A luta seguia com tensão; os dois lados estavam igualmente apreensivos. Maureen demonstrava possuir mais experiência, pois, mesmo em situação de adversidade, ela conseguia manter a concentração e o foco, jamais perdendo seus alvos de vista, mesmo com a névoa.
Maureen não perdeu muito tempo e lançou uma corrente de raios pelo chão, que seguia em direção à usuária de fogo. Hitomi continuava com sua estratégia de se defender dos raios, causando explosões com o fogo antes que eles chegassem perto.
A moça de cabelos rosa percebeu que precisava, rapidamente, de uma estratégia, pois os raios que havia absorvido já estavam acabando. Foi então que ela viu os cabos de energia e decidiu utilizá-los para recarregar. Com um último raio que lhe restava, ela partiu os fios de energia e começou a absorver a eletricidade. Agora, com uma fonte direta, ela poderia fazer a luta durar por muito mais tempo.
Novamente, ela ergueu suas mãos e lançou raios em direção às duas. Ela claramente já esperava o contra-ataque, que, desta vez, foi combinado entre as duas, utilizando vento e fogo para ampliar a área de impacto. O que elas não esperavam era que Maureen utilizaria o impacto para se lançar bem mais ao alto e pegá-las por cima.
Nami e Hitomi se mostraram confusas, pois não percebiam onde estava a mulher, mas sabiam que ela estaria pronta para atacá-las, e, por isso, a tensão subia cada vez mais.
— MAUREEN, DEU! — uma voz misteriosa veio ao longe. Ela escutou o chamado e cessou o ataque, mudando a direção do salto no ar e se jogando para um beco próximo, de onde vinha a voz.
— Itzel, o que tu quer? Eu tô terminando aqui! — disse ela, franzindo a testa.
— Vamos enquanto elas estão distraídas! — disse o homem, enquanto estendia a mão para ajudá-la a se levantar.
— Pra quê!? Eu consigo! — ela reclamava, mas, mesmo assim, aceitava a ajuda. Os dois começaram a fugir, saindo do local da luta. — Itzel, eu não tô entendendo o que tu quer.
— Depois conversamos.
Enquanto isso, Hitomi e Nami ainda estavam em alerta. Aos poucos, a névoa foi se dissipando, e o local foi ficando claro novamente.
— Não vejo ela… — disse Hitomi, apreensiva.
— Será que ela… se foi? — perguntou Nami.
— ONDE ESTÁ HANA? ELA ME LIGOU! — Hitomi voltou a si e lembrou que não havia visto sua filha.
— AAAHHHHHH! — Nami voltou a si. — Eu deixei ela na farmácia ao lado do mercado.
— TADINHA, ELA TÁ SOZINHA! As duas correram até a farmácia para averiguar a situação da pequena. Chegando lá, elas foram recebidas com muito entusiasmo.
— OI!!! DERROTARAM A PESSOA MALVADA? — Hana erguia os braços, querendo abraçar suas mães.
— Achei que ia estar com medo de estar sozinha. — disse Hitomi, aliviada por ela estar bem, mas incomodada pela falta de noção de perigo que sua filha tinha.
— MINHAS HEROÍNAS! — a menina repetia, emocionada.
Os funcionários da farmácia ficaram perplexos. Eles perceberam que se tratava da famosa modelo, mas, ao mesmo tempo, não acreditavam que ela poderia estar ali. Nami mantinha sua calma característica. Passados os sustos, elas foram para suas casas.
Apartamento do Itzel, 20h
Maureen foi quem abriu a porta para adentrar o apartamento. Ela a empurrou com força, e foi possível escutar a batida em vários andares do prédio. Após isso, tentou, sem sucesso, acender a luz.
— Ué? Cadê a luz? — perguntou, após apertar o interruptor repetidas vezes.
— Você deixou boa parte da cidade sem energia. Cortou o cabo principal que conduzia a eletricidade. — respondeu Itzel, sorrindo com um certo deboche.
— Sério? Aquele cabo com energia era pra isso?
— Sim! E aí!? Se machucou?
