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O Enforcado

O Primeiro Pesadelo - Parte 3

O Primeiro Pesadelo - Parte 3

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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- Calma que fica pior. Só aprendi a me limpar com 9 anos, tomar banho sozinho com 6.
Eles seguem rindo.
- Depois dessa época parei, nunca mais fui. Tentei de novo no sétimo ano, mas um grupo de moleques entraram no banheiro e tentaram arrombar a porta de todo mundo no banheiro. Sempre na hora errada, no local errado.
- Puta merda. Que azar. – O Homem não se contém. – Pelo menos já sabia limpar a bunda, né?
- Claro. Eu já tinha 12 anos nessa época.
O Homem ri com a seriedade da resposta.
- Eu sei que fui criado de maneira muito mimada e isso me prejudicou totalmente. Reconheço isso. Eu não sabia fazer um Nescau ou Guaracamp para mim até os 10 anos. 
A Mulher se choca.
- Minha mãe nunca se dava o esforço de me ensinar, ela me fazia esperar horas para que pudesse tomar um mínimo achocolatado ou suco depois de chegar da escola. Ela passava o tempo todo nas redes sociais conversando com pessoas e postando fotos. Minha barriga roncava e eu tentava fazer, só que sempre saía aguado.
Os Dois riem.
- Não comia na escola por vergonha e não sabia se iria gostar, via comidas diferentes das que eu comia e me sentia inseguro. Para vocês terem ideia, só fui aprender a comer feijão coado ano passado, com 16 anos.
O Homem segura sua barriga enquanto se inclina. – Puta merda, eu vou chorar de rir.
- Se eu fosse para minha vó, tinha que acompanhar minha mãe. Não poderia andar nem à frente, nem atrás, tinha que ser lado a lado. Se possível, juntinhos, para mostrar aos vizinhos a encenação de família feliz que éramos. Não podia voltar sozinho de jeito algum, tinha que espera-la sempre e nunca poderia ficar sozinho em casa. Sabe qual era distância?
- Você já disse que era na mesma rua. Qual era?
- 3 casas de distância e só virar a rua.
Risadas.
- Isso durou até meus 12 anos. Eu me sentia como aqueles gatos em jaulas de viagem, carregados pelo dono. Eu fui criado como um deficiente.
- E você não é um?
Júnior fica sem palavras. - Tem razão.
- Quanto tempo demorou para perceber os problemas entre seus pais?
- É estranho como eu já me considerava um peso desde criança. Eu pensava que eu era o responsável pelo término dos meus pais, eu não sabia do reais motivos nessa idade. Nasci com manchas na pele, que se estendiam do peito até o pulso do braço direito. Embora não fossem tão visíveis, sempre me senti desconfortável, especialmente em situações como ir para a piscina. Além disso, um dos ossos do seu ombro estava envergado ao nascer, com o tempo o osso voltou à sua posição natural, mas quando era pequeno a ponta do osso ainda se destacava de forma visível. Mesmo sendo uma criança bastante sorridente, meus complexos começaram a surgir precocemente. A autodepreciação se instalou cedo e trazendo pensamentos e ações inadequados para alguém da minha idade. Sempre que eu acompanhava minha mãe para fazer compras, cada coisa que eu queria comprar, eu perguntava se ela podia ou se não incomodaria ela. As pessoas nas lojas, e minha a mãe, achavam isso fofo, mas ninguém sabia o peso que essas perguntas carregavam. Eu sentia que era fruto de um relacionamento fracassado, não sabia os detalhes do que havia acontecido, mas sabia que minha existência estava ligada a uma série de coisas que haviam dado errado. Me senti assim dos 3 anos até os 10, repetia essas perguntas no silêncio da minha mente, pensando sobre isso.
...
- Acho que essas inseguranças também tinham a ver com as saídas frequentes da minha mãe para festas. Eu passava madrugadas esperando por ela, assistindo TV e mexendo nos tablet do meu tio, e mais tarde, no tablet que eu viria a ganhar. Durante essas festas, sua mãe se expunha a perigos. Já havia sido perseguida por um carro e, em outra ocasião, um homem bêbado tentou forçá-la a entrar no seu carro. Felizmente uma amiga próxima, Jane, a salvou, mas anos mais tarde essa mulher desapareceria. Chegava bêbada e contava essas histórias ou com um sorriso no rosto ou vomitando no banheiro e chorando. De ambas as formas, faziam impacto em Júnior. Por madrugar muito, faltava às vezes a escola. Ficava nas telas digitais até o amanhecer. Júnior não gostava muito de como ficava lugar durante a madrugada, fazia muitos estalos e som esquisitos como uma local mal assombrado como nos filmes de terror e os mosquitos quase devoravam sua carne, mais motivos para não conseguir dormir durante a noite. A TV com gato net da minha avó tinha canais livres e de madrugada passavam canais com programação adulta, foi nos cinco anos de idade que conheci a pornografia. 
O Homem esfrega as mãos como uma mosca. – Tem mais história boa vindo. – Ri.
A Mulher observa Júnior com um sorriso bisonho no rosto.
- Meu primeiro contato com essa droga foi um filme de uma asiática transando com dois homens com trajes camufladas, como de exército, não era como um pornô normal, era bem agressivo e bruto, parecia um estupro. Não preciso dizer que me chocou, eu deveria ter 5 anos, lembro até hoje vagamente de imagens do filme.
- Lembra até hoje? Gostou mesmo, hein. – O Homem brinca.
A Mulher solta risadas irônicas. 
O comentário enoja profundamente Júnior, mas ele se vê obrigado a continuar contando. É um fantoche de seu sonho. Sente-se controlado, entretanto, ao mesmo tempo, consegue falar por si mesmo, é paradoxal. 
- Seus parentes descobriram?
- Minha avó e meu outro tio, não o doente mental, o irmão da minha mãe que morava lá, me pegaram no flagra. Não sabiam o que fazer, só ficavam desconcertados. Eu ficava sem jantar, só mexendo no tablet vendo coisas estranhas pela internet e vendo pornografia pela Televisão. Nessa época já estava ficando problemático.
- E sua mãe?
- Uma vez quando voltava da balada, ela colocou a cabeça pela janela da sala e viu. Ela achou engraçado e entrou falando sobre. 
- E você?
- Eu me escondi, constrangido, debaixo do edredom, para evitar ter que falar sobre. Eu passava o dia inteiro na internet vendo coisas, me aprofundando em tudo, não era monitorado pelos parentes. Lembro que meu pai tinha um forte medo de eu ser homossexual por eu ser criado por mulheres. Não sei se era proposital, porém sinto que ele me testava me dando o celular com acesso livre à galeria recheada de pornografia. Uma vez eu mostrei isso para meu primo numa viagem e meu pai percebeu, ficou apenas rindo. Acho que ele sabia o que acontecia e facilitava isso de propósito, para me testar. Para ver se eu não era homossexual.
- Otium dat vitium .  - O Homem recita.
- Hã? – Júnior torce o rosto, confuso.
- Nada, apenas prossiga.
- Não lembro do resto.
- Você falou do seu primo antes, fale mais sobre sua relação com seus outros parentes.
- Não lembro...
O Homem aperta a blusa de Júnior e o puxa para perto de seu rosto borrado e escuro. – Oh, se lembra... – Sussurra em tom ameaçador. – Não minta para mim.
- Mentir só vai piorar. – A Mulher separa os dois com ternura. Põe a mão sobre a cabeça de Júnior com suavidade. – Diga.
Júnior se acalma.
- Eu só era próximo de um primo. 
- E o resto? 
- Distantes, muitos moravam perto, mas ainda assim... distantes. – Júnior gagueja a última palavra e, sem querer, afina a voz.
- Não esconda. – A mulher delibera em uma voz suave.
Essa afinada de voz, essa fragilidade soltada de forma indesejada, lembra Júnior. - Um ponto muito importante para minha infância é que o mundo não permite sensibilidade em homens. Ou fraqueza, como consideram. 
- Que papo é esse? Não muda de assunto. – O Homem se irrita.
- Ainda estou no mesmo assunto, isso faz parte da conversa. Eu fui um garoto criado por mulheres, tinha uma voz fina e era desengonçado, inocente e tímido. Eu era um alvo fácil.
- Um alvo fácil?
- Sim.
- O que te faziam?
- Me deram chutes, socos, boladas na cara, insultos e humilhações.
O Homem ri de canto de boca.
- Os outros que viam tudo acontecer permaneciam em silêncio, não faziam nada. Eu não entendia nessa época como eram as coisas, ficava indignado. Com o tempo passei a perceber que ninguém se envolve nos problemas dos outros e que isso é natural, mas quando se é criança você espera que tudo seja justo e se resolva.
- Como nos desenhinhos que você assistia? – Ele zomba.
- Exato.
O Homem ri.
- Tentei pedir ajuda, meu pai disse que isso era mentira e exagero meu para minha mãe, minha mãe tomou posicionamento. 
- O que ela falou?
- No início ela falou com meu pai. Ele, sendo aquela coisa, não ligou e tudo continuo o mesmo. Até que minha mãe entrou em uma discussão com o pai do garoto pelo Facebook. E eu também em certifiquei dessas coisas não acontecerem mais.
- Como?
- Para resolver isso eu mesmo, me afastei daquela maldita família paterna. Eu poderia aguentar tudo, quieto e de cabeça baixa, ou poderia escapar de tudo aquilo. Eu fugi, mas nas duas opções, coisas como essa nunca se resolvem. – Júnior inclina sua cabeça para o chão, sua voz se torna rouca após tocar no assunto. 
Júnior dá passos para trás e se afasta um pouco Dos Dois.
O Homem ri, A Mulher observa.
A vista em volta é completamente branca, preenchida pelo vazia. Exceto pelo solo contrastando pelas sombras totalmente negras dos Três. A sombra de Júnior se estende sobre o chão, em estrutura gigantesca. Sua sombra revela chifres diabólicos e uma silhueta deturpada.
Júnior olha para sua sombra. – Isso sou eu?
- Sshhh. – Os Dois o calam com um chiado uníssono.
Se aproximam lentamente, todavia, com passos barulhentos.
- O que é isso? –Júnior insiste.
Eles chegam perto.
- Non videmus manicae quod in tergo est . – Falam juntos, em harmonia.
A árvore do início do sonho é vista de baixo para cima.
Ela apodrece.
O canto de um anu-branco é escutado com distância.

NickLuska
Lucas Réver

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