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O Enforcado

O Segundo Pesadelo - Parte 2

O Segundo Pesadelo - Parte 2

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
  • •  Physical violence
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- Como? Por que? – O Homem investiga com suas perguntas.
- Ele estava bravo um dia, muito bravo, não sei o porquê.
- E?
- Meu pai não queria que eu saísse de casa, pois no quintal havia pedras e galhos e eu poderia tropeçar. Estava um cheiro ruim de cigarro na casa e eu não queria estar lá, além de que eu queria brincar com outra criança, brincar de pega-pega com minha prima, uma garota.
Os Três estão ali no quintal, vendo tudo.
Júnior tenta disfarçadamente desviar o olhar da casa, mas sabe que não pode. Eles vão o obrigar a ver tudo. E se for O Homem, será de forma ainda mais bruta.
A mulher cruza os braços, já espera o que vem em seguida.
- Eu fui mesmo assim e ele não disse nada.
- Ele não disse nada? – O Homem questiona.
- No momento não, ele só ficou na cozinha fumando enquanto cozinhava, olhando da janela. Depois de minutos brincando, eu realmente tropecei em uma pedra.
...
- Ele gritou de lá de dentro. Não, mais que um grito, um rugido. A prima saiu correndo de medo. Ele veio e me puxou pelo b-braço mesmo c-c-caído. – Júnior começa a gaguejar.
A memória simulada é exatamente como ele conta.
- Me l-levou até a casa e f-fechou a p-p-porta.
Os Três veem a casa ser fechada e os gritos infantis ecoarem pelas janelas. Júnior coça o rosto tentando tampar a vista e os ouvidos. 
Barulhos de chineladas e empurrões podem ser ouvidos com nitidez. – Eu te avisei para não ir! – O pai grita, sua voz rouca do cigarro.
Júnior se cala. Sua vista se embaça. Então percebe, está chorando.
- E depois? – O Homem vê tudo e sabe o que acontece, mas quer ouvir ser contada pela boca do próprio Júnior.
- Ele me bateu, bastante.
...
- Não lembro como fiquei depois disso. Minha mãe me contou que cheguei de olhos arregalados em casa, sem falar muita coisa, só em silêncio.
- Você não contou para ela? – A Mulher pergunta.
- Dias depois. Tentei segurar o máximo que pude, nunca me senti seguro de me abrir com os outros. Tinha medo dela ficar do lado do meu pai e eu me decepcionar. Tinha medo dela ir falar com ele e ele me bater ainda mais. Tinha vários medos.
- Como ficou sua relação com ele depois disso?
- Eu sempre ia para a casa dele nos finais de semana. Entretanto, depois disso, fiquei 3 semanas sem ir. Implorava para minha mãe de joelhos para que eu não pudesse ir.
- Ela deixou?
- Felizmente sim. Ele vinha no portão de casa me chamar, gritava meu nome, parecia um berro. Começava a chorar só de ouvir sua voz, eu me sentia levado para aquele momento novamente.
- Como voltaram a se falar?
- Meu pai se abriu com ela e os dois armaram para que ele entrasse na minha casa sem eu saber. Quando vi ele entrando pela cozinha, enorme, me assustei e tentei correr. Fiquei encurralado no meu quarto. Ofegando em pânico encostado na parede. Ele pedia desculpas e me abraçava, falando que não iria mais me bater. Eu não estava escutando nada de tanto medo, só concordava com o que ele falava, acenando com a cabeça. Senti que caso ele concordasse, iria embora mais rápido, e assim realmente aconteceu. Depois quem realmente me acalmou foi minha mãe.
- E na vez seguinte?
- Ficava nervoso, tinha medo de olhar para a cara dele, só concordava com tudo. “Aham”, era tudo que eu respondia. Tinha medo até de dizer não, sua cara me assustava. Ele tinha um olhar sombrio.
- Você acha que ele te bateu por causa de você ter desobedecido ele?
- Sim, mas não totalmente. Ele já estava bravo com algo, ele me usou também como um saco para despejar as raivas.
- Acha que o fato de você estar brincando com uma garota o irritou? – A Mulher tenta adivinhar.
A mente de Júnior estala. – Eu nunca tinha pensado nisso. Pode ser. Vindo dele, é bem provável. – O acontecido começa a fazer mais sentido.
- Poderia perguntar para ele. – O Homem propõe.
- Jamais.
- Por que?
- Não falo desse dia com ele, nem com ninguém. Nunca me abriria para ninguém na vida real, muito menos com ele. Já não importa mais.
- Se não importa mais, por que chorava enquanto revia a lembrança? – O Homem questiona com a voz debochada.
Júnior perde a voz e a linha de pensamento. – Bem, voltando ao assunto. Era horrível ter que atende-lo quando vinha para minha casa conversas, era terrivelmente desconfortável, e tive que aguentar isso por muitos longos anos. Ter que forçar um sorriso e fingir.
