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O Enforcado

A Árvore Que Apodrece - Parte 2

A Árvore Que Apodrece - Parte 2

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
  • •  Suicide and self-harm
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Atravessando a passarela, ele sente seduzido pela vista lá embaixo. Põe a cabeça pra fora do pequeno apoio para olhar o enorme chão, visto de cima. 
Essa conversa, essa aula que foi mais uma terapia escolar só o fez sentir pior, talvez o intuito fosse o fazer mudar e melhorar, mas não é assim que funciona na prática.
Essas conversas motivacionais esperançosas de que você pode melhorar caso tentar são baboseiras para nos fazer iludidos e continuar mantendo a sociedade funcionando. 
A salvação não vem para todos.

Ele dá uma enorme volta para chegar em casa. Não pode seguir pelo caminho normal, descendo o morro, pois sabe que acabaria se encontrando com pessoas indesejadas, conhecidos da escola ou membros da sua própria família que moram mais acima no morro. São rostos que ele prefere evitar, especialmente em dias como esse. Sua família materna está totalmente brigada, sempre foi disfuncional, entretanto, está em seu mais decline auge. 
Então, ele opta pelo caminho de baixo, que também sobe o morro e se mantém afastado da família. É mais longo e cansativo dar essa volta, todavia, pelo menos ele está fora do alcance dos olhares e conversas que não quer enfrentar.

Chega em casa.
Tampa o cabelo com uma touca, para que sua mãe não reclame de seus cabelos arrepiados e tortos e não sugira que os corte. Sua mãe já preparou sua comida e tampou. Arroz, feijão, farofa e frango acompanhado com Guaracamp. Ele agradece. Se alivia um pouco enquanto come, essa é uma das únicas partes boas do dia, a comida de sua mãe é perfeita.
Ele termina e vai para o quarto, se prende.
Senta na cadeira e encara a tela do computador. Abre os programas, tenta desenhar e escrever, mas não consegue. Há dias em que seu lado artístico simplesmente não funciona. Não tenta mais forçar, as piores coisas que já criou foram nessa fase. Por isso, prefere esperar até que ele volte.
Talvez tenha sido pela conversa, por relembrar memórias.
Coloca a música no computador que estoura seus ouvidos, mesmo assim não é o suficiente.
A imagem dos olhos que o julgam estalam em sua mente como uma chama incômoda que se reacende a cada vez que ele descansa, como a gravidade, que o põe homem para baixo. Ele tenta, mais uma vez, se afastar dessa lembrança, mas os rostos continuam ali, o vigiando dentro de sua própria cabeça. A maldita sala... as 40 pessoas. Ele pode quase ouvir as risadas femininas, quase sentir o peso das vozes masculinas que se entrelaçavam em comentários cruéis, sussurros abafados da zombaria. O suor quente e pegajoso causado pelo sol ardente, tudo voltava com uma nitidez insuportável. O sol queimava a pele de Marco Júnior, como se quisesse derrete-lo de vergonha. Ele coça e esfrega as mãos no rosto, um esforço inútil para afastar essa sensação de sufocamento. Chacoalha a cabeça, como se pudesse, com esse simples movimento, fazer os pensamentos sumirem. Mas, não, eles não saem e nem irão, não importa o quanto ele tente. A sensação de prisão, de estar aprisionado em uma memória que se recusa a se apagar, o consome por inteiro. O tempo, que deveria ter ajudado a apaziguar, nunca mudou nada, ainda sente a mesma dor, a mesma frustração, a mesma alienação. Já faz um ano, mas parece que foi ontem. Esse tormento, essa lembrança, parece ter sido gravada em sua pele em uma cicatriz gigante, impossível de desviar o olhar, e, que se recusa a sarar. Ele não consegue se livrar disso, não irá se esquecer. Cada novo dia se arrasta em uma luta de peso sobre-humano constante contra o que ele não pode mudar e contra aquilo que não pode nem enfrentar. O passado e sua memória. Marco Júnior está exausto. Ele queria poder esquecer, queria poder dar as costas para tudo isso, mas a memória nunca vai embora. Ela é a sombra que nos persegue.
Marco Júnior, tomado pela raiva e pela frustração, começa a socar seu próprio rosto com força, como se tentasse esvaziar-se daquele peso insuportável que carregava. Se não pode sumir com a sua dor, que sofra de outra forma. Os punhos se fechavam com raiva. Ele bate com a mesma fúria contra a própria perna, como se quisesse quebrá-la, substitui a dor mental pela dor física. Ele cai de joelhos no chão, arfando, ofegante, e logo se joga na cama, rolando de um lado para o outro, como se a coberta pudesse apagá-lo, como se o simples movimento o libertasse. Mas não pode. Ele se contorce, se arranha, se estrangula, tenta se livrar do veneno que corrói o peito, do peso que parecia estar pressionando sua existência. Ele queria gritar, queria gritar até que sua garganta sangrasse, mas não saía som algum. 
Tudo o que resta é a dor, a mesma dor que sempre o cerca.
Desesperado, Marco Júnior se levanta, bate os punhos contra a parede com tanta força que os ossos estalam. O barulho é estrondoso. Ele sente a cabeça zunir, a pressão crescendo nas têmporas, e então, num impulso, começa a bater a própria cabeça contra a parede, repetidamente, como um reflexo de uma raiva que não sabia mais onde descarregar. A dor de seu corpo era nada comparada à dor interna. Ele pensa, em meio ao turbilhão de sentimentos: Quando será que eu descobri que sou amaldiçoado?
Lembra de sua infância, de como socava seu próprio rosto quando era repreendido pelos parentes. Será que ele estava condenado desde o princípio a ser como sua família materna? Como seu tio, o doente mental, que também desconta a frustração batendo nos objetos e animais, enquanto murmura?
Não importa. Já é tarde.
Antes de dormir entra em estado hipnagógico, confunde seus desejos mais profundos com a realidade. Devaneia sua tão desejada vida feliz, esquece da realidade.

Horas se passam.
Contemplando o amanhecer, o desgraçado caí na cama adormecido com a cabeça zonza de tanto bate-la.

NickLuska
Lucas Réver

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Marco Júnior é um adolescente prestes a concluir seus 18 anos que tenta seguir sua vida excêntrica e solitária, todavia, começa a ser perseguido por interrogatórios oníricos que revivem seu duro passado. Em uma jornada sombria de constragimentos, confrontos e uma busca pela esperança, ele descobre que seus demônios internos podem estar mais conectados ao passado do que ele imagina. Entre a árvore que apodrece e as ilusões da libertação, Marco mergulha em um labirinto de sonhos e traumas, onde cada passo revela mais sobre sua fragilidade e insanidade.
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