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O Enforcado

Pulo de Tempo e/ou Insanidade

Pulo de Tempo e/ou Insanidade

Feb 09, 2025

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
  • •  Cursing/Profanity
  • •  Suicide and self-harm
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Não há beleza na realidade, nunca haverá.  
O que vejo ao meu redor é um mundo de aparências decorado por expectativas vazias e promessas mentirosas. O nada é meu tudo, e o vazio, que antes me assustava, é agora o que me conforta . É nele que encontro meu refúgio, me aliviando dos sentimentos ruins, os únicos que sinto nas raras vezes que não estou imerso nessa indiferença e apatia. Esse vazio me preenche como um líquido denso e pesado, anestésico, como uma tarja preta auto injetável e sem custo algum. Invadindo cada parte de mim, não consigo distinguir quando ele começou, mas não tenho dúvida de que não terá fim .
Observo essas pessoas, criaturas que já não vejo nem mais como gente. Carnes que se movem e riem. Previsíveis como autômatos. Seus sorrisos largos tão semelhantes, sem alguma característica. Todos são distantes, inalcançáveis. Mesmo quando estão ao meu lado, sinto como se houvesse uma fronteira invisível e inalcançável entre nós. Eles falam, mas suas palavras não chegam até mim, só ecoam ruídos abafados. Quem as abafa é a apatia, crescendo cada vez mais dentro de mim. Como uma flor maligna que brota. E essa apatia... ela me drena. Não sinto mais nada. Não há mais dor, não há mais prazer, não há mais paixão. Só há o vazio. E, de alguma forma, esse nada que consome é o mesmo que me protege tantas vezes dos outros sentimentos ainda piores.
Sinto tanta coisa, mas ao mesmo tempo, é como se eu não sentisse nada. Um turbilhão dentro de mim, emoções que se debatem e colidem, tão contraditórias. É como estar diante de um mar agitado, vendo as ondas furiosas, mas ao entrar nele, perceber que é tudo raso, quase seco. Nem eu mesmo consigo me entender. Como é possível carregar tanto dentro de si e, ao mesmo tempo, sentir-se tão vazio?
Tenho tantas coisas para falar, pensamentos que se acumulam em minha mente, palavras que querem explodir para fora, mas quando tenho tal oportunidade, o silêncio me engole. Estou aprisionado no meu próprio mutismo, como se algo invisível me sufocasse, me impedindo de dar voz ao que realmente sinto. Eu mesmo. Cada vez que tento me expressar, sinto como se estivesse preso, como se correntes me segurassem no lugar, incapaz de quebrar o silêncio que me isola.
Enquanto isso, todos ao meu redor riem e se divertem, como se vivessem em um mundo diferente do meu. Meus semelhantes em idade aproveitam sua juventude, me sinto um ser completamente diferente deles. Para eles, tudo parece simples, fácil e natural. Cada gargalhada que escuto é uma agulha que perfura minha mente, o mesmo lembrete cruel de sempre que sou e sempre serei deformado, aleijado por dentro. A simples alegria deles me faz perceber o quanto sou distante do que um dia pensei que podia ser, mas nunca poderia. Me sinto perdendo minha sanidade conforme o mundo segue em frente. Pouco a pouco, me afundo cada vez mais nessa espiral de caos interno. Sempre a pensar que cheguei ao limite, mas sempre há um lugar mais fundo para se afundar.
Passo pelas passarelas com a mente carregada, oscilando pensamentos sombrios. O desejo de me jogar lá de cima me atormenta, como se esse outro abismo abaixo fosse a única forma de escapar do peso que me envenena. Cada passo é uma luta contra minha voz interior, que sussurra com uma insistência doentia, sedutora e quase convincente. Meu medo não é a morte, pelo contrário, a morte é a liberdade. Meu medo é de sobreviver, sofrer a queda, mas mesmo assim continuar vivo, sofrer as consequências ficando deficiente e viver o resto da vida aos cuidados dos outros. O vento sopra e bate no meu rosto. O vento pode ir para onde quer, eu não. O vento zomba de mim, rotineiro.  
Ao meu redor, as pessoas caminham, indiferentes. Elas sorriem com uma facilidade que traz rancor e dor. O riso delas me persegue, uma afronta pessoal, estão alheias à minha dor. Suas vidas são tão leves, tão desprovidas das cicatrizes que carrego comigo todo maldito dia, elas não sabem o que é ser e estar destruído por dentro. Cada sorriso, cada risada, me faz pensar em como seria prazeroso trazer a eles a dor que sinto, aí sim mudariam suas tão insensíveis expressões, e, finalmente, me entenderiam. Me olhariam. Penso em machucá-las, em devolver o que recebi, em transferir para elas o peso que carrego.
