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Marca da Vontade

Capítulo 16 (Parte 3) - Herdeira de Katharos

Capítulo 16 (Parte 3) - Herdeira de Katharos

Dec 29, 2022

Oculto por uma árvore, Raimundo espiava a conversa entre as duas, perdido em perguntas inquietantes.

“Minha irmã me troca por essa garota? Ela tem o cabelo igual a mamãe.”

As suspeitas que nutria sobre aquela garota que afastava sua irmã de si foram substituídas por uma curiosidade que o espetava. O jeito de Júlia instigava mais uma vontade de se juntar à brincadeira do que qualquer incômodo anterior. A presença dela irradiava carisma como uma típica líder.

Depois de matar sua curiosidade, o garoto decidiu abandonar o voyeurismo e retornou em passos sutis para mansão Buloke. Contudo, não estava sozinho naquela prática e mal cogitou que estava na mira de observações de sua cuidadora Layla que observava de cima como uma coruja, presente em situações improváveis.

A preocupação pelos dois ficava em primeiro a qualquer coisa quando vestia aquele vestido de empregada, levava seu trabalho tão a sério que confundia o profissionalismo com um instinto materno que levava ela até ali.

(...)

 

Mesma cheia de energia, Raissa não ultrapassou o tempo habitual das suas brincadeiras com sua melhor amiga, ou “futura noiva”, devido a sua jura com Júlia. Mais tarde, após o jantar, a menina se deitou na cama para descansar, mas o efeito da Agraw ainda não tinha passado, isso fez com que fixasse seu olhar no teto da parte de baixo da beliche numa tentativa de pegar no sono por cansaço.

Todavia, duas batidas na janela auxiliaram na insônia de Raissa. A garota tomou um susto, erguendo a sobrancelha, incrédula. Só que, mais duas batidas vieram. Não tinha como desviar sua atenção, então desenvolveu a certeza que alguém estava chamando na janela. Quem podia ser? Imediatamente, ela saltou, desesperada para ver quem era, confiou que a pessoa não bateria mais, pois sabia que, mesmo com o sono pesado, Raimundo podia acordar por conta da insistência daquele barulho.

A primeira batida veio, mas quando iria vir a segunda... Raissa abriu a janela. Com isso, a garota acabou levando o segundo golpe no rosto, sendo empurrada pra trás, se equilibrando para não cair de bunda.

— Ai...

— M-me desculpa! — Era Júlia.

— Shiuuu!!! Além de me bater de graça, cê quer acordar meu irmão, sua feia? — Mesmo em cochichos, sua reclamação estava acentuada.

— É mesmo... Você tem um irmão, né?

— Você esqueceu? Poderia ter acordado ele.

— ... — A menina de dreads balança a cabeça com a mão no rosto, decepcionada consigo mesma.

— Mas, o que você tá fazendo aqui? Como você conseguiu subir?

— Devo dizer que subir em árvores acabou me ajudando a conseguir melhorar minha habilidade em escalada.

— Você subiu tudo isso de altura pra falar comigo? Por que não esperou até amanhã? Com um descuido, cê podia ter morrido!

— Isso pouco importa, Raissa. Não temos muito tempo!

— Se veio aqui trazer aquele papo de novo, veio sem motivo... — Virou a face pro lado com um evidente desconforto.

— Eu estou falando sério. As famílias serventes descobriram nossa presença no Jardim dos Desejos, teremos que sair da cidade o mais cedo possível. Caso vocês quiserem sair dessa prisão e vir com a gente...

— Não existe prisão! Por que você insiste nisso?

— Tu que acha. Você e sua mãe estão amarradas a uma realidade que vai esmagar as duas uma hora ou outra. — A frase ganha uma veracidade quando os olhos de Júlia se transformam numa luz em meio ao breu da noite, parecendo uma parte do céu estrelado. — Meus pais estão dispostos a levar vocês duas para um ambiente onde não será necessária uma adequação. Vem comigo, Raissa.

O peso daquela proposta insistente levava a garota considerá-la com mais seriedade. Por mais que abandonar parte da família fosse doloroso, chegou à conclusão que falar com sua mãe tornou-se inevitável, mas era essencial que seu pai e os líderes das famílias serventes não suspeitassem. Dado que, apesar de qualquer mágoa que tenha permanecido, ela ainda se importava com o bem-estar de Júlia.

— Irei falar com a mamãe.

— Perfeito!

— Até quando posso te dar essa resposta?

— Amanhã à noite. Estaremos na passagem na caverna lhe esperando.

A Buloke assente engolindo em seco, ao mesmo tempo que a menina aventureira descia da janela com uma agilidade e diligência impressionantes, tal como uma pessoa sorrateira que a vida forçava ela a ser.

