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O Enforcado

O Terceiro Pesadelo - Parte 2

O Terceiro Pesadelo - Parte 2

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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- No ano seguinte fui fazendo os exercícios corretamente, até pelos trabalhos da vigia. Tive que fazer uma Prova Brasil ou algo assim e eu tinha passado a madrugada toda desenhando, sem querer saber de nada.
- Conta o resto. – O Homem anseia.
- Esqueci de levar a máscara e só percebi muito tempo depois, estava tão imerso no meu mudo que já tinha até esquecido que o mundo estava sofrendo uma pandemia. Todos me olhavam estranho no refeitório, mas eu não entendia.
- Puta merda!
- Ficaram todos me olhando de cara feia, falando mal de mim. A coordenadora me trouxe um papel para assinar meu nome, me fez assinar meu nome para levar para a diretoria. Foi aí que percebi, eu estava muito sonolento.
- Caralho!
- Lembrei o quanto a realidade é ameaçadora. Chutei tudo na prova e fui embora para casa aliviado por não ter tido que frequentar aquele lixo todo dia. O ano pulou, a pandemia acabou. Estava indo para o primeiro ano do ensino médio, teria que ir para outra escola.
- Uma nova fase!
- Uma horrível nova fase.
O Homem gargalha.
- Minha mãe se esqueceu de confirmar minha vaga, por isso, perdi as vagas para a manhã. Como não tinha turno para a tarde, como sempre preferi, fui para a noite, o único turno que restava.
- Por que não foi para outra escola?
- Muito longes, essa que escolhi já é longe, as outras são piores ainda... Eu não faria tal esforço, caminhar tanto para ir para um lugar que vou contra minha própria vontade.
- Ok. Como foi chegar lá no final de março?
- A professora me avisou que teria prova de português e matemática no mesmo dia. 
- E você sem matéria nenhuma! – O Homem diz entusiasmado. 
- Exato. Não sabia nada e ninguém falou comigo. Só chutei a prova de português e matemática, foi isso.
- Incrível! – O Homem aplaude. – Como foi o resto do ano?
- Um garoto fez amizade comigo e meio que me forçou amizade com a garota que ele era apaixonado. Zoavam que éramos um trisal. Depois a menina foi para o turno da manhã e ficamos como um casal gay. Era insuportável, todo dia essa mesma zoação.
- Por que disso?
- O menino fazia piadas se ridicularizando para poder se enturmar. O que ele não percebia é que riam dele, e não com ele. Existe uma diferença entre brincar com todos e ser a maldita piada. Mas como ele era meu único amigo e quem eu podia contar de fazer as coisas juntos, relevava, mesmo que sempre sobrasse para mim as zoações por culpa dele.
- Conta das zoações.
- Tinham dois caras que ficavam me ridicularizando na frente de suas namoradas para se pagarem de superiores, um tinha reprovado três vezes na escola e tinha vergonha de ir até ao refeitório, mas na frente da namoradinha me tirava para burro e lerdo, comparando nossas notas que ele colava da namorada e o fato de eu não falar com ninguém.
Os Dois riem.
- Tinha mais, a professora de Biologia do fundamental que estava lá me irritando. 
- Conta o que ela fazia.
- Às vezes na hora de entregar caderno ou exercícios, tinha a fila. Se tivesse alguma mulher atrás de mim na fila, ela ignorava a ordem da fila para atender primeiro a garota, só para depois me atender. Para eu ser “cavalheiro”.
- Puta que pariu!
- Ela sempre me falava a mesma coisa quando eu estava com o cabelo curto, que eu parecia o neto dela. Uma vez me perguntou até o nome dos meus pais, ela parava suas tarefas só para me fazer perguntas intrusivas e irritantes. Aí quando estava grande, ela só me olhava torto. Talvez por me ver em seu neto, ela me “educava”, sei lá.
O Homem não aguenta de tanto rir. – Que situação de bosta!
- É. Os constrangimentos eram diários.
O Homem cruza os braços. – E depois de tudo isso?
- E depois eu fui para o turno manhã. O amigo era apaixonado pela garota que foi para a manhã e quis ir também, como eu não tinha ninguém e tudo estava horrível, decidi ir também. Adivinha?
...
- Não ficamos na mesma sala, e pior, vivi o pior ano da minha vida.
O Homem se inclina para trás. Gargalha em êxtase. – Conta. Conta. Conta. Conta.
A Mulher sutilmente ri também.
Júnior franze a testa em ódio, cerra os pulsos. – Foi o pior ano da minha vida.
- Isso você já disse. Quero que conte detalhadamente.
- Já estava frustrado quando percebi que veria conhecidos, pessoas do passado. Agora, sem amigo nenhum, ia ser ainda pior. O amigo ficou em outra sala, enquanto eu fiquei na mesma da garota. Ela, que tinha se afastado, se reaproximou de mim por isso. Pensei que, pelo menos teria ela como companhia.
- Como o foi o primeiro dia?
- Eu nem fui. Eu estava me atrasando, e na conversa com os dois pelo WhatsApp, me avisaram que estava tudo cheio e que estava horrível. Senti uma tremenda ânsia de vomito só de ler, um calafrio ruim, se eu soubesse tudo o que me esperava...
- E você foi no segundo dia?
- Fui, junto do amigo na caminhada. Quando cheguei na entrada, lá estavam alguns conhecidos. A menina não foi em mais nenhum dia da primeira semana e quando foi não deu a mínima para mim. Só falava comigo para pedir favores e se usufruir da minha boa vontade.
- Conta.
Os Três são enviados à réplica da escola, a simulação do momento. 
Júnior controla a voz ao contar dessas recentes memórias para que não mostre sua fragilidade. Sente muita dor em relembrar o ano anterior. - Quando cheguei, deparei-me com rostos familiares, esses conhecidos do tempo do fundamental. A ansiedade me atingiu como uma onda, crescendo até se tornar quase insuportável, eu me senti completamente vulnerável, como se fosse desmaiar. Meu coração parecia que iria estourar para fora e jorrar sangue para todos os lados. Não conseguia respirar direito. Tinha muitas pessoas na entrada. Os olhos começaram a tremer, entortando-se sob o peso do nervosismo. Eu não podia controlar nada nem ao menos meu próprio olhar. Um dos conhecidos havia me mandado uma mensagem no dia anterior, pensei que isso significava que, ao menos, trocaria algumas palavras comigo. Em vez disso, ele apenas ficou ali, observando à distância, cochichando com os amigos, pareciam zombar de mim ao me reconhecer.
- Achou mesmo que ele iria falar com um vesguinho de merda? – O Homem debocha.
- Evitei contato visual. Só abaixava a cabeça para o chão, evitando para que me olhassem. Era inútil. Eles continuavam olhando para minha direção, digno de comentário, mas não de aproximação. A expectativa de um reencontro amigável deu lugar a uma sensação amarga de desconforto e isolamento. Eu só queria desaparecer naquele instante.
- Depois disso, a porteira finalmente abriu o local, e sem hesitar, segui em frente os seguindo, não sabia onde era sala, então os usei como guia. No andar superior, o espaço parecia se estender diante de mim de forma interminável, cada passo pesado pelo que tinha acabado de presenciar. O ambiente era tão barulhento. Segui até a sala como um prisioneiro que caminha rumo à forca, cada passo mais pesado que o anterior. O ar ficava denso à medida que me aproximava. Quando finalmente entrei, senti um frio na alma ao vê-la, a menina dos olhos que me julgavam. Era a primeira vez que a via, mas era como se seu olhar carregasse algo familiar ou conhecido, era como se ela já me conhecesse e soubesse sobre mim. Sentei em qualquer cadeira. Completamente agoniado, mexia a cabeça em nervosismo. Segurava minha própria barriga para segurar a maldita ânsia de vômito. Sentia como se cada detalhe meu estivesse exposto sob aqueles olhares que me destruíam. Primeiro veio a aula de matemática, o professor fez um discursinho sobre não ter bullying ou discriminação nas aulas deles e passou um exercício para entregar, não consegui nem fazer. Fazer contas na cabeça parecia impossível, como se cada número se embaralhasse com a ansiedade que tomava conta de mim. A ideia de ir lá na frente, então, era algo que eu nem cogitava. O peso da situação me impedia até de tentar. Sentei em silêncio, preso ao meu próprio desconforto, sentindo cada segundo passar devagar enquanto me encolhia em minha própria mente. Toda uma eternidade se passou. Eu não tinha fones de ouvido, nem nada, só ouvia o barulho e olhava para o chão enquanto esperava pelo fim. Tentava me comunicar com meu amigo, mas ele não respondia tanto.
...
Depois veio a aula de português, outra com lição. As palavras do professor ecoavam na sala, mas para mim, elas se misturavam em um ruído distante. Era como se tudo estivesse desmoronando, aquele ambiente que deveria ser apenas uma sala de aula era algo opressivo e sufocante para mim. A cada segundo, eu me sentia mais fraco, mais à deriva. Tive que entregar a lição, escrevi o poema sem dar o espaço na folha. Ela me chamou a atenção e explicou esse erro para toda a sala, todo mundo olhou para minha cara, não sabia onde enfiar minha cabeça. Foi horrível, horrível, horrível. – Júnior começa a surtar novamente ao ver tudo acontecendo de novo, em terceira pessoa, na simulação.
...
- Depois disso, finalmente pude ir para casa. Senti-me como se tivesse sido libertado de uma prisão invisível, escapando daquele ambiente que parecia sugar cada pedaço de energia que eu tinha. Caminhei para fora com um suspiro de alívio, mas a liberdade não veio sem um preço: havia um mal-estar grudado em mim, um peso no peito que parecia não me abandonar. 
- E no dia seguinte?
- Tudo piorou.
Os Dois riem.
- A partir daqui, minhas lembranças se tornam confusas, como se uma névoa encobrisse os detalhes exatos do que aconteceu. Não consigo me recordar de tudo com precisão, mas há uma coisa que ficou gravada, a professora de história começou a me zombar, a me provocar. Suas palavras tinham um tom de escárnio, de desprezo mal disfarçado, e cada uma parecia direcionada a me expor diante da sala. Ela viu em mim uma fraqueza, ao invés de ignorá-la, decidiu explorá-la por humor. O jeito que falava era uma agressão velada, um insulto camuflado no tom de 'brincadeira', mas a cada frase eu sentia meu rosto queimar, a vergonha e a humilhação crescendo. Todos ao redor pareciam achar graça, enquanto eu só queria desaparecer. Aquele momento, mesmo em meio à confusão das memórias, permanece tão nítido quanto o desconforto que ainda sinto ao lembrá-lo. Lembro bem da sala lotada, cerca de 40 pessoas, mas para mim parecia um público muito maior, como se centenas de olhos estivessem fixos em mim. A distância entre mim e eles era imensa, e o nervosismo só aumentava. A professora, com seu tom despreocupado, começou a fazer perguntas aos alunos novos sobre o que esperavam para o ano. Quando chegou a minha vez, hesitante, eu disse apenas que queria que fosse um bom ano. Uma resposta simples, até tola, mas foi o melhor que consegui pensar naquele momento. Irônico, pois o ano acabou sendo tudo, menos isso. Ela não perdeu a chance de debochar. Minha voz saía baixa e trêmula, engasgando em cada palavra, e cada hesitação parecia alimentá-la. Ela ria, me olhava com aquele sorriso de escárnio, e quando eu mexia a cabeça nervosamente, ela fazia o mesmo, exagerando, me imitando. Era como se cada gesto dela fosse planejado para me expor, para tornar minha insegurança ainda mais visível. Enquanto ela zombava, eu me sentia cada vez menor, desejando apenas que o chão me engolisse, incapaz de reagir. A sensação de vergonha e humilhação tomou conta de mim, e aqueles segundos pareceram uma eternidade. Todos, que antes me ignoravam, agora me notava e começavam a rir de mim e me zoar também.
...

NickLuska
Lucas Réver

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