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O Enforcado

O Segundo Pesadelo - Parte 1

O Segundo Pesadelo - Parte 1

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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Ele está novamente no campo vasto e silencioso. A paisagem borrada, a brisa com seus sussurros distorcidos que dizem coisas incapazes de se entender. Levanta as mãos, dessa vez, com pressa. As controla, um sonho, quase, lúcido. Olha para frente, a árvore de folhas que formam letras em ágeis micro segundos está lá. A árvore apodrece, como na vida real. O céu parece uma tela pintada pela tinta aquarela azul. O mesmo sonho, repetido consecutivamente, que horrível. A entrada no tronco da árvore o suga para dentro.
Tudo escuro como da última vez.
Ele não se assusta mais com a sala, perambula tranquilamente, procurando até que algo apareça.
Anda até que se clareie um pouco, consegue ver nitidamente agora. As três poltronas vazias estão ali.
Alguém distante bate palmas, o parabenizando. Se aproxima, é possível ouvir seus passos e de mais uma pessoa.
O Homem e A Mulher.
O Homem solta uma risada. – Você parece menos medroso dessa vez.
A Mulher concorda.
Se sentam em suas respectivas poltronas.
Júnior, até aí, só se lembrava dos cenários. Ao ver seus dois rostos borrados e seus trajes que se contrastam, lembra do sonho anterior.
- Só se lembrou agora, né?
Júnior se perde nas lembranças.
- Se lembrou agora, né? – O Homem amplia a voz agressivamente para soltar Júnior de seus pensamentos.
- Sim. – Júnior gagueja.
- Que bom, não precisamos nos apresentar novamente.
- Mas... vocês não se apresentaram da última vez.
- Então você realmente lembra. – Ele debocha.
A Mulher ri.
Júnior só não lembra do final do sonho. – Onde estávamos?
- Sua infância, como você era, e é, fraco e sua relação com seus primos. – O Homem refresca a memória de Júnior com uma ironia provocante.
- E antes disso?
- Seu trauma com banheiros e seu jardim de infância.
- Oh, sim. - Júnior coça a cabeça. - Eu contei de quando fui quase atropelado?
- Não. Diga.
- Uma vez quando saía da escola, minha mãe foi conversar com a professora, na qual era amiga. Meu tio normal estava do outro lado da rua em sua moto, ele vinha me buscar nessa época.
Os Três são levados ao momento. Estão na calçada da rua da escola que Júnior lembra.
- E então?
- Eu fui atravessar. Quando vi havia um enorme caminhão prestes a me esmagar. Foi tudo tão lento e rápido ao mesmo tempo. O caminhoneiro me viu no último instante, deu o freio com tudo, o caminhão quase encostou em mim. Fiquei paralisado.
A cena se repete conforme Júnior relembra. Ele vê a si mesmo travado enquanto observa o gigante caminhão branco. – Na hora que vi o caminhão branco, cujo vidro refletia a clara luz do sol pensei que estava sendo levado ao paraíso.
- Como as pessoas em volta reagiram?
- Todo mundo gritou de desespero. Minha mãe estava distraída pela professora, quando viu, veio correndo para cima de mim, me puxando e levando embora. Uma coordenação motora um pouco atrasada.
Os Dois riem.
- Ela me levou com pressa para a moto do tio e fomos embora. Ela ficou irritada com tantas pessoas olhando. Até se esqueceu de perguntar como eu estava.
- Você realmente foi um filho desejado?
- Não sei. Me pergunto isso às vezes. Acho que foi tudo pela aparência, não foi por amor, foi pelo ato de possuir, acho.
- A ânsia de ter e o tédio de possuir? – O Homem faz o trocadilho com a teoria de Schopenhauer. 
- Algo assim. 
...
- Chegando em casa ela contou tudo para minha avó por telefone, eu fiquei sentado no chão sem dizer nada, paralisado. Pensei que algo tinha me ajudado naquele momento, Jesus. Ao menos é o que eu lembro.
- Deve ser isso mesmo, algo assim não é esquecido.