Então, ela partiu, deixando um nó no peito de Raissa. Sem dizer nada, a menina cerrou o punho e ergueu o olhar em uma profunda introspecção.

“Se a mamãe falou com tanto carinho deles, por que eles são perseguidos? Não entendo...”

A história, além de convincente e real, guardava mistérios tão obscuros que talvez a resposta estivesse longe de uma garotinha de cinco anos de idade desvendar com tanta facilidade assim. A certeza que Raissa guardou consigo desde quando fechou a janela e deitou em sua cama era que precisava conversar com alguém sobre isso.

Em contrapartida a convicção da irmã, na cama de cima da beliche, Raimundo estava desperto com os olhos bem abertos enquanto tentava acreditar naquilo que tinha acabado de acontecer.

“Por que essa garota quer levar a maninha embora? Tenho que contar isso pro papai o quanto antes.”

Tomado pela preocupação com sua irmã, Raimundo adotou a decisão de tomar essas medidas protetivas sem hesitar no dia seguinte, já que confiava em seu pai como um verdadeiro herói que garantia a segurança da família.

 

 

O dia passa, sendo assim, a luz azul da cortina dos irmãos invade o quarto de levinho, porém, Raissa já havia levantado da cama e fechava a porta arrumada. Torcia para que Layla estivesse chegado logo, dado que guardava a maioria dos seus segredos com a cuidadora que tinha conhecimento de quase todos os passos da garota. À vista disso, ela atravessou os corredores, verificou os fundos da casa onde ela permanecia frequentemente nos últimos dias e, ao não encontrar Layla, dirigiu-se à cozinha.

Lá estava ela, do lado de Luiz Buloke, seu pai, que estava terminando de preparar seu café da manhã e assim, virou-se para sua filha com a mãos ocupadas com um pratinho cheio de refeições e um café com leite.

— Bom dia, filhota! Acordou cedo pra quem está de férias, hein.

— Pois é. Acabei tendo um pesadelo infernal que destruiu com meu sono. — Pensou na primeira desculpa para despistar qualquer suspeita das suas ações.

— Caramba... Espero que melhore com o passar do dia. Brinque bastante, viu?

— Pode deixar.

O sorriso sem graça que ela retrucou, era um contraste discrepante da energia positiva que seu pai genuinamente apresentou para confortá-la. Apenas esse detalhe, fora o suficiente para Layla perceber que tinha algo de errado com a jovenzinha. E, na troca de olhares que tiveram quando o patriarca saiu do cômodo, Layla aproximou-se e questionou baixinho:

— Quer conversar?

Raissa confirmou lentamente com a cabeça. Assim, elas se encaminharam para a sala de hóspedes onde não teria a presença de ninguém naquela hora da manhã.

 

Depois de fechar a porta, elas estavam livres para ter uma conversa intima que não fugisse daquelas dependências. Layla sentou-se ao lado da criança, segurando a mão dela para lhe transmitir segurança. Apertou os olhos como se tivesse pronta para escutá-la.

— Assim, tia Layla... eu conheci uma garota muito legal na floresta faz uns meses quando fui seguir algumas borboletas no quintal. O nome dela é Júlia, muito provavelmente cê’ já sabe dela por conta das minhas conversas com o papai e a mamãe, né?

— Sim, meu amor.

— Mas, tem uma coisa que eu escondi deles por conta de uma história que a mamãe me contou... Eu tenho medo de contar sobre isso para qualquer um, porque não sei como irão reagir... — A menina virou o corpo, ajeitando a postura, encarando a janela da alma de Layla, expôs toda a sua insegurança. — Posso confiar em você? Jura pra mim que não vai espalhar pra ninguém?

A ruiva estava acostumada a empilhar fatos sobre aquela família para manter a convivência familiar sem danos suficientes, visando não atrapalhar o crescimento de ninguém. Sendo assim, não era a primeira vez que iria esconder informações.

— Relaxa, meu amor. Titia Layla nunca faria algo para prejudicar você ou o Raimundo. Estou aqui para proteger vocês. Eu juro.

A menina respirou fundo e logo, começou seu longo desabafo.

— Essa menina é uma Valente. Sabe o povo de Cygnus que veio para Sagitta?

— Sei sim. Inclusive, toma cuidado que ouvi seu pai falando no telefone que as famílias estão indo atrás de um grupo rebelde de Valentes que está rondando a cidade.

— Está? Como assim? — Sentiu uma pontada no peito.

— Talvez não seja o grupo da sua amiga, dado que ainda residem muitos Valentes pelo país vivendo normalmente. A informação é que estão atrás de um grupo que possui ligação com um ataque em Carpe Diem que vieram pra cá.

