N.T. (Chuva da Escuridão)
Naquele cenário terroso e seco, Naoko estava caída e ferida no buraco que havia sido aberto no chão por Koa. O homem estava de pé olhando para ela com expressão firme, sem desviar o olhar.
— Já sei que há outras. Chame elas para lutar. — ordenou Koa.
Sentindo-se um pouco menos tonta, Naoko se ajeitou e o encarou. Apesar da dor, ela conseguia se movimentar. A jovem, então, rapidamente levantou sua mão e lançou uma espessa massa de água no rosto de seu oponente.
Koa foi atingido, a princípio não estava esperando o contra-ataque, mas mesmo assim aquilo não mexeu com suas emoções. Porém, após limpar o excesso de água, ele observou a vala onde a garota deveria estar e acabou por se deparar com o local cheio de água, o que o espantou um pouco.
"Ela virou água?", se perguntou por um momento.
Alguns segundos depois, Naoko apareceu por trás para golpeá-lo com um chute na cabeça. Koa rapidamente percebeu e usou seu antebraço direito para bloquear o golpe.
A garota se abaixou rapidamente para entrar de volta em posição de combate. Neste momento, Koa desferiu um soco em direção ao rosto dela, mas ela utilizou seu braço para defender e desviar a direção do dele. Rapidamente ele emendou um gancho com o braço direito, que foi parado por ela com um pouco de dificuldade.
Com os dois braços segurando os dele, ela novamente apelou para o chute, desta vez em direção à lateral do abdômen de Koa. O homem demonstrava ter bastante experiência em combate, e, ao invés de defender, agarrou a perna da jovem, levantou na altura do rosto dele e jogou seu corpo sobre o dela, fazendo-a perder o equilíbrio e cair com tudo no chão, machucando suas costas.
— Deu de chutes. Aquele aparelho de comunicação. Você tem? — perguntou Koa de maneira incisiva, enquanto estava com o corpo por cima do dela, segurando os punhos para que Naoko não fugisse.
O clima da cidade era instável, e um aguaceiro começou a cair de repente, em grande quantidade.
"Ela é Potentia de água... vai poder usar essa chuva... para ampliar seu alcance.", o homem pensou rapidamente e já começou mentalmente a pensar numa estratégia.
"A chuva... posso... que sorte.", Naoko também começou a pensar rapidamente em sua estratégia para poder sair daquela situação.
Os pensamentos de Naoko foram interrompidos de repente. Ela começou a sentir uma estranha pressão em todo o seu corpo, era como se cada terminação nervosa, cada músculo, estivesse sendo torturado.
A dor percorria o corpo de Naoko como se a cortasse e um grito saiu de seus lábios. Koa apenas a encarava sem remorso algum. Ela sentia aquela agonia continuamente, seu corpo se contorcia involuntariamente. Os pensamentos ainda vinham à mente, e ela buscava entender o que estava acontecendo naquela situação.
"Que dor... Absurda... Ele nem tá me apertando, só está segurando meus braços. Cada parte do meu corpo dói demais... Isso será que é... Potentia Mental?", Naoko parecia ter chegado a uma conclusão.
— Se disser o paradeiro das outras Potentia, posso diminuir sua dor. — propôs Koa.
— Eu... — murmurou Naoko e então se calou.
Uma enorme massa de água se formou logo atrás de Koa. Ele escutou o som da movimentação e olhou para trás, se assustou com o grande volume de água, que logo se aproximou e o envolveu por completo.
Desta vez quem se viu sem saída foi Koa, que ficou sem conseguir respirar e sem conseguir sair. A massa era tão espessa que sua visão ficou turva e não conseguiu enxergar nada do que acontecia fora da água.
Não muito tempo depois, o invólucro de água se desfez e Koa pôde voltar a respirar normalmente. De volta a si, a primeira coisa que ele percebe é que a mulher com quem ele lutava não estava mais ali.
A Potentia de Água, que estava sob seu controle, agora estava foragida. Não havia sinais do caminho que ela havia tomado para fugir, ele não sabia onde procurar. Desolado, ele se sentou no local, embaixo da tempestade.
"Ela usou a chuva. Tentou me afogar. Fiquei sem ar por um momento. Deixei ela escapar... Ela fez tudo isso naquele estado... A força de vontade dela... É acima da média.", refletiu Koa, solitário.
Casa de Sayuri, anoitecer.
A noite começava a despontar. As meninas mais jovens já estavam em casa, Megumi havia saído para passear, e Naoko que ainda não tinha voltado e nem dado notícias. Sayuri estava impaciente andando de um lado para outro até que Akiko apareceu.
