estou aqui!
Ele esperava encontrar apenas Miranda, ou no máximo os dois garçons habituais. No entanto, ao olhar para o salão, viu os dois garçons - um homem alto e forte e uma mulher de cabelos castanhos e expressão amigável. Ambos estavam sorrindo e cumprimentando-o.
— Ah, Fin! Chegou cedo, hein? — disse o homem, com um sorriso amigável.
— Oi, Fin! Como vai? — a mulher também sorriu, mas parecia mais distraída, organizando algumas coisas na prateleira.
Fin respondeu com um aceno e um sorriso, mas logo seu olhar se voltou para algo mais importante.
— Onde está a Miranda? — perguntou ele, com a voz carregada de curiosidade.
O homem indicou a porta dos fundos com a cabeça.
— Ela saiu para buscar alguns ingredientes. Vai demorar um pouco. Mas a Clare já está aqui.
Fin franziu a testa, lembrando que pensava que teria que ir até a casa de Clare para buscá-la. Isso facilitaria bastante as coisas.
— Clare está na cozinha? — perguntou, aliviado.
O homem assentiu.
— Sim, ela está lá preparando as coisas.
Fin sorriu por dentro. Ainda bem que não precisarei ir até a casa dela... pensou ele, aliviado. Clare sempre teve uma dedicação impressionante ao trabalho. Era bom saber que ela estava lá, sem precisar de mais complicações.
A mulher, ainda focada nas prateleiras, olhou para Fin com um olhar curioso.
— Então, você vai sair da vila? — perguntou ela, com uma expressão de preocupação misturada com curiosidade.
Fin assentiu, ajustando a túnica.
— Sim, vou até o Pico da Rocha Negra para pegar uns ingredientes para Miranda.
O homem, que estava mais próximo de Fin, se aproximou ainda mais, com um sorriso maroto no rosto.
— Sabe... não é muito seguro lá. Lobos selvagens, sempre atacando aventureiros. Nenhum aventureiro de Rank E ou F conseguiria lidar com eles. Mas... você vai com um Rank D, né? Então deve estar tranquilo.
Fin assentiu, não preocupado com os lobos selvagens, mas mais com o fato de que o caminho até o pico não seria fácil. Ele estava determinado, mas ainda havia uma sensação de ansiedade que não poderia ignorar.
— Sim, o Rank D vai me acompanhar. Então, não deve ser tão ruim. — Fin disse, tentando parecer mais calmo.
A mulher suspirou, ainda com um olhar preocupado.
— Eu só espero que você se cuide, Fin. É uma das áreas mais perigosas da vila.
Fin sorriu levemente.
— Eu vou, pode deixar.
O homem deu uma olhada mais atenta para Fin e, com um sorriso travesso, perguntou:
— E a Clare? Ela vai junto?
Fin olhou rapidamente para a cozinha, imaginando o que ela estaria fazendo. Ele tinha certeza de que ela iria acompanhá-lo, mas não esperava ser questionado sobre isso.
— Sim, ela vai. — respondeu, um pouco desconfortável com a forma como o homem o olhava.
O homem deu uma risadinha, inclinando-se um pouco para mais perto de Fin.
— Sabe, você e a Clare têm algo aí, né? Ela gosta de você, cara.
Fin se afastou um pouco, balançando a cabeça em negação.
— Nada disso. Somos apenas amigos, ela e eu... — Fin tentou desviar a conversa, mas o homem não parecia disposto a deixar o assunto passar tão fácil.
O sorriso maroto do homem ficou mais evidente.
— Claro... só amigos... — disse o homem, com uma expressão provocativa. — Vai nessa, garanhão!
Fin ficou visivelmente corado, seu rosto vermelho de vergonha. Ele deu um passo para trás, tentando esconder seu desconforto.
— Fica quieto... — Fin resmungou, envergonhado, enquanto tentava não olhar diretamente para o homem.
O homem apenas deu uma risada e deu um tapinha nas costas de Fin.
— Fica tranquilo, eu entendo, garanhão... — disse ele, rindo baixinho.
Fin revirou os olhos, mas com um sorriso tímido ainda estampado no rosto, sem saber como reagir à provocação do homem.
Ele não queria admitir, mas uma parte dele já começava a perceber que algo a mais estava começando a surgir entre ele e Clare. Mas isso era algo que ele preferia não pensar por enquanto. Ele tinha uma missão para cumprir.