— Não, eu tô bem. — respondeu Maureen, se repousando no sofá. — Aquelas meninas… Uma era de ar. Pensei que fosse a que tu encontrou. Tentei conversar, mas, pelo visto, não era ela. Maureen deu um suspiro profundo e então encarou o homem e perguntou, incomodada. - Itzel, por que me parou?
- Que bom que tentou conversar! Eu fiquei observando a batalha. - respondeu ele, meio que trocando de assunto e levando um copo de água para ela tomar.
- Tem certeza que observou bem? Porque eu não ia perder não, não precisava me parar. - respondeu ela, seriamente enquanto aceitava a água que seu amigo servia. Itzel sentou-se ao lado dela com seu copo d'água e os dois começaram a conversar.
- Maureen, me fala… Por acaso, você se sentiu ameaçada pelos meus “amigos de aluguel”?
- Não…
- É porque não chegamos atacando eles. Já as que você lutou hoje estavam assustadas, pois já chegamos em posição de combate.
- Hum? - Maureen não compreendeu onde seu amigo queria chegar.
- Acredito que podemos cumprir nossa missão de um jeito mais pacífico.
Colégio, Segunda-feira, 15 de março, 7h40min
Mais uma semana começou no ambiente escolar. Como sempre, o barulho era intenso logo pela manhã, e a cada dia ele ia se tornando mais e mais frequente. Antes das aulas era comum que todos ficassem conversando e socializando com os colegas de outras turmas. Porém, para alguém aquela manhã havia começado de maneira bem diferente.
Uma moça de cabelos em tons dourados estava esfregando fortemente suas mãos em água corrente no banheiro feminino próximo à sala do primeiro ano.
“Droga… isso não vai sair?”, a jovem pensava com apreensão.
Ao fechar a torneira percebeu que algo continuava muito estranho: suas mãos continuavam a apresentar um leve brilho. O sinal para a primeira aula já havia tocado, mas mesmo assim, ela ficou ali, pensativa até que Aino chegou e a chamou:
- Minami! Vamos pra sala!
- Ah! Tô indo! - a jovem levou um susto, rapidamente colocou as mãos no bolso e saiu do banheiro em direção à sua turma.
A professora de Biologia percebeu que a jovem estava agindo estranhamente e perguntou se estava tudo bem. Minami disse que sim, que estava apenas um pouco gripada.
As aulas do primeiro período correram normalmente, até o momento em que tocou o sinal para o intervalo. Akiko, muito animada, convidou Yukino para lanchar com ela e Miyu.
- Yukino, você viu o apagão que teve na cidade!? Hitomi e Nami disseram que foi um ataque. - informou Miyu.
- Não chegou a cair a luz lá em casa, então não soube… Mas complicado… acho que vai ter várias.
Akiko ficou procurando pelo pátio, mas não encontrou Naoko em lugar algum. A verdade é que nenhum aluno do terceiro ano estava no pátio. Eles continuavam em sala de aula, gritando animados. O Terceirão, por já ter passado por várias gincanas, costuma ser mais tranquilo, ter alguém para cada atividade já está ótimo, pois a maior preocupação do ano é passar no vestibular.
- EU NÃO VOU PARTICIPAR DE NADA DISSO! - Naoko respondeu incomodada. - EU JÁ COLOQUEI MEU NOME NAS PERGUNTAS GERAIS.
- Naoko, a gente precisa de alguém pro basquete! - disse seu colega.
- Você é alta, se a gente achar outro, daí troca! - disse o outro.
- Ah tá! Pode ser! - cedeu Naoko.
Após o recreio foi a vez da turma do segundo ano discutir sobre a gincana. O Segundo Ano é também mais tranquilo em relação à gincana, mas ainda tem uma preocupação grande de obedecer as regras de participação e se mostra bastante competitivo.
As listas dos participantes por modalidade estavam praticamente prontas. Mas a turma estava de olho em um aluno que ainda não havia decidido onde se inscrever.
- Aí, Adonis! Já sabe no que vai se inscrever? - perguntou um aluno fazendo uma cara simpática.
- Escolhe logo, tu é bom em tudo! - disse o outro mais apressado.
- Bah, cara, sei lá, nem pensei. - responde Adonis sossegado.
- Bora pro futebol! - um convidou
- Nem vem, ele vai pro vôlei. - o outro começou a discutir.