— Akiko... Já tá tão tarde. Vocês têm notícias da Naoko? — perguntou Sayuri, esperançosa.
— Ela foi ver coisa da gincana com as meninas da sala dela! — respondeu Akiko, animada andando até a cozinha.
— Akiko... mostre um pouco de preocupação. Ela me avisou, mas mesmo assim, não achei que demoraria tanto. — disse Sayuri colocando a mão na cabeça.
Pouco depois, a porta principal da casa foi aberta de maneira tão rápida e agressiva que foi possível escutar da cozinha.
— Acho que Ghuang chegou. — disse Sayuri, se dirigindo à sala de estar.
— SAYURI! PRECISO DE AJUDA! ENCONTREI NAOKO NESSE ESTADO! — chegou Ghuang pedindo ajuda.
Ghuang entrou na sala com pressa, carregando Naoko. Suja de lama e encharcada da água da chuva da cabeça aos pés, suas pernas estavam trêmulas. A única coisa que a segurava em pé era seu espírito, pois o corpo estava prestes a desmaiar.
Sayuri, que sabia das habilidades e da força da jovem, se assustou com a cena que viu.
— NAOKO!? O QUE HOUVE!? COLOCA ELA AQUI NO SOFÁ! — exclamou Sayuri, pedindo para Ghuang acomodar a jovem e correndo para pegar os primeiros socorros.
Naoko foi colocada sentada no sofá para relaxar, estava cansada, era possível perceber que ela estava se segurando ao máximo para se manter acordada.
Ghuang ofereceu um copo d’água, Naoko agradeceu e tomou alguns goles. Sayuri se sentou ao lado dela com a maleta de primeiros socorros e colocou a mão na testa dela para ver se estava febril.
— ... O que aconteceu? Como você ficou nesse estado? — perguntou Sayuri, preocupada.
— Sayu... Surgiu... outro inimigo. Diferente. — respondeu Naoko, ofegante e de maneira pausada.
"Mais um?", pensou Sayuri, desacreditada. Ela ajudou a cuidar de Naoko, que, quando se sentiu melhor, foi tomar um banho e então seguiu para sua cama para dormir.
Planeta Finalia, na mesma noite.
— Estou aqui, senhora. Do que precisa? — perguntou Koa, que havia sido chamado com urgência para comparecer à sala principal da base de Ayami.
— LADY AYAMI PARA VOCÊ, RAPAZ. TRATE LOGO DE SE EXPLICAR! — Ayami estava enfurecida com o homem, utilizava um tom de voz autoritário e exigia explicações.
— Lady Ayami,... os demais estavam ociosos com suas missões. Apesar de eu ter sido chamado apenas para apoio, eu percebi que... — apesar de estar intimidado, Koa mantinha seu tom de voz sério e firme.
— PERCEBEU O QUÊ!? DE QUE PODERIA CHAMAR AINDA MAIS A ATENÇÃO DELAS? ELAS VÃO FICAR AINDA MAIS ALERTAS COM NOSSOS MOVIMENTOS. SUMA DAQUI! AGRADEÇA QUE NÃO IREI TE PUNIR HOJE. — Ayami interrompeu a fala de Koa e respondeu, o expulsando de sua sala.
Todos sabiam o quanto Ayami era autoritária com seus subordinados, e Koa não era diferente. Vendo que não havia outra escolha e que não seria ouvido por mais explicações que tivesse, ele saiu da sala e bateu a porta com raiva. Tudo que ele podia fazer naquele momento era segurar suas emoções.
Saindo da sala, se colocou a caminhar pelo corredor principal, quando uma pessoa se aproximou por detrás dele.
— Ora, ora.... — uma voz feminina o provocou. — Parece que alguém levou bronca da chefe.
A voz debochada se revelou ser de Yesenia, que demonstrava um sorriso irônico no rosto. Koa olhou para ela, vendo que as feridas decorrentes da última batalha ainda estavam bastante visíveis.
— .... Como estão seus ferimentos? — ele perguntou, tentando demonstrar preocupação.
Yesenia se aproximou mais e apoiou uma mão no ombro, enquanto a outra tocava no peitoral dele.
— Estou melhor, cicatrizou bem! Mas eu precisava conferir se a sensibilidade voltou ao normal. Me dá uma ajuda? — perguntou, deixando de lado seu tom de voz irônico por um mais sedutor.
Koa segurou e afastou a mão dela de seu peito. Ela o encarou com desgosto, demonstrando descontentamento com a atitude. Koa não se importou muito com a expressão dela e logo teceu comentários a respeito.
— Já pensou em parar de tratar as pessoas como objetos? Talvez parem de te tratar assim. — disse Koa, tocando em assuntos delicados.
— Vai me dar lição de moral, sendo que você é tratado como um objeto também? — Yesenia, séria, decidiu jogar verdades na cara de Koa. — Você sabe que ela não te ama. Por que se faz de tonto?
Koa continuou sério, mas calado após a declaração de Yesenia. Ele não iria continuar aquela discussão, então decidiu se retirar e deixar Yesenia falando sozinha.
Colégio, dia 25 de março
Era o período da manhã, na sala 202, do segundo ano do ensino médio. O professor ainda não tinha chegado na sala, então os alunos aproveitavam para conversarem.
Todos estavam bem animados, fazendo grupinhos com aqueles com quem mais tinham afeição. Até mesmo Adonis já tinha seu grupo, que estava sentado junto à cadeira dele conversando diversos assuntos, tanto sobre as aulas, quanto cotidianos!
— Adonis! O povo quer saber e eu vou mandar a braba. Cê é chegado em CDFs baixinhas? — um amigo dele começou a perguntar aleatoriamente.
— Sei lá, nunca pensei nisso! — respondeu Adonis com sinceridade e nem se dando ao trabalho de refletir.
— Não tá rolando nada entre tu e a menina do primeiro ano? — o mesmo amigo olhou com o canto dos olhos para Adonis, provocando.
— Que menina, cara? Do que cê tá falando? — Adonis apoiou o cotovelo na mesa e colocou o rosto de lado, levantando uma sobrancelha, demonstrando que não gostou da pergunta.
— Ah... os boatos tão rolando! Sabe que a voz do povo é a voz de Deus! — finalizou o amigo com cara de despreocupado.
"Boatos!?", Adonis sentiu que talvez devesse se preocupar com aquilo.
Colégio, dia 26 de março
Na manhã do dia seguinte o colégio continuava bastante falante e animado, mas hoje o assunto era outro.
Miyu caminhava pelo pátio na hora do recreio e percebeu que as pessoas olhavam para ela e ficavam cochichando. Ela não teria pensado que o assunto era ela, mas depois de não apenas mais três, mas dez grupos fazendo o mesmo, não teria como ela pensar diferente.
"Tem algo muito estranho rolando.", pensou Miyu, ficando apreensiva.
Logo atrás dela, Aino se aproximou bastante incomodada. Ela chamou a atenção de Miyu, a assustando.
— MIYU! PORQUE NÃO ME CONTOU NADA? — acusou Aino, que parecia indignada, como se tivesse sido traída.
— QUÊ!? DO QUE TÁ FALANDO? — Miyu respondeu no susto, sem entender.
— BLA, BLA BLA, BLA BLA BLA, BLA BLA... — Aino explicou todas as fofocas que estavam circulando na escola.
— Quê!? Não tá acontecendo nada! De onde esse povo tirou isso? O que nós tivemos juntos foram problemas! Porque ele quebrou o laboratório e eu levei a culpa junto! — respondeu Miyu, agora com raiva por novamente estar encrencada e esse problema estar envolvendo Adonis.
No outro lado do pátio, Adonis, que também era alvo dos cochichos alheios, atravessava o local cheio de estudantes e ia em direção à quadra coberta, um local reservado e sem alunos neste horário.
Adonis decidiu liberar sua irritação jogando a bola contra a parede, com força. Enquanto repetia os movimentos, ficava se questionando das coisas que aconteceram.
"ESSE POVO NÃO TEM VIDA PRÓPRIA, NÃO? SE ELES TÊM TANTO TEMPO PARA PENSAR EM BOBAGEM... POR QUE NÃO ESTUDAM?"
Indignado, Adonis colocou suas mãos no rosto, respirou, e arrastou-as pela cabeça, tirando os cabelos de seus olhos. Nisso, ele acabou olhando em direção à porta e viu Miyu entrando no local. Seus olhares acabaram se cruzando e eles se sentiram envergonhados. Ela deu as costas e saiu rapidamente de volta para o pátio.
"Droga... ela também deve ter escutado os boatos..." pensou Adonis.
Aquela manhã seguiu de maneira não agradável. Adonis e Miyu não conseguiram assistir as aulas tranquilamente por conta dos cochichos. O que aliviava era que logo a manhã acabaria e então viria o fim de semana. Rumores escolares não costumavam se estender tanto.

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