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O Enforcado

Preocupações e Constrangimentos - Parte 2

Preocupações e Constrangimentos - Parte 2

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Mental Health Topics
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Apesar do intuito dessas conversas ser o de bota-lo nos eixos, ele sente exatamente o oposto. Cada palavra de encorajamento e cada conselho só servem para apertar ainda mais o nó que sente. Em vez de motivá-lo, ele sente uma crescente ansiedade se instalar em seu escapismo, uma vontade sufocante e destruidora de desaparecer completamente do mundo real. A cada vez que alguém insiste nessas lições, seja sua mãe, avó ou seu pai, eles comprovam que há algo de errado com Júnior que precisa ser consertado, o que o faz só se sentir pior. A desconexão que já carrega dentro de si é confirmada nesses momentos, reforçando a ideia de que ele não está à altura das expectativas da vida que os outros parecem lidar com tanta facilidade. O peso dessas conversas, por mais que fossem motivadas por carinho ou preocupação, apenas o empurram para mais longe, fazendo-o querer se esconder ainda mais, tendo certeza que o mundo lá fora não é, e nunca será, para ele.
Júnior lembra de seu melhor amigo, e a lembrança vem como uma pontada afiada, uma dor que ele não quer encarar. Não hoje. Sem pensar muito, ele sai da sala e vai direto para o seu quarto, o único lugar onde sente que pode, pelo menos temporariamente, correr dos pensamentos que o perseguem. 
Com um movimento rápido, coloca os fones de ouvido e aumenta o volume ao máximo, estourando o som. A música que escolhe é "Não Tô Nem Aí" de Arnaldo Baptista , o título é uma espécie de mantra momentâneo de Júnior. Ao contrário de Arnaldo, quer se esconder, mas quer decolar. Todavia, só se sente a afundar cada vez mais.
A melodia do piano e os versos sensíveis preenchem seus ouvidos, abafando o mundo exterior e, por um instante, também os pensamentos incômodos que sempre tentam invadi-lo. Júnior se deita na cama ainda com o fone, olhando para o teto, deixando a música tomar conta de sua mente. Ele sabe que, mais tarde, na escuridão das madrugadas, os pensamentos vão retornar, fortes e inescapáveis, como fazem todas as noites e madrugadas. Porém, ele decidiu que pelo menos as tardes ele vai tentar passar em paz, longe das vozes e das memórias que tanto o perseguem. Mesmo que seja uma trégua temporária, ele aceita satisfeito.
Devaneia uma vida como a de Arnaldo Baptista atualmente, vivendo tranquilamente num sítio tocando instrumentos legais e fazendo pinturas acompanhado de seu amor. Júnior aproveita e suga o máximo dessa efêmera alegre paz, já que sabe que na realidade nunca a terá.

A porta do quarto de Júnior se abre de repente, fazendo-o tirar um dos fones de ouvido de forma automática. Sua mãe aparece no vão da porta, os olhos ainda meio inchados de sono, mas com uma expressão aflita que ele não esperava ver. 
- Você tá bem, Júnior? Tá tudo bem? - A pergunta vem carregada de uma urgência que ele não consegue compreender de imediato. 
Júnior a encara, sem entender o motivo do desespero. Por que ela parecia tão preocupada, tão... ansiosa? 
Ele pausa a música, ainda processando. - Tô... tô ok. – Faz um like com a mão. Responde devagar, franzindo a testa. - Por que você tá me perguntando isso assim do nada?
Sua mãe se aproxima, como se quisesse certificar o que há no quarto, que tudo está em ordem. Ela olha em volta, como se estivesse procurando sinais se há algo errado, mas não diz nada por segundos. 
Júnior, confuso, espera por alguma explicação, mas tudo que sente é o peso daquela preocupação inexplicável pairando no ar.
A expressão aflita da mãe de Júnior começa a fazer sentido quando ela finalmente confessa, com a voz trêmula. - Eu sonhei que você... cometia suicídio. - As palavras saem com dificuldade.
Júnior sente o desconforto percorrer o ambiente. Sua cara se fecha. 
Ela continua, sem conseguir segurar as lágrimas. - Faz dias que estou com esse sonho preso na cabeça. E... há alguns dias, eu ouvi o canto de um anu-branco vindo do quintal. Você lembra o que isso significa, não?
Júnior a observa, perplexo e tendo a impressão que isso já aconteceu antes. Ele sabe da superstição, da importância que sua mãe dava às lendas antigas, passadas pela avó dela, a bisavó de Júnior. Para a bisavó, o canto do anu-branco anunciava a chegada da morte, uma crença que sempre circulou na família como um presságio. Mesmo vivendo em tempos modernos, sua mãe sempre respeita profundamente esses mitos. 
Júnior respira fundo e tenta manter a calma diante do desespero evidente de sua mãe. Ele balança a cabeça lentamente, respondendo. - Eu lembro, mãe. Lembro o que significa. Você já me contou algumas vezes. – Faz esforço para que sua voz saia suave, tentando transmitir tranquilidade.
Ele também sente que ouviu o canto do anu-branco recentemente, o som despertou nele uma estranha familiaridade, como um déjà vu. Por mais que sentisse essa conexão estranha, ele decide não falar isso para sua mãe. Isso só aumentaria a preocupação dela, talvez até alimentasse seus temores, isso era a última coisa que ele queria.
- Não se preocupa, mãe. É só um sonho, bobagem. Eu também sonho umas coisas esquisitas. - Diz, tentando tranquilizá-la, embora ele mesmo se sentisse levemente inquieto. 
Sua mãe, no entanto, continua olhando para ele com os olhos cheios de ansiedade, como se quisesse acreditar em suas palavras, mas o peso do sonho e das superstições antigas ainda pairasse sobre ela.
- Eu sei que parece bobagem, mas eu... não consigo evitar, Júnior. É claro que me preocupo. - Ela diz com a voz falhando. O olhar dela estava cheio de medo, medo do sonho ser algo como uma premonição. 
Júnior não sabe o que dizer. Não é bom com as palavras e nem em apoiar as pessoas. 
O silêncio se alonga.
Tentando dissipar o clima pesado que pairava sobre a sala, Júnior, em um impulso quase instintivo, puxa seu diário de sonhos no computador. Ele entra em uma página qualquer e, forçando um sorriso, diz de maneira leve. - Olha só, isso aqui vai te fazer rir. Meus sonhos são ainda mais malucos que esse pesadelo seu.
Ele começa a folhear o diário e lê pequenos trechos, esperando que ela veja aquilo como uma simples brincadeira, algo divertido que pudesse aliviar a tensão. Contudo, o efeito é completamente o oposto do que ele esperava.
Sua mãe observa o diário com um olhar cauteloso e começa a ler em silêncio, as linhas dos sonhos se revelando uma a uma. As páginas estão repletas de temas piores que ela imaginava, suicídio, figuras distorcidas, sentimentos de isolamento. 
Cada trecho lido parece apertar o peito dela um pouco mais. Ela não diz nada por alguns momentos, mas o silêncio fala mais alto que qualquer palavra.
Quando finalmente levanta os olhos para Júnior, o olhar dela está ainda mais preocupado. - Júnior... esses sonhos... por que você não me contou que estava sonhando coisas assim? - A voz dela sai quase em um sussurro, cheia de apreensão.
Júnior regala os olhos e então percebe, não deveria ter mostrado suas coisas para sua mãe.
Ela vira mais algumas páginas, lendo fragmentos sobre figuras estranhas e cenários que, aos olhos dela, pareciam tão sombrios quanto o próprio pesadelo que a havia atormentado agora pouco.
Júnior se sente desconfortável. O que para ele era apenas um diário bobo, agora parece mais uma prova, aos olhos de sua mãe, de que algo realmente estava errado. 
A tentativa de transformar aquilo em uma distração havia falhado, e ele percebe que, em vez de acalmar os temores dela, só havia alimentado ainda mais a paranoia de sua mãe.

Chega na escola. 
Quinta-feira: Educação Física e Tecnologia e Trabalho.
Esse dia consegue ser pior que Quarta-feira. Não sabe qual das duas matérias odeia mais. De vez em sempre mata aula de Educação Física, ficando sozinha na sala até a próxima aula, enquanto todos vão para a quadra. A professora é a mesma do ano passado e retrasado, de vez em quando relembra de acontecimentos passados, o que o frusta. Fica o chamando para participar dos esportes e para o jogo para conversar com ele, o que faz Júnior chamar atenção da sala, isso o incomoda profundamente. Faria de tudo para poder se esconder embaixo da terra, como uma toupeira.
Depois que a educação física acaba, vem outra matéria igualmente insuportável. Essa de Tecnologia e Trabalho que o professor sempre passa trabalhos grupais, trabalhos para apresentar, folhas para ler em voz alta e se reunir em círculo para discutir, todos exigem maldita sociabilidade. Coisa que Júnior, geneticamente e por vontade, não possui.

NickLuska
Lucas Réver

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