- Não viajem, vocês! Ele vai pro Handebol! - mais um continuou a discutir.
- Ah gente, me coloquem no que quiserem, só não me incomodem! - disse Adonis desinteressado.
- ”Onde quiserem!??” - os alunos se entreolharam animados.
- Vôlei, basquete, perguntas gerais, xadrez, futebol, …. - começaram a colocar o nome dele em tudo.
- Ah, mas será que não tem modalidade que acontece junto? - um dos colegas se deu conta.
- Ah! Daí ele se vira! - o outro respondeu.
“Mas… o que eu fiz!?”, pensou Adonis embasbacado.
Em uma outra área os ânimos estavam bastante agitados e se escutava os berros e conversas de longe. O motivo de tudo era, além da idade da adolescência, a famosa Gincana Escolar. O primeiro ano ensino médio era a estreia dos alunos como líderes de equipes, e, por nunca terem estado à frente da organização, a tensão era muito maior que nas demais turmas.
Na sala 101, a auto proclamada líder de classe, que havia sido escolhida por si mesma e por seu pequeno grupo de amigas, tomava a frente para organizar as provas e seus devidos participantes. Como todo ano, a pessoa que decidiu ser a líder da gincana era autoritária e estressada, mas jurava a si mesma que era a única que poderia fazer algo, se julgava de boa comunicação e acreditava que o motivo de seu estresse era o corpo mole de todos os demais colegas - o que não era necessariamente mentira, mas também não era a verdade. O importante mesmo é que se ouvia os gritos incessantes no corredor.
- GENTE! SILÊNCIO PRA ORGANIZAR ISSO! - falava a líder como se ela mesma fosse a professora. - TÁ TUDO AQUI NO QUADRO! EU FALO O QUE É, QUEM QUER LEVANTA A MÃO. NÃO É DIFÍCIL, NÉ?
- Quero participar da abertura, torcida, handebol, vôlei, … - A primeira a se pronunciar foi Akiko, se inscrevendo para praticamente toda a lista.
- Posso participar de nada? - perguntou Aino.
- Tá Akiko… coloca o teu nome nas listas. Aino, no mínimo são duas modalidades. Não tem essa opção. - A líder da sala já começava a respirar e lidar com os diferentes tipos de alunos.
A própria líder acabou não seguindo a sua regra, e, ao invés de dizer as modalidades, começou a chamar um a um da sala e perguntava no que iam participar. Yukino pediu para participar da abertura e das artes, porque era obrigatório duas modalidades. Miyu escolheu xadrez e perguntas gerais, pois eram as modalidades que ela se sentia mais confortável.
As demais aulas seguiram, na verdade, não exatamente, já que os alunos estavam mais preocupados com a competição do que com as disciplinas.
16 de março.
Naquela manhã Minami estava atraindo os olhares de todos por onde passava. Seu figurino para os últimos dias de verão era, sem dúvida, curiosos. Touca na cabeça, cachecol, luvas, casaco cobrindo bem seu corpo e rosto. Todos estavam usando o uniforme de verão, então não tinha quem conseguisse desviar o olhar.
Continuou assim até mesmo em sala de aula, quando ela decidiu pedir para a professora para ir tomar uma água. A professora permitiu e ela então saiu, porém o tempo foi passando e passando. Preocupada, foi pedido para que Aino fosse checar como estava a garota.
Aino saiu da sala em direção aos bebedores, que ficavam próximos. A garota não viu ninguém ali e começou a perguntar onde sua amiga poderia ter ido. De repente, um choro abafado foi escutado.
“Esse choro… vem do banheiro…” Aino pensou.
Ela abriu a porta do banheiro vagarosamente e espiou com cuidado, o que ela viu a espantou.
- O que tá acontecendo? Tá piorando. eu não quero ficar assim! - Minami falava baixo entre os choros enquanto brilhava mais que nunca. Toda a sua pele estava emitindo luz.
Cuidando para não ser vista e fechando a porta discretamente, Aino saiu e voltou para sala, avisou a professora que Minami estava no banheiro e que logo voltaria, pois estava se sentindo mal por causa da gripe. Ela, então, se sentou em sua carteira, escreveu um bilhete e o entregou com urgência para sua prima, Yukino.
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