Please note that Tapas no longer supports Internet Explorer.
We recommend upgrading to the latest Microsoft Edge, Google Chrome, or Firefox.
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
Publish
Home
Comics
Novels
Community
Mature
More
Help Discord Forums Newsfeed Contact Merch Shop
__anonymous__
__anonymous__
0
  • Publish
  • Ink shop
  • Redeem code
  • Settings
  • Log out

O Enforcado

O Primeiro Pesadelo - Parte 1

O Primeiro Pesadelo - Parte 1

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Drug or alcohol abuse
  • •  Mental Health Topics
  • •  Suicide and self-harm
Cancel Continue
Ele está num campo vasto e silencioso, mas tudo ao redor é borrado, como uma pintura inacabada em aquarelas. Como seus desenhos. A brisa tem um sussurro distorcido, carregando fragmentos de vozes que se dissipavam antes que pudesse entendê-las. Levanta as mãos, um gesto lento e quase automático, como se o corpo respondesse com um atraso desconcertante. As mãos são inconsistentes em medida, surreal.
- Estou num sonho? – Pensa. 
Ele tem consciência, mas não o controle total. Força a vista para a paisagem em volta. É o quintal de seu tio, um pouco maior e com diferenças, mas é ali. Olha para trás, a enorme árvore está ali, as folhas me chamam a atenção. As folhas não são verdes, nem douradas, são um mosaico de tons escuros que se formam e desfazem em padrões indecifráveis. Eram folhas, mas também não eram. Parecem palavras, rabiscos esvoaçantes que esvoaçam ao sopro da brisa, formam frases que mudam em segundos e se apagam antes que se possa ler. Cada segundo, as palavras se rearranjam. Olho para o tronco grosso da árvore, uma massa retorcida de casca escura que parece pulsar levemente, como se a árvore tivesse um coração escondido dentro de si. No centro, há uma abertura vasta, uma fenda que se alarga. É profunda, larga o suficiente para que uma pessoa pudesse entrar sem dificuldade, como uma entrada. Momentaneamente, as coisas voltam a ser como um sonho normal, seu corpo, sem seu controle, segue até a abertura. Dentro, está tudo preto. Mesmo assim é levado até esse escuro vazio. Ele o suga como um abismo .
Tudo escurece.
Está numa sala escura.
O chão é xadrez. A visão é embaçado no sonho. Após andar um pouco procurando direção encontra uma poltrona marrom de tamanho médio. Se segura nela, se sente vulnerável nesse lugar estranho. 
Escuta passos ritmados.
Uma risada feminina e uma tosse masculina próximas dele.
- Olhe para trás. – A voz masculina diz.
Ele se vira.
Vê duas pessoas sentadas em poltronas diferentes que se contrastam, o homem na poltrona preta e a mulher na poltrona branca. Consegue identificar seus gêneros pelas roupas. O homem é totalmente trajado de vestes formais pretas. Cruza os braços. Bate o pé contra o chão, parece ansioso ou irritado. A mulher de vestes elegantes brancas. Cruza as pernas e tapeia o dedo contra a coxa, como quem espera algo. Vê apenas de seus troncos até os pés, os rostos estão obscurecidos e borrados. Não consegue erguer sua cabeça, por mais que se esforce. É em vão. Está paralisado e não consegue se controlar mais. Sente um desconforto profundo... Seria medo? Se sente incompreensivelmente à mercê. O homem gargareja. Seu corpo sozinho se força a sentar na poltrona marrom atrás dele virada para os dois. 
Se senta. Encara seus pés.
- Muito bem, iremos começar. – A mulher quebra o silêncio, com uma voz debochada. – Nos dê seu passado.
- Meu passado?
O homem ri. – Sim, seu passado.
Marco Júnior não entende. Eles riem.
- Seus traumas, seus erros, seus pecados. – Eles falam em uníssono.
Júnior confuso e intimidado, segue calado e inexpressivo.
– Tudo o que você esconde dos outros. – O homem continua. 
A mulher faz um gesto com a mão, aponta o dedo indicador, Júnior sente seus lábios, antes colados um ao outro, serem forçados a abrir.
- Que merda é essa?! –Sente a mente chacoalhar. Um clique na cabeça.
Em um único instante, diversos cortes de sua vida aparecem como flashes frenéticos. Fragmentos dispersos e quebrados que se entrelaçam brevemente antes de se dissiparem. Vê cenas rápidas e desordenadas, as imagens surgem e desaparecem com uma velocidade quase insuportável, cada uma trazendo à tona um eco de emoções e memórias que parecem se sobrepor e se confundir.
Overdose de sentimentos.
Geme em agonia.
É como ser eletrocutado. 
Sente um frio na barriga que corrói por dentro. É o peso da dor de quando se sente um trauma ou de um remorso. – Por favor, parem. – Ele clama, enquanto segura o choro e faz careta.
Eles gargalham.
A respiração pesa. O ar parece denso e difícil de engolir. Sente a dor aguda da culpa, uma dor que não é física, mas sim uma ferida profunda na alma, causada pelos atos cometidos e pelas falhas que jamais poderá apagar. Além disso, o peso dos traumas sofridos também surgem, um inseto sujo e nojento que rasteja em seu corpo como um parasita e devora seu interior. Sente todo os traumas ao mesmo tempo, tanta dor que não consegue mais pensar em nada. 
Seu corpo está agoniado e sua mente vazia agora. Baba.
- Você só acordará do pesadelo quando estivermos satisfeitos, terá de nos entregar fragmentos de seu passado. – A mulher continua.
- Comece por algo simples. - Complementa.
Com seu corpo torturado, desesperado pelo fim dessa aflição, ele tenta relembrar. 
 Sua memória é totalmente esfumaçada. Cada tentativa de trazer algo do passado à mente é frustrante, como tentar agarrar fumaça com as mãos. As imagens que surgem são indistintas, borradas, e ele se vê questionando se são reais ou invenção. Ele se observa em terceira pessoa em suas memórias, o que é impossível.
Tenta driblar Os Dois.
- Quando eu era pequeno... Eu cortei seriamente minha perna e tive que-
- Conte algo verdadeiro. – O homem interrompe. Irritado.
A mulher suspira, sentindo o mesmo.
Como? Como eles descobriram que era mentira? Marco Júnior está assustado. Talvez fosse óbvio, já o disseram antes que é um péssimo mentiroso. Ele tenta organizar sua mente, esforçando-se para recordar sua vida em um esforço quase desesperado. Decide começar pelo início de sua vida, pela coisa mais antiga sobre ele que pode lembrar. Lembra do que sua mãe o falou.
- Já na maternidade, ao ser levado para perto de outras crianças... Eu chorava incontrolavelmente. Berrava até que me levassem embora para um canto sem elas.
Júnior percebe que o fundo escuro clareia mesmo com a visão borrada, o cenário em volta das poltronas muda drasticamente, um clarão de luz os envolta. Escuta o sopro dos ventos, os sons de carros passando, crianças chorando. Então, entende. Os três no quarto são levados ao momento. O hospital de maternidade em que ele nasceu. Estão todos em um quarto, lá está uma jovem loira recebendo ajuda dos médicos no parto e sua mãe que a observa e dá apoio. Júnior paralisa com a imagem que vê. São sua mãe e sua avó.
Olha pro relógio. 11:54. Olha pro calendário, 09 de março de 2007.
A Mulher sai da poltrona e inclina sua cabeça de volta para onde está sua mãe. - Olhe seu próprio nascimento. – A Mulher diz em seu ouvido, por trás dele, segurando sua cabeça.
A cabeça do bebê Júnior sai para fora de sua mãe, a avó arregala os olhos. Júnior a encara, entretanto, ela não o corresponde, nem os médicos, nem sua mãe.
- Eles não conseguem nos ver. Fique tranquilo. – Ela coloca a mão sobre seu ombro. – Tudo isso é uma simulação de como teve ter acontecido. É tudo imaginado.
Júnior então relembra que está em um sonho, óbvio que as coisas não irão fazer sentido, se conforta com esse pensamento. A mulher aperta a mão em seu ombro apagando sua confiança.
O bebê está saindo. Seu rosto inteiro está a mostra, seus ombros vão se revelando e depois sua barriga. É tão magro.
- Vai nascer! – Os médicos repetem em uníssono.
Tensão.
Sua mãe chora de dor, mas seu olhar parece alegre.
O minuto vira. 11:55. 
O bebê sai por inteiro.
- Ele nasceu. –Eles dizem juntos, como um coral.
09 de março de 2007, às 11:55, Marco Júnior Silva Barbosa vem ao mundo. 
Júnior olha para seu eu bebê. - Você não sabe o que te espera. – Pensa em voz alta.
Os Dois esboçam sorrisos.
Seu eu bebê continua a chorar.
O cenário e as pessoas em volta se desfazer no ar. Como um desenho feito por pincel é apagado pela borracha.
- O que é isso?
- Vamos ver o que você nos disse.
O cenário em volta prossegue para dias depois.
Eles observam silenciosos, à distância, o bebê ser colocado junto às outras crianças. 
O som do choro, alto e agudo ecoa por toda a sala, interrompendo o zumbido constante da rotina hospitalar. A pequena criatura chora ainda com os olhos esbugalhados e um franzido de desconforto, talvez já saiba o que a aguarda. Os outros bebês, em seu silêncio amigável, são ajustadas. Seus olhos, já grandes e cheios de uma naturalidade assustadora, se voltam em direção ao choro do bebê, têm algo que ele não tem. 
Os pais, desconcertados, trocam olhares com os outros pais e se distanciam para não incomodar. 
O choro não é apenas a reação de quem foi retirado do conforto do útero, mas parece ser a primeira manifestação de uma angústia maior, uma prévia de uma vida onde ele será aprisionado pelos medos e pela solidão. Naqueles primeiros segundos de contato com o mundo, o bebê parece já perceber a sua posição no mundo. Ele não se encaixa com os outros, não se acalma, não se adapta. Ele não vai encontrar conforto entre os outros, nem na multidão. Seu destino, marcado desde o início, parece já estar selado. A reclusão, o medo social, a sensação de que pertence a um lugar distante dos outros, tudo isso se desenha com sutileza, na expressão de seu pequeno rosto. 
A fobia social, ainda não nomeada, se molda ali. Sua natureza está ali, oculta mas inevitável.
Júnior encara a cena com um aperto no coração. - Nunca houve como escapar disso.
Os Dois riem. Sabem do que ele está falando.
- Minha mãe se mijava na cadeira da escola para não ter que pedir a professora para ir ao banheiro. 
...
- Esta doença é genética. – Completa.
O pai e mãe de Júnior começam a discutir ali mesmo.
- Esquecemos da origem. – O Homem faz gestos misteriosos que assustam Júnior.
O Tempo volta para anos trás e passa com rapidez.
A mãe de Júnior, Luciana, foi uma mulher que passou por muita coisa na vida. Ela era a irmã do meio, entre uma menina e um menino, e para que sua irmã brincasse com ela, tinha que pagar sua mesada. Não tinha amigos. Seus pais não a cuidavam adequadamente, o que a levou a sofrer bullying e exclusão por conta de sua aparência e comportamento. Sempre se sentiu muito sozinha. Desde pequena, foi muito restrita em casa e nunca teve a oportunidade de discutir assuntos da vida, pois sua família era conservadora e fechada. Sua família materna, originária de Santa Branca, havia vivido em uma casa de barro e enfrentava extrema pobreza. Eles exibiam sinais de doenças mentais, e por isso, a mãe dele não aprendeu nada com eles e não teve uma educação familiar saudável. Seropédica, a cidade para onde se mudaram, era um lugar de grandes dificuldades. Sua família não a ensinava o básico da vida, como escovar os dentes, pentear o cabelo ou se comportar em público. Além disso, tinha fobia social na escola e sofria bullying. A família paterna, por outro lado, não era tão problemática, mas havia o distanciamento. Ela nunca foi levada diretamente para visitá-los, pois a família materna, que morava na mesma rua, era reclusa e tímida. Esse lar decadente que não oferecia afeto, estrutura ou qualquer educação moldou sua rebeldia. Seu sonho era ter um filho para criar uma família normal e presente, porém, como acontece com essas garotas criadas em lares instáveis, ela acabou se envolvendo com o primeiro rapaz que apareceu e insistiu nela, sem realmente escolher.
O pai de Júnior, Marco, cresceu em uma família grande e igualmente desestruturada. Seu pai havia o abandonado, e sua mãe, sozinha, criava diversos filhos, mas não tinha tempo nem recursos para oferecer atenção ou carinho adequados. Esa ausência de estrutura também moldou o caráter rebelde e delinquente do pai. Começou a beber quando criança e na adolescência começou com as drogas e, apesar de ter algumas amizades e relações, todas eram superficiais e não duravam muito. Recém saído de seu primeiro namoro sério quando conheceu Luciana, o relacionamento anterior terminou porque a família, crente, da menina a separou dele, por conta dos seus vícios.
Marco queria se relacionar com a irmã mais nova de Luciana, mas percebeu que ela era muito mais nova e, então, se fixou na mais velha, que era apenas dois anos mais nova que ele. Morando perto dela e sem o que fazer, desenvolveu uma fixação e não a deixou em paz até conseguir conquistá-la. Mandava cartas e perguntava tudo sobre ela para um velho da rua, Jacir. Um velho que secretamente assediava e implicava com Luciana toda vez que ela voltava da escola. Marco começou a se aproximar da Luciana, que inicialmente não tinha interesse nele. Ela estava sofrendo de desilusão amorosa por causa de um garoto da escola com quem gostava e a necessidade de desabafar e a falta de amigos os aproximaram. Marco, com segundas intenções, escutava seus desabafos e tentava impressioná-la com mentiras inventadas para parecer legal. Um jovem mitomaníaco. Naquela época, Luciana, ingênua, acreditava nas histórias.
Com o tempo, Marco passou a se inserir mais na família da mãe, conquistando a simpatia de seus pais, que o viam frequentemente, já que todos moravam perto. A mãe de Luciana incentivava o relacionamento. Quando as verdadeiras intenções de Marco ficaram evidentes e Luciana percebeu que ele inventava histórias para impressioná-la, ela se afastou dele. No entanto, como moravam perto, ele não desistiu e continuou a perturbá-la, batendo à porta da casa dela todos os dias, até em dias chuvosos, esperava dezenas de minutos para ser atendido. O pai dela não se importava que ela atendesse, mas também não incentivava, era neutro na situação. Sua mãe, por outro lado, começou a obrigá-la a atender Marco, por pena e simpatia dele. Sem escolha, ela voltou a falar com ele e, com o tempo, acabou caindo novamente em suas conversas e artimanhas. Como o garoto por quem ela estava apaixonada não a correspondia, ela começou a se envolver com Marco, e eventualmente ambos começaram a namorar.
NickLuska
Lucas Réver

Creator

Comments (0)

See all
Add a comment

Recommendation for you

  • Invisible Boy

    Recommendation

    Invisible Boy

    LGBTQ+ 11.4k likes

  • Touch

    Recommendation

    Touch

    BL 15.5k likes

  • The Last Story

    Recommendation

    The Last Story

    GL 43 likes

  • What Makes a Monster

    Recommendation

    What Makes a Monster

    BL 75.3k likes

  • Secunda

    Recommendation

    Secunda

    Romance Fantasy 43.3k likes

  • Blood Moon

    Recommendation

    Blood Moon

    BL 47.6k likes

  • feeling lucky

    Feeling lucky

    Random series you may like

O Enforcado
O Enforcado

1 view0 subscribers

Marco Júnior é um adolescente prestes a concluir seus 18 anos que tenta seguir sua vida excêntrica e solitária, todavia, começa a ser perseguido por interrogatórios oníricos que revivem seu duro passado. Em uma jornada sombria de constragimentos, confrontos e uma busca pela esperança, ele descobre que seus demônios internos podem estar mais conectados ao passado do que ele imagina. Entre a árvore que apodrece e as ilusões da libertação, Marco mergulha em um labirinto de sonhos e traumas, onde cada passo revela mais sobre sua fragilidade e insanidade.
O quanto é possível esquecer o passado e seguir em frente?
Subscribe

20 episodes

O Primeiro Pesadelo - Parte 1

O Primeiro Pesadelo - Parte 1

0 views 0 likes 0 comments


Style
More
Like
List
Comment

Prev
Next

Full
Exit
0
0
Prev
Next