E com isso, ele se afastou, pronto para seguir em frente, sentindo o peso da expectativa sobre seus ombros.
Fin entrou na cozinha com os passos discretos de quem não queria ser notado, mas seus olhos logo se fixaram em Clare. Ela estava concentrada, mexendo em alguns ingredientes, fazendo os preparativos para a viagem. Os movimentos dela eram rápidos e meticulosos, como se a cozinha fosse um campo de batalha e ela fosse uma comandante experiente. Fin ficou ali, apenas observando, admirado.
— Ela é incrível mesmo... — pensou ele, com uma sensação de calor se espalhando pelo peito.
Clare, no entanto, percebeu que alguém a estava observando. Quando seus olhos se encontraram com os de Fin, ela deu um sorriso caloroso. Não um sorriso qualquer, mas aquele tipo de sorriso que parecia iluminar a cozinha.
— Ah, chegou finalmente, Fin! — ela disse, sem perder a concentração no que estava fazendo.
Fin, surpreso com o sorriso dela, piscou algumas vezes antes de tentar disfarçar o olhar que ainda não se afastava dela.
— Você sempre chega cedo para ajudar a Miranda? — Fin perguntou, tentando quebrar o silêncio.
Clare terminou o que estava fazendo e, com um suspiro, respondeu sem nem olhar para ele.
— Pois é, sempre não tenho nada para fazer... então decidi ajudar a Miranda. Eu sempre venho mais cedo quando ela precisa de algo.
Fin franziu a testa, curioso, mas também sentindo que sua mente estava meio confusa com o que o garçom tinha dito antes.
— Então, está pronta para a viagem? — ele perguntou, querendo mudar de assunto rapidamente.
Clare deu uma olhada na bancada, verificando os itens que ela já havia preparado.
— Sim, já terminei os preparativos. — Ela fez um gesto para a mesa, onde havia mais de vinte itens cuidadosamente organizados, cada um mais detalhado do que Fin esperava.
Ele ficou de boca aberta. Nunca imaginou que ela teria a delicadeza de preparar tantas coisas para a viagem. Ele olhou para os itens de novo, uma mistura de admiration e surpresa.
— Isso é... tudo para nós? — Fin perguntou, com os olhos fixos nos preparativos.
Clare deu um risinho, satisfeita com o impacto que causou.
— Sim, tudo para nossa viagem. Está tudo pronto, inclusive... está mais do que o suficiente.
Fin olhou novamente, um pouco preocupado.
— Mas isso não vai deixar a Miranda brava? Tanta coisa assim...
Clare simplesmente deu de ombros, sem um pingo de preocupação.
— Tudo bem, eu disse que estava preparado. Você quem vai pagar, não se esqueça! — Ela deu uma risadinha, como se tivesse feito uma piada interna.
Fin imediatamente arregalou os olhos, surpreso com o comentário. Ele ficou parado, com a expressão desconcertada, como se tivesse levado um golpe de realidade.
— O quê? Eu vou pagar por isso?! — Fin questionou, claramente desconfortável.
Clare, ao perceber o susto dele, não aguentou e soltou uma risada alta.
— Estou brincando, Fin! Não precisa se preocupar. Miranda me ajuda com o que eu preciso. — Ela tirou o avental, já se preparando para sair.
Fin olhou para ela, ainda com uma expressão de dúvida. Será que ela estava brincando? pensou, mas não teve coragem de perguntar de novo. Então, ele se virou para a porta e, enquanto ela terminava de se vestir para a viagem, Fin não pôde deixar de pensar no que o garçom tinha dito mais cedo.
“Ela gosta de você.”
Em sua mente, a frase ecoava com força. Fin balançou a cabeça, tentando afastar a ideia.
— Gostar de mim uma ova... ela me odeia, isso sim... essa víbora... — Fin murmurou para si mesmo, de forma cômica, sem que Clare pudesse ouvir.
Ele rapidamente olhou para ela novamente. Agora, Clare já estava com a roupa pronta para a viagem, vestindo algo simples, mas eficiente para o caminho até o Pico da Rocha Negra. Ela estava com um olhar determinado, pronta para o que fosse enfrentar.
— É, ela não é só uma cozinheira. Parece que também é uma aventureira disfarçada. — pensou Fin, com um sorriso discreto.
