Dia 29 de março, segunda-feira, Colégio, 7h30 - Gincana, dia 1
Após um fim de semana tranquilo e silencioso, a semana iniciou. Mas não era um dia qualquer, ou melhor, essa não era uma semana qualquer.
O clima escolar era de festa e toda a atenção estava na quadra coberta, onde os alunos de todas as séries estavam se reunindo.
Hoje a quadra estava preparada, mas não para a prática desportiva. Todo o ambiente estava mais colorido, contrastando com o cinza do sempre. A decoração em papel crepom e os balões nas cores vermelho, branco e azul, enchiam o local, eram as cores do uniforme do colégio, que hoje ganhavam um significado maior.
Tudo isso indicava apenas uma coisa: a Gincana escolar estava começando. A professora Mira já estava a postos para fazer o grande anúncio em um palco montado especialmente para aquele dia.
— BOM DIA EQUIPES! BOM DIA COMPETIDORES! HOJE VAMOS COMEÇAR A GINCANA! ESTÃO ANIMADOS!? — anunciou com uma energia mais envolvente que a habitual!
As cores das camisas das equipes separavam os alunos, que estavam sentados, cada um em seu bloco, contornando toda a quadra. A animação era explícita, corações batendo mais rápido, esperando o momento de torcer pela sua equipe. Bandeirinhas balançando, alguns levaram até mesmo pandeiros para fazer barulho e animar ainda mais o evento.
— SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM!!! — gritavam os alunos em uníssono, animados.
Após a resposta de todos, Mira continuou:
— QUE BOM VER TODOS ALEGRES E EMPOLGADOS! CHEGOU A TÃO ESPERADA ABERTURA DA GINCANA E JOGOS ESCOLARES DESTE ANO! O TEMA DESTE ANO, COMO TODOS JÁ SABEM, É O MEIO AMBIENTE! VAMOS AGORA APRECIAR AS ABERTURAS E GRITOS DE TORCIDA! COMEÇANDO PELA EQUIPE VERMELHA, DO PRIMEIRO ANO!
O palco agora era para os alunos, e a professora dirigiu-se à mesa dos jurados, deixando espaço para os alunos se posicionarem. A ordem das apresentações eram de acordo com as séries do ensino médio, começando pelo Primeiro Ano.
Todo ano, as performances do Primeiro Ano eram marcadas por serem as mais complexas e cheias de elementos. Afinal, o Primeiro marcava a estreia dos alunos como líderes de uma equipe e eles queriam mostrar todo o seu potencial para os jurados e para os veteranos.
Era válido utilizar tudo o que havia disponível para demonstrar sua criatividade. E este ano não seria diferente. A apresentação consistiria de vários elementos artísticos pensados cuidadosamente pelos membros mais animados da equipe.
Subindo ao palco estavam Akiko, do Primeiro Ano, e mais um aluno, da sétima série, vestidos de árvores. Cada um foi se colocando em um canto do palco.
No chão, na beirada do palco, a aluna Pistch se posicionou em frente a um microfone segurando o livro de poesias do colégio. Ela começou a declamar o poema de autoria própria "Natureza", que havia sido selecionado para compor o livro, enquanto uma performance teatral acontecia.
A Natureza está em nossas mãos.
E não por homens sem compaixão.
Temos que consertar o que está estragado.
Senão nunca teremos o futuro desejado.
Devemos plantar mais sementes.
Para colher frutos de nossa mente.
Devemos agradecer por ter água.
Pois temos todos os dias nas nossas casas.
Devemos cuidar bem da Natureza.
E não jogar lixo em sua preciosa beleza.
Os homens pensam que o dinheiro compra tudo.
Mas eles não compram o nosso futuro.
O que vamos fazer com a Natureza que nos fez nascer.
Vamos acabar com ela até ela morrer?
Durante a apresentação, as árvores, interpretadas por Akiko e pelo aluno da sétima série, estavam felizes e distribuíam sorrisos por estarem em seus lugares na natureza.
No entanto, o fogo chegou, interpretado por dois alunos da oitava série, as chamas vinham do descuido e das secas, eles coreografavam uma dança de maneira descontrolada, atingindo uma das árvores.