Esse pensamento me assombra, não nego sua presença. O desejo de retribuir o sofrimento que me foi imposto, de fazê-las entender a dor que arde em mim, está se tornando tão intenso quanto o impulso de desaparecer. O único freio, a única coisa que ainda me mantém no lugar, são as consequências. Consequência, a mesma que me impede do suicídio é a mesma que me impede de me vingar. Imagino o que viria depois, as ondas de repercussão que minhas ações poderiam causar. A punição, os olhares de desprezo, as vozes de julgamento ou a prisão. No fundo, sei que o mundo não mudaria e que machucaria pessoas inocentes, que não tem nada ver com isso. Estaria sendo hipócrita e repetindo o ciclo. Isso me tornaria igual aos que me machucaram, gerando uma violência sem propósito e cruel. Não quero machucar boas pessoas, se é que ainda existam. Não quero ser mau. “O oprimido sonha em ser opressor”, talvez seja verdade. E que eu seria arrastado para um buraco ainda mais profundo. E talvez, seja esse o único motivo pelo qual sigo caminhando, em silêncio, passando pelas passarelas, tentando resistir à tentação de fazer o que seria irreparável. Só não posso negar que, lá no fundo, esses pensamentos me habitam, nas noites escuras e silenciosas, onde estou mais vulnerável.
Sinto-me tão deformado, tão distorcido que mal reconheço qualquer traço de humanidade em mim. É como se eu habitasse um mundo que não é o deles, uma realidade paralela onde cada reflexo revela alguém que não deveria estar aqui. Não há ninguém que enxergue o que vejo, sentir o que sinto. A barreira invisível entre nós, uma linha impossível cruzar. Tento encontrar alguém, qualquer um que tenha essa mesma estranheza dentro de si, mas só encontro olhares de estranhamento e a incompreensão de sempre. Sinto-me isolado, preso em uma prisão onde o silêncio e a distância são as únicas companhias. Às vezes, questiono se sou realmente humano ou apenas uma aberração, condenada a observar o mundo sem jamais fazer parte dele.
Há noites em que a solidão pesa como um fardo impossível de suportar. Sinto-a como uma dor física, uma ferida aberta que lateja e arde, tornando cada minuto mais insuportável que o anterior. Nessas noites, a dor é tanta que parece não haver saída. Tudo é silêncio e escuridão, como se o mundo tivesse desaparecido e deixado apenas o espaço para a minha dor. E então, para escapar dessa espiral, só consigo me distrair com as monótonas agressões, pequenos atos que, de alguma forma, me tiram da anestesia emocional em que vivo e me levam ao vazio da manhã. A indiferença, a apatia.
Eu até pagaria para alguém me ouvir, para só simplesmente sentar e escutar tudo o que guardo dentro de mim. Pagaria para que, por alguns minutos, alguém pudesse me ver como realmente sou, sem tentar me julgar, como os outros. Isso seria impossível, porque todos são iguais nisso, eles me desprezam por ser diferente. E o mais engraçado é que eu nem teria dinheiro para isso. Nem mesmo esse consolo momentâneo eu posso ser capaz de adquirir. Não consigo sequer comprar a chance de compartilhar meu peso, de desabafar, de transformar meu silêncio em palavras. Fico então preso nesse purgatório, uma tortura sem fim. É como se houvesse uma cobrança invisível sobre meu silêncio, uma dívida emocional que não consigo pagar. De qualquer forma, mesmo se eu pagasse não seria natural, seria tudo superficial por ser comprado, anulando qualquer real validação ou sentimento envolvido. Não há escapatória para minha dor, isso me corrói. Por que tinha que ser assim? Quanto mais tento carregar sozinho, mais pesado tudo fica. E quanto mais pesado, mais percebo que nem mesmo o alívio temporário de uma conversa está ao meu alcance.
Para meus parentes e vizinhos, sou alguém afortunado. Eles me enxergam alguém que tem o que muitos desejariam, um quarto próprio cheio de coisas como computador e instrumentos musicais. Apesar de nunca expressar em voz alta, no fundo, sinto o exato oposto. Cada dia é uma batalha para carregar um peso invisível que me sufoca, como se eu tivesse nascido para pagar um preço por algo que desconheço. Sinto-me amaldiçoado pela minha origem. É uma sensação que carrego em silêncio, uma amargura profunda que não consigo explicar para ninguém. Todos pensam que minha vida é um presente, mas para mim, uma prisão.
