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O Enforcado

Prólogo

Prólogo

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Mental Health Topics
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A tarde transita para a noite, são 18:25. 
Marco Júnior anda pelas ruas com sua coluna torta, encara as pessoas tentando enviar um pedido de socorro com seu olhar, como telecinese. Nunca funcionou. Percorre a passarela do centro da pequena cidade rural. Branco, magro e baixo. Cabelos escuros médios desgrenhados com franja. Dentes amarelados, um bigode falhado e o olhar esbugalhado. O vento o empurra para trás com força, ele resiste. Olha para baixo, uma longa altura entre a passarela e o chão lá embaixo onde os carros passam com pressa. Sente frio na barriga e tontura e outras horas se sente atraído por lá. Quando era criança tinha muito medo de lugares altos, tinha de estar de mãos dadas para atravessar essa mesma passarela. Atualmente ele lida melhor. Ele poderia cruzar a estrada ao invés da passarela, mas é tão lerdo que seria atropelado, morrendo de forma ridícula, por isso, prefere a passarela. Passa pelo Horti-Frutti que cheira mal, passa pela delegacia dos policiais marrentos que o encaram sem motivo. Chega na escola. Tem que se apresentar para a porteira assinar seu nome na chamada, processo escolar obrigatório, ela força intimidade, o perguntando o porquê de ele faltar tanto. Ele não pode responder perguntas como essa com honestidade, essas são as regras sociais, então se faz de idiota. Sobe o andar e entra na sala.
Mantém sua cabeça colada com a parede no canto da sala, calado. Não tem nenhum amigo, alguns colegas de turma o acham estranho, mas a maioria nem percebe sua presença. Suas mãos tremem, sempre é assim em lugares públicos e lotados de pessoas, seu apelido na infância era “Treme-Treme”. Os professores às vezes esquecem seu nome ou o pulam na chamada sem querer. Ele não se incomoda, entende o motivo. Não tenta mais inverter isso, já sabe que não importa quanto tente, será sempre em vão. Essa é sua sina.
Usa fones de ouvido durante a aula, não gosta do silêncio, atrai pensamentos ruins que não deseja, memórias que queria esquecer. Sente solidão e inveja ao ver pessoas tão tranquilas e sorridentes em sua volta. Todos parecem tão facilmente alegres, mesmo que não seja verdade, ao menos transparecem isso, tudo parece tão fácil para eles . É como se todos tivessem um manual secreto de como se vive que apenas Júnior não tem. Marco Júnior tem sua infelicidade estampada no seu rosto, torto como uma carranca. Devaneia com a vida idealizada desde sua infância, uma vida alegre e divertida que nunca terá.
Terça feira: Português e Matemática. Português é interessante porque ele gosta de escrever, entretanto, odeia completamente Matemática, que surpreendentemente, já foi sua matéria favorita na infância. Sua vista é toda embaçada desde os 11 anos. Seu apelido no fundão é "caolho". Quase aperta um olho para fora para poder enxergar o quadro, parece um pirata.
Odeia ter que fazer contato visual com os professores e acenar com a cabeça, mas se tenta desvia o olhar, eles o chamam a atenção. Acham que ele não está a prestar atenção por sua cara lerda e cansada.