Clare olhou para ele com um sorriso nos lábios.
— Então, vamos? O Pico da Rocha Negra nos espera.
Fin assentiu, tentando esconder o nervosismo. Era hora de partir.
— Aqui estamos, no início da nossa jornada, — disse Fin, olhando para o horizonte à medida que se aproximavam da porta da vila.
Os dois seguiram em silêncio até que, ao longe, avistaram uma figura parada perto da entrada. Um homem vestindo roupas de aventureiro mágico, com uma capa e botas de caminhada robustas, aguardava pacientemente. Ele não estava usando uma armadura, o que era algo incomum para os aventureiros que normalmente usavam algum tipo de proteção, mas sua postura e confiança falavam por si.
Quando se aproximaram, o aventureiro se virou com um sorriso amigável.
— Bom dia! Sou Roderick, o aventureiro contratado para ajudá-los. Vocês devem ser Fin e Clare, certo?
— Sim, sou eu... — respondeu Fin, ainda um pouco hesitante. O aventureiro mágico não parecia tão ameaçador quanto ele imaginava.
Clare deu uma olhada rápida em Fin e piscou de leve, antes de cochichar:
— Ele parece ser de boa.
Fin, com um olhar desconfiado, respondeu no mesmo tom:
— Sim, mas vamos ficar de olho em qualquer coisa suspeita. — Ele fez um gesto cômico, levantando sua espada de madeira com um ar exageradamente sério, tentando dar uma impressão de que estava preparado.
Roderick, que já estava sorrindo de forma amistosa, olhou curioso para a espada de Fin, mas não fez nenhum comentário sobre aquilo.
— Ah, você é o ferreiro daqui, não é? — perguntou Roderick, com um leve sorriso no rosto. — Sabia que você era o único ferreiro da vila. Aliás, estava pensando em pedir para você verificar algo para mim, se puder...
Fin, que estava com a mente ocupada pensando em como ele poderia ter feito uma espada de verdade melhor que aquela, levantou a sobrancelha.
— Armadura? — pensou ele, nervoso. Será que vai pedir ajuda com armaduras? Isso sim é o meu território!
Roderick então respondeu com um tom casual:
— Na verdade, é uma espada...
Fin, sentindo a decepção tomar conta de si, deu um suspiro profundo. Ele não conseguia esconder a expressão de frustração em seu rosto.
— Espada? Ah, sério? — ele resmungou, já se preparando para examinar a lâmina. O que é que eu estou fazendo com minha vida?
Clare, vendo a expressão de Fin e entendendo sua indignação, deu-lhe um tapinha na cabeça com um sorriso divertido.
— Fica quieto, vai! Vamos lá ver logo! — ela disse, rindo da reação de Fin.
Fin resmungou mais uma vez, mas concordou em analisar a espada. Ele pegou a lâmina de Roderick e a inspecionou com olhos atentos. Depois de alguns momentos de análise, ele deu uma pequena risada.
— Essa espada aqui... — Fin começou, movendo a lâmina na luz para examinar o fio. — Precisa de um bom afiamento, pelo visto. O corte está bem irregular em alguns pontos. Deve ter pegado em algo mais duro que o esperado.
Roderick olhou surpreso, claramente impressionado.
— Caramba... você consegue ver isso apenas olhando? — Ele olhou para Fin com uma expressão de respeito. Esse moleque é bom...
Fin, que já estava se sentindo um pouco mais confiante, deu um sorriso largo.
— Claro que sim! Não sou só um ferreiro, sou o ferreiro! — Ele disse com entusiasmo, como se tivesse feito algo grandioso. Vamos lá, pessoal, hora de seguir viagem! — ele exclamou, animado com o trabalho que estava por vir.
Clare sorriu e começou a caminhar ao lado de Fin.
— Você realmente não perde a chance de se exibir, né? — ela disse com uma risadinha.
Fin olhou para ela, ainda cheio de energia, e respondeu:
— Exibir? Não, é só natural, sabe? Só faço o que sou bom em fazer.
Roderick, agora também sorrindo, deu um leve aceno.
— Bom, vamos então. O Pico da Rocha Negra nos espera.
E com isso, os três seguiram em direção ao desconhecido, com Roderick à frente como guia, e Fin e Clare mais atrás, com seus pensamentos voltados para o que estava por vir.
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