- Uma vida baseada em fingimento, hein? – O Homem gargalha.
- Sim. Atualmente ele raramente vem e não demora, melhorou muito para mim.
A Mulher os interrompe. – Houve alguma época que se deu bem com seu pai?
- Bom perguntar isso. – Júnior responde rapidamente. – Sim, quando meu irmãozinho caçula nasceu.
A imagem de seu irmão bebê raia sobre eles, os iluminando.
- Qual o nome dele? – A Mulher é conquistada pelos olhos claros do bebê.
- Matheus. Ele é bem tímido, assim como eu.
- Você tinha quantos anos quando ele nasceu?
- Uns 10, acho. Meu sonho era ter um irmão, eu era, sou, muito sozinho. Eu pedia mais para minha mãe, ela acabou nunca tendo, por mais que quisesse. Meu pai, quem eu gostava menos quem teve, me alegrei mesmo assim, não importa de quem veio, eu queria ter um irmão. Lembro de receber a notícia pelo telefone e ficar saltitando. Minha mãe quem deu a notícia, por algum motivo meu pai tinha receio de falar, pensou que eu teria ciúmes ou algo do tipo. Meus pais nunca me entenderam. Meses depois, Matheus nasceu. Foi uma época boa quando ele nasceu, eu ia o visitar. Meu pai tava morando em outro lugar, vinha me buscar de moto e no local novo, fiz alguns amigos. Foi um curto período, mas legal, ainda tinha os pontos ruins, óbvio, só que dava para contornar.
- E como sua mãe se sentiu vendo você indo para o seu pai por vontade própria?
- Eu só via negativamente meu pai na infância, minha mãe era idealizada na minha cabeça, apesar de todas as falhas. Só que na pré-adolescência comecei a perceber o quão desequilibrada ela realmente é. Uma vez dormi no meu pai, fui na manhã do dia seguinte para casa de moto. Quando cheguei lá ouvi estrondos estranhos vindo do quarto. Me apressei até lá, preocupado, quando chego, a parede estava quebrada na silhueta de uma porta. Minha mãe havia quebrado uma parte da parede inteiramente com um martelo, na raiva, às 06:30. Ela nem tinha dormido durante a madrugada.
Os Três espiam Luciana em frenesi, marretando tudo.
- Caramba, sua mãe é pedreira?
- Não, isso é o puro combustível da raiva.
- Então foi daí em diante que as coisas com ela ficaram piores? 
- Sim, mas não por causa disso. Ela começou a se abrir demais comigo. Desabafando inúmeras coisas de sua vida e da nossa família, fatos traumatizantes, que eu não queria saber. Percebi nessa época, que minha família tem um longo histórico de miséria.
- Conte-nos mais.
- Minha bisavó foi uma faxineira de Santa Branca. Muito pobre, morava numa casa de barro e trabalhava duro para conseguir um tostão. Era estuprada pelos chefes e não podia dizer nada, não tinha salvação. Meus tio-avô e tia-avó são frutos desses atos horrendos. E minha avó teve que sair de casa para não acabar sendo outra vítima de um desses homens.
- Puta merda! – O Homem solta sua risada sádica.
- Sim, "puta merda". Por isso minha avó tem tanto apego aos irmãos que levou para a cidade onde foi morar, Seropédica. Nascidos em um ambiente hostil como esse, obviamente tiveram problemas mentais. Meus tios, irmãos da minha mãe e ela mesma foram muito afetados por isso. Toda a família foi afetada por isso. A desgraça escorre em nosso sangue.
- Caralho. Essa família é amaldiçoada?
- Tem mais. Minha tia-avó é viciada em tarja preta. Três primos maternos meus cometeram suicídio em épocas diferentes. Minha mãe também tentou se matar na adolescência. E aqui estou eu, 17 anos, cogitando o suicídio.
O Homem entra em êxtase ao ver os eventos cíclicos da família. – Só doente mental! – Ri em voz alta. Não se contém nem um pouco. 
– Até sua mãe tentou se matar? – A Mulher pergunta, surpresa.
- Até ela. Tacou vários remédios para dentro, tentativa de overdose, minha avó a fez vomitar tudo na marra e depois a levou ao médico.
- E ela ainda quis te botar em uma família de merda como essa? – O Homem não acredita no que ouve.
- Sim. Considero isso de um tremendo egoísmo. Olho para trás e vejo que nunca tive chances de ter uma vida normal, esse mal já estava impregnado em mim, muito antes de eu nascer.
- Você não tinha escapatória! – O Homem se contorce como um boneco de posto. Ri da desgraça de Júnior.
- Não tinha. E o pior de tudo é que ela ainda quer ter mais filhos, acho tão egoísta e inconsequente querer trazer pessoas para essa família de merda.
- Ela ainda quer ter mais filhos? Mesmo com uma linhagem dessas? – O Homem se choca.
- Sim. E foi chocante descobrir isso em torno dos 10 anos, mas eu já tinha descoberto o que era a depressão antes.
- Como? – A Mulher questiona.
- Eu já conhecia o termo, todavia, com certa distância. Foi aos 9 anos que entendi com proximidade, uma amiga da internet me mandava foto de seus pulsos cortados e suas lágrimas. Falava que era maltratada pela mãe e não tinha ninguém.
- Ela tinha quantos anos?
- Ela tinha 16 anos, sabia que eu tinha apenas 9 anos, ainda assim contava e dependia de mim emocionalmente. Eu tinha muito medo de ela acabar se matando, como ela ameaçava. Foi nessa época que comecei a dormir na minha própria cama, para que minha mãe não visse a tela do meu celular e as mensagens. Comecei a virar madrugas e não dormir, tinha insônia. Aquelas fotos me traumatizaram, foi o primeiro contato.
- Ela não monitorava seu celular?
- Não. Sempre tive bastante liberdade nesse sentido, não prestavam atenção em mim, por bem ou por mal.
- Que amizade, hein! – Ele debocha.
- Sempre tive uma relação conturbada com todos que conheci.
- Conte mais sobre suas amizades. Visitavam sua casa?
- Não. Só um, por muita insistência. Eu não gostava que fossem na minha casa.
- Por que?
- Quando era bem pequeno, chamei dois amigos para minha casa. Eles roubaram vários brinquedos e depois tentavam me bater quando me viam na rua.
- Puxa vida! Sua mãe descobriu?
- Sim. Foi ela quem percebeu e ainda tomou alguns deles na saída. Eu não via maldade nas coisas.
- O que ela falou depois?
- “Não chame mais esses garotos para cá”, eu entendi errado, pensei que nunca mais poderia trazer amigos para minha casa. Então muitos anos depois quando meu amigo se convidou para ir na minha casa, fiquei com o estomago frio de medo e com a cabeça tonta, achei que minha mãe iria brigar comigo.
- Maravilha! Que falta de comunicação! Que pirralho medroso! – Ele aplaude, amando a ridícula história.
- E o amigo foi quantas vezes? - Agora é Ela quem pergunta.
- Várias vezes.
- Jura? – Ela se surpreende.
- Aí o jogo virou, minha mãe quem começou a convida-lo, algumas vezes, e ela ganhou o número do amigo e da mãe dele. Como ele pedia, ela aceitava e me obrigava a atende-lo. 
- Por que ela te obrigava a atender?
- Ela gostava que eu recebesse pessoas, que fosse sociável e não um “retardado sozinho”. Depois surgiram poucas vizinhas na rua, ela botava pilha para que eu pegasse amizade com elas. Ela sempre teve medo de eu entrar em depressão ou insanidade como nossos parentes, seus esforços foram inúteis. – Júnior ironiza as fracassadas tentativas da mãe com um sorriso torto.
- Que droga.
- É. Pior eram as datas comemorativas e os aniversários.
- O que acontecia?
- Ela me obrigava a ir na casa da avó e conversar com todos, me obrigava a comemorar aniversários que não queria, fazia bolos sendo que eu nem sequer os comia. Seu intuito era mostrar para todos seu filhinho e eu tinha que fingir ser feliz, me sentia como um animal de zoológico, sendo levado numa coleira e sendo mostrado ao público. Tinha que manter uma máscara, o rapaz extrovertido, gentil e cristão. Conversas como escola e fé, elas me incomodavam tanto. O desconforto era como um manto nessas horas que me cobria, meu sorriso torto e amarelado era um disfarce. Tudo para manter uma aparência. Tão horrível.
- Que família bosta! – Ele treme de tanto rir.
- As conversas eram tão estranhas. Todos os parentes e conhecidos nesses eventos não pareciam pessoas, pareciam máquinas. Era tudo tão robótico e ensaiado. E é como se eu não tivesse voz, eu falava outra coisa e eles continuavam em seus assuntos ou interesses.
- Bom, pelo menos você tinha seu amigo, por mais que não gostasse tanto de suas visitas, podia se abrir com ele.
A memória agora é de Júnior e seu melhor amigo caminhando juntos enquanto o amigo vai embora para casa, sorriem.
Júnior observa com olhos repletos de dor misturada com nostalgia. - É, mas tudo viria a água baixo anos depois, na pandemia. Não, até um pouco antes.
A simulação se desfaz, como a fotografia física é rasgada. 
O cenário em volta dos Três vai ao absoluto preto.
- Ainda mais? – É possível observar o sorriso cruel amarelado o Homem, mesmo com sua face manchada e coberto pela escuridão da paisagem.
- Sim. Eu não sabia o que me esperava.
O olho esquerdo de Júnior entorta exageradamente para a esquerda, sente uma ardência em seu dedo do pé. – Não, de novo não! – Júnior grita, sem lembrar que é tudo sonho.
Os Dois riem.
Um anu-branco surge de dentro do longo cabelo de Júnior. Bica seu olho esquerdo . O cega brutalmente com seu bico, sangue voa e Júnior grita de dor.
Os Dois formam um coral macabro. - Ut sementem feceris, ita metes.  – Pura harmonia.

NickLuska
Lucas Réver

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