“Será que tem alguma coisa a ver com a pressa dela?”

A menina estremeceu, entretanto, manteve firme o esclarecimento da empregada. Assim, deixou os pensamentos irem ao vento por um instante.

— Olha, não sei se tem algum envolvimento. Mas, alguns dias atrás, ela convidou a mim e a mamãe, que somos descendentes de Valentes para fugir junto dela... Eu não entendo o que isso quer dizer, e nem sei se devo falar isso com a mamãe. O que eu faço?

— Nossa, Raissinha... Você tem guardado tanta coisa consigo. — Não obstante, Layla salta na menina Buloke lhe concedendo um abraço aconchegante. — Vai ficar tudo bem, ok?

— A mamãe também me contou chorando sobre os Valentes enquanto alisava meu cabelo, não consigo entender a razão dessa tristeza. E por que a Júlia não pode andar normalmente por aí como eu? É uma guerra de tanto tempo, isso já devia ter sido esquecido.

— Infelizmente pagamos por ações que não tem nada a ver com a gente e temos que evitar o confronto para sobreviver. É isso o que sua mãe passa. Porém, caso você esteja balançada, pode conversar abertamente com ela sobre o que está rolando.

— Será que ela não vai contar pro papai?

— Ela falou com você e ele sobre eles ou apenas contigo?

— Foi só comigo.

— Então, pronto. É um assunto entre vocês duas. Não precisa ter medo. — Layla tomou uma distância considerável enquanto colocava as mãos nos ombros da garotinha. Impondo seu conselho pausadamente. — Tenta passar o dia com sua mãe e contar pra ela no final, quando vocês estiverem sozinhas. Tenho certeza de que ela vai saber conversar contigo.

A confiança naquelas palavras deixadas pela ruiva tiveram dificuldade de serem absorvidas pela menina, que relutou um pouco com um olhar pesado, aéreo. Sendo assim, não alongou suas aspas, tentando se manter firme enquanto se ergue.

— Pode deixar. Vou até ela, tia. — Antes de sair do cômodo, Raissa ergueu-se na ponta dos pés e envolveu Layla em um abraço apertado. Em momentos como aquele, somente Layla tinha a capacidade de trazer a paz e o aconchego que norteavam ela. A gratidão que nutria pela ruiva se assemelha a dependência das marés com a força gravitacional da Lua.

Após retirar seus braços em volta da empregada, Raissa abriu aporta e logo observou seu irmão a frente do seu pai, este, que estava com um olhar absorto por uma escuridão esquisita. Naquele momento, o instante congelou e quando percebeu, a mão daquela que foi sua confidente outrora, estava puxando seu braço com força. Antes das falas ficarem inaudíveis pra Buloke, a última frase que ela escutou veio do seu pai que avançou pelo corredor.

— Layla, leva a Raissa pro quarto e não tira ela de lá. Eu preciso fazer um comunicado para o Arthur.

Era evidente que Raimundo tinha contado algum relato sobre Júlia, apesar dela não cogitar que fosse possível que ele estivesse ouvindo na noite anterior. Desse modo, a profunda agonia a cegou e construiu uma aflição que mexeu com todas as pequenas estruturas dela. Então, Raissa gritou em desespero enquanto era carregada nas costas pela empregada.

— Nãoooooo!!! Papai, nãoooooo!!!

Estava distante e impotente, podendo apenas implorar para que o pior não acontecesse com sua melhor amiga, aquela que verdadeiramente tocou seu coração nas tardes refrescantes embaixo das árvores, fugindo da luz do Sol.

“Me desculpa, meu amor. Não podemos interferir... É maior que a gente.”

A culpa de Layla não interviu no cumprimento das ordens feitas pelo seu chefe. Era apenas uma novata naquele emprego, não poderia se arriscar manchando as normas de conduta colocadas ali. Pois, acreditava que assuntos de família eram apenas assuntos de família.

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O Thi

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AoiTakashiro
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Rapaz, entendo a raiva dela pelo Luiz, mas não pela Layla? Que coisa...
É, Raimundo, mesmo inocente nessa história foi você que causou essa confusão...

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Raimundo e Raissa são dois irmãos de uma das doze famílias serventes, aquelas que recebem os poderes dos discípulos de Sândalo pelo passar das gerações. Raimundo é o primogênito da família Buloke, sendo taxado como escolhido para seguir o legado da família e proteger todos do mal. Entretanto, o mesmo não desperta as cores da sua "marca da vontade" e tenta fugir de seu destino sendo um garoto normal, porém alguns inimigos da família não querem deixar isso barato.

Autor: O Thi (@othi_oficial) - Ilustrador: Rren (@rren_san)
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