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O Enforcado

O Terceiro Pesadelo - Parte 4

O Terceiro Pesadelo - Parte 4

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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...
- Depois de uma decepção intensa que tive, a frustração e a raiva transbordaram de forma inesperada. Olhei para a bebida que minha mãe tinha guardada em casa e, em um momento de desespero, comecei a beber. O gosto amargo do álcool era um alívio momentâneo, uma fuga temporária das dores que me atormentavam. A cada gole, a realidade se tornava mais distante, como se uma névoa me envolvesse, amortecendo as lembranças dolorosas da escola e dos olhares julgadores. A bebida se transformou no meu único escape, uma forma de sobreviver àquelas horas intermináveis que eu passava na escola, aquele inferno disfarçado de sala de aula. Era a única coisa que ainda me fazia suportar, que me dava coragem para enfrentar o que eu sabia que viria a seguir. Naquele estado, as vozes que me assombravam pareciam mais distantes, as provocações se tornavam apenas ecos vagos, e a dor emocional se misturava com a embriaguez, me permitindo uma fuga que, embora temporária, era a única forma que eu encontrava de lidar com a realidade que me cercava. Minhas notas estavam todas vermelhas, um reflexo direto do meu desinteresse e da minha luta interna. Quase não fazia trabalhos, não participava de feiras e não fazia as provas. Nem olhava o boletim. Então, finalmente, chegaram as férias, por semanas, consegui me livrar do inferno. Nesse tempo, comecei a beber cada vez mais, buscando um escape na embriaguez. Também passei a sair com meu pai. Naqueles momentos, queria apenas fugir de tudo, deixar para trás as memórias de tanta dor e humilhação. Eu só queria poder fugir de tudo, da realidade. Alguns colegas acabaram me vendo nessas escapadas. Comecei a fugir também para a oficina onde meu pai trabalhava. Ele estava desempregado em termos de carteira assinada, mas ainda se dedicava a pequenos consertos e trabalhos informais. A oficina se tornou um refúgio, um lugar onde eu podia escapar das pressões da escola e dos outros. 
...
- As férias chegaram ao fim, e o retorno às aulas se aproximava. A ideia de voltar àquela sala era insuportável. Não queria ir nunca mais para lá. A cada dia que passava, meu desejo de escapar se tornava mais intenso. Comecei a me esconder no matagal do quintal do tio maluco, buscando um refúgio entre as folhas e os arbustos. O cheiro da terra molhada e o canto distante dos pássaros se tornaram meus únicos companheiros. Era um lugar onde eu podia me afastar do mundo, mesmo que por um breve momento. No entanto, essa busca por solidão vinha acompanhada de um terror crescente, o pensamento desesperador de ser pego. A ideia de que alguém pudesse me encontrar ali, de que a realidade me arrastasse de volta para aquele inferno escolar, me paralisava. A cada barulho, meu coração disparava, e eu me encolhia, esperando que o perigo passasse. O matagal se tornava meu espaço onde eu me sentia seguro, mas também aterrorizado pela possibilidade de ser descoberto. Era um ciclo interminável de medo e alívio, uma luta constante entre o desejo de escapar e a dura realidade que me aguardava. Eu não podia relaxar a mente nem por um segundo.
...
- E essa fuga no matagal só durou três dias. No terceiro dia, meu esconderijo foi invadido pela realidade. Fui pego pelo meu tio, que, ao me avistar, imediatamente gritou, chamando a atenção de minha mãe. O eco de sua voz ressoou em meu peito como um trovão, e uma onda de desespero me atingiu. O que eu havia considerado um santuário agora se tornava um palco de humilhação. Em um impulso, corri em direção às escadas, tentando compor uma expressão de inocência, como se tivesse acabado de voltar das aulas, quando, na verdade, estava apenas fugindo delas. O coração batia descontroladamente em meu peito, e a adrenalina disparava em minhas veias, misturando-se à vergonha. Fingir que tudo estava bem se tornou uma máscara que pesava sobre mim, mas eu sabia que a verdade estava à espreita, pronta para ser revelada. Luciana me chamou gritando da cozinha, sua voz cortando o silêncio que me envolvia como um manto pesado. Ela dizia que dois conhecidos seus, afiliados à escola, já vinham a avisá-la sobre minha situação. Aquelas palavras caíram sobre mim como um balde de água fria, e um frio na espinha se espalhou pelo meu corpo. Meu coração disparou ao pensar que as pessoas estavam comentando sobre mim, que minha vida se tornara um tema de conversa nas mesas de café e reuniões. Ela também já tinha verificado meu celular e visto algumas coisas sobre. O amedrontamento tomou conta de mim, a sensação de estar completamente exposto e vulnerável. A invasão da minha privacidade era dolorosa, e eu sentia a urgência de escapar novamente. Mas, ao mesmo tempo, havia uma incredulidade que se instalou em meu peito. Como minha mãe, mesmo sabendo de tudo isso, não fez nada? A frustração me consumia. Ela não tentou me ouvir, não buscou entender a profundidade do meu sofrimento. O silêncio entre nós parecia uma barreira intransponível, e a falta de comunicação só tornava a situação mais insuportável. Sempre senti como não tivesse pais de verdade, apenas atores. A ausência de um diálogo, de um gesto de carinho ou preocupação, me deixou ainda mais isolado.