- Não sei. Minha memória da infância é traiçoeira. Eu lembro de isso ter acontecido no jardim de infância, mas ela, minha mãe, tem certeza de ter sido já no fundamental. O pior, a memória de nenhum de nós dois é confiável. – Júnior forma uma careta.
- Por que?
- Ela toma remédios para dormir já fazem 6 anos, as memórias que ela tem de mim são extremamente confusas. Ela lembra de mim no passado com a aparência que tenho hoje.
- Como assim?
- Ela se surpreende vendo fotos minhas. Eu era moreno e tinha um cabelo cacheado com um topete, atualmente, sou branco e tenho o cabelo liso para baixo. Ela lembra de mim com o rosto que tenho hoje.
- Isso é estranho. Mas, é só isso que ela confunde?
- Não, ela troca a ordem dos eventos. – Pompeu solta uma respiração frustrada. – Ela acha que coisas que aconteceram há anos atrás aconteceram há pouco tempo e vice versa.
- Por exemplo?
- Mesmo depois do acontecido com o caminhão e minha crença que Jesus havia me salvado ali. Anos depois, aos 9, comecei a desacreditar em Deus, porém nunca contei para ninguém da família. É uma família muito religiosa, muito cristã.
- Você tinha medo de ser julgado?
- Sim. Lembro de perguntar para minha tia se Deus realmente existia e ela, no mesmo segundo, demonstrou reprovação e decepção ao meu pensamento, dizendo que fiz Deus chorar. Eu, uma criança assustada, suei frio com sua reação e pedi desculpas no mesmo momento. Felizmente ela não disse aquilo mais para ninguém. – Júnior e Os Dois reveem o momento, sua face amedrontada.
- Por que desacreditou do divino numa idade tão pequena?
- Acho que desenvolvi um ódio pela religião. O que é engraçado, já que até os 5 ou 6 anos eu gostava das igrejas, com 3 anos até falava que seria pastor, fazia orações para meus parentes.
- Uau, que mudança. – O Homem se volta para trás.
- Só que fui crescendo e passei a não gostar, não querer ir mais. Minha família não me ouviu, como sempre, e minha mãe me obrigava a ir na igreja com minha vó, ela ia também algumas vezes, mas eu ia mais com a minha avó.
- Qual era a justificativa delas?
- Abençoar nossas vidas. – Júnior é quem ri agora, pela primeira vez. - Foi inútil, já que nenhuma benção nunca veio para essa maldita família. – Franze a testa.
Os Dois se acabam.
Os Três estão lá.
- Era tão deprimente. - Júnior vê a si mesmo do passado em uma expressão cabisbaixa, inclinada para baixo e se balançando na cadeira.
- Coitadinho. – A Mulher diz em tom triste. Júnior não entende se ela está sendo irônica ou não.
- Eu odiava aqueles domingos mais que tudo. Só pensava em poder desaparecer e sumir, eu já acordava sabendo que teria de sair do tablet e ir para a igreja contra minha vontade e no dia seguinte já seria segunda-feira, a volta das aulas. Além das vezes que era obrigado a ir na casa do meu pai de manhã. Era um dia horrível, sentia que todo domingo era jogado no lixo assim. Só podia estar em paz aos sábados, pois só neles que eu podia estar tranquilo em casa o dia inteiro. 
O Homem coça a barriga de tanto rir. - Conta mais!
- Tinha a grande sala para os adultos, onde havia os pastores gritando como se tivessem cheirado antes de entrar e as salinhas para as crianças, onde haviam animações sem graça para assistir e desenhos em preto e branco para colorir. Não conseguia decidir qual era pior.
- Você não gostava dos desenhos?
- Claro que não! Me davam sono e dor de cabeça. Os desenhos para pintar eram medíocres, mas as crianças quase se matavam dividindo os lápis de cor, era briga certa.
- Que maravilha! – O Homem, em êxtase.
- Toda a igreja era repleta de ar condicionados, eu sentia frio e vontade de espirrar toda hora. Ficava com o nariz cheio de meleca e tinha que segurar, pois tinha os traumas com os banheiros.
- Caralho.
- Não só isso, eu odiava aquele falso moralismo. As histórias sem pé, nem cabeça. Possessões, esquizofrenias não tratadas e teatros pagos. Como todos não seguiam nada do que pregavam com todas as forças. Era um completo circo, com palhaço até nas plateias. – Júnior se torna vermelho de raiva.
