Thadeu, agachado como um cachorro, olhou debaixo da cama. Aquele cheiro de perfume de morango o fez espirrar. Com uma expressão de raiva, ele se ergueu do chão e correu para o guarda-roupa, em seguida, jogou todas as roupas para fora, causando um caos no quarto de Melina. “Nada! Onde diabos se meteu essa idiota mimada? Minha Sýnpam do céu! Se ela sumir, Malphas me mata e a operação chega ao fim!” Ele sentou no colchão e pegou o celular no bolso direito.
— Inferno, onde a filha do chefe de uma organização criminosa se meteria?
Ele respirou fundo, deixou o ar sair e colocou na sua playlist de músicas zen. “Ela só pode ter saído de noite, ou eu teria visto. Que menina maldita, como que posso ser enganado por uma sem noção, filha duma…” O som de cochichos vindo de fora do quarto o tirou de seu momento reflexivo. Thadeu saiu do quarto e encarou as empregadas fingindo que não sabiam de nada. Elas limpavam os quadros e varriam o chão com seus olhares e sorrisos maliciosos. Thadeu não deu a mínima. Pelo visto, elas já deviam saber sobre o temperamento da filha mimada do chefe. “Espere… toda jovem mimada tem amigas”.
— Você! — gritou Thadeu para uma das empregadas.
— O que foi, perdeu alguma coisa?
— Não enche o meu saco, só fala para mim o nome dos amigos da filha do chefe.
— Acha mesmo que vou ajudar você? Cada um por si, maricas.
— Tudo bem, eu resolvo.
— Onde você está indo? — perguntou a mulher com um olhar curioso.
— Tô indo falar com o chefe que a filha dele sumiu e que você não quis colaborar comigo para encontrá-la, assim não pereço sozinho.
— Espera! Tava brincando com você. É claro que sei onde ela foi.
— Você sabe onde ela foi? — rosnou Thadeu.
— Calma aí, princesa… ela só pode tá no bar do lado da rua Estêvão. O pai dela odeia esse lugar, mas o mantém vivo devido aos seus filhos.
— Por que o chefe odiaria um bar? — indagou Thadeu.
— Tá perguntando para mim? Sou só a merda da faxineira! Sua amiguinha deve saber o motivo.
— Kami? Por que ela saberia?
— Nova favorita do chefe, ela até matou uma família inteira para agradar o ego dele.
Thadeu ficou inquieto. Matar uma família… O que diabos estava acontecendo com sua amiga? Mesmo curioso, ele não podia deixar Melina para trás. Se ela matou uma família, ou não, tudo foi feito em prol da missão. Thadeu deixou o castelo e foi até o bar que a empregada disse. O bar era todo iluminado, parecia mais uma boate do que um lugar para tomar uma bebida com os amigos. Mesas espalhadas por todos os lados. Homens e mulheres com roupas duvidosas discutindo, bebendo e namorando. Thadeu sentiu nojo. Naquele lugar estava a nata dos criminosos. Traficantes, assassinos e assaltantes. Pessoas sem valores.
— Onde está essa inútil? — resmungou Thadeu.
Ele olhou nas mesas, xingando a cada um que não tinha o rosto da sua protegida. “Eu devia estar procurando uma fraqueza para matar o pai dessa inútil, não procurando por ela!” Quando ele estava prestes a desistir, uma voz familiar chamou sua atenção. Melina conversava com três mulheres numa mesa escondida no canto inferior. Ele andou a passos lentos e se escondeu atrás delas, numa mesa ocupada por mulheres bêbadas que o confundiu com uma amiga.
— Seu pai podia ter nos achado! — disse uma das mulheres.
— Mas não achou, tenho tudo sob controle — respondeu Melina.
— Tá sabendo que as facções estão prestes a entrar em guerra? Teu pai vai massacrar todas elas – afirmou a terceira mulher.
— Meu pai vinha esperando por esse momento, nunca o vi tão feliz por alguém estar querendo a cabeça dele.
— O que você acha que ele vai fazer? — indagou a segunda mulher.
— Ele vai destruir a favela onde esses comandos têm o controle — respondeu Melina.
— Muitas pessoas vão morrer, você precisa impedir que isso aconteça.
— Você acha que tenho poder para parar meu pai? Odeio ele tanto quanto vocês, mas não posso fazer nada. Ele tem super força, velocidade e consegue voar!
— Se você não o impedir, haverá sangue em suas mãos — afirmou a primeira mulher com um olhar sério.
— Meu pai poderia dominar o mundo inteiro, ele tem poder para fazer isso… mas algo o impede.