Todos me julgam vagabundo por passar os dias inteiro no quarto, isolado do mundo. Eles veem apenas uma porta fechada, sem jamais perceberem o que está por trás dela, sem entenderem que esse espaço é o único lugar onde ainda posso me sentir minimamente alegre, ainda que só existam sombras daquilo que eu gostaria de ser. Enquanto as horas passam, eu me perco nos rascunhos de tudo aquilo que um dia planejei realizar. Músicas, desenhos, quadrinhos, livros, entre outras coisas. Uma tentativa desesperada de cumprir alguma parte do que imaginei para minha vida. Não sei quanto tempo ainda tenho, algo dentro de mim grita que está acabando, que a linha de chegada se aproxima e que talvez, em breve, eu possa finalmente partir. Cada obra que crio é feita com um cuidado, coloco uma pequena parte do que fui, apesar de já não encontrar o prazer que antes existia nesses processos. Aquilo que antes era uma fonte de alegria e determinação agora é uma obrigação solitária, um compromisso silencioso que ninguém mais sabe.
Sei que tudo se repete, e no fundo, continuo sendo aquela mesma criança que batia a cabeça contra a parede para não ir para a escola. Não importa o quanto eu tenha crescido ou mudado, as feridas antigas continuam, latejando sob a pele, como se eu carregasse um peso invisível que nunca posso deixar para trás. Os medos e as dores que eu sentia quando era pequeno ainda estão aqui, talvez até mais fortes agora, porque com o tempo vieram também a desesperança e a consciência que antes eu não tinha. Assim como minha mãe, assim como meu outro tio, deixei a escola aos dezesseis anos. Meu tio teve vitiligo aos 13 anos e eu a vesguice, afetando profundamente nossa autoestima e âmbito social. Os ciclos seguem intactos na minha família. Olhando para eles e depois para mim, começo a questionar meu ateísmo. Minha certeza de que somos amaldiçoados só cresce. De alguma forma, sinto que todos nós, de alguma maneira, já nascemos destinados a repetir a mesma trajetória infeliz. Diferente do que minha família esperava, eu não sou uma evolução. Não sou nada mais que uma continuação de algo que começou muito antes de mim e que eu sequer entendo completamente. Em mim, correm os mesmos impulsos sombrios, a mesma desesperança, os mesmos traços de fraqueza que percebo em meus parentes, como se herdasse cada pedaço de dor e desgraça que eles viveram. Sinto-me como uma extensão genética das suas derrotas. E não há cura. Essa consciência de estar preso a algo maior que eu mesmo, a uma herança que não escolhi, apenas me afunda mais. Eu não vim para melhorar as coisas na família, para trazer algum tipo de redenção ou superação. Pelo contrário, mais sinto que estou destinado a piorar, a tornar tudo ainda mais pesado. Eu, que deveria ser uma nova chance, sou apenas uma prova de que nunca houve esperança alguma de mudança para essa linhagem.
As memórias, mesmo que se afastem no tempo, parecem ganhar força a cada dia, tornando-se mais intensas, mais dolorosas. Quanto mais o tempo passa, mais elas me perseguem, como se tivessem uma vida própria, recusando-se a desaparecer. É estranho pensar que, ao invés de enfraquecerem, elas se tornam mais nítidas. Tudo aquilo que pensei que se apagaria, tudo que deveria ter se perdido no esquecimento, volta com clareza assustadora nas madrugadas. Eu faria qualquer coisa para me livrar deste peso, qualquer coisa para apagar cada lembrança, para me esquecer de tudo, mas não existe tal cura milagrosa, nenhum remédio que consiga apagar o passado e me deixar em paz. 
Estou preso a essas memórias, à intensidade de cada sensação, cada lembrança indesejada, elas são parte de mim, me moldaram. Estou fadado a revivê-las para sempre, em um ciclo interminável do qual não posso escapar. 
Até o dia em que eu morra.
E irei fazer com que ele chegue, o mais breve possível.
Cansado cada dia mais após acordar, nem os sonhos, que esqueço toda vez, me distraem mais.
NickLuska
Lucas Réver

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