- Você foi em quantas igrejas?
- Quatro. Lembro até hoje de ir na igreja da minha tia, fingir tudo aquilo. O desconforto e mal-estar que sentia, mas escondia tudo num sorriso torto, achava que não poderia ser ateu.
- Como assim?
- Não sei. Era um medo irracional, imposto pela minha família. Como muitos outros. Só comecei a me permitir ser ateu quando estava com 11 anos e conheci outros dois garotos da minha idade que não tinham essa crença. Fiquei abismado com tanta liberdade que eles tinham para ser o que eram, no início me assustei, sempre fui muito recluso e não conhecia pessoas além dos parentes e vizinhos.
...
- Como chegamos nesse assunto?
- A memória de sua mãe.
- Ah, é. Eu me perco muito. Minha mãe tem certeza que eu falava para todos que eu sou ateu desde os 9 anos, sendo que eu tenho certeza que só contei isso para ela ano passado, até porque ela jogava tanta indireta que me fez soltar na hora da raiva. Além disso, ninguém mais da família sabe, mas ela cisma com isso.
- E você tem certeza que não falou antes?
- Tenho, isso foi uma coisa importantíssima na minha vida. Fingi acreditar em Deus por muito tempo, foi horrível todo aquele fingimento.
- Já disse isso. Está se repetindo.
- Sim, eu sei. 
...
- Do que mais posso falar?
- Você fala bastante da sua mãe. E o seu pai?
- Eu não me dou bem com ele. Não gosto dele.
- Você também não se dá bem com sua mãe, mas mesmo assim, fala bastante dela.
- Tem razão. É que minha mãe é algo presente ou importante na minha vida, já meu pai não tem significado algum para mim .
- Por que?
- Ele é um pai de WhatsApp, ele posta fotos minhas, posta status e frases sobre ser pai, mas não é ou faz nada além disso. Até quando o encontro pessoalmente, ele é uma coisa totalmente distante e vazia para mim. Acho que a questão de eu não falar tanto sobre ele é por não o ver como um pai, ele é um conhecido que sou obrigado a cumprimentar, e, no passado, ter visitado. É dessa forma que o vejo. Ele nunca me ensinou nada, quase nunca fez nada por mim. Só mandava uma merreca de dinheiro todo mês.
- E como era ir na casa dele?
- Ruim. Não gostava da comida dele, batatas esverdeadas, hamburgueres com gosto de papelão.
- Algum momento importante que teve com ele?
- Uma vez quando eu tinha 10 anos o perguntei o que era a puberdade e ele riu da minha cara. Nunca me explicou, mas contava essa história repetidas vezes para parentes e amigos para me zoar. O vejo como um Bully. Tenho certeza que se tivéssemos a mesma idade e não tivéssemos nenhuma conexão genética seriamos inimigos e nos odiaríamos. Já odiamos o jeito um do outro, mas por termos o mesmo sangue, fingimos nos aturar.
O Homem gargalha. – Continua. 
Júnior hesita.
Abre a boca. - Ele era irritante. Havia essa paranoia dele em achar que eu seria gay por ser criado por mulheres, eu tinha uma voz muito fina e era muito fraco. Lembro de uma regra que ele tinha, eu não podia botar a mão no rosto, principalmente no queixo. Botar a mão no queixo era coisa de viado. Ele gritava e puxava a mão do rosto. O mais engraçado dessa sua teoria, é que ele também não teve pai e foi criado por uma mulher, sua mãe. É extremamente contraditório.
Os Dois soltam ar pelo nariz, risos.
– O que mais? – O Homem pergunta.
- Ele era desagradável, às vezes carente, às vezes raivoso e carrancudo, mudança em questão de minutos. Não sei por efeito de drogas ou problemas mentais. Sempre achei que tanto ele, quanto minha mãe, tinham bipolaridade.
- Raivoso e carrancudo?
- ... É.
- Ele te batia?
- Não. – Júnior engole saliva seca.
- Não minta.
- Sério, ele nunca mais me bateu.
- Nunca mais?
Júnior entra em pânico com o quão mal sabe mentir, não queria ter que contar. – Ele me bateu só uma vez.

NickLuska
Lucas Réver

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