A performance da queimada ocorreu através de uma dança ao redor da árvore, para demonstrar que havia sido atingida e dizimada pelo fogo. O aluno que interpretava uma das árvores caiu no chão, imóvel.
A árvore restante, Akiko, se encheu de tristeza e começou a chorar por sua companheira morta. Enquanto isso, o fogo destruidor começou a se aproximar dela, e percebeu que seu fim era iminente.
Porém, um milagre ocorreu, e dois bombeiros, interpretados por dois alunos da quinta série, chegaram para proteger a natureza. A árvore se encheu de esperança e alegria e voltou a sorrir e a comemorar a chegada de seus salvadores.
O fogo percebeu que não teria chance contra eles e se ajoelhou pedindo compaixão. Mas os bombeiros não cederam aos pedidos do fogo destruidor e apagaram os dois que interpretavam o fogo da queimada, salvando o dia.
A performance de abertura se encerrou, mas ainda havia o grito de guerra para apresentar. Os atores do teatro ficaram de pé no palco, na frente de sua equipe, que estava toda de vermelho e puxaram o grito de guerra, que foi repetido por todos os integrantes:
— NÓS SOMOS OS BOMBEIROS E VIEMOS PROTEGER. COM DESTREZA E HABILIDADE, NOSSO ORGULHO E DEVER É SALVAR AS FLORESTAS E O FOGO COMBATER! VAI BOMBEIROS!
A equipe vibrava unida, todos estavam animados. Aino e Minami estavam radiantes, repetindo o hino com muito vigor. Miyu seguia o fluxo, estava confusa, e ao olhar para o lado, percebeu que Yukino se encontrava igualmente perdida. Todos haviam sido obrigados a participar da abertura para "fazer volume".
Assim terminou a apresentação completa da Equipe Vermelha. Eles se sentaram em seus lugares na quadra, esperando a próxima etapa.
A professora Mira apareceu novamente no palco para comentar sobre a performance que havia acabado de acontecer.
— O que foi isso minha gente!? E essa foi a linda apresentação da turma do Primeiro Ano! Esse lindo poema da Pistch está disponível no nosso livro de poesias da escola, na biblioteca! — disse Mira, que estava realmente emocionada, com lágrimas em seus olhos, mas o show devia continuar, então chamou a segunda equipe, — Agora vamos para a Equipe Branca, do Segundo Ano!
Houve um momento de espera para a montagem da apresentação do Segundo Ano. Normalmente a equipe do Segundo tinha uma apresentação mais simples, pois já havia tido a experiência de estreia no ano anterior e agora liderar já não era mais tão novidade. Mesmo assim, buscavam caprichar, fazendo figurino e cenário.
O cenário estava montado. Dois alunos da quinta série se posicionaram em cada canto do palco segurando montanhas de gelo feitas de papelão e pintadas com tinta guache, representando as geleiras do Polo Sul.
Um aluno do Segundo Ano vestido com orelhas de urso polar, se colocou no palco, representando esse animal icônico. E um aluno da sexta série se posicionou ao lado, vestindo uma fantasia de pinguim.
Assim, os animais que viviam em ambientes gelados estavam devidamente representados. O resto dos membros da equipe se posicionaram na frente do palco e estenderam um grande pano branco por cima da cabeça de todos, o que provavelmente representava a neve.
A performance começou com uma música instrumental triste e melancólica. Os dois alunos da quinta série jogaram as montanhas de gelo no chão, representando que elas haviam se derretido com o aquecimento do planeta.
Os alunos depois se jogaram no chão. Durante a performance, os alunos posicionados na frente do palco foram empurrando para frente o pano branco que os cobre.
O urso, então, performou uma tontura, e caiu no chão. O pinguim se sentiu mal, sofrendo com o calor e também caiu. Neste momento todo o pano branco já estava cobrindo o chão. Os alunos no palco permanecem imóveis. Enquanto isso, os que estavam mais à frente puxaram o grito de guerra com bastante força e energia:
— GELEIRAS, GELEIRAS! ESTAMOS DERRETENDO! URSOS E PINGUINS, OS ANIMAIS ESTÃO MORRENDO. AJUDE! AJUDE! OU TODOS MORREREMOS.
"Que trágico!", pensou Adonis, que era do Segundo Ano e estava na parte do pano branco.
A performance finalizou, e os alunos voltaram aos seus lugares, retirando os elementos do palco.
Desta vez foi a professora Rubi que foi comentar, ela era a professora de dança do colégio. Uma mulher negra de porte físico atlético e cabelos curtos, tingidos em um tom de ruivo alaranjado, tomou o lugar como mestre de cerimônias e falou muito emocionada sobre a apresentação da turma:
— Obrigada Equipe Branca! O teatro mudo é cheio de significados! A beleza das Geleiras derretendo. Os animais fofos perdendo suas vidas. O pano branco saindo de cima dos alunos, representando o derretimento. Tocou nossos corações! Espero que os animais encontrem um futuro melhor com a geração de jovens como vocês! — Rubi deu uma pausa para respirar e continuou, — Agora a Equipe Azul, com o Terceirão, fazendo sua apresentação de despedida, já que é seu último ano conosco!
Foi dado um tempo para que o Terceiro Ano montasse sua apresentação. Uma característica das aberturas das últimas turmas é que, por já estarem cansados, vendo o fim do último ano de escola chegar, e sabendo que estudariam como loucos para tentar passar no vestibular, eles optavam por apresentações extremamente simples. Costumavam ser as mais curtas ou a com menos elementos e caprichavam gritando ao final.
O palco agora montado tinha um pano azul que cobria todo o chão. Em cima havia barquinhos de papel coloridos e peixinhos de plástico, daqueles que se via em brincadeiras de pescaria durante a festa junina.
A performance começou deste modo, silenciosa como o calmo oceano, tudo estava bonito e sob controle. De repente, quatro pessoas, interpretadas por alunos do Terceirão aparecem, cada um em um canto do palco, e começam a rir dissimuladamente e jogar lixo no mar, como se estivessem se divertindo ao poluir.
É então que duas pessoas munidas de apitos apareceram e expulsaram os quatro do palco. Essas eram interpretadas por Naoko e sua colega do Terceirão. Com os malvados expulsos ao som dos apitos, o dia estava salvo e assim acabava a performance.
As duas pessoas se posicionaram no meio do palco e se viraram para a equipe que estava diante delas, puxando o hino de guerra:
— OCEÂNICOS AJUDARÃO! NÃO HAVERÁ MAIS POLUIÇÃO! DEIXEM NOSSOS ANIMAIS AQUÁTICOS EM PAZ! COM OS OCEÂNICOS VOCÊ PODE CONTAR!
A torcida vibrou e gritou após o grito de guerra sem rimas, e logo se posicionaram em seus lugares na quadra. Os alunos do Terceiro Ano que haviam participado do teatro se uniram e foram recolher os elementos da performance, deixando o palco novamente organizado.
A professora Rubi retornou ao palco, novamente muito emocionada e feliz e decidiu dizer algumas palavras:
— Que bonito! O Terceirão é sempre especial e profundo! Obrigada a todos por estas lindas apresentações! A GINCANA ESTÁ OFICIALMENTE INICIADA!
Durante o primeiro dia da gincana não houve nenhuma aula, mas a presença dos alunos foi registrada na chamada para controle. A intenção é que os participantes das provas ficassem tranquilos de não levar falta e que os demais pudessem torcer pelos seus companheiros.
Após a abertura do evento, os alunos foram para o lanche e logo depois a manhã seguiu com apresentações artísticas. Houve concurso de canto e de instrumentos musicais, onde alunos da quinta série até o Terceirão puderam mostrar suas habilidades musicais.
Vários foram os estilos demonstrados. Cantaram e tocaram tanto pop, rock, entre outros estilos, até mesmo regionais e canto lírico. Os instrumentos variaram entre violão, piano, guitarra, flauta e até saxofone.
Depois, houve apresentações de dança por equipes e Akiko foi destaque ao dançar a música pop-rock da cantora mais famosa do momento, Ayu. Ela foi a dançarina principal, usando um vestido cor de rosa de franjas que balançava com os movimentos bem coreografados.
O dia seguiu conforme o normal e todos dormiram ansiosos em como seria o segundo dia de gincana.

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