Horas passam. As aulas acabam.
Ele volta sozinho no meio da noite. Vê ao redor as ruas escuras, os sons que fazem a ambientação são os cantos dos grilos, os gritos dos bares e louvores das igrejas e batuques dos centros de umbanda. 
Quanta melancolia.
Caminha chacoalhando seus braços como um macaco. Quando era pequeno andava sem mexer os braços por causa de sua timidez, seu apelido era "Pinguim".
Tem costume em sentir isso em tempos mais frios e na noite. Toda volta pra casa é assim. Uma tristeza que corrói, todavia, ele não chora. Homens não choram e ele é homem. Esta é uma das únicas lições que seu pai e sua mãe o ensinaram.
Vira a esquina para sua casa, está no portão. Vira a chave e abre. Sua casa é no andar de cima. Mora em cima da casa de seu tio que tem problemas mentais. Toda sua família maternal é assim, e o pior de tudo, moram todos na mesma rua há décadas. Sua avó guarda lixo em casa com afeto, seu tio se esconde nas matas e sua tia cuida de 40 bichos, mesmo não tendo dinheiro algum para isso. Todos sofrem de depressão. Isso afetou sua infância, afeta até hoje. A casa é toda coberta por árvores, plantas e mato. Conhecidos zoam ele e sua mãe por isso, humilhante. 
Uma longa árvore, maior que as duas casas juntas, se estende no quintal e balança com o vento forte. Faz som de sopro. Sobe a escada para a casa. Sempre chega suado que nem um porco, anda rápido demais na rua por medo de ser assaltado e por não se sentir confortável em qualquer lugar que não seja fora do quarto.
Entra no seu vazio WhatsApp, há uma notificação, sua avó paterna. Enviou uma foto. Uma foto sua de quando era garoto, se apoiando a uma fina arvore. Separado dos demais primos na frente, juntos, segurando uns aos outros.
Sempre teve raízes profundas consigo mesmo, desde pequeno. Um outsider . Lembra de quando era criança, como não gostava de tirar fotos, para que quando morresse, ninguém tivesse registros de que ele realmente existiu.
Seu quarto é como um portal para outro mundo, onde está a única coisas boas que existe no mundo, arte. A mesa do quarto tem o computador, uma impressora quebrada com escaneadora e sua mesa digitalizadora onde faz seus desenhos. Ao lado uma guitarra, um ukulele e um violão apoiados na parede, onde faz seus ruídos desafinados, sua cacofonia. Seu, quase, refúgio, onde os lindos quadros de Van Gogh o acolhem.
Faz quadrinhos, músicas, desenhos e agora livros... Ironicamente, mesmo fazendo tantas coisas, não consegue ser bom em nenhuma delas, é medíocre ou ruim. Vai fazer 18 anos no ano que vem, 9 de Março. Tem muito medo desse dia. Medo de entrar para o exército, ter uma carteira de trabalho, de não pode fazer mais a única coisa que gosta . Sabe que as coisas que gosta de fazer nunca lhe trarão dinheiro ou reconhecimento, sua arte não é para todos, é estranha e até desagradável. 
Recentemente está tentando escrever livros. Já terminou um de 100 páginas, por pouco não se esgotou. Agora segue fazendo outro que se mistura com fatos de sua própria vida. Júnior é quase um analfabeto funcional, mesmo assim tenta. Lê poucos livros, sua mente é barulhenta e sempre precisa ler trechos repetidas vezes para gravar em sua mente, na maioria das vezes não consegue entrar no ritmo do livro, precisa de um esforço tremendo. Entretanto, em alguns casos, ele consegue, e quando consegue... é A Experiência. Osamu Dazai e Lourenço Mutarelli são tão queridos que ele os considera seus amigos. Ele pesquisa obsessivamente por artistas como o próprio Mutarreli, Dazai, Kentaro Miura, Arnaldo Baptista, Syd Barrett, Daniel Johnston, Inio Asano, Marian Dora e Suehiro Maruo. São tão intensas como paixões adolescentes. Isso o ajuda a ocupar sua mente turbulhenta e até se identifica com algumas dessas figuras, o fazendo se sentir menos só.
Ele está desesperadamente convertendo o roteiro de seus quadrinhos para livros também, já que nunca vai poder termina-los, é muito ambicioso e perfeccionista, por isso nunca conseguiu terminar um quadrinho. Sempre vai aumentando a proposta e longitude da obra, por isso sempre dando errado no final. Além de nunca se satisfazer com seu próprio que traço, que ainda tem muito o que melhorar, mas não pode esperar anos para isso. Tem de registrar agora. 
Também está fazendo música o mais rápido possível, não tendo tempo para aprender mixagem, o básico da teoria musical ou seus instrumentos reais que tem em casa. Faz a música pelo computador tocando instrumentos virtuais pelo teclado. Uma gambiarra estressante. Quer deixar seu simples e bobo “legado” o mais rápido possível. 
Sempre tem esse pressentimento que vai morrer em breve, muito devido ao seu histórico com a depressão, que tem desde os 10 ou 11 anos. Não consegue relaxar.
Seu sono é sempre desregulado e inconsistente, 8 ou 80, uma semana dorme 22:30 da noite e na outra 09:00 da manhã. Ultimamente tem ficado muitas horas acordado, custa muito para dormir, nunca foi assim antes, está sentindo fraqueza e está levemente delirando. Está há 20 horas sem dormir, antigamente já morria de sono só de ficar mais de 10 horas acordado. Sente muito sono, seus olhos ardem e doem. Deita na cama e não funciona, não consegue dormir, como se seu corpo negasse o belo convite de dormir oferecido pela sua mente. Corpo teimoso.
Marco Júnior tem um diário dos sonhos, costuma anotar os sonhos que lembra para, talvez um dia, usar os interessantes em um livro ou quadrinho. Júnior percebe algo, não tem se lembrado de nenhum sonho ultimamente e tem acordado bem aflito deles nos últimos dias.
Bota uma música, “Astaroth – O Alienado” . 
Vai desenhar.
Ele tenta um quadrinho curto agora, sua estimativa é de 13 páginas. Quer passar uma mensagem curta que pode ser dolorosa, porém é o que descobriu em sua adolescência. Seu processo muda muito conforme a época, assim como seus gostos. No momento, escaneia esboços que faz pelo caderno escolar do ano anterior que está praticamente vazio, novinho em folha. Na época atual, sente que esboçar é prazeroso pela liberdade de fazer o desenho escrachado e solto, arte-finalizar é um saco exceto pelas hachuras e sombrear é um pesadelo, o prego no caixão. Não sabe de onde costuma tirar suas ideias, elas só estalam em sua mente em momentos específicos, na hora do banho, antes de dormir e enquanto come alguma comida boa ou bebe álcool. O quadrinho que faz neste momento é fruto de duas garrafas de Antártica, uma brama e um adolescente bêbado se achando um poeta , enquanto digitava tudo na barra de texto do WhatsApp. Pensou em todo o roteiro em rápidos 10 minutos, o tempo parece passar bem mais devagar quando bebe, então pode ser que seja até menos, talvez tenha demorado uns 6 minutos. Enquanto digitava o roteiro, nem sabia que usaria o conto para o formato dos quadrinhos, só digitava sem saber do futuro, linha por linha, sem voltar atrás. Poderia ser para a letra de uma música, um poema mesmo ou um conto estranho para postar no Youtube, só fluiu bizarramente. Até sem bebida suas inspirações são aleatórias e chegam intensamente com picos de energia, como possessões . 

O tempo voa, já é quase manhã, 05:30, sente dor no pulso e nas costas. 
Assiste pornô antes de dormir, rotina. Está cansado, já pode dormir agora. Deita novamente, aflito. Fecha os olhos sem nem perceber, automático. Seu corpo petrifica. 
Se agarra a dois travesseiros, um para abraçar e outro para pôr entre as pernas. Uma busca desesperada por conforto físico e mental.
Finalmente dorme, depois de 27 horas acordado.

NickLuska
Lucas Réver

Creator

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