Thadeu ficou em alerta. Aquilo seria a resposta que ele vinha procurando. Uma tremenda felicidade tomou seu coração que ele nem percebeu que o olhar de Melina se virou para ele. Ela gritou. Ninguém deu a mínima, maioria estava bêbado ou drogado suficiente para não escutar nada além da música dos cantores e da bebida caindo em seus copos.
— O que você está fazendo aqui? Andou me seguindo, seu nojento!
— Quem é esse cara? — perguntou a segunda mulher.
— Ele é o guarda-costas que meu pai contratou para me seguir — respondeu Melina.
— Cala essa sua boca e…. Vocês duas, saem daqui antes que eu ligue para o chefe e conte a conversinha fiada que vocês três estavam tendo — gritou Thadeu.
Melina ficou sozinha. Thadeu sentou ao seu lado e tomou uma garrafa inteira. Ela apenas o olhou com desprezo. “Se eu pudesse, daria um tiro nessa cara debochada… inferno de missão maldita!” Ele pegou alguns petiscos e engoliu como um cachorro raivoso que acabou de ganhar um pedaço de osso. Melina não quis olhar para aquele idiota. Thadeu percebeu o desprezo e deu um soco na mesa. Melina se assustou e fez uma careta de raiva.
— Não precisa ficar com medo — disse Thadeu.
— Quem disse que estou com medo de você? — indagou Melina.
— Seu coração está batendo mais alto que um tambor.
— Cala sua boca, idiota.
— Me convença a não contar ao seu pai que vi você tendo uma conversa estranha.
— Nesse momento ele deve tá tendo uma noite agitada com sua namorada — sorriu Melina.
— Kami não é minha namorada, além disso, o nariz é dela e ela o dá a quem quiser.
— Por que você não fala palavrão?
— Posso matar, mas não xingar, regras da narradora — zombou Thadeu —, além disso, você ainda não me convenceu.
— Você é só mais um puxa saco do chefão, como posso confiar numa pessoa que tem medo dele?
— Todo mundo tem medo do seu pai, até mesmo você — disse Thadeu bebendo mais uma garrafa.
— Tá querendo ficar bêbado? — afirmou Melina tirando a garrafa da mão dele — Tem razão… tô com medo. Quem não teria medo de uma pessoa que pode destruir uma cidade inteira sem um exército?
— Touché — disse Thadeu.
— Sou filha dele, mas o odeio tanto quanto as vítimas que ele fez. Minha mãe era filha de um policial que o estava investigando. Meu pai simplesmente matou meu avô e fez minha mãe se casar com ele.
— Um monstro sem limites… — lamentou Thadeu.
— Você também odeia ele? Sinto isso em sua voz.
— Não quero falar sobre isso. Meu nobre, me traz mais duas garrafas!
— Quando eu descobri o que ele fez com minha mãe, jurei que um dia o mataria — continuou Melina, com lágrimas escorrendo pela sua bochecha.
— O que você acha que devemos fazer com ele?
— Eu não sei…
— O quê? Fumou alguma coisa?
— Não estou zombando, ele ainda é meu pai, mesmo que eu sinta ódio por ele.
— Você acabou de dizer que o odeia, mas não sabe se deseja matar ele? — zombou Thadeu.
— Minha mãe nunca contou para mim a verdade. Cresci sendo paparicada por ele… era sua princesa. Ela via minha alegria e não fazia nada. Foi só depois de sua morte, que minha avó contou toda verdade. Ela escondeu-me por todos esses anos para que eu não crescesse com traumas.
— Ela tinha sua razão — zombou Thadeu.
— Está achando graça?
— É claro que estou! A filha mimada do maior assassino do mundo está com dúvida se deve ou não matar o paizinho.
“Senhoras e senhores, nossas lindas cantoras”, gritou a voz de um homem que parecia uma mulher de Sakura (Em seu mundo, japonesa) forçando uma voz masculina. Seu rosto era feminino, mas tinha um chapéu para disfarçar a cabeleira e um terno que parecia ter sido roubado de um defunto gordo. Além de verrugas desenhadas a canetinha, um bigode mais falso que uma nota de 3 reais enfeitava o seu rosto. “Vão cantar o seu novo sucesso: Doce, Docinho!” Thadeu coçou o nariz. Aquele bar tinha música ao vivo e por que diabos tem um homem de terno num lugar daqueles? Onde ficava um pequeno palco, foi tomada por uma fumaça cor de rosa. Os homens e mulheres que estavam naquele lugar não eram pessoas boas. Ladrões, assassinos, traficantes e amantes, pessoas de má fama. O som que se seguiu não agradou os ouvidos dessa gente ruim. Alguns riram, outros apenas fitavam os olhos naquelas 5 mulheres peculiares.
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