...
- Ela me levou até a escola, sua determinação estampada no rosto, decidida a reclamar de mim para a diretoria na frente de todos. Clamei por piedade, ela só disse que não se importava e que se pudesse iria até minha sala me humilhar para todos. Naquele momento, a matei em meus pensamentos.
...
- Não sinto mais nada por ninguém, é tudo ilusão.
Os Dois observam. 
O Homem aplaude com elegância.
- O caminho até lá parecia interminável, e a cada passo, meu coração afundava um pouco mais no desespero. Felizmente, os poucos que estavam mais próximos de mim já haviam se acomodado na sala ou se dispersado no refeitório, o que me ofereceu uma leve proteção. No entanto, isso não impediu que a cena se desenrolasse em público. Todos que passavam pela quadra, pela biblioteca, pela entrada ou pelo pátio viram minha situação humilhante. O olhar curioso de estranhos se transformava em risadas abafadas, e o eco da zombaria parecia ressoar em minha mente como um cruel mantra. Aquele momento de exposição me fez sentir como se estivesse em uma vitrine, todos observando cada gesto, cada fraqueza. 
...
- Lembrei do meu pai, carregando a moto roubada por toda a cidade até a delegacia. O que ele deve ter sentido? Acho que algo semelhante a mim.
...
- A indignação queimava em meu interior, mas o que predominava era a vergonha. O choro preso no olho, que sempre prenderei. Um homem não chora, muito menos na frente dos outros. O riso dos conhecidos se misturava ao meu desespero, amplificando a dor que eu já carregava. A escola, que já era um campo de batalha, agora se tornava o palco da minha degradação. Cada risada, cada olhar debochado, era uma facada que eu não sabia como suportar.
...
- Ouvi as lições de moral dos diretores. O discurso era cheio de reprimendas e advertências, mas, para mim, soava como um mantra vazio, uma repetição de frases que não me atingiam mais. Com um ódio fervente dentro de mim, fingi manter a neutralidade, uma expressão impassível no rosto, enquanto uma tempestade de amargura rugia em meu interior. Cada palavra deles se transformava em um veneno que corroía a pouca esperança que ainda restava. Eu sentia como se estivesse preso em uma bolha, isolado do que realmente importava, ouvindo críticas que não faziam sentido para mim. Quando finalmente deixei o escritório dos diretores, a determinação dentro de mim se solidificou. Voltei para casa ainda mais decidido a não fazer esforço algum na escola, como se cada ato de resistência fosse um pequeno ato de rebeldia contra a opressão que eu sentia. A ideia de reprovar parecia cada vez mais sem significado, não sentia medo disso. A pressão, a humilhação, tudo isso me fazia pensar que não havia mais razões para me importar. “Que se dane”, eu pensava. A raiva e a frustração se tornaram minhas companheiras, e eu estava pronto para abraçar a escuridão que se aproximava, determinado a não deixar que ninguém me machucasse mais.
...
- Com o passar do tempo, minha mãe começou a me tratar ainda pior, como um fardo a ser carregado. Cada interação entre nós se tornava mais tensa, como se uma nuvem escura pairasse sobre nossas cabeças. Eu me sentia cada vez mais raivoso, mas também exausto, e a última coisa que eu queria era mais uma vez ser forçado a ir àquela escola, onde a humilhação se tornara rotina. Eventualmente, consegui não ir nunca mais. A escola era um pesadelo que eu não queria reviver. Mas essa liberdade não veio sem consequências. Comecei a notar a preocupação crescente de minha mãe, desempregada há muitos anos, sua única fonte de renda era a bolsa família e a pensão que recebo. Com isso, percebi, quase que inconscientemente, que ela também depende de mim. Eu não sou o único fardo. Em um mundo onde eu me sentia completamente perdido, tornou-se claro que eu era quem trazia dinheiro para casa, mesmo que fosse pouco. Sem isso, ela também não teria nada. O Bolsa Família parou de vir, e a situação se tornou ainda mais crítica. Minha mãe, que já estava sobrecarregada, agora parecia uma arara, repetindo incessantemente a mesma mensagem, como se as palavras fossem um mantra que não trazia alívio. “Precisamos de dinheiro”, “Você precisa começar a trabalhar”, “Não podemos ficar assim”, eram as frases que ecoavam em casa, cortando o ar com a urgência de sua preocupação. Enquanto ela falava, o peso da pressão aumentava sobre mim. Tudo apertou ao nosso redor, a ansiedade se transformando em um manto sufocante que nos envolvia. Porém, o que mais me incomodava era o contraste entre suas palavras e sua inação. Ela exigia que eu começasse a trabalhar, mas parecia não considerar a ideia de fazer o mesmo. Havia uma ironia cruel em sua insistência, como se a responsabilidade recaísse apenas sobre mim, enquanto ela permanecia parada, presa em um ciclo de dependência e desespero.

NickLuska
Lucas Réver

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