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O Enforcado

A Árvore Que Apodrece - Parte 1

A Árvore Que Apodrece - Parte 1

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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Marco Júnior acorda com os estrondos vindo de baixo, seu tio soca algo em sua casa. Apanha o celular na gaveta do guarda-roupas que fica ao lado da cama. 12:00, teve 6 horas e meia de sono. É o suficiente, mas ainda sente seu corpo cansado, como se estivesse quebrado. Sua mente está tonta e por pouco ainda não está no sonho, sente como se ela fosse geleia derretida. Não consegue lembrar do sonho que teve hoje, mesmo se esforçando. Fica chateado por não ter o que anotar em seu diário de sonhos hoje.
Vai ao banheiro, começa todo dia urinando. Olha no espelho seus olhos escuros com olheiras fundas. Seu rosto parece envelhecer notavelmente com o passar dos dias, mesmo tendo apenas 17 anos. Seus braços e pernas são cabeludos, não vê o porquê de se depilar, os fios crescerão novamente logo em seguida. Tudo é em vão.
Chega na cozinha e prepara um Toddy quente. Leva o copo até a laje de casa para sentar na cadeira e ver a paisagem.
Se impacta com o que vê.
A árvore, antes enorme, que ficava no quintal da casa de seu tio, está murcha e apodrecendo. Galhos finos e fracos, antes saudáveis e grossos. Pouquíssimas folhas cinzas mortas em um formato torto, antes repletas e esverdeadas, como um gigantesco arbusto. Um tronco largo que perdeu a cor saturada e agora é só definhado e cinzento. O sopro do vento agora passa pelas arvores e não faz som algum, não há mais volume para o vento se debater, sem nenhuma interrupção, passa quase reto. Como uma mudança dessa poderia acontecer em tão pouco tempo? 
Fazia alguns dias que Júnior não olhava para ela, porém é um espaço de tempo muito curto para uma árvore apodrecer. Árvores duram dezenas ou até centenas de anos, mas essa só tem apenas 20 anos, quem a plantou foi seu próprio tio quando chegou na casa. 
Não faz sentido.
Vai até o quarto de sua mãe, Luciana, a chamando para ver a árvore. Ela se levanta e vai. Fica igualmente surpresa. Também não havia notado a árvore nos últimos dias, não sabe quanto tempo levou para ela chegar nesse estado. Fica contente com ela ter diminuído e enfraquecido, já que seus galhos e folhas estavam começando a esbarrar nos telhados e paredes da casa e também pelo fato de que será menos zoada pelos vizinhos pela imensa mata na casa deles.
- Então deve ser por isso que “o outro” está lá embaixo socando as coisas, né? – Sua mãe se refere ao tio louco dos dois, Sebastião.
- Ele até me acordou com esses barulhos.
- Você só foi acordar agora? – Luciana se indigna.
- Sim.
- Foi dormir que horas?
- Sei lá... – Júnior finge não lembrar para evitar reclamações.
- Eu sei que você deve lembrar, fala. – Ela conhece suas artimanhas.
- 05:30. – Júnior já teve noites piores, já foi dormir bem mais tarde em outras inúmeras vezes.
-Tem que dormir na hora certa.
- Eu sei. – Júnior odeia frases óbvias, ele já sabe disso.
- Vai para a escola hoje, né? – Diz em um tom sério.
- Sim. – Essa frase recorda Júnior do ano anterior, dando corda para sua tristeza.
Ele vai para o quarto e se tranca. 
Júnior é um parasita, não faz nenhuma tarefa de casa e só quebra as coisas. Apenas caga, come e dorme. Não consegue nem ir ao mercado ou padaria para comprar algo, só sai para ir para a escola por obrigação, é um confinado. É como um animal, não, é pior. Sua mãe dá-lhe puxões de orelha tenta o educar, porém, talvez seja tarde demais. Mesmo ela estando o dia inteiro na casa com ele todos os dias, afinal é desempregada há muitos e muitos anos, vivem em mundos diferentes e a distância entre eles só aumenta. Sua mãe e seu pai não tem empatia por suas dores, acreditam que tudo que seu filho passa é drama ou frescura. Já que quando estava em sua idade tinham seus amigos e suas vidas eram ruins por motivos diferentes, logo não há como entende-lo.
Se trancafia em seu quarto para escapar da realidade, e nem assim consegue totalmente, seus pensamentos ruins o invadem, as lembranças indesejadas surgem do nada em sua mente.
Seu pai diariamente manda áudios de bom dia e boa noite  pelo WhatsApp. Antigamente era obrigado visita-lo todo final de semana. Agora já tem vontade respeitada adquirida com a idade, basta responde-lo diariamente e ele não precisa o encontrar.
Marco pai o manda áudios perguntando sobre quando será o alistamento do exército para seu filho. Diz que o levará, querendo ele ou não. Júnior faz questão de não procurar, irá no último dia possível e apontará todos defeitos possíveis para os militares. Sua hérnia na barriga, seu olho que fica vesgo às vezes, sua forte miopia e outras coisas. 
Pintar meio-fio não é nada agradável para ele.
Marco manda áudios longos dizendo que ele deveria ir para o exército, fazer como seu primo fez. O primeiro da família a ir para o exército.
O maldito primo.
Seus pais estão começando a o pressionar, irônico, já que o ensinaram nada antes.
Júnior se estressa, ignora os áudios.
Nem mesmo a música estourada consegue completamente o anestesiar.
Vê em uma rede social uma menina falando sobre um site onde você pergunta algo e recebe respostas de tarot. Júnior não acredita nessas baboseiras, mas não nega a oportunidade. Nem que seja para passar o tempo. 
Entra no site. Pergunta sobre o curso de sua vida. 
Escolhe uma carta.
“O Enforcado”. Se espanta.
Além da imagem estranha, a carta representa sofrimento ou sacrifício. Júnior se frustra, não recebe notícias boas para o futuro nem dessas ferramentas supersticiosas.
Que perda de tempo.
Desenha e escreve até que a noite chegue.
Devaneia sobre uma adolescência bem vivida, namoro, amizades e viagens. Nunca terá isso.

18:28.
Ele entra na sala de aula.
Mesmo sendo um dos alunos que mais presta atenção nas aulas, tem notas vermelhas e provavelmente irá repetir novamente. Não participou de nenhum das feiras ou trabalhos grupais. Não quer sofrer humilhações novamente e nem implorar para ser aceito, isso são atitudes de pessoas fracas. Está chegando ao quarto bimestre e não teve coragem de ver o boletim online até hoje. Sente tristeza, desespero e tem a certeza que o futuro será ruim, então para que lutar? Só mantém a cabeça contra a parede da sala, enquanto senta na cadeira sozinho, esperando a hora de poder ir embora.
Quarta-Feira: matérias como Conectando indivíduo e Tecnologia, Biologia e Projeto de Vida. Odeia todos os dias, mas esse mais ainda.
O professores de Tecnologia e Biologia são os mesmos do ano anterior. A professora de Biologia, além de seu comportamento e falas humoradamente invasivo, o conhece desde o sexto ano, o que o faz lembrar da época, ele a odeia por isso. O Professor de Tecnologia dá em cima das alunas e que no início do primeiro bimestre, ao invés de o chamar pelo nome, o apelidou de “Desclassificado”, referenciando o fato de ele ter sido reprovado.
As horas passam. Júnior se agarra a si mesmo e a música que sai de seu fone. Faz caretas de agonia e se contorce involuntariamente às vezes, colegas de sala observam, achando estranho, Júnior não faz de propósito, só não consegue se controlar por tanto tempo.
A aula de Projeto de Vida começa. Mais do que uma matéria escolar, parece uma terapia obrigatória em um hospício. A professora passa folhas e quadros com questões intrusivas e nos força a responder sobre nós mesmos. Marco Júnior não pode ser sincero, não pode falar o que pensa, se não teria seus pais chamados pela diretoria. Tem que se moldar em algo bom, agradável e simpático.
A aula do dia será individual, a professora conversará com cada um dos alunos, por fila, sobre ‘adaptabilidade’.
Uma menina é escolhida, passa alguns minutos conversando com a professora. Júnior tenta analisar a conversa enquanto pensa e ensaia suas respostas em sua mente. A professora propositalmente fala baixo, sabe que é isto que os alunos fariam. Após a conversa acabar. A professora faz contato visual com Júnior, antes que ela o chame, ele já sente que se danou. Ela chama. Ele será o próximo.
Júnior segura o frio na barriga e seu desconforto, vai com pressa.
A professora o pergunta o que ele vê no sucesso e no fracasso dos outros. Ela o observa com olhos atentos, como uma águia que vê além, como se pudesse ler sua mente. Júnior se sente exposto, quase como se suas emoções mais profundas estivessem sendo vasculhadas. Ela o pergunta das vezes que teve que se adaptar, Júnior finge não lembrar, ela percebe, mas não insiste. Ele se vê preso na sua própria cabeça, tentando encontrar palavras superficiais que não revelem seu verdadeiro ser. Ela continua, desconfiada, e pergunta como ele se sente quando fracassa. Se ele tenta novamente ou se simplesmente desiste. Ele sabe o que ela espera, mas está perdido nas próprias inseguranças. A professora o encara, mais intensa agora, seus olhos como se penetrassem a alma dele. Ela vai o decifrando aos poucos, como se cada palavra que saísse de sua boca fosse uma peça de um quebra-cabeça. 
Ela pergunta se ele é capaz de pedir ajuda quando fracassa.
O simples som da pergunta o faz reviver um amontoado de lembranças ruins que ele faria de tudo para esquecer. Ele pensa no ano anterior, nos constrangimentos, nas decepções, nas derrotas. 
Lembra da sua patética tentativa de pedir ajuda, das vezes em que ninguém o ouviu. O peso de tudo isto o paralisa. 
Ele trava. Engasga com as palavras.
- Não... Não peço ajuda. – Ele sem querer se solta, a voz arrasta-se, quase um bocejo.
A professora o repreende com firmeza. - Por que você acha que, na situação contrária, ajudaria alguém, mas não pode fazer o mesmo por si mesmo? Por que não pediria ajuda quando precisa?
Júnior sente uma onda de vergonha o invadir. Ele se sente ridiculamente decifrado, como se tivesse sido exposto de uma forma que não sabia que seria possível. Cada palavra dela o machuca, mas ao mesmo tempo, ele sabe que tudo é verdade.
Um silêncio constrangedor paira.
A conversa acaba ali. 
Ela pede obrigado por ele ter ido. É meio irônico, porque Júnior não teve outra alternativa. Ele não sairia da sala correndo, nem nada assim. 
Júnior sente um alívio amargo. Essa conversa com a professora o faz sentir um incomodante Déjà-vu, como se já tivesse passado por algo parecido, só que não lembra. 
Ele pode ir para casa agora. As aulas acabaram, por hoje.
Passando pelo corredor do segundo andar da escola, vê uma mulher de vestido branco que o chama a atenção, parece tão familiar.

NickLuska
